Vol. 1 – Arco 2
Capítulo 16: Hora da Teoria
Trailer, Woodnation - 1:26 da tarde, quinze de Julho.
Leonard, Einstein e Elin perceberam que a beliche não era capaz de aguentar todos os três sentados sobre ela ao mesmo tempo. Então, os três sentaram sobre o chão do trailer, que já não era mais um ambiente tóxico desde que os faxineiros invocados pelo poder Secret Bohemian fizeram a limpa no local.
— Vamos recapitular; direi novamente todas as coisas suspeitas relacionadas à investigação, para que nós três criemos juntos nossas hipóteses e teorias — falou o detetive.
— Certo! — responderam os irmãos, simultaneamente.
Leonard suspirou e, então, começou:
— Einstein acorda no meio da praça de Woodnation, sem memórias. Ele se lembra apenas da existência de seus próprios irmãos (Elin e Galileu), de um homem chamado Amadeus (que supostamente sequestrou o Galileu) e, estranhamente, do endereço da minha casa. Ele ouve vozes dizendo para me encontrar, e passa a pensar que eu sou o tal do Amadeus.
Os dois irmãos permaneceram quietos, seus movimentos inconformados denunciavam suas tentativas de encontrar respostas ao que acabara de ser dito pelo detetive, que logo continuou:
— Além disso, dois caras estranhos com super-poderes estão atrás de Einstein, e querem levá-lo até alguém que eles chamam de “chefe”. Depois, por motivos desconhecidos, eles também passaram a querer levar mais duas pessoas; uma delas sendo eu. Eles falaram já alguns termos estranhos: crypto, mitofera e esper (um disse ser um esper, e o outro, uma mitofera… sejá lá o que isso signifique).
Respirou um pouco para prosseguir:
— Existe um velho rico e transtornado que mora em uma mansão no topo de Woodnation, e seu nome é Amadeus. Ele tem alguma conexão com o governo e guarda algo muito importante em sua mansão, que segundo ele, nem mesmo o governo conhece. Essa coisa é um laboratório subterrâneo que esconde as mais diversas tecnologias. O mais impressionante de tudo era que, lá dentro, tem uma cápsula de metal onde Elin Rose está presa!
Os irmãos foram atingidos pela poderosa voz dele, e entraram em choque, como se sequer soubessem de tudo o que acabara de ser dito.
O hamster levantou, extasiado:
— Cacetadas, mas que história impressionante! Quando vai ser lançado o próximo capítulo desta novela?
— Essa é a sua vida, parça.
— Ih, verdade. Carambolas…
O detetive estapeou o chão, causando um estardalhaço. Levantando a voz, falou:
— Andem, façam suas teorias!
— Ei, o detetive aqui não é você? — indagou Elin.
— É que sou burro, aí tenho que terceirizar o trabalho.
— Para os seus clientes?
— É.
Foi a vez do hamster bater a mão contra o chão.
— Aí… — Assoprou a própria mão. — Protesto! Burro ou não, você quem é o detetive. A obrigação de descobrir as coisas é totalmente sua. Além disso, o senhor tende a ser muito inteligente, como na vez em que saiu andando por aí semi-nu e quase levou um tiro!
— Isso era para ser um bom feito de inteligência? — questionou a garota.
— Ah… também teve aquela vez que você fingiu ser uma foca para derrubar aqueles agentes do governo…
— Isso só deu certo por conveniência de roteiro!
— Elin! Estamos do mesmo lado ou não?
Leonard interrompeu:
— Tanto faz. Vou tentar começar.
Estalando seus dedos com uma seriedade tremenda, começou a andar em círculos, absolutamente concentrado.
Nada o tirava daquele estado profundo; fosse atirar bolas de papel, colocar uma música alta ou atirar nele com uma submetralhadora thompson — quer dizer, Elin só chegou a apontar a arma, e depois foi impedida por seu irmão.
Foi apenas após minutos de puro silêncio que o detetive se sentou e deu início a sua própria narrativa:
— Olha só, o Einstein acordou em Woodnation, sem memórias. Isso significa que ele estava aqui por algum motivo. Motivo este? — Falava apressadamente, e parava de vez em quando para refletir um pouco. — Férias! Óbvio. Ele veio para essa cidadezinha totalmente desconhecida e pacata, porque… porque ele vivia em uma cidade grande, e lá tinha muito barulho e algazarra. Isso mesmo. Só que tudo isso remonta ao passado de Einstein, quando ele nasceu: seu lar era uma vila, onde todos possuem poderes mágicos e se vestem como hamster. O nome desta vila é A Vila dos Hamsters Mágicos.
“Einstein vivia uma vida pacífica nesta vila, com Galileu, seu irmão. Isso até que… TANDANDANDAN: ele descobre que tem uma irmã bastarda!
“Isso o levou até a jornada para a cidade grande, que durou muito tempo, então ele foi para a cidade pequena para descansar… é isso. Acho que teria sido melhor ter começado pela parte da vila, né? Mas não faz mal, continuemos.
“Sabe o Amadeus? Na real, ele é o pai de Elin. No passado, foi um grande comedor de casadas no passado e foi em uma de suas aventuras sexuais que deu uns pegas na mãe do Einstein. Sim, meu caro, seu pai é corno.
“Garota, se pergunta o motivo de ter acordado presa naquela cápsula? É simples: tu tem uma doença incurável em estado terminal e ficar dentro daquela cápsula é a única coisa que pode mantê-la viva! Meus pêsames.
“Ah, onde o Laertes e Hamlet entram nessa história? Vamô lá: o Laertes veio da mesma vila que o Einstein, só que ele acredita ser um hamster sem pelos, e por isso anda pelado por aí. Ele é seu amigo de infância e veio atrás de você apenas para te proteger de qualquer mal do mundo externo.
“Acho que é isso.”
— Catapimbas! Incrível! Espetacular! Perfeito! — Einstein levantou e aplaudiu, quase em prantos.
— Acho que estou com mais perguntas do que respostas — comentou Elin, atônita. — De onde tirou tudo isso?
— Acha que sou o Sherlock Holmes para ficar explicando os meus processos para os outros? — falou o detetive. — Sou bem mais pica.
— O único processo que você mostra para os outros são os de atentado ao pudor! — exclamou o hamster.
— Isso aê– espera!
Foi vez da Elin de se levantar, dizendo:
— Olha, vamos levar isso a sério… Leonard, alguém importante já morou na sua casa?
— Acho que não.
— Já encontrou alguém parecido com o Einstein antes de conhecê-lo?
— Nem. Eu saberia se tivesse visto.
— Ele poderia estar sem o traje de hamster.
— Heresia! — gritou Einstein.
— E você? Sentiu se lembrar do rosto de Amadeus ao vê-lo?
— Sei lá, confrade. Nem olhei pra cara dele quando o encontrei no hospital.
— Vacilou.
Ela se jogou no chão, permanecendo pensativa. A máquina de perguntas voltou meio minuto depois, se virando para Leonard:
— O seu nome é Amadeus?
— O quê? Óbvio que não!
— Amadeus Júnior?
— Eu não sou filho daquele velho!
— Então é o neto?
— Óbvio que não! Cê falou de mim, mas suas teorias estão do mesmo nível que as minhas.
— O que é preocupante, porque nem sou detetive!
— E daí? Os meus argumentos são melhores!
— São mesmo? Quero ver.
Elin se impressionou com o seguinte argumento do detetive: um chutão bem na fuça.
Porém, não foi melhor que o seu argumento-resposta: uma mordida na orelha e uma tentativa de arrancá-la.
Leonard contra-argumentou com outro chute, e não deu tempo de receber uma resposta, atirando uma mesa contra as costas dela.
Porém, ficou sem reação quando se deparou com o argumento-final de Elin: uma granada.
— Parem com isso imediatamente! — berrou o feiticeiro, entrando no meio. — Guarde isso, agora!
— Aff… — Devolveu a granada para dentro do seu caderno, fazendo ela voltar a ser um mero desenho.
Alguns minutos foram necessários para que o clima fervoroso diminuísse, para que assim os três voltassem a discutir:
— Eu tive que ser o mais sensato da vez, cruz credo — resmungou Einstein. — Vamos, vamos. É fato que falhamos em bolar alguma teoria palpável, mas podemos pelo menos organizar nossas dúvidas para que assim possamos usar as pistas que encontrarmos para respondê-las com maior propriedade. Discordam ou concordam?
— É uma boa ideia — falou Leonard, puto.
— Gostei da ideia! — exclamou a artista.
Então, pegaram um papel e uma caneta, e anotaram todas as informações necessárias. Enquanto isso, Leonard refletiu um pouco e falou:
— Parando para pensar, o Hamlet e Laertes vieram atrás de mim depois que uma planta esquisita que encontrei no laboratório peidou no meu rosto.
Os irmãos ficaram sem reação.
— Os horários batem. E aposto que a terceira pessoa que eles estavam atrás era a própria Elin. O Galileu definitivamente não era, porque falei esse nome ao Hamlet e ele agiu como se não soubesse de nada.
— Poderia ser mentira, oras — falou Einstein.
— Sim, mas por qual motivo?
O cliente deu de ombros, sem ideias.
— Desde que aquela planta peidou no meu rosto, comecei a alucinar com plantações vermelhas. Em um momento, até vi um ser de luz me motivando! — continuou Leonard. — Na verdade, talvez seja ela a terceira pessoa que eles estão perseguindo. Ela poderia ter passado a ser “detectável” pelo rato do Hamlet a partir do momento em que soltei ela de dentro daquele vaso. Então, quando ela peidou no meu rosto, inseriu algo em mim. Algo que o chefe de Laertes e Hamlet quer, e que talvez algum de nós três também tenha.
O detetive começou a encarar fixamente o hamster, que questionou:
— Quem?
— Tu!
— Oh… será?
— Bem, é preciso que exista uma correlação.
Elin coçou a cabeça, dizendo com um tom de voz atônito:
— A terceira pessoa que eles querem sequestrar sou eu ou a planta? Fiquei confusa — falou.
— Sei lá, uma das duas! — disse Leonard. — Tem que ter alguma correlação. Se for você, provavelmente é por ser irmã do Einstein. Se for a planta, quer dizer que o Einstein já entrou em contato com ela no passado.
— Você também está sendo perseguido. Se eu estiver, quer dizer que você é nosso irmão?
— Oh, meu Deus, você era o Galileu esse tempo todo! Plot twist!
— É, parando para pensar desse jeito, é sem lógica — comentou Leonard. — Se pá, eles estão perseguindo todos que são amigos do Einstein. Ou então, estão perseguindo aqueles que receberam a mana dele de alguma forma. Olha só, cara, cê já me curou algumas vezes e aposto que já usou a magia de cura nela pelo menos uma vez na vida.
— Cacetadas, muitas teorias… minha mente está pifando!
Leonard se levantou, sorridente.
— Satisfeitos?
— Acho que nenhuma dessas teorias faz sentido — falou Elin. — Parecem teorias da conspiração.
— É porque tudo isso é exatamente uma conspiração. Uma… conspiração do hamster.
— Cacetadas! Ele falou! Ele falou o nome! — exclamou Einstein, impressionado.
O investigador avançou até a saída do trailer, onde parou e olhou para os irmãos, quando a artista indagou:
— E agora, o que vamos fazer para encontrar o Galileu?
— Acho que o melhor a se fazer agora seria voltar até ao laboratório subterrâneo — respondeu. — Talvez encontremos algo que eu não consegui encontrar procurando quando sozinho e ferido.
— É. Apoio. Quero analisar melhor o lugar onde estive presa por sei lá quantos dias.
— Então vamos! — exclamou Einstein.
Seguindo os dois, Elin revirou seus olhos pelos dois, novamente submersa nos próprios pensamentos. “Crypto, esper, mitofera…”