Vol. 1 – Arco 1

Capítulo 13: A Volta Dos Que Não Foram

Mansão do Amadeus, Woodnation - 1:45 da tarde, quinze de Julho

Hamlet não soube o que expressar quando aquela katana atravessou o seu peito. Apenas desabou sobre o chão.

Tentou falar, mas sua boca estava muito ocupada, despejando sobre o chão aquele mar horrorizante de sangue.

— Puts, errei a mira… — fraquejou o detetive, após ter arremessado o projétil. Sangue jorrava de seu braço, já sem a lâmina presa em sua carne. Em volta das dezenas de construções de gelo escarlate, não tinha mais forças para se levantar. 

“Não sei quantas vezes eu quase morri só hoje… essa investigação tá cada vez mais perigosa!”

Há dois metros de distância, Hamlet também se encontrava caído. Com a ponta da katana atravessando seu peito, mal era capaz de se concentrar para usar os poderes. Nem mesmo conseguia falar; embora tentasse, só era capaz de emitir sons incompreensíveis e gritos horrorosos.

Observando a cena, Leonard sorriu. “Ou ele morre por causa do sangramento, ou sufocado no próprio sangue. Assim que é bom, ninguém mandou ser trouxa.”

Incapaz de levantar-se, apenas parou de olhar o homem agonizando e observou a porta aberta que levava até o jardim. Encarou o enorme portão fechado. Com o passar dos segundos, o portão virou apenas um borrão.

“Não consigo me levantar. Estou sangrando pra caramba. Nada me impede de também morrer aqui.”

 Olhou para seu braço, e ao ver aqueles ferimentos, foi acertado por uma repentina sensação de horror. Mesmo assim, não existia adrenalina que o desse forças naquele estado.

“É estranho considerar que esses últimos dias foram os melhores de toda a minha vida?” Soltou uma risada, embora quase inaudível. “Acho que a maioria das pessoas querem viver uma aventura inesquecível, mas quando algo do tipo está prestes a ocorrer, elas fogem."

"Só que… eu não fugi.”

Tentou se levantar. Falhou.

“Essa é a primeira vez que encontrei uma oportunidade dessas, o mistério de minha vida, e agarrei na hora. Tive medo, claro. Afinal, não era fácil imaginar o que viria de um caso envolvendo um feiticeiro com poderes mágicos de verdade e que anda por aí vestido de hamster. Mesmo assim, quando pensei em desistir, apenas fechei os olhos e imaginei como seria a minha vida desde então; pelo andar de minha carreira, o fato era um, eu acabaria sendo obrigado a largar esse emprego e partir para outra coisa. Mas o quê? Acho que lojista, ou talvez entregador de pizza. É… entregador de pizza seria algo bom. Pizza de graça.”

O borrão tomou toda a sua visão.

“Com o tempo, acho que a minha vontade de ser um detetive morreria por completo. Eu simplesmente desistiria desse sonho, o meu sonho de infância, e encontraria algum hobbie. Talvez, amigos. É, com certeza eu conseguiria formar algum grupo de amigos, provavelmente por causa do trabalho. Como sou um gostosão, tenho certeza de que depois disso, seria questão de tempo para que começasse a namorar. Seriam bons meses, mas aí acabaríamos terminando por diferenças de personalidade. Nunca tive dificuldades para me relacionar com pessoas, o problema mesmo é manter a relação. Formar uma família? Impossível."

"Eu até poderia ter momentos de alegria, mas nunca conseguiria ter uma vida normal, muito menos formar uma família. No fim, eu estaria sozinho no asilo, lamentando por ter desistido tão fácil e me perguntando o que eu faria se tivesse ajudado aquele esquisito vestido de hamster a encontrar os seus irmãos.”

"Disso, tenho certeza."

A escuridão não demorou para começar a assombrar sua visão.

“Pelo menos, terei vivido alguns dias de aventuras. Eu invadi uma mansão, bati num velho, lutei contra um hippie, entrei em coma por alguns minutos, espanquei dois agentes do governo, fingi ser um espião comunista, quase morri lutando contra um samurai, abri uma passagem secreta, encontrei tecnologias desconhecidas e, por fim, batalhei até a morte contra… esse cara estranho que tá morrendo do meu lado. Foi pouquíssimo tempo, mas muita coisa aconteceu”, refletiu. “Espero que aquela pessoa que eu tenha soltado fosse o Galileu e que o Einstein dê um jeito de encontrá-lo."

"De qualquer jeito, sei que o Einstein vai dar um jeito. A minha vida não foi em vão. Todos esses mistérios serão desvendados.”

Qualquer luz sumiu de seus olhos. Era uma escuridão absoluta.

“O mistério…”

Uma fagulha de luz nasceu.

— O mistério, Leonard. O mistério.

A fagulha logo se tornou um clarão. Folhas, plantas, árvores. O vermelho pintava todo aquele matagal do ambiente. Mansão? Não existia. Apenas a natureza e uma luz à frente de uma gigantesca árvore.

— Você vai morrer agora? Antes de desvendar o mistério que tanto esperou para encontrar? — indagou o ser de luz, se agachando na frente do detetive. — O tempo não para. Só existe uma chance.

Com a mente inerte de qualquer senso de normalidade, Leonard apenas encarou o ser de luz, confuso.

— Você precisa continuar. Sem olhar para trás. Apenas continue, siga em frente até cumprir os seus objetivos. Ninguém pode pará-lo. Ninguém pode impedi-lo. Essa é a sua missão. O motivo de ter nascido. Cumpra a sua missão. Desvende o mistério.

 



11:33 da noite, quinze de Julho.

Eu vou desvendar! — O teto da beliche foi atropelado pela cabeçada do detetive. — Ué? 

Ao olhar os arredores, se localizou dentro do trailer onde passou todas as noites desde que chegou na cidadezinha de Woodnation.

— Senhor detetive! — exclamou Einstein, se aproximando com aquela fantasia de hamster toda chamuscada. — Tudo bom?

— O quê? Sim, eu acho… o que aconteceu? 

“Droga, então foi tudo um sonho? Odeio esse tipo de final!”, pensou.

— Nossa, hoje foi um dia muito insano, não foi?! Me desculpe por ser sequestrado com tanta facilidade.

“Ufa, foi real.”

— Tranquilo. O que importa é que conseguimos derrotar aquele maluco do gelo.

— De fato!

— Valeu por ter salvado a minha vida naquela hora. Foi muito zica quando começamos a voar loucamente por aí! Como cê fez aquilo?!

— Inventei essa técnica na hora. Só sei que foi muito chuchuquelexento!

“Essa palavra existe?”

— E de nada — continuou. — Nem precisa agradecer por eu também ter te curado, hehe.

— Valeu, tô novinho em folha. — Observou as próprias mãos, depois os braços e pernas. Sequer restaram cicatrizes, exceto por uma marca em seu braço direito no lugar que fora atingido por aquela espada. — Se não fosse por seus poderes curativos, eu não seria tão corajoso durante as lutas.

Corajoso = completamente maluco.

— Pois pare de ousar! — Estapeou o investigador.

— Ou!

— Tinha uma katana entrando no seu braço, isso é muito nojento! Lembre-se que a minha magia de cura apenas acelera as suas capacidades regenerativas, não dá para curar ferimentos que seu corpo não trataria normalmente com o passar do tempo. Se você perder um braço, uma perna ou algo do tipo, vai ser impossível de recuperar!

— Relaxa, pô.

— Só estou te avisando, meu confrade: tome cuidado!

Leonard virou-se, com uma expressão pensativa, fitando a parede do trailer. Após alguns segundos, se voltou ao Einstein, que lhe perguntou:

— Mas e o Galileu? Cadê?

— Sei lá. 

— O quê?!

— Ó, vou te contar tudo o que aconteceu comigo desde o seu sequestro, belê? E tu conta o que aconteceu contigo. Precisamos nos atualizar.

Leonard Mystery suspirou. Após minutos de explicações, comentários desnecessários, perdas de raciocínio, dificuldades em se lembrar de palavras, pausa para beber água, pausa para fugir de baratas e etc, conseguiu explicar para Einstein tudo o que aconteceu após o sequestro dele.

— Catapimbas… — disse o hamster, previsivelmente. — Mas que narrativa espetacular! Muito do balacobaco!

— Tô ligado, hehehe.

Em seguida, foi a vez de Einstein narrar todas as suas experiências após o sequestro, desde o momento em que foi atraído por um pirulito e sequestrado até o momento que derrubou o jipe do sequestrador — e quase morreu no processo — para quebrar o bracelete anulador de poderes e fugir do Laertes.

— Muitas informações interessantes… — comentou o detetive, pensativo. — Preciso anotar tudo isso. 

— Antes de qualquer coisa, — começou o hamster — aposto que o Galileu era aquele cara que saiu da lata de refrigerante gigante e te desceu o sarrafo dentro do laboratório subterrâneo!

— Não era uma lata, mas sim uma cápsula… sei lá! E ele só me deu um chute e saiu correndo — retrucou. — Fiquei sem fôlego por causa dos meus ferimentos. Se não fosse por isso, teria agarrado ele bem naquele momento!

— Cacetadas, estávamos tão próximos de encontrar o Galileu… e agora?

— Vamos continuar procurando. Como é seu irmão, deve ser um sujeitinho bem esquisito. Não vai ser difícil encontrá-lo nesta cidade. O perigo é se ele for encontrado por outra pessoa, antes da gente, seja o Laertes ou outros agentes iguais aos que estavam fingindo serem guardas do Amadeus.

— Será que tem mais homens de preto na cidade?

— Sei lá, não dá para correr o risco. Falando nisso, alguém presenciou o acidente de carro?

— Não, graças aos céus. As ruas dessa cidade são bem vazias.

— Belê. Tá disposto a procurar o seu irmão pela cidade? Tô bem animado e descansado. Por mim, rola.

— Com certeza. Vamos, parceiro! 

Leonard estava prestes a partir, quando seu amigo o parou repentinamente. Antes que tivesse tempo de questionar, agarrou o objeto que ele tirou de uma mesinha e arremessou em sua direção. Ao olhá-la com atenção, percebeu que aquela era a arma congelante que largou durante a luta contra Hamlet.

— Nem precisa agradecer — murmurou o feiticeiro, partindo. 

— Aí já seria sacanagem. Valeu, cara! Essa arminha é muito útil. — Estendeu o item como se fosse um cavaleiro empunhando sua espada. — Seremos grandes amigos a partir de agora, Mystery Gun!

— Catapimbas, é sério? Primeiro, Strange Magic. Agora, Mystery Gun? A sua criatividade é sem limites!

— Cê tá zombando, mas me lembro muito bem de ouvi-lo gritando “Strange Magic!” quando prestes a usar sua magia.

— É que você tem pouca criatividade, mas não tenho nenhuma, aí tive que aceitar esse nome.

— É o sujo falando do mal lavado — comentou, escondendo a arma dentro de seu casaco.

A dupla se retirou do trailer e deu início a uma caminhada noturna. 

A cidade já costumava ser vazia, mas nunca que o sentimento de vazio fora tão grande quanto na imensidão da noite. O frio atormentante ajudava tal sentimento a se proliferar. Mesmo tremendo, ambos persistiram.

— Aí… valeu por ter arriscado a sua vida pra fugir e me salvar. Se não fosse por você, eu teria morrido.

— Ora bolas, detetive, isso foi o mínimo. O senhor está me ajudando muito desde que nos conhecemos e quase morreu várias vezes por causa desse caso.

— É. Mas não vou mentir, tô muito grato por ter começado a te ajudar. Sempre quis ter uma aventura dessas. Esse sempre foi o meu sonho, desde que nasci.

Hohoho, uma mão lava a outra, amigo!

— Pois é. Sério, eu lutei contra um samurai, cara. Um samurai! Isso foi muito descolado.

— Realmente, queria ter visto. Inclusive, sei que é estranho falar isso, mas senti um estranho pressentimento quando você falou sobre essa luta contra o samurai.

— Como assim?

— Sei lá… algo estranho. Já teve essa sensação de que está acontecendo agora já aconteceu antes?

— Um dejá-vú? Sim. É normal sentir isso às vezes.

— Ah, sim.

— Mas não no seu caso — revelou prontamente.

— Catapimbas, por quê?

— Tu sofre de amnésia, mané. Isso com certeza pode significar que está se lembrando de uma memória perdida.

— Será?!

— É uma possibilidade. Bora até a mansão do Amadeus, aí posso te mostrar o samurai e tu vê se lembra do rosto dele.

— Ótima ideia!

A caminhada pela cidadezinha permaneceu silenciosa por bons minutos. Apenas o vento gélido e tímido causava algum sinal de som, embora quase inexistente. Talvez fosse o frio, que invadia qualquer garganta à mostra, o motivo para tamanho silêncio. Mas era fato que um dos principais fatores a proporcionar isso eram os mistérios borbulhando dentro da mente de Leonard, sem respostas o suficiente para chegar até a verdadeira conclusão de qualquer coisa.

Afinal, quem é Einstein? O que o levou a acordar sem memórias nessa cidadezinha? Por que Amadeus tem um laboratório secreto embaixo de sua casa e qual seria o motivo dele ter enfiado Galileu ou seja lá quem fosse dentro de um tubo? Por que caralhos Leonard sempre mija xixi rosa depois de beber iogurte de morango?

Muitas perguntas, poucas respostas.

Talvez já existissem mais respostas se o elenco do livro fosse um pouco mais inteligente. Seria lamentável se os leitores conseguissem desvendar todos os mistérios antes deles, mas é muito possível.

— Isso tá estranho… — murmurou o detetive. — Einstein, conseguiu ouvir a voz do chefe daqueles dois loucos superpoderosos?

— Não. Como eu teria escutado?

— Ué, o cara não ligou pra eles e disse que deveriam me sequestrar também?

— Ah, não. Esqueci desse detalhe, né? Na verdade, os dois simplesmente ficaram paralisados igual duas estátuas, como se estivessem em transe. Depois de eu impedir o carro de bater em um caminhão, eles acordaram e o Hamlet saiu do carro para ir atrás de ti.

— Oxi… e tu vem me falar disso só agora?

— É.

“Profissionalismo”, pensou o detetive, ignorando completamente aquela vez que chamou uma de suas clientes de corna.

— Bem, o que importa é que disse agora… mas o que isso pode significar?

— Hm, não tenho a mínima ideia.

— Bicho. — Pousou as mãos sobre o próprio queixo, pensativo. — E se… e se eles tiverem um chip dentro do cérebro?

— Não sei se te entendi.

— Se pá, eles se comunicam mentalmente através de ondas de rádio captadas pelos chips. Espera, mas isso não destruiria o cérebro deles? Não sei, talvez eles não se importem muito. Ah, mas será?

— Com quem você está falando?

— Já sei! ELES SÃO ROBÔS!!!

— O quê???

— É por isso que Laertes é tão forte e rápido. Por isso que eles possuem poderes. Eles são robôs, assim como o cachorro do capeta e o rato rastreador. O chefe deles também deve ser um robô, ou talvez, um cientista louco que os projetou.

— Mas eles estavam sangrando…

— Só que isso não encaixa com as revelações dos doze apóstolos. Qual a relação disso com o caso? Será que é pura coincidência? E os sapos? Como isso se conecta com tudo?!

— Quem?

Cansado de tentar compreender o raciocínio, Einstein apenas calou a boca e continuou a caminhada, enquanto seu investigador continuava com o monólogo infinito de teorias.

Os próximos minutos foram marcados pela voz já desgastada do detetive falando sem parar por um único instante. Felizmente, o inferno cessou quando a dupla parou na frente da mansão.

No silêncio absoluto, eles escalaram o muro e caíram no gramado do jardim. 

Não existiram dificuldades em entrar na mansão e atravessar o ambiente destruído da sala de estar. As enormes construções de gelo uma vez criadas por Hamlet haviam desaparecido completamente, sem deixar rastros.

Eles seguiram em frente, atravessando o corredor que foi o principal ambiente da luta entre Leonard e aquele samurai maluco.

Enfim, chegaram na cozinha, o último cenário da batalha. O detetive varreu o cômodo com seus olhos e, ao olhar para baixo, deparou-se com o chão sujo de vermelho, junto do cadáver do guerreiro com a garganta cortada.

Flores brotando de seus ferimentos, tão vermelhas quanto o sangue. Tão podres quanto a sua alma. 

Algo sussurrava nos ouvidos do detetive. Uma voz fraca, mas com uma carga de ódio quase incontrolável:

— Vinte e dois anos…

Piscou.

— Está com alguma coisa no ouvido, detetive?

— Ahn? — Mirou o olhar até o rosto de seu cliente, atônito. — Falou alguma coisa?

— Você disse que o corpo do samurai estava aqui. Ou estou cego, ou então o senhor acabou por se enganar.

Voltou seus olhos ao chão. Samurai, poça de sangue, flores; nada disso estava mais lá. “Ué, como assim?”

— Juro que deixei ele caidinho aqui!

— Mentir é feio, sabia?

— Não vem com essa, alguém tirou o corpo daqui — deduziu rapidamente. 

— Tem que ter sido um faxineiro, né? Até o sangue sumiu!  

— Só tem um tiquinho, mas tenho certeza de que é meu.

Subitamente, Einstein foi atropelado por uma porta de geladeira voadora.

— Mas que caralhos? — O detetive virou-se para a geladeira, já sem a porta. De dentro dela, saiu o enorme samurai.

O guerreiro lendário estava ali, totalmente vivo e sem ferimentos, saindo de dentro da geladeira após ter arremessado a porta para longe com um mero chute. Era exatamente o mesmo homem, e Leonard tinha certeza disso; traje, armas, tamanho, postura. Era completamente idêntico ao samurai que ele matou!

Omae wa… — começou o guerreiro, colocando os braços para trás.

“Era só o que me faltava!”

Omae wa mō shindeiru! — avançou em uma corrida furiosa.

Um sorriso confiante nasceu no rosto do detetive, sacando a Mystery Gun. “Dessa vez, não tô só com uma pistolinha!” Destravou com uma velocidade tremenda e pressionou o gatilho. Uma rajada congelante saltou para fora do cano, avançando violentamente até o furioso inimigo.

Inimigo este que, treinado nas artes dos samurais, desviou com facilidade.

“Lascou!”

Desviou e passou pelo detetive, correndo para fora da cozinha.

“Droga!”, pensou, se virando e vendo o ainda caído Einstein sequer perceber a aproximação veloz dele. Então, berrou para chamar sua atenção.

— Cacetadas! — O feiticeiro se levantou e fugazmente saltou para trás. — Ué…? 

O vento assoprou sobre o rosto de Einstein, que apenas observou o guerreiro ignorá-lo e continuar sua maratona pelo corredor, indo em rumo a sala de estar.

— Você não tinha matado ele?

— Juro que matei, mano. — O detetive saiu da cozinha, perplexo. — Pra onde ele acha que tá indo? Vamô! — Partiu para persegui-lo.

Detetive e samurai; os dois atravessaram o longínquo corredor em questão de segundos. Einstein demorou um pouco para recuperar o fôlego, mas assim que o fez, correu atrás dos dois.

Assim que chegou na sala de estar, os dois já não estavam mais lá. Se não fossem pelas pegadas fortes do lado do jardim e os rastros de destruição que seguiram para bons quilômetros além da mansão, Einstein sequer saberia por onde continuar.

O rastro de caos — objetos violentamente atropelados — avançou pela cidade até, ironicamente, parar na entrada do barzinho que fica ao lado do estacionamento de trailers em que Einstein e o detetive dormem.

A porta havia sido escancarada.

“O que isso significa…?”, pensou o feiticeiro. Abriu a palma e, sobre ela, fez nascer uma esfera mágica de raios. Então, correu com tudo e saltou para dentro do estabelecimento. 

O bar estava vazio, por exceção da presença de mais três pessoas. Mirando os seus olhos para baixo, encontrou Leonard caído no chão. Ele agonizava de dor, com alguns sangramentos e galos vermelhos em sua cabeça.

— O que você fez com o detetive…? Maldito! — Ao olhar para frente, percebeu que o samurai estava sentado, tomando um suquinho de limão.

Ao lado do enorme homem, uma garota permanecia sentada. Ela virou-se para trás, com um olhar surpreendentemente neutro, até deparar-se com o hamster, que ficou chocado ao vê-la:

— Espera… — gritou de espanto. — O que está fazendo aqui, irmã?!



Comentários