Vol. 1 – Arco 2
Capítulo 28: A Última Coordenada
Ravender City - 5:15 da tarde, 15 de Julho.
Einstein acordou em um salto alucinado, e nisso, bateu a cabeça contra o teto do carro.
— Catapimbas voadoras! — gritou o hamster. — Onde estamos?
— Acordou? — falou um cansado Leonard Mystery, sentado ao lado dele. — Estamos em Ravender City. Cê quem nos teleportou até aqui.
Einstein se sentou, transpirando incansavelmente. Quando olhou para a direita, encontrou sua irmã, estática e com um olhar reflexivo.
— Oi — disse ela, quando escapou de sua linha de raciocínio e o notou. — Está bem?
— Não. — A sua visão vertiginosa e a dor excruciante na cabeça era o motivo dessa resposta. — Eu vou matar ele.
O detetive olhou profundamente para a máscara inexpressiva de seu amigo. Mesmo incapaz de ver o rosto dele, conseguia sentir o misto de ódio e impotência em sua voz. Einstein não estava falando da boca para fora.
— Tudo bem, não vamos impedi-lo — falou Elin. — A nossa preocupação é como fazer isso.
— Esse é o problema. Fiquei com tanto medo que acabei nos teleportando para cá. Aquela era a nossa única chance…
— Nem ferrando. A gente ia morrer tudo — falou o detetive. — Fez bem em nos tirar de lá.
— Se pensar por esse lado…
Os minutos seguintes podem ser resumidos em Einstein sendo atualizado com praticamente a mesma conversa que sua irmã teve com o detetive enquanto ele estava inconsciente. Manteve-se em uma paralisia inquieta durante todos os minutos, até que Leonard acabou de dizer suas teorias.
— É tanta coisa para processar… então, o senhor acredita que aquele homem azul filho da puta e arrombado está querendo roubar nossas energias?
— Einstein! — gritou sua irmã. — Olha a boca.
— Mas esse salafrário matou o nosso irmão!
— Não importa. Falar palavrão é feio.
— Hmpf. — Cruzou os braços.
O detetive gargalhou, e então, respondeu a pergunta de seu cliente:
— Sim. É o que eu acho. Sinto que existe algo em nós três que está relacionado àquela árvore vermelha. Cês adquiriram esse “algo” de alguma forma que ainda não sabemos. Já eu, acabei por receber isso ao entrar em contato com uma pequena árvore (igualmente vermelha) que encontrei no laboratório do Amadeus. As provas de que existe uma conexão entre a árvore gigante e a árvore minúscula é que os servos de Panthael passaram a me perseguir logo depois que eu saí do laboratório, Panthael começou pediu para que me caçassem assim que eu fui "infectado" pela planta. Além de que…
Ele colocou uma das mãos no rosto de Einstein, que pôde observar com atenção as raízes vermelhas nascerem a partir dela.
— Esses troços são iguais às raízes que eu comecei a enxergar em alucinações, pô — afirmou Leonard. — Que, por algo que não é coincidência, são da mesma cor que aquela floresta e árvore onde Panthael estava… dentro? É, isso foi bem esquisito. Como se não bastasse, raízes parecidas também saíram de dentro da mão daquele pau no cu, a diferença é que eram escuras.
— Está tudo conectado — falou Elin. — Vocês dois… você e Panthael possuem a mesma habilidade.
— Sim, porque nós dois entramos em contato com árvores esquisitas! Inclusive, talvez eu tenha me esquecido de contar, mas a mini-árvore que tinha espirrado no meu rosto sumiu depois desse rolê.
— O quê? Como?
— Sei lá. Talvez ela tenha ganhado umas pernas e saído correndo, ou se teleportou. Sei lá.
Einstein levantou o indicador de forma rápida e saliente (o significado disso fica ao seu cargo de interpretação), com algumas questões prontas para sair da cachola:
— Por que as raízes do Panthael são pretas, se tanto as suas raízes quanto a árvore onde ele está preso são vermelhas? Seria que as raízes dele são escuras pois ele é pura maldade?
— Pode ser, mas não sei. Talvez tenha relação com ele estar todo raquítico, cê viu o corpinho dele, todo magrinho? Talvez ele esteja doente, e as raízes que ele cria ficaram pretas por estarem… apodrecendo — deduziu. — Mas se isso for certo, a versão doente dele já é forte demais. Bem mais forte que eu.
— Talvez seja isso, quem sabe. Só mais uma dúvida: se sua teoria for verdade, eu e minha irmã também temos esse poderzinho das raízes?
— Acho que sim. Tentem aí.
Após alguns minutos de muita concentração e gritos…
— Não deu certo — comentou Elin.
— Talvez sua teoria esteja errada, detetive — falou Einstein.
O detetive se curvou:
— É, não seria a primeira teoria errada minha. Ou então, significa apenas que a fonte que cês receberam a… coisa que Panthael quer, seja diferente.
Os irmãos ficaram encarando ele com aqueles olhares totalmente inexpressivos, capazes de dar medo em qualquer um que olhasse para eles por muito tempo.
— Vou tentar explicar melhor. Para ajudar no entendimento, chamemos o que Panthael quer de Energia Misteriosa, embora não saibamos se é realmente uma energia ou algo como um líquido que existe dentro de nossos corpos. Então, eu (supostamente) adquiri a tal da Energia Misteriosa quando a planta vermelha que encontrei no laboratório secreto do Amadeus “cuspiu” em mim. Já o Panthael parece que vive dentro de uma árvore igual a que me deu essa energia, a diferença é que ela é… gigante.
Os irmãos continuaram no estado catártico de paralisia.
— O que difere as nossas fontes de poder? — questionou o investigador, entusiasmado. — Pô, apenas o tamanho! Mas nada impede que exista… sei lá, várias fontes de poder muito mais diferentes para a Energia Misteriosa. Cês podem ter recebido ela de uma fonte mais peculiar, como… um macaco radioativo. Sei lá. Talvez, nem seja necessariamente a mesma coisa, só algo parecido o bastante para que Panthael queira pegar. Sei lá, não sei de nada! Mas, pensando bem… isso pode significar que seus poderes não sejam de nascimento como a maioria dos espers. Os seus poderes, Strange Magic e Secret Bohemian, podem ser frutos da Energia Misteriosa. Assim como essa habilidade que recebi.
Por fim, os dois finalmente saíram da neutralidade bizarra e se animaram com as deduções.
— Talvez eu tenha sido mordido por um hamster radioativo… — murmurou Einstein.
— Será que eu ganhei meus poderes após ter comido tinta? — indagou Elin, pensativa.
— Não, cês estão levando para o outro lado — falou Leonard. — O hamster e a tinta precisam ter uma origem em comum para que se encaixe em minha teoria. Talvez se eles forem descendentes de um deus alienígena…
— Como uma tinta seria descendente de um deus? — perguntou a artista. — Alguém nessa história engravidou de tinta?
— O avô era um deus alienígena que casou com um hamster. O filho, um hamster alienígena — começou o hamster. — A esposa do filho, uma caixa de tinta. Os filhos, dois irmãos: um hamster radioativo e uma tinta. É tão poético que eles acabaram dando poderes logo para dois irmãos! — No fim, já estava chorando de emoção.
— Ótima teoria — afirmou o detetive. — Cês também podem ser filhos dos ETs.
— Acho que as teorias já estão indo longe demais — falou Elin. — Vamos parar por aqui.
Einstein se recostou na cadeira, enquanto os assuntos das conversas foram saindo do campo das teorias e se tornando mais fúteis.
Embora estivesse conversando descontraidamente, não conseguia esconder muito aquela tristeza inescapável. Era como um vazio profundo no coração, como se algo tivesse sido tirado dele. Um sentimento de impotência, de traição, de vazio.
Olhando para sua irmã, notara que ela também não ficou bem com a notícia sobre Galileu. Elin tentava manter aquela expressão neutra de sempre, mas ele conseguia sentir a amargura presente em seus lábios.
O que mais enfurecia a mente do feiticeiro era que, mesmo sentindo a dor de perder alguém, ainda não fora agraciado com as memórias envolvendo aquela pessoa. Sequer poderia se acalmar ao se recordar dos bons momentos, e agradecer por eles terem acontecido. Tudo lhe foi arrancado, não tinha mais nada.
— Quando cê nos teleportou para cá, sabia que era nessa cidade onde está a última coordenada que Amadeus enviou para nós? — perguntou Leonard.
— Não — respondeu. — Sequer pensei para onde estava indo ao usar minha magia. Talvez tenha vindo para cá por instinto.
— Saquei. Talvez seja a sua vontade inconsciente de derrotar Panthael. É a única pista que ainda temos.
— Realmente…
— Amadeus enviou essas coordenadas para nós, mas tenho certeza de que não foi algo que ele queria fazer. Sinto que foi uma obrigação dele. O último movimento de um jogador desesperado. Ele sabia que não sobreviveria se o governo fosse atrás dele, então entregou tudo para nós: suas armas com a entrada secreta para o laboratório, e o passaporte para uma área subterrânea onde existe uma ameaça. Será que ele conhecia Panthael? Era de seu desejo que matássemos ele? Eu sei lá. Só espero que essa última coordenada, a mais distante de todas, consiga nos ajudar a resolver isso.
Por fim, o carro parou.
Os três olharam para a janela, impressionados com o que estava em sua frente.
Era uma enorme estrutura. Um edifício gigantesco e majestoso, cercado por pessoas arrumadas e com trejeitos festejantes. Em cima da entrada, um letreiro enorme e chamativo, onde estava escrito o nome do lugar: A Casa do Sol Nascente.
— Ora bolas, que maneiro! — exclamou Einstein, impressionado.
— É aqui — disse o detetive, se virando para Einstein com um rosto animado. — Ah, esquecemos de te dizer, mas agora somos considerados terroristas foragidos e estamos sendo procurados por todo o país.
— Oi?