Vol. 1 – Arco 1
Capítulo 12: A Sala Secreta (4) - Boneco de Posto
Mansão do Amadeus, Woodnation – 1:40 da tarde, quatorze de Julho.
Sentado ao lado dos cadáveres engravatados, Einstein Heisenberg Holmes espancava o seu bracelete em uma tentativa — totalmente fútil — de quebrá-lo.
Afinal, caso o feiticeiro permanecesse com o objeto ligado ao pulso, ele continuaria incapaz de usufruir de suas magias. “Macacos me mordam, isso é mais duro do que pé de urubu!”
— Ainda não desistiu? — indagou o hippie peladão, dirigindo o veículo amassado. — Tolo.
— Nunca.
“Que sensação estranha…”, pensou o hamster. Olhou para trás e depois para os lados, com um pressentimento bizarro que sequer sabia explicar. A única coisa da qual tinha certeza, é que não deveria continuar ali.
— Por quê?
— Ora bolas, o senhor está me levando até um cara que eu nunca vi na vida e que quer me ver por motivos que nem mesmo você conhece, podendo ser até mesmo um risco para a minha vida. É óbvio que quero quebrar esse bracelete e fugir!
— Tem tanta certeza? Logo, Hamlet virá de encontro conosco, com o seu amigo em mãos.
— Ué. Como assim? Então ele saiu para ir atrás do detetive?
— Exato. Engraçado, não é? A primeiro passo, o Robert Johnson me levou até o seu amigo e fiquei irritado por não ser você, que era o meu verdadeiro alvo. Agora, subitamente, o nosso senhor decide de última hora que devemos levar aquele odiador de hippies também. Isso é tão irônico! — gargalhou.
“Preciso colecionar informações. Pelo o que deu a entender, aquele rato chamado Robert Johnson…” Perdeu o raciocínio por alguns segundos, se perguntando o motivo de colocar um nome desses em um roedor. “Ele consegue identificar pessoas e levar os outros até elas. As limitações disso? Desconheço! Só sei que tive a sorte de ter me teletransportado até New Krox para me encontrar com Leonard logo no dia em que acordei sem memórias nesta cidade, porque eles com certeza estavam para ir atrás de mim e não conseguiram por causa do meu chá de sumiço da cidade (teletransporte). Além disso, esse poder do rato talvez seja meio imperfeito! Já que eles demoraram um dia para ir atrás de mim após o meu retorno à cidade. Isso sem lembrar que o rato confundiu o Leonard comigo… tem algo de errado aí!”
— Cruzes! — berrou quando um dos cadáveres encostou em seu ombro, saltando para longe. — Senhor Hippie, pode me dizer quem são esses mortos?
— Ah, eles? Após a minha fuga daquela mansão, acabei me escondendo em um matagal para descansar os meus olhos.
Observação: ele tinha desmaiado devido aos ferimentos.
— Então, quando acordei, encontrei-me preso exatamente onde você estava sentado agora a pouco, usando o mesmo bracelete que agora está em seu pulso. Queriam me prender para estudar o meu corpo monumental. Coitadinhos, mal sabiam que não era eu quem estava preso com eles, mas sim eles comigo.
— Foi o Hamlet quem os matou, não é?
— Calado! — A voz do hippie tremulou. Quando se virou, o hamster já estava sentado, de braços cruzados. Virou o rosto para a estrada, focado.
— Independentemente de quem foi, isso só mostra o quão fortes vocês são — comentou Einstein. — Derrotaram todos esses homens, mesmo com eles completamente armados, não foi?
— Exatamente.
— Além disso, você é muito forte. O meu amigo estava bem machucado depois de ter lutado contra ti. O venceu no mano-a-mano?
— Haha, sim. Admito que ele foi bem brutal, mas as nossas forças eram equivalentes. O que lhe faltou foi agilidade.
“O detetive é bem ágil”, pensou, terminando de vasculhar as vestes dos mortos, ato iniciado durante a conversa. “Droga, nenhuma arma aqui!”
— Calminha aí — falou Laertes, estendendo um pequeno controle e apertando o único botão presente nele.
Repentinamente, o bracelete no pulso de Einstein se transformou em uma algema que rapidamente conectou os seus dois pulsos e o impossibilitou de movê-los.
— Catapimbas, mas o que é isso?
— Acha que sou incapaz de ouvir seus movimentos ardilosos? É inútil, já tirei as armas desses homens.
“Como ele me ouviu se não fiz nenhum barulho? Fui extremamente silencioso!”, pensou Einstein, falando:
— Se deram o trabalho de tirar as armas dos cadáveres, mas não de tirar os cadáveres do camburão?
— Foi para que você sentisse a nossa imponência.
— Nossa, que crueldade…
— Crueldade? — rosnou. — Certamente não conhece outros sequestradores. Junto do Hamlet, fui bem bacana contigo até este momento.
“Óbvio, tem medo do chefe me achar um hamster fofinho.”
— Saiba que estou fazendo de tudo para não atacá-lo, mas se continuar com essa ousadia inconsequente, talvez eu venha a me descontrolar e falhar nessa missão.
— Ok… — respondeu, cabisbaixo.
O hippie voltou a se concentrar na direção. Um silêncio opressor dominou o veículo.
…
Não por muito tempo.
— Laertes, você conhece o zé do pão?
— Zé do pão?
— Aquele que te acerta a mão! — berrou o feiticeiro, partindo até o assento do motorista.
— Ah, que ridículo!
Para a surpresa de Einstein, um chihuahua saltou do colo do hippie. De onde ele veio? Um mistério, mas o fato era que a criatura — idêntica a todos os outros chihuahuas que apareceram com o loiro — saltou até seu rosto.
Porém, Einstein não parou. Seguiu em frente e saltou para cima do assento.
— Você vai causar um acidente! — gritou Laertes, o atingindo com uma joelhada.
A força dele não era uma mentira. Einstein sentiu a pressão aterrorizante quebrar algumas de suas costelas. Ainda assim, não desistiu e agarrou o volante para puxá-lo.
E puxou. Com força.
…
Hamlet, o homem cujo senso de moda seria espetacular caso essa história se passasse na Idade Média, saiu de trás do enorme muro escarlate que o protegeu da rajada de gelo disparada pelo nerf super-tecnológico usado pelo detetive Leonard Mystery.
Isso não foi difícil, afinal, o próprio muro era tão gelado quanto o disparo da arma.
"Gelo… só que vermelho. Criar gelo, esse é o poder dele? Sério que encontrei esse guri logo depois de eu ter pego uma arma congelante? Santa conveniência…", pensou o detetive. "Bem, eu não estava errado, parece que todas essas pessoas que estão atrás do Einstein possuem habilidades paranormais e são muito fortes!"
— Talvez não seja de seu interesse, mas de onde eu vim, títulos são bastante comuns — comentou o homem. — Ele pode demonstrar as forças ou fraquezas de seu dono. Com isto em mente, me orgulho de dizer que um dos meus títulos era O Senhor Carmesim.
— Grande coisa, zé bostola.
— "Grande coisa?" Quanta insolência. Duvido que você possua um título superior.
— Bem… eu acumulei muitos título diferentes na escola: estranho, esquisito, anta, ex-doador de neurônio, homem-dst, maluco, esquizofrênico, tatu-bola, Sherlock Holmes do Paraguai, filho de fantasma, filhote de cruz credo…
— Olha… — Hamlet suspirou, totalmente sereno. — De qualquer forma, saiba que qualquer oportunidade que você tiver de vir comigo sem necessidade de intrigas fora evaporada pela insolência que teve ao me atacar com um brinquedo desses.
— Salgadinho estragado, homem do saco, chorume, metralhadora de bosta, filhote de lombriga, bafo de bunda, saco de bosta… me esqueci de algum? — Parou quando viu a mão do inimigo erguer-se em sua direção.
Se uma vez disparou uma rajada congelante contra o homem, o seu golpe foi apenas uma pedrinha se comparada com a frota de gelo que foi criada sobre o chão na frente de Hamlet. Um gelo tão vermelho e vivo quanto sangue.
— Você foi avisado, detetive. — A frota de gelo cresceu em segundos, avançando até Leonard como um tsunami.
"Ferrou!", pensou. A situação não diminuía a dor dos cortes espalhados entre suas pernas e braços. Ainda mais quando se tratava da katana, superficialmente enfiada em seu braço, impossibilitando qualquer movimento levemente complexo daquele membro ensanguentado.
Só que, não importava o tamanho da dor, era preciso reagir. Afinal, ser pego pela onda irrefreável de frio era o mesmo que ser congelado até a morte.
Leonard voltou-se para trás, cambaleando para fugir da frota.
Porém, logo entendeu que naquele seu estado, não era rápido o bastante. Precisou arriscar e ir além.
Ao invés de continuar correndo inutilmente, ou atirar contra o gelo, optou por mirar a sua arma congelante para chão abaixo de seus pés. Apertou o gatilho com força.
A rajada de frio voou com força contra o chão, e a partir dela, o gelo foi se criando abaixo do detetive. Isso até que uma fina e longa torre fora construída sobre seus pés, o deixando a metros de distância do chão, quase encostado no teto da sala de estar.
— Não irei mentir, isso foi sagaz — comentou Hamlet, materializando uma estaca de gelo sobre a própria mão. — Entretanto, inútil.
"Ih, carai!" O detetive observou a estaca vindo em sua direção como uma flecha.
Abaixando-se velozmente, permitiu o projétil de gelo passar por cima de seu corpo, atingindo apenas o teto. Todavia, não demorou para que outras duas estacas viessem com tudo.
Dessa vez, para desviar, foi obrigado a pular da recém-criada torre de gelo. “Droga!”
Em queda-livre, sentiu os dois projéteis raspando por suas costas. Ignorou completamente e respirou com firmeza.
O chão da sala, totalmente coberto pelos espinhos de gelo carmesim feitos pelos dotes do inimigo, já eram incapazes de abrigar Leonard sem empalá-lo por completo. Por isso, ele apontou sua arma congelante para baixo e novamente disparou.
Subitamente, criada pelo frio da arma, outra torre de gelo cresceu abaixo de seus pés, o permitindo cair com segurança a alguns bons metros de distância do chão.
— Ficaremos nesse impasse? — Hamlet perguntou, impaciente. — Posso continuar com isso por muito tempo, até o senhor cansar, mas não vejo como você possa fazer o mesmo comigo. Afinal, a única coisa que têm é uma arma que simula 10% de meu poder total.
— É MENTIRA!!! — gritou uma voz reconhecivelmente infantil, que não vinha nem de Hamlet e nem de Leonard, mas sim de alguém que acabara de chutar a porta de entrada. — Ai, ai, ai, meu pézinho!
Como falhou em escancara-la com o chute, decidiu abri-la delicadamente para adentrar o recinto. Einstein Heisenberg Holmes estava de volta.
— Einstein, você escap–, eita porra!
A reação exagerada do detetive poderia estar relacionada ao fato de que a fantasia de seu cliente encontrava-se em um estado deplorável; toda escura e dilacerada, como se ele tivesse acabado de ser explodido. Porém, tal grito se deu quando Leonard fora atingido por mais uma estaca de gelo, que aproveitou da distração para penetrar o seu ombro como se fosse a lâmina de uma faca.
Uma tontura atingiu sua mente à medida que o sangue escapava de seu ombro. Totalmente aturdido, tentou manter-se em pé, mas acabou por escorregar para fora da torre e caiu contra o mar mortal de gelo.
Quanto mais próximo de cair sobre as lâminas de gelo, mais grandes e monstruosas elas pareciam se tornar. Tentou usar sua arma congelante, mas estava tão fraco que sequer conseguia mirar; seu destino era ser empalado vivo, como um animal.
— Strange Magic! — gritou Einstein ao ver a cena, do outro lado do cômodo, dando origem a uma esfera mágica de ar.
O detetive apenas pôde ouvir o som da explosão de ar, que precedeu o momento em que o hamster surgiu voando em sua frente e o agarrou em meio à queda-livre.
— Maldito Hamlet! — gritou Einstein, gerando outra bola de ar e arremessando ela contra o mar de gelo onde estava prestes a cair. Todo aquele ar comprimido, ao chocar-se contra a superfície, explodiu em uma poderosa ventania que poderosamente arremessou a dupla dinâmica até o teto. — Como ousa atacar o meu amigo enquanto estamos nos reencontrando?
— É, cara! — resmungou Leonard, desnorteado. Os dois ainda sendo arremessados pela enorme força da ventania mágica. — Cê deveria ter ficado apenas olhando a gente e dito: “ah, que cena linda”, aí só depois disso nos atacar!
A resposta que a dupla recebeu veio na forma de uma chuva de estacas de gelo.
Todavia, elas foram repelidas pela poderosa ventania que saiu da mão do hamster assim que sua nova esfera de ar explodiu. O golpe mágico não apenas devolveu todas as estacas, como impulsionou a dupla para trás em um outro voo superveloz.
— Já estão me tirando do sério — falou o inimigo, com um olhar frio e implacável. Apenas estendeu a mão e todas as estacas, prestes a atingi-lo, pararam no ar e voltaram-se novamente contra a dupla.
Dessa vez, não apenas isso.
A dupla, usufruindo de diversas explosões de vento, voava pelo cômodo em extrema velocidade, mudando de direção a cada instante. Isso se tornou uma necessidade quando diversas torres de gelo subitamente começaram a brotar sobre o mar de gelo para tornarem-se seus obstáculos no meio do perigoso voo.
— Catapimbas! — Em um momento, uma das torres surgiu bem na frente deles. Foi necessário um enorme reflexo por parte de Einstein para dizimá-la com uma esfera de chamas antes que os dois se chocassem contra ela. — Essa foi por pouco, meu confrade!
Mais e mais torres começaram a surgir, e Einstein consequentemente aumentou a velocidade, disparando duas esferas de ar de uma vez a cada vez que se encontrava próximo de uma superfície — para assim, ser arremessado até o lado oposto.
A dupla continuou se deslocando daquela forma insana e perigosa, desviando agilmente de cada uma das torres, isso até a sala ficar com mais torres do que espaços livres para voar.
— Isso já tá ficando impossível! — vociferou Leonard, já mais consciente. — Precisamos derrotar aquele maluco o mais rápido possível! Se continuarmos nisso por mais tempo, ou vamos morrer pelo Hamlet ou eu vou vomitar, o que é bem pior do que a morte!
— É verdade… macacos me mordam! — gritou o feiticeiro, percebendo o surgimento da torre à sua frente muito tarde para conseguir conjurar uma magia.
Prestes a se chocar brutalmente contra a torre, Leonard se concentrou e agiu rápido.
Soltou-se rapidamente dos braços de Einstein e firmou suas pernas contra ele para chutá-lo. O chute, de tão forte, arremessou ambos para direções opostas; seu amigo voou contra a parede, o choque foi tão brutal que o hamster atravessou a superfície, caindo para fora da mansão. Enquanto isso, o investigador acabou pousando em cima de outra torre.
Se levantou rapidamente. Totalmente concentrado, sem tempo para dar atenção aos seus diversos sangramentos, correu pela enorme torre de gelo e saltou para outra.
“Ok, isso é uma boa ideia.” Aproveitou de estar fora da vista de Hamlet para repetir o processo, pulando em outra torre. Repetiu novamente logo em seguida, correndo por ela e pulando para outra. Daquele modo, de pouco em pouco, alcançaria o seu inimigo.
Como um personagem de videogame, foi saltando entre as torres de gelo até parar no início da casa. Encontrava-se na frente de Hamlet, mas por estar sobre uma das dezenas de torres que quase alcançavam o teto de tão grandes, sequer fora visto por ele.
Aquela era sua chance de ouro. Segurou firmemente a arma congelante e, ignorando todos aqueles machucados e sangramentos, deu um salto da fé.
Como uma águia, caiu em direção do inimigo, pronto para atingi-lo com um tiro à queima-roupa.
Porém, ao invés de um disparo gélido, a única coisa que a arma fez quando Leonard apertou o gatilho foi um ‘trec’.
“Emperrou? Logo agora? Qualé!”
Ainda em queda-livre, viu os olhos afiados de Hamlet virarem-se furiosamente para sua direção.
“Tomei no boga!”, pensou, sem parar de pressionar o gatilho da arma enlouquecidamente. “Vai, desgraça!”
O cagaço aumentou quando várias daquelas estacas de gelo surgiram flutuando sobre o inimigo e foram voando em sua direção.
“Vai!” Não parou de pressionar o gatilho, até que o tiro finalmente saiu.
O disparo de gelo veio na forma de uma poderosa rajada, que impulsionou Leonard para cima, depois para o lado, depois para o outro lado, depois para baixo, depois para cima de novo, processo que se perpetuou por um bom tempo e o transformou em um boneco de posto que parecia sofrer uma overdose.
— Verme, pare por pelo menos um instante! — Hamlet tentava atingi-lo com as estacas de gelo, mas era impossível acertar o alvo daquele jeito. Muito pelo contrário; o atingido fora ele.
Hamlet gritou desesperadamente ao ser acertado por aquela poderosa rajada… de vômito.
— Como ousa? — gritou, horrorizado. — De todos os guerreiros brutamontes que já vi, nunca encontrei um tão sem modos quanto o senhor! Verme! Verme! Verme! Vou te matar, seu verme nojento!
Leonard até tentou responder, mas continuava voando como um boneco de posto drogado. Vomitar foi o mais próximo de falar que conseguiu fazer naquele estado. “Droga, ficou emperrado de novo!” Referia-se ao gatilho da arma, o que explicava o motivo da rajada congelante super poderosa não cessar nunca.
Já sem aguentar aquilo, esperou passar próximo ao chão para largar a arma e cair. Pousou ajoelhado, totalmente desnorteado. Ao olhar para frente, encarou a mão do inimigo.
— Morra! — gritou o oponente, disparando outra daquelas rajadas de gelo.
Leonard queria se mover, mas de tão desnorteado e fraco que seu corpo se encontrava, sequer respondia o próprio dono. O máximo que pôde fazer foi cair, mas nem isso fez a tempo, pois a rajada congelante já vinha em sua direção para petrificar o seu corpo.
Isso, claro, segundo sua visão vertiginosa — pois a rajada, no fim, apenas passou ao seu lado e congelou a parede logo atrás de si.
— Droga! — furioso, o inimigo começou a passar a mão sobre seu rosto sujo, principalmente na área de seus olhos.
“Eu deixei o cara cego sem querer?!”, pensou Leonard, logo percebendo que aquela era a chance de ouro para derrotar Hamlet.
Sem mais tempo para resmungar, esgueirou-se rapidamente e avançou na direção do oponente. Tirou inúmeros shurikens de sua pochete, aquelas que roubou do samurai, e disparou contra ele.
O que não esperava era que, em questão de segundos, o infame homem tiraria o vômito do rosto. Com seus dotes, Hamlet apenas fez o vômito virar um frágil gelo que rachou em fragmentos apenas pelo contato com o ar.
— Ridículo. — Já com a visão recuperada, Hamlet parou os projéteis facilmente assim que materializou um pequeno muro de gelo em sua frente. — Olha só você… ensanguentado, fraco, tremendo. Lamentável.
O detetive fraquejou e começou a cambalear, caindo ao lado dele.
— A teimosia foi o seu erro — afirmou o homem, mirando sua mão para o caído, até que aquilo aconteceu.
Repentinamente, os olhos afiados e frios de Hamlet entraram em choque ao ver a cena que presenciava em sua frente. A sua postura foi sumindo com o passar dos segundos, desacreditado com o que estava vendo, se perguntando como aquilo poderia ser possível.
Tão perplexa foi sua reação que sequer fora capaz de reagir ao acontecimento seguinte.
…
— Ai, minha barriguinha… — resmungou Einstein, incapacitado pela dor que atingia cada canto dele. Principalmente, barriga e costas.
Não sendo anormalmente resistente como o detetive, fora incapaz de levantar-se de imediato. Já tinha acabado de sair de uma enrascada, quando derrubou aquele jipe para quebrar o bracelete bloqueador de poderes e fugir de Laertes, quase morrendo no processo. Precisou usar sua mana curativa para conseguir curar suas costelas e pernas, que quebraram nessa brincadeira, e agora precisaria usá-la de novo para se curar dos seus novos ferimentos. Que dia horrível!
Na verdade, não. Sequer poderia usar magia para se curar agora. Precisava guardar o restante que tinha para curar Leonard, que carregava muitos mais ferimentos. Pensando mais fundo, precisava ir atrás dele o mais rápido possível, pois ele ainda estava dentro daquela casa infernal batalhando contra o maldito cara do gelo!
“Tenho que tirá-lo das mãos daquele salafrário de roupas esquisitas!”, pensou, se levantando lenta e dolorosamente. Ofegante, esforçou-se o máximo para caminhar do quintal até a entrada da mansão, caindo algumas vezes no caminho.
Quando finalmente parou na frente da porta, a abriu delicadamente e se deparou com uma cena traumatizante para seus olhinhos de hamster.
Leonard caído em sua frente, coberto de todo aquele sangue e cheio daqueles ferimentos que já tinha anteriormente, mas que pioraram durante a batalha. Estava completamente inconsciente.
Ao lado, Hamlet, caído no chão. Ainda acordado, mas se afogando sobre o próprio sangue. Em seu peito, uma katana o atravessando, como se ele fosse um animal empalado.
Voltando para o detetive, Einstein observou a cratera de sangue em um dos braços dele. Lembrava-se que, aquela mesma katana que agora se encontrava dentro do inimigo, antes estava cravada no braço do investigador. “Ele a arrancou com as próprias mãos?”
Totalmente perplexo, só não refletiu mais sobre como a cena deve ter sido surpreendente para o inimigo por precisar curar seu colega urgentemente antes que ele morresse de hemorragia. Depois, poderia tentar curar Hamlet para prendê-lo e interrogá-lo.
Isso se aquela rajada de gelo não tivesse sido disparada.
— Ei! — gritou o hamster, desviando por pouco.
“Ele ainda consegue usar os poderes nesse estado?”
Quando se virou para o inimigo, se surpreendeu com uma coisa: Hamlet já não estava mais lá, apenas as suas construções escarlates de gelo.
Pensou em ficar alerta, mas sabia que ele não seria capaz de lutar naquele estado, havia atirado apenas como distração para fugir. Dificilmente conseguiria sobreviver naquelas condições, então já não era mais uma ameaça.
Einstein focou exclusivamente em curar o seu colega.