Volume 4
Capítulo 2: Ah, é no outono que o amor floresce!
Primeiro, ele fura a ponta de uma banana frita.
— Ei, Akasaka.
— Eu vou permitir que você fale, então continue.
Logo após, ele coloca um palito no furo feito na ponta da banana.
— A apresentação do Nyaboron ontem... não, antes de ontem... foi um grande sucesso. Demorou muito, mas valeu a pena não aproveitar as outras coisas do Festival Cultural para podermos finalizar tudo...
— Eu, de qualquer forma, já planejava "não aproveitar" o Festival Cultural. Mas, sim, concordo que o Nyaboron foi um sucesso.
Então, ele retira o resto da casca da banana.
— Os aplausos... cara, aquilo foi incrível. Acho que ainda estão ecoando em meus ouvidos.
— Uhum.
— E isso foi no quinto dia do Festival Cultural.
— Anteontem. Foi no dia 7 de novembro.
— Isso aí...
— Aonde você quer chegar, Kanda? Eu não tenho tempo para perder com suas lembranças.
Logo após, ele derrama chocolate derretido em cima da banana.
— Então, tipo, a gente tem o direito de aproveitar um pouco do Festival Cultural, né? Já que trabalhamos tanto no Nyaboron... E o festival durou uma semana inteira...
— Eu já entendi que você quer "aproveitar" o festival, Kanda.
Então, ele coloca granulado colorido por cima do chocolate.
— Mas isso não é estranho? Por que já era o último dia do festival quando eu acordei?! E já passou até da hora do almoço... o Festival Cultural vai acabar daqui algumas horas! Eu tô tendo que trabalhar nessa venda de chocobanana desde manhã sem descanso!
Por último, ele vende a chocobanana pronta por 100 ienes.
— Obrigado por comprar. Aproveite o festival.
E ele dá um sorriso para o cliente.
— Nós trabalhamos até o último minuto no Nyaboron. Portanto, não é tão estranho que a gente tenha dormido por 36 horas seguidas quando terminamos.
— Não é disso que eu tô falando!
— Então não entendi o seu ponto.
— Quando acordei, eu vi a data e fiquei me perguntando se havia avançado no tempo.
— Isso é sinal de que você é ruim da cabeça. Melhor buscar ajuda médica o quanto antes.
— Para com isso!
— É só o Festival Cultural, por que você tá fazendo tanto alarde com isso?
— O que você quer dizer com "só"? Você tem noção do tamanho do festival?!
Sorata não sabia como era em outras escolas, mas na Suimei, era um dos maiores eventos daquela região.
— O Festival Cultural é só uma perca de tempo, já que a gente nem ganha ponto por isso. Daria para chamar isso de fim de semana sem aula.
— Não fale como se fosse um tipo de recesso escolar!
Suspirando, Sorata olhou ao redor da sala. Estava bastante movimentado durante o horário de almoço, mas agora o número de clientes diminuiu. Havia apenas um grupo de 3 alunos.
As palavras "Venda de Chocobanana", feitas de papel amarelo, foram coladas na janela de forma que possam ser lidas do lado de fora.
Nanami, a responsável pela sala de aula, perguntou a Sorata o que ele achou da sala de aula durante a manhã, então ele respondeu:
— Por que não mudamos o nome da loja para "vendinha"?
Ele respondeu com a maior sinceridade possível, mas Nanami pisou no pé dele.
— Você não entende nada sobre vendas, Kanda.
Quando Nanami falou isso com uma expressão séria,
— Vou estudar mais sobre isso, então.
Sorata apenas respondeu de forma curta.
Então, Sorata estava fazendo e vendendo chocobananas naquela sala de aula enquanto vestia calças pretas, camisa amarela e um colete preto colorido como uma chocobanana.
A outra pessoa que estava trabalhando na loja, Ryuunosuke, estava vestido com seu uniforme escolar e estava fazendo algo em seu computador enquanto estava sentado em uma mesa que ele pegou. Ele não fez uma única chocobanana e nem parecia que iria fazer.
Sorata era quem estava cuidando de tudo na loja aquele dia.
— Akasaka, pode trocar de turno comigo? É bem rápido!
— Recuso.
— Só dez minutos! Não, só uns cinco minutinhos já seria bom! Por favor, me deixa criar alguma memória boa do Festival Cultural!
— As memórias do Nyaboron já são mais que suficientes. Na verdade, é impossível criar memórias mais incríveis que essas.
— Bem, é verdade, mas...
Se o que Misaki disse era verdade, então Mashiro deveria estar vestida como uma mulher gato na "Exposição da Floresta"... ela deveria ser uma guia lá dentro enquanto vestida como uma gatinha.
Se ela realmente estava vestida assim, então Sorata queria ver, pelo menos uma vez.
— Por favor, Akasaka!!
— Eu recuso, de novo.
— Por favor.
— Me fala, você quer ir ver uma mulher? É isso?
— E-E se for?
— ...
Ryuunosuke digitou no teclado enquanto virava o rosto.
— Não me ignora!
— Cuidar da loja é demais para mim.
— Por que?!
— Primeiramente, eu odeio fingir ser amigável com as pessoas. Um vendedor mau educado sujaria o nome do negócio.
— Se você sabe qual é o seu problema, então conserte ele!
— Segundo, eu não gosto de chocobananas. E mulheres que comem chocobananas são ainda piores.
— Por favor, não fala isso perto dos clientes. As pessoas vão te achar ainda mais estranho.
Felizmente, não havia clientes mulheres na hora.
— E, por último, eu não quero ficar como vendedor.
— Ué, eu também não quero, cara!
— Incrível. Então você é o único que pode fazer isso, Kanda.
— Isso nem fez sentido! Mas eu já entendi que você não quer!
— Se você sabe que não quero, então não fica pedindo.
Sorata não sabia ao certo, mas parece que o cansaço dos outros dias ainda não passou completamente.
Akasaka bocejava várias vezes. Sorata também estava assim...
— Ei, Akasaka~ você não pode, pelo menos, vestir a roupa do garçom?
— Por que?
— Eu pareço um idiota vestindo isso sozinho.
— Isso não é verdade, Kanda.
Ryuunosuke olhou por cima da tela do computador.
— Huh? Quer dizer que combina comigo? Eu fiquei bem com essa roupa?
— Não. Você não parece um idiota, você é um idiota.
— Ah, é isso mesmo...
Bem, já foi um feito e tanto ter conseguido trazer Ryuunosuke para a escola essa manhã. Sorata teve que se esforçar muito para o arrastar para fora do quarto.
Quando Sorata falou com ele do lado de fora da porta,
— Eu não tenho que ir para a escola hoje se não vai ter aula.
Com isso, Ryuunosuke se recusou a sair de seu quarto, o quarto de número 102.
Normalmente, Sorata desistiria, mas ele não queria fazer isso agora. Porquê, sem Ryuunosuke ali, Sorata ficaria sozinho cuidando da loja.
— Vou ficar sozinho lá sem você!
— Kanda.
— Ah, você vai vir?
— Você precisa mesmo é ir para um psiquiatra, não para a escola. Você me irrita.
— Obrigado por falar isso! Agora vou ficar ainda mais deprimido!
Depois, com a ajuda de Jin, Sorata conseguiu arrastar Ryuunosuke para fora de seu quarto e o levou para a escola.
Ele não tinha escolha de ficar ou não cuidando da loja, já que foi algo escolhido para ajudar a classe, então ele continuaria ali para manter o bom relacionamento com os colegas.
Quando os três clientes que estavam ali foram embora, Sorata se sentou ao lado do balcão.
Quando Sorata pegou seu telefone para verificar a hora, Sorata se lembrou de algo.
— Akasaka, você tem que responder as mensagens da Rita.
— Não se preocupe. Estou respondendo ela na velocidade da luz.
— Faça você mesmo, não manda a Maid-chan.
— Por que eu deveria desperdiçar meu precioso tempo com a ex-aproveitadora?
O ódio de Ryuunosuke pelas mulheres ainda era o mesmo de sempre.
— Por que você odeia tanto as mulheres?
Ryuunosuke finalmente olhou para ele por cima do computador. Ele olhou para Sorata por um momento, mas continuou a digitar em seu teclado.
— ... Isso... Isso não lhe diz respeito.
O jeito que Ryuunosuke respondeu foi diferente do normal. Normalmente ele responderia com "Não te interessa" ou "Não é da sua conta".
— Eu fico ainda mais curioso quando você responde dessa forma!
— Ei, Kanda. Tem duas pessoas aqui que querem comprar algumas frutas verdes, mas que podem ser amarelas quando estão maduras, que também são fáceis de descascar e que os macacos amam. Elas querem essa fruta coberta com uma mistura de cacau em pó em açúcar, com alguns doces por cima.
— Apenas diga "chocobanana"!
Sorata e Ryuunosuke pararam de conversar e Sorata colocou o chocolate em cima das bananas na frente das clientes. As duas garotas, que pareciam estar no primeiro ano, disseram “Uau~,” e “Parece delicioso,” alegremente.
As duas garotas do primeiro ano que receberam as chocobananas sorrindo, não foram embora ou se sentaram em alguma mesa, mas ficaram olhando para o rosto de Sorata como se ainda quisessem dizer alguma coisa.
— Tem algo no meu rosto?
— Elas provavelmente querem apontar sua expressão estúpida.
Ignorando o comentário rude de Ryuunosuke, Sorata pediu às duas garotas que falassem, e elas disseram:
— H-Hmm, o N-Nyaboron... foi legal.
— Foi muito divertido!
As duas falaram sobre o Nyaboron.
Com o elogio inesperado, Sorata ficou sem reação.
— A-Ah... Tendi... muito obrigado.
Isso foi tudo que ele conseguiu pensar.
As duas garotas deram um gritinho feliz e foram se sentar em uma das mesas.
Foi só então que Sorata sentiu como se estivesse flutuando nas nuvens. Ele não estava mais sentindo os próprios pés, e pensou que estava no céu.
Sendo guiado pela emoção crescente dentro de seu coração,
— Uhuuu~!
Sorata fechou as duas mãos e as levantou para torcer por si mesmo.
Se ele não mordesse os lábios de baixo, iria dar um grito alegre. O que ele deveria fazer...? Ele não conseguia parar. Ele nunca foi tão feliz em todos seus 16 anos de vida.
— Kanda. É desagradável te ver assim, então pare de sorrir.
— Não, eu deveria sorrir agora! Você não está feliz?
— Não se preocupe. Estou muito feliz.
— ... Você é realmente incrível, então. Você não está demonstrando um pingo de emoção.
Mas o que era isso? Ele ainda podia sentir alguém olhando para eles... As duas garotas que elogiaram Nyaboron estavam olhando.
Elas viraram fãs de Sorata? Não tem como. Nenhuma garota jamais o trataria assim. Nunca o trataram e nunca irão tratar ele assim. Mas, por causa do Nyaboron, talvez...
Enquanto Sorata pensava sobre essas coisas estúpidas, ele percebeu que as garotas, na verdade, estavam olhando para Ryuunosuke.
Se ele ficasse de boca fechada... Não, se alguém não conhecesse a péssima personalidade de Ryuunosuke, iria pensar que ele é só um cara bastante bonito, então não era raro ver algumas garotas que gostavam de Ryuunosuke.
— Na verdade, estávamos no meio da nossa conversa, não é? Então, por que você odeia as mulheres, Akasaka?
Sabendo que as duas garotas estavam ouvindo, Sorata fez a mesma pergunta novamente para Ryuunosuke.
— Isso não lhe diz respeito.
Ryuunosuke respondeu exatamente como antes.
— Desisto.
Ryunosuke nem respondeu Sorata depois disso.
Se Ryuunosuke não queria falar, então não havia nada que Sorata pudesse fazer.
Abrindo seu telefone, ele enviou uma mensagem para Ryuunosuke.
— Por que o Akasaka odeia mulheres?
Como esperado, Maid-chan respondeu instantaneamente.
— Há um motivo que é tão alto quanto o Monte Everest e tão profundo quanto a Fossa das Marianas.
— E que motivo é esse?
— Isso aconteceu antes do Mestre Ryuunosuke conhecer você, Sr. Sorata... isso mesmo. Foi durante o fundamental.
— Ohh.
— O Mestre Ryuunosuke tinha dois amigos muito próximos.
Desde o início, a história era inacreditável.
— Kotaro e Akemi. Kotaro era um garoto, e Akemi era uma garota.
Parece que ele estava chegando à parte principal da história.
— Mestre Ryuunosuke, Kotaro e Akemi faziam tudo juntos, e eles eram muito, muito amigos.
— Sério isso?
— Um dia, o Mestre Ryuunosuke se apaixonou. No entanto, Mestre Ryuunosuke descobriu que Akemi gostava do Kotaro.
Sorata já esperava que isso acontecesse.
— Enquanto isso acontecia, Mestre Ryuunosuke descobriu os verdadeiros sentimentos de Kotaro. E os de Akemi também. Então, Mestre Ryuunosuke decidiu manter seus sentimentos em segredo e deixar os dois namorarem.
— Maid-chan, essa história está relacionada a como Ryuunosuke começou a odiar as mulheres, certo?
— Então, na véspera de Natal...
— Maid-chan, eu percebi que você me ignora às vezes... É algo programado ou você faz isso de propósito?
— Claro que é de propósito. *Sorriso*
— Então não faça mais isso!
— A parte importante é aceitar, então cala a boca aí, se não eu te mando algum tipo de vírus ou sei lá.
— Quando você diz "algum tipo de vírus", você tá realmente de um vírus em si! Não faz isso de novo, por favor!
— Naquela noite de véspera de Natal, algo aconteceu.
— Tá me ignorando de novo!
— O Mestre Ryuunosuke decidiu dar um pouco de privacidade para Kotaro e Akemi, então ele decidiu não ir a uma festa de Natal que os três haviam planejado, e passou a noite fria sozinho.
— Ah.
— No entanto, por algum motivo, Akemi veio encontrar Mestre Ryuunosuke. Ela estava sem fôlego, respirando fundo.
Será que ela percebeu que, no fim, gostava de Ryuunosuke? Ryuunosuke desenvolveu um ódio por mulheres depois que ele namorou Akemi, mas as coisas não deram certo no final?
— Quando Akemi viu Mestre Ryuunosuke, ela deu um tapa na cara dele com toda a força.
— É o que?
— Ela fez isso duas vezes.
— Por quê?!
— Porque a pessoa de quem Kotaro realmente gostava era, na verdade, o Mestre Ryuunosuke. Quando Akemi descobriu, ela amaldiçoou o Mestre Ryuunosuke, gritando "Seu ladrão! É um dragão ladrão!".
— Entendi...
— E assim, o Mestre Ryuunosuke desenvolveu ódio contra as mulheres desde então... Buumm!
Resumindo, Ryuunosuke gostava de Akemi, Akemi gostava de Kotaro e Kotaro gostava de Ryuunosuke! Era um verdadeiro triângulo amoroso. Depois, Mestre Ryuunosuke decidiu que não precisa de nenhuma outra mulher, então ele me criou.
— Isso é algo bem pior do que eu esperava.
— Bem, eu inventei cada coisinha dessa história, então, por favor, não acredita nisso, viu.
— Calma aê!
— De jeito nenhum eu iria tagarelar sobre o segredo do Mestre Ryuunosuke. Já que você acreditou nisso, Sr. Sorata, já posso presumir que você tem o QI menor que o de um macaco. Até mais, Sr. Macaco!
— Você acabou de me chamar de macaco?! Você não era só uma I.A de resposta?! Quanto mais você vai evoluir?!
— Kanda, você se sente melhor agora?
— E você tava vendo tudo, né!
— Claro que sim, bocó. Você esqueceu que estava enviando mensagens para mim?
— Não, bem, isso é verdade... não, não é isso. Apenas responda a Rita.
— A Maid-chan já está fazendo isso.
— Não adianta nada se você não fizer isso.
— Por que?
— Porque ela ficaria mais feliz se fosse você quem mandasse as respostas.
— Kanda, por que eu deveria agradar a Ex-Aproveitadora?
— Sentimentos à parte, você poderia pelo menos dizer “Bom trabalho fazendo as artes para o Nyaboron”. Você gostou dos desenhos que ela fez, certo?
Aliás, nenhum dos desenhos de Rita foi rejeitado durante o processo, era o que se esperava de uma artista. Quando Rita voltou para a Inglaterra, ela voltou a pintar e desenhar.
— Entendo, seu ponto foi aceito.
Aceitando a proposta de Sorata, Ryuunosuke abriu o programa de enviar mensagens.
Digitando rapidamente no teclado, ele enviou na hora.
— Bom trabalho, parabenizo você.
Foi isso que ele escreveu.
— Por que você é assim...?
A diferença de horário entre o Japão e a Inglaterra é de nove horas. Já que estaria de manhã cedo na Inglaterra, Rita iria ver a mensagem de Ryuunosuke em breve. Sorata sabia que Rita iria enviar mensagens reclamando para ele depois.
Enquanto ele estava falando com Ryuunosuke, dois novos clientes entraram. Ambos estavam vestindo os uniformes da Suimei... Não, eram pessoas que Sorata conhecia muito bem.
— Bem-vindos... oh, são vocês, Aoyama, Miyahara.
Quem estava com Nanami era Daichi Miyahara, da turma ao lado. Ele era um pouco musculoso, já que estava no clube de natação, e era bastante alto. É difícil descrevê-lo de forma exata. Sorata sabia que ele era um cara bem legal. Isso porquê ele dividiu um quarto com Daichi no ano passado, de abril até julho, durante três meses. Quando Sorata levou Hikari, a gata branca, para o dormitório, Daichi não se importou, e ele até ajudou Sorata a cuidar da gata.
Daichi e Nanami foram os únicos amigos de Sorata que não o trataram diferente após ele se mudar para o Sakurasou.
— E aí, Kanda.
— Oi, Miyahara.
Daichi virou seu grande corpo e mostrou a faixa escrito "Comitê do Festival Cultural" em seu braço esquerdo, com orgulho.
— Miyahara... você não tinha dito uma vez que nunca faria parte do comitê, mesmo que custasse a sua vida?
— Huh? Sério? Mas ele disse que tava bem animado para ajudar...
Nanami fez uma cara de confusão e choque.
— Do que cê tá falando?! Eu sempre quis fazer parte!
Atrás de Sorata, eles puderam ouvir sons de teclado.
— E o Akasaka tá no computador fazendo nada, como de costume.
Nanami encarou Ryuunosuke. Ela parecia um falcão olhando para sua presa.
Nanami caminhou até o balcão e foi em direção a Ryuunosuke.
— Kanda, tira a do rabo de cavalo daqui. Não gosto da presença dela.
— Foi mal aí, acho que isso é meio impossível... Tentem se dar bem, por favor...
— Akasaka, se você não vai fazer nada, então usa esse uniforme aqui.
Nanami mostrou a ele um uniforme de garçonete, cheio de babados e rendas. As meninas da classe ficaram acordadas a noite toda fazendo.
— Não vou vestir nada, sua imbecil.
— Q-Quem aqui é imbecil?!
— Você.
— O-O que?!
— Já deu, pessoal! Vamos todos nos dar bem, beleza?!
Sorata tentou, desesperadamente, parar a briga, e Daichi ficou apenas olhando.
— Ei, Rabo de Cavalo, se toca. Se vai me dizer para fazer algo, então pense também no que virá depois disso. Porque, infelizmente para você, se eu usar esse uniforme aí, eu vou ser uma garçonete muito, muito mais bonita do que você.
— É o que?!
Nanami congelou.
— Eu tenho medo só de pensar nisso, mas até o Kanda iria ficar me desejando. Tudo bem para você?
— O-O Kanda não tem nada a ver com isso!
Nanami corou levemente.
— Eu não vou "desejar" você!
Ignorando Sorata, Ryuunosuke fechou o computador, se levantou e disse:
— Já que a Rabo de Cavalo está aqui, eu já posso ir embora.
Ao fazer isso, ele passou pelo balcão.
— Ah, droga, Akasaka! Não fuja!
É óbvio que Ryuunosuke não iria parar só porquê Sorata disse algo.
Sem nem se virar, ele saiu da sala tranquilamente.
— Aoyama... O Akasaka saiu...
— Sorata, seu idiota.
— Eh?! Por quê eu?!
— Só tô descontando minha raiva em você.
— Não diga isso assim!
Ao lado deles, Daichi riu alto.
— Eu sempre pensei isso, mas vocês são um ótimo trio.
Daichi finalmente falou algo.
— Ei, ei, ei. O que você quer dizer com "trio"?
— Vocês são assim na sua classe, não são? O trio Kanda, Aoyama e Akasaka.
— Não!
— Não!
Nanami e Sorata falaram juntos.
— O timing de vocês também é perfeito.
E Daichi continuou a rir.
— Miyahara, cê tá rindo demais! Para!
Quando eles olharam para Daichi, ele parecia ter escutado, mas ele estava tremendo tentando segurar a risada.
— Kanda, a culpa é sua.
— Você poderia, por favor, me dizer o motivo?
— Não.
Nanami virou a cabeça e desviou o olhar.
Sem pensar, Sorata olhou para o uniforme de garçonete na mão de Nanami.
— Você também usou isso, Aoyama?
— Huh? Ah, sim, eu usei. Por que?
Eles moram no mesmo dormitório, então Sorata já viu Nanami várias vezes em suas roupas casuais, mas ele nunca a viu vestindo algo desse tipo.
— Nada, eu só queria ver como você ficava vestindo algo assim.
— É o que?!
— Ah, eu tenho uma foto dela de ontem.
Daichi pegou a câmera que estava no pescoço dele.
— P-Por que você tirou uma foto disso?!
— Bom, o comitê pediu para tirar fotos do festival.
— Deixa eu ver...
Antes que Sorata pudesse pegar a câmera...
— Não!
Nanami pegou a câmera da mão de Daichi.
— Às vezes, sinto que você me odeia, Aoyama. Mas por que?
— N-Não é como se eu te odiasse...
— Não?
— S-Se você quer ver... Eu vou... vestir...
— Huh?
— N-Nada! Eu não vou vestir só para te mostrar, viu?! É que eu vou tomar conta da loja por 1 hora!
— Ah, sério?! Você é incrível, Aoyama! A única que me entende!
Animado, Sorata agarrou as mãos de Nanami e as sacudiu para cima e para baixo.
— V-Você não precisa comemorar tanto.
— Ah, desculpe.
— Não precisa se d-desculpar...
Tirando as mãos, Nanami desviou o olhar, como se ainda houvesse algo em sua mente.
— Tô tããão feliz que você vai ficar no meu turno... Mas não vai ser muito difícil ficar sozinha?
— Não se preocupa, eu vou ficar para ajudar ela.
A única pessoa idiota o suficiente para fazer algo assim, era o Daichi. Ele já até vestiu o uniforme de garçom enquanto Sorata e Nanami conversavam.
— Não se preocupe com isso, Miyahara. Nós somos de turmas diferentes, aliás.
— Não, isso vai ser como um dever do comitê. Uma loja deve ser gerenciada por, pelo menos, duas pessoas. É importante seguir as regras, né?
Daichi colocou a mão nos ombros de Sorata como se estivesse pedindo o apoio de Sorata. Bom, parece que Daichi sabia bem o que poderia fazer Nanami mudar de ideia.
— Uh, mesmo assim, acho que...
— Então, foi decidido que Aoyama e eu cuidaremos da loja.
— Obrigado, Miyahara! Você salvou minha vida. Você também, Aoyama!
Nanami apenas concordou com a cabeça e foi para trás da cortina para vestir o uniforme de garçonete.
Sorata apertou a mão de Daichi energicamente, para mostrar seu agradecimento.
— Não precisa agradecer tanto.
— Por que?
— Porque eu tenho segundas intenções.
Dizendo isso, Daichi olhou para a área da cortina que Nanami entrou para se trocar.
Então, quando Nanami colocou a cabeça para fora, seus olhos se encontraram.
— Kanda, você não pode olhar.
— C-Claro que não.
Sorata se virou e Daichi também desviou o olhar de uma forma estranha.
De costas para a cortina, eles a ouviram se fechar novamente, logo depois, eles puderam ouvir os sons da roupa de Nanami.
De qualquer forma, Daichi disse que tinha segundas intenções. Além disso, ele estava no Comitê do Festival Cultural, mesmo já tendo dito que não queria fazer parte.
Quando Sorata estava imerso em pensamentos, ele foi interrompido pela voz de Nanami.
— Ah, sim, Kanda.
— Eu não roubei nem comi nada.
— ... Eu não ia falar isso.
— O que é, então?
— Sabe, é sobre o Mitaka-senpai e a Kamiigusa-senpai…
Dizendo isso, Nanami abriu as cortinas.
— Você já pode olhar agora.
Sorata e Daichi se viraram para Nanami ao mesmo tempo.
O uniforme de garçonete amarelo e preto era aberto nos ombros e na saia em formato ornamental, mas era justo na cintura. O formato dele acentuava os encantos femininos de Nanami.
E como era Nanami quem estava usando, ela não só estava bonita, mas também sua aparência e corpo combinaram perfeitamente com a roupa.
Com a boca aberta, Sorata esqueceu até de elogiar ela.
— Kanda, você está com a boca aberta igual um idiota.
— Uhh, é como se fosse você, mas ao mesmo tempo não fosse...
— Seria legal se você me elogiasse com algo que faz sentido...
Aoyama olhou para ele.
— … Ficou bonito.
— E?
— Ficou muito bonito.
Nanami se virou e silenciosamente torceu por si mesma, enquanto cerrava o punho.
Daichi estava com um rosto de desconfiança ao lado dos dois, mas nem Sorata nem Nanami perceberam.
— Ah, então, Aoyama. O que você queria falar sobre o Jin-senpai e a Misaki-senpai?
Nanami olhou para Sorata de novo, e fez sinal para ele se aproximar.
Quando Sorata se abaixou e virou os ouvidos para Nanami, ela se aproximou dele.
Entendendo o clima, Daichi se afastou e foi limpar as mesas.
— Aconteceu algo... entre o Mitaka-senpai e a Kamiigusa-senpai?
— "Algo"?
— … Eu vi os dois enquanto estava vindo para cá.
— E o que tem?
— Eles estavam de mãos dadas.
— O que?!
— Eles pareciam... um casal.
— Sério? Eu não ouvi nada sobre isso. Você tem certeza que eram eles?
Nanami pensou por um momento.
— Bem, eu vi de longe... Mas eu não nunca confundiria eles com outras pessoas.
— Tem razão.
— Aí eu pensei que você poderia saber de algo, Kanda... já que você e a Kamiigusa-senpai são tão próximos...
— Bem, aquela alienígena pode acabar com a humanidade caso eu não seja legal com ela...
— Desculpa... por dizer algo assim tão do nada.
Sorata ficou um pouco surpreso com a notícia, porquê ele não sabia que era tão rápido assim para chegar no nível do talento ofuscante de Misaki.
Bom, se Jin e Misaki estavam felizes juntos, era isso que importava.
Pensando isso, Sorata saiu da sala, deixando apenas Nanami e Daichi, que estava de bom humor.
Parte 2
Desde o início, Sorata já sabia para onde queria ir.
Ele queria ver a "Exposição da Floresta", que os alunos de arte estavam fazendo.
Enquanto caminhava pelo corredor, ele podia notar o olhar das pessoas para ele.
Quando Sorata se olhou no reflexo da janela, percebeu que ainda estava vestido de garçom. Ele pensou se valia a pena voltar e se trocar, mas lembrou que teria que vestir novamente daqui uma hora.
Decidindo ir assim mesmo, ele até que estava gostando da atenção que estava recebendo.
Ele subiu as escadas e caminhou pelo longo corredor.
No final do corredor estava o destino de Sorata: a Sala de Artes, que ficava em um prédio separado das salas de aula normais. Mashiro realmente vai estar lá? Ela estava realmente com uma roupa de gatinha?
Com o coração palpitando de vontade de a ver logo, Sorata passou pelo longo corredor, até chegar a Sala de Artes.
A primeira pessoa que ele viu foi, justamente, Mashiro.
Ela estava sentada na entrada, vestida de gatinha, segurando uma placa, que estava escrito "Exposição de Floresta e Outras Coisas".
— Q-Que é isso?!
Ainda pensando no que poderia ser essas "Outras Coisas", o olhar de Sorata estava fixo em Mashiro.
No entanto, ela estava muito diferente do que Sorata pensou: Mashiro estava usando patas de gato, mas não como luvas. Ela também tinha orelhas de gato, mas não era com uma tiara na cabeça.
E também não estava mostrando muito a pele.
Então, o que era? A melhor forma de descrever a roupa dela é... Bem, ela estava usando uma fantasia de gato que cobria o corpo todo.
Sorata só foi capaz de reconhecer Mashiro pois seu lindo rosto estava para fora da fantasia. O rosto dela saía da grande boca aberta do gato. Era bem fofo, sim, mas Sorata ficou um pouco decepcionado.
— ... O que cê tá fazendo?
Mashiro olhou para Sorata enquanto segurava o pôster.
— Bem-vindo. Esta é a "Exposição de Floresta e Outras Coisas".
— Eu perguntei o que cê tá fazendo...
— Bem-vindo. Esta é a "Exposição de Floresta e Outras Coisas".
— Você virou um NPC, foi?!
— Eu sou uma garota-propaganda.
— Eu acho que você tá usando esse termo do modo errado. E porquê você parece tão orgulhosa dizendo isso?
— E você, Sorata, o que deveria ser?
Mashiro examinou Sorata da cabeça aos pés, e depois voltou a olhar para o rosto dele.
— Minha turma tá fazendo uma venda de chocobanana. Eu estou ajudando por lá.
Quando Sorata explicou, Mashiro o encarou.
Os olhos de Mashiro tinham poder para fazer qualquer um perder as forças. E mesmo que Sorata já tenha se acostumado com esse olhar, ele estava fraco para isso após o que aconteceu no deck de observação do aeroporto de Narita.
E agora que o Nyaboron já foi finalizado, Sorata não tinha mais com o que ocupar a mente para esquecer isso.
Cada movimento de Mashiro fazia Sorata ficar ainda mais fraco. Até o olhar dela era o suficiente para destruí-lo agora.
— Hmm... Você...
— ...
Mashiro não disse nada.
— D-Depois que a Rita foi embora... O que você...
— Eu gosto...
— O que?!
Sorata deu um pulo, surpreso.
— ... da sua roupa.
— ... Que?
Antes que Sorata pudesse sentir algum pingo de felicidade, ela disse o resto da frase.
— Sorata, a roupa está boa.
— ... Ah... Obrigado.
Mashiro não conseguia apenas falar igual um pessoa normal.
Enquanto Sorata se sentia extremamente triste, Misaki pulou de dentro da Sala de Artes. Ela deve ter escutado Sorata de dentro da sala.
Misaki estava vestindo uma roupa de urso, parecida com a de Mashiro.
— Oh~! Kouhai-kun, quanto tempo!
Misaki deu um tapa de urso, para cumprimentar.
Sorata, que não esperava pelo ataque, levou um tapa na bochecha esquerda.
— Hmmm, Senpai, eu queria te perguntar uma coisa...
— Já entendi, Kouhai-kun~! Nem diga mais nada! Vou te deixar dar uma olhada lá dentro, como compensação pelo tapa.
Como se estivesse carregando um salmão para a geladeira, Misaki arrastou Sorata para dentro da sala. E é óbvio que as reclamações de Sorata não adiantavam de nada.
Abandonando o trabalho de garota-propaganda, Mashiro foi atrás deles.
— E cê pode simplesmente sair assim?
— Me cansei de ficar aqui, então tudo bem.
— É por causa de pessoas como você que a sociedade não leva os jovens a sério!
— Tá de boa, Mashiron~! A gente já ia colocar outra pessoa, mesmo~.
— Então digo isso antes!
Lidar com Mashiro e Misaki ao mesmo tempo era demais para um mero terráqueo.
Já que Mashiro não estava vestida de gatinha do jeito que Sorata pensou, então nem tinha mais motivos para ele estar lá.
Enquanto pensava nisso, ele sentiu o cheiro de algo que o fez ficar com fome.
Um barulho de estômago roncando ecoou entre eles. Obviamente, o barulho veio do estômago de Mashiro.
— Ei, no roteiro diz que é minha vez de comer algo!
— Eu como por você.
— Não diga algo assim! E você é uma garota, então, em momentos assim, você deveria dizer coisas como "N-Não fui eu~!". É o que a Aoyama faria, também.
Ela não faria exatamente assim. Mas, quando algo parecido aconteceu uma outra vez, ela até que tentou negar.
— Não fui eu.
— É tarde demais agora.
Sorata olhou ao redor da Sala de Artes enquanto era guiado pelo cheiro bom. Aquilo era bem diferente do que ele havia imaginado quando soube que era uma "Exposição de Floresta".
A sala toda estava decorada como uma floresta, e havia obras de arte na parede, mas havia mesas e cadeiras ao redor da sala, e os clientes estavam comendo arroz e omelete. Os estudantes de artes estavam todos vestidos com trajes iguais ao de Misaki e Mashiro, e estavam servindo os clientes. Sendo assim, era melhor chamar isso de Restaurante Cosplay ao invés de "Exposição de Floresta".
E onde eles conseguiram tantas fantasias diferentes? Sorata conseguiu contar mais que dez.
— Na reunião antes do festival, os primeiros anos queriam fazer uma "exposição", os segundos anos queriam um "restaurante chique" e os terceiros anos queriam fazer "caricaturas", então a gente não conseguiu se decidir. Aliás, minhas sugestões foram, também, "omelete" e "fantasias fofas", então a gente decidiu juntar tuuudo!
— A escola toda chegou a um acordo, mas vocês decidiram fazer misturar tudo!
Parece que todas as turmas de Artes obedeciam as ordens de Misaki.
Sorata queria ignorar isso e fingir que não era verdade.
— Então, decidimos fazer uma "Exposição de Floresta e Outras Coisas" nesse ano!
— As "outras coisas" ocupam a maior parte da sala!
Sorata sentou na mesa em que Misaki o levou. Por alguma razão, Mashiro se sentou na frente dele.
Sentar cara a cara com um gato gigante o fez se sentir beeeem longe de seu bom senso. O rosto de Mashiro, sem expressão alguma, deixava isso ainda pior.
Misaki foi para a cozinha e rapidamente voltou segurando um prato de arroz com omelete.
O prato tinha um cheiro ótimo, e o vapor que saía da comida a fazia parecer mais deliciosa ainda.
— Então, até agora, eu vi a exposição, o restaurante, a omelete, a floresta e as fantasias... E as caricaturas?
— Fala alguém que você gosta. Vamos lá, é hora da escolha!
— Eh?! Que escolha?
— A mais popular sou eu, viu!
— Responde o que eu perguntei!
Olhando para mesa ao lado, Sorata viu uma garota vestida panda, usando o ketchup para desenhar um rosto no omelete do cliente.
Na outra mesa, quem estava fazendo isso era um coelho, e, na outra, um leão.
Sorata entendeu o que estava acontecendo, ele tinha que escolher alguém para fazer a caricatura.
— Eu vou fazer você.
Sem esperar por uma resposta, Mashiro agarrou o ketchup.
— Kouhai-kun, quem você escolhe entre nós?!
Misaki colocou rosto quase grudado em Sorata.
— Misaki-senpai! Cê tá perto demais!
Segurando a cabeça do urso com as mãos, Sorata empurrou Misaki para trás.
— Não é necessário nenhum tipo de distância entre a gente, Kouhai-kun!
Misaki não queria recuar.
Ele tinha que se decidir. O restaurante inteiro estava olhando para eles, e isso era bem vergonhoso. O rosto sem expressão de Mashiro também não ajudava muito...
De repente, um pouco de ketchup voou na cara de Sorata. Ele foi atingido bem no rosto. Bem, a pessoa que fez isso foi, obviamente, Mashiro.
Sorata levou o ataque de frente, e seu nariz estava completamente vermelho pelo ketchup.
Misaki saiu de perto, tentando evitar o ataque de ketchup.
— Ei, Shiina! Tá fazendo a caricatura no meu rosto, é?!
— Não.
— Então por que fez isso?!
Sorata limpou o ketchup com um lenço de papel.
— Eu estava com raiva.
— Você está muito agressiva ultimamente! Já parou para pensar nisso?!
— Não.
— Então pense um pouco!
Sorata sempre disse isso, mas Mashiro é muito difícil de entender.
— Não, não importa. E se quer desenhar, então você pode fazer a caricatura.
— Tá me dando um fora, Kouhai-kun?! A gente já vive junto há mais de um ano, cara!
— As pessoas estão me olhando estranho, então, por favor, não diga mais essas coisas estranhas, Misaki-senpai.
— Tudo bem! Eu vou continuar sendo legal com você, mesmo depois disso! Quando a gente voltar para casa, vamos ficar juntos até de manhã~!
Terminando tudo com essas palavras constrangedoras, Misaki saiu pulando e gritando "Yeeeyy~" enquanto ia atender os outros clientes.
Ela era como uma tempestade. Se fosse para descrevê-la como um desastre natural, ela seria um furacão. Um furacão, mas ela também é um gênio, afinal. [N/T]
Sem falar nada, Mashiro começou a desenhar a caricatura de Sorata no arroz com omelete. Ela estava com um olhar sério, e ela desenhava suavemente, como se estivesse usando pincel numa folha de papel. Ela desenhava Sorata sem nem precisar olhar para ele.
Mashiro terminou a caricatura de Sorata em menos de um minuto.
Uma pessoa talentosa não precisa de bons equipamentos para fazer algo incrível.
— Está pronto.
Era incrivelmente lindo. Não parecia ter sido desenhado com ketchup. Não parecia ter sido desenhado em arroz com omelete. Era como se o desenho estivesse vivo. Como se Sorata realmente estivesse naquele arroz com omelete.
— Ah... tá tão lindo... Eu realmente tenho que comer essa obra de arte? Isso me deixa um pouco triste...
— Tá tudo bem.
— Por que?
— O canibalismo já existe há tempos.
— Tá querendo fazer piada, é?!
Misaki desenhou a caricatura de um cliente ao lado, e ficou bonito e fofo, também. Ela o fez sorrindo.
— Ficou muito bom...
Mashiro olhou para o desenho dela, insatisfeita.
— É por isso que não dá vontade de comer!
— Se você não vai comer...
Sorata precisaria estar com muito mais fome para comer isso.
— ... então eu vou te comer, Sorata.
Com as palavras de Mashiro, as pessoas ao redor deles se assustaram enquanto faziam “Huh?!” e “O quê?!”, surpresos.
— Olha o jeito que tu fala! Parece até que você vai fazer outra coisa comigo!
— Outra coisa? Tipo o que?
— I-Isso é...
Sorata se imaginou com Mashiro... Ela estava usando uma....
— Ei!! Que merda é que eu tô imaginando?!
Sorata balançou a cabeça para esquecer isso.
Ele não seria capaz de resistir ao olhar de Mashiro, então ele segurou o prato e comeu o arroz com omelete rapidamente.
No mesmo instante, o prato ficou vazio e Sorata teve que beber um pouco de água.
Misaki voltou para a mesa quando viu que ele terminou de comer.
— Então, seu estômago se apaixonou pelo arroz com omelete que eu fiz, hein, Kouhai-kun?!
Sorata percebeu que estava delicioso, e ele já esperava que tivesse sido feito por Misaki, mesmo. Jin ainda é o melhor cozinhando, mas depois dele, a melhor é Misaki.
— Estômago?
— Isso mesmo, Mashiron! Existem três coisas principais na vida de um casal...
— Você quer dizer na vida de casado! E são amor, paciência e estômago.
Mashiro nunca deve ter ouvido falar desses termos antes, porque ela inclinou a cabeça, confusa.
— Não, Kouhai-kun! Para os casais, são... Xodó, dinheiro e trans...
— Opa!! Não fala isso!
— Transformação?
— É! Isso aí, Mashiron, sabe muito~! Por isso, é importante capturar o estômago do homem antes de tudo.
Mesmo que Nanami tenha dado uma pausa para Sorata, ele sente que não está sendo do jeito que queria...
Já que ele terminou de comer, ele pensou que seria melhor ir embora.
— Obrigado pela comida.
Ele pagou a comida para Misaki e se levantou.
Sorata tentou sair da Sala de Artes, antes que ele acabasse em mais problemas.
Mas, por algum motivo, Mashiro o seguiu por trás e segurou ele pela roupa.
— O-O que foi, Shiina?
— Já terminei por hoje.
— Ah, sim.
— Sim.
— Parabéns.
— ...
— Eh~... Então...
— ...
— Q-Quer ir ver o festival comigo?
— Sim.
Mashiro concordou com a cabeça, e a cabeça do grande boneco de gato também balançou.
Pensando que teria que esperar Mashiro se trocar, ele foi esperar do lado de fora da sala.
Porém, novamente, Mashiro o seguiu.
— Você vai andar vestida assim?
— Sim.
— Não!
— Tem alguma coisa estranha com a roupa?
— Sim, ela inteira!
— Mas é tão fofa.
— Tanto faz, apenas se troca logo, tem gente olhando!
Mashiro tirou, primeiro, a grande cabeça de boneca, e se virou para que Sorata pudesse abrir o zíper por trás da fantasia.
Sorata fez o que Mashiro pediu, e abriu o zíper da fantasia, mas ele fez isso apenas até a metade...
Ele viu os ombros e as costas pálidas e bonitas dela. Os ossos do ombro formavam uma linha suave também.
Percebendo que ela estava pelada por baixo da fantasia, Sorata fechou o zíper imediatamente.
Ele colocou a cabeça de boneca de volta nela.
— Algo errado?
— Sim, com você!
— Você é tão cruel.
— Por que cê tá pelada por baixo da fantasia?!
— Nao tem problema.
— O quê? Por que não?!
— Porque eu estou de calcinha.
— Só a calcinha não resolve tudo!
— Eu confio nelas.
— Não confie totalmente! E em cima? Por que não tem nada?
— Em cima?
— Tô falando do seu peito!
— É, eles cresceram recentemente.
— D-Desde quando eu perguntei sobre isso?!
Mashiro inclinou a cabeça.
— O tamanho deles é segredo.
— Você também deveria manter segredo das outras coisas, também! Acho que vou acabar ficando maluco!
— Sorata, você está sempre com raiva. Você não é nada legal comigo.
— Eu acho que sou muito legal com você!
— Então você está muito cansado ultimamente.
— Não deveria ser rebelde?
— Dá pra dizer assim.
— Essa é a única maneira de dizer isso! E quando você diz desse jeito... Fica parecendo que somos algum tipo de casal ou algo parecido!
— Eu não gosto dessa parte em você.
— Por que eu tenho que ouvir isso vindo de você?!
— Porque eu posso.
— Tá sendo bem arrogante, hein!
— Acho que não.
— Tá bom... Tá bom... Apenas vá lá dentro e vista seu uniforme.
Então, Mashiro estendeu as mãos para Sorata, como se ela quisesse algo.
— E agora, o que foi?!
— Roupas.
— Onde está o seu uniforme?!
— Não tenho.
— ... Hum?
— Não tem.
— Como assim? Você perdeu?
— Eu não trouxe.
O que significa quando alguém vai para a escola, mas não leva uniforme?
Por exemplo, alguns alunos dos clubes de esportes iam e voltavam usando o uniforme esportivo. Tinha até alguns alunos que Sorata nunca viu usando uniforme comum. Mashiro estava sendo como eles?
— ... Como você veio para a escola?
Sorata tentou entender onde tudo começou.
— Andando.
— Não assim!
— Eu vim com a Misaki.
— E estava vestindo o que?
— Isto.
Dizendo isso, Mashiro deu um pequeno giro, como se estivesse dizendo "como estou?".
— ... Então você veio para a escola nessa fantasia de gato?
— Sim.
— Você é incrível! Você é capaz de fazer qualquer coisa, mesmo!
— O que você tá dizendo?
— Tô começando a pensar que eu é que sou o estranho agora!
Sorata não foi para a escola junto com Mashiro porque ele tinha que ficar responsável pela venda na sala dele.
Esse foi o erro dele. Não, o erro foi deixar Mashiro nas mãos de Misaki.
— Sorata?
— O que foi?
— Devo tirar?
— Não, por favor... fique assim.
Perdendo todas as forças para dizer qualquer coisa, Sorata caminhou pelo Festival Cultural em sua roupa de garçom e Mashiro em sua fantasia de gato.
— Ah, eu esqueci de perguntar para a Misaki-senpai sobre o Jin-senpai... Bem, eu vou perguntar a ela mais tarde.
Parte 3
Andar pelo festival acompanhado de uma garota... Até o ano passado, isso era algo inimaginável para Sorata.
1 ano atrás, ele decidiu que faria de tudo para tornar este sonho em realidade.
E ele conseguiu.
Sorata estava caminhando pelo festival, ao lado de uma linda garota, enquanto comia as deliciosas comidas que eram vendidas por lá.
Eles pegaram fila em uma loja de takoyaki, porque a garota queria um pouco.
Sorata foi a uma loja de okonomiyaki para comprar alguns, porque a garota queria um pouco.
Quando ela disse que queria um pouco de yakisoba, Sorata teve que verificar a carteira.
E agora, eles estavam tentando encontrar um lugar para sentar depois de comprar alguns taiyaki.
O cheiro saboroso do taiyaki voava do saco de papel em que estava.
Enquanto Sorata apreciava tudo isso, ele sentiu um calor repentino em sua mão direita.
— O-O que é isso?!
Surpreso, ele olhou para a mão dele, e viu que Mashiro a estava segurando.
Na verdade, ele viu a pata de um gato gigante.
— É para que você não se perca, Sorata.
— Você é a única que se perderia por aqui!
— Seja honesto consigo mesmo.
— Eu estou sendo!!
A voz dele falhou, mas foi porquê ele estava nervoso.
— ...
— O-O que foi? Por que você ficou calada?
— Por algum motivo.
— "Por algum motivo", o quê?
— Eu queria segurar sua mão.
— … Uuuu!
Como Mashiro não sentia nenhum tipo de vergonha ao dizer essas coisas, Sorata ficava ainda mais maluco sempre que ouvia ela falando algo assim. Ele queria colocar os braços em volta da cabeça e se jogar no chão. Porém, uma mão estava segurando o taiyaki, e a outra estava sendo segurada por Mashiro.
O coração dele começou a bater mais rápido, e ele estava ficando sem fôlego.
Ele não pensou que sair com uma garota pelo Festival Cultural seria assim, então ele estava assustado com tudo aquilo.
Provavelmente é tudo culpa do gato gigante que estava andando junto dele no festival.
— Por que a primeira vez que faço algo assim tem que ser com um gato gigante...?
— Foi você quem disse para eu vir assim, Sorata.
— Não tinha outra escolha, né!
Sorata percebeu que era tarde demais para reclamar sobre isso agora. Embora ele já soubesse a resposta, será que Deus não poderia dar a ele a chance de passar o Festival Cultural com uma garota de uma forma normal?
A essa altura, Sorata realmente parecia como o mestre dela.
— Sorata, estou cansada.
— Claro, você tá vestindo isso aí!
Mashiro sentou em um banco que estava próximo, e Sorata sentou ao lado dela. Ele entregou um taiyaki, que estava na sacola, para ela.
— Tá quente, então coma devagar.
Mashiro mordeu o taiyaki pela cabeça. A cena era engraçada, pois combinava muito bem com a fantasia de gato de Mashiro. Rindo de leve, Sorata também comeu um pedaço do taiyaki dele.
O vento frio soprou entre eles. Eles já estavam em novembro, então já podiam ver sinais do inverno por todo canto.
Eles observaram a multidão que estava andando pelo festival. Tinha até uma pessoa tocando trompete, e as pessoas davam dinheiro a ela depois de tocar.
Quando o trompete parou, o som das palmas pôde ser ouvido de longe. Depois que o som das palmas pararam, todas as pessoas ao redor saíram e foram observar o restante do festival.
Sorata saboreou o último pedaço da cauda do taiyaki e depois engoliu.
Mashiro ainda estava comendo enquanto mordiscava com sua pequena boca...
— Ei, Shiina... O que... você disse... depois que se despediu da Rita?
Não sendo capaz de olhar diretamente para o rosto de Mashiro, Sorata estava olhando para a frente.
Desta vez, ele conseguiu perguntar.
No entanto, Mashiro não respondeu.
Virando a cabeça com bastante cuidado, Sorata olhou para Mashiro.
Mas, quando ele virou, por algum motivo, o rosto de Mashiro estava extremamente próximo do dele. Estava a uns 10 centímetros de distância.
Naturalmente, o olhar de Sorata se concentrou nos lábios de Mashiro. Sem fazer barulho, Sorata fechou os olhos por reflexo.
Imediatamente, Mashiro lambeu a ponta dos lábios de Sorata.
Sorata pulou do banco na mesma hora.
— O-O que?! O que cê tá fazendo?!
— Tinha um pouco de pasta de feijão ali.
— Achei que minha alma ia sair do corpo!
— Se sair, eu a pego de volta.
— Como?!
— Com a minha força.
— Não confie tanto em si mesma assim! E se tinha feijão em mim, era só ter me dito, que eu limpava! S-Se você queria limpar, era só usar a mão! A mão!
— Eu não posso usar minha mão de gato.
— Ainda tá tentando contar piada, né?!
— Não. Estou apenas comendo taiyaki.
Ela ergueu o taiyaki para o céu com as duas mãos. Era como se o taiyaki fosse algo sagrado.
— Pensa um pouco antes de fazer essas coisas! E pensa em mim, também!
Tentando entender o que ele queria dizer, Mashiro ofereceu o taiyaki mordido e disse:
— Você quer comer também?
— Nao... Por favor, não...
Sorata estava extremamente cansado, e se sentou no banco novamente. Ele sentou deixando um espaço entre ele e Mashiro.
— Eu só faço isso com você, Sorata.
— Ei!
Mashiro realmente não quis dizer nesse sentido, mas o rosto de Sorata ficou completamente vermelho após ela dizer isso.
Quando ele percebeu que estava corando, seu coração começou a bater ainda mais rápido.
Ele começou a suar por todas as partes de seu corpo. Ele não conseguia pensar em nada que pudesse dizer agora.
Segurando o taiyaki, Mashiro se aproximou e os ombros dos dois se tocaram. Ela queria que Sorata comesse o taiyaki.
Sabendo que não conseguiria lidar com isso por muito mais tempo, Sorata mastigou e engoliu, sem palavras, o taiyaki que Mashiro ofereceu. Não dava para dizer se o gosto estava bom, porque já estava bem frio, então ele só mastigou e engoliu de vez.
Quando ele fez isso, ele pôde sentir Mashiro olhando para ele.
— Estômago, né?
— O que?
Por causa das coisas sem noção que Misaki fala, agora quem está falando isso é Mashiro.
— Shiina... Você captura o estômago de um homem com algo que você cozinhou. Não importa o quão bom esteja esse taiyaki, não foi você quem fez, Shiina. Se meu estômago fosse capturado por isso, então seria capturado pelo dono da loja de taiyaki.
Ela sempre falava esse tipo de coisa, afinal... Mas Mashiro era muito ingênua... O que ela faria depois que capturasse o estômago de Sorata?
Bom, mesmo o estôgamo dele não tendo sido capturado por Mashiro, parece que algo ainda mais importante já foi.
— Cozinhar...
Mashiro sussurrou esta palavra amaldiçoada... Como Sorata não queria entrar no meio disso, ele não falou nada.
Eles não estavam conversando nem nada, estavam apenas sentados no banco, lado a lado. Eles estavam apenas observando o festival.
Era bem diferente de como Sorata pensou que seria, mas ele não estava achando ruim.
Ele estava um pouco triste porque Mashiro ignorou sua pergunta sobre o incidente do Aeroporto de Narita. Foi bem díficil para fazer a pergunta, então ele sentiu que não ia conseguir de novo por um tempo. Ele reuniu toda a coragem dele aquela hora, então agora já está esgotado.
De repente, Sorata sentiu alguém perto dele.
Em um banco que estava ao lado, um homem se sentou. O homem parecia estar na casa dos trinta. Ele estava usando um casaco, uma calça jeans e um tênis casual. Ele olhava para as pessoas com um olhar nostálgico.
Sorata sentiu que já viu essa pessoa antes.
Percebendo o olhar de Sorata, o homem lentamente virou a cabeça.
Quando seus olhos se encontraram, Sorata gritou.
— Ah!
Mashiro olhou para ele, confusa.
Esta foi a segunda vez que Sorata se encontrou cara a cara com essa pessoa.
— Huh, eu acho que já vi você em algum lugar antes...
O outro homem parecia se lembrar de Sorata, também.
— Kazuki Fujisawa...
Eles se conheceram cerca de dois meses atrás. Foi na época que Sorata apresentou seu jogo. Kazuki Fujisawa era um dos juízes que sentou na frente de Sorata.
— Ah, isso mesmo... eu vi você na apresentação do “Vamos Fazer um Jogo!”.
—Ah, sim. Você se lembra de cada um dos apresentadores?
— Não, eu só me lembrei de você pois é raro de se ver um estudante do ensino médio por lá. E, veja, você é da Suiko. Então, você é meu calouro.
Kazuki sorriu feliz.
— Esse gato fofo do seu lado é a sua namorada? Que inveja.
Sorata olhou para Mashiro.
Ele imediatamente disse:
— Não é, não!
Depois de falar isso para Kazuki, Sorata sussurrou baixinho para Mashiro:
— Não diga nada sobre "mestre" ou algo assim!
Ele falou isso no ouvido dela.
Mashiro concordou com a cabeça, e logo em seguida se virou para Kazuki.
— O Sorata está em dívida comigo.
E ela se curvou para Kazuki.
— Ah~! O que cê tá dizendo?!
— Não está?
— Claro que não! E se fosse pra ser assim, você é quem estaria em dívida comigo!
— Você parece ser bem diferente de como era na sua apresentação.
Kazuki sorriu como se estivesse interessado.
Envergonhado, Sorata se calou. Ele fez Mashiro prometer que não diria mais nada estúpido.
— Por que você está aqui, Fujisawa-san?
Sorata sabia que Kazuki iria ao Festival Cultural para dar uma palestra, mas isso foi há 3 dias, no sábado. Sorata se lembrava bem disso, pois ele queria ter ido, mas tinha que terminar Nyaboron.
— Vai haver um pequeno encontro no refeitório mais tarde. Meu professor de Mídias me convidou, e eu não posso recusar. Já que foi graças a ele que eu pude me formar.
Kazuki tinha uma expressão nostálgica com um sorriso, então Sorata podia sentir uma gentileza que não dava para descrever.
Ele sentiu que também queria sorrir assim algum dia.
— Mas e aí, o que você tem feito desde aquele dia? Ainda tem tentando a competição?
— Todo mês eu envio uma ideia, mas...
Mesmo ocupado com Nyaboron, Sorata continuou enviando ideias em setembro e outubro. Ele estava confiante, mas foi rejeitado as duas vezes.
" — Esperamos que entenda que a sua ideia não passou na avaliação desta vez. Agradecemos pela tentativa! "
Eles sempre escreviam formalmente.
Sorata esperava que suas ideias fossem, pelo menos, até a segunda fase, já que sua primeira inscrição em agosto conseguiu chegar na fase de apresentação, mas ele aceitava a realidade sempre que recebia a carta dizendo que ele não foi aceito desta vez.
Ele até começava a se preparar para as apresentações depois de enviar as ideias.
— Eu sei que isso pode ser meio óbvio, mas a competição é muito rigorosa. Acontece com muitos.
Kazuki tentou animar Sorata. Ele continuou, dizendo:
— Durante o ensino médio, eu enviei muitas inscrições para a competição. Um dia, ouvi alguém dizendo que eu nunca iria ser melhor que os outros se eu me esforçasse do mesmo jeito que eles. Então, decidi ter uma ideia todo dia.
— Uma ideia... todo dia?!
— Bom, a maioria eram só ideias ruins ou que usavam de base outros jogos existentes. Eu descartei 90% dessas ideias, mas enviei os outros 10% para o "Vamos Fazer um Jogo!".
Então isso significa que apenas uma das várias ideias dele se tornou um jogo.
Se um criador de jogos profissional se esforçava tanto, Sorata sentiu que estava na hora de ser ainda melhor.
Uma inscrição por mês não era mais o suficiente. Ele decidiu que iria fazer uma por semana.
Ele não podia se esquecer que haviam pessoas se esforçando mais do que ele.
Ele traçou uma linha depois de ver Mashiro, Misaki e Ryuunosuke trabalhando incansavelmente no Nyaboron.
A linha era um ponto de partida, e ir além desse ponto de partida seria um esforço.
Mashiro já não ensinou isso a ele?
— Naquela época, eu estava feliz em enviar as inscrições, então ficava enviando igual um tapado.
— E agora?
— Trabalhar é divertido. Mas às vezes me sinto entediado por me acomodar demais.
— … Não tenho certeza se consigo enteder.
— Ha ha, seria ruim se você entendesse. Você ainda é só um estudante. E, também...
— Sim?
— Vejo que você não está me perguntando sobre.
— Sobre o que?
— Sobre como se tornar um desenvolvedor de jogos.
— Ah, desculpa.
— Você não precisar se desculpar. Na verdade, quando me perguntam sobre isso, eu não respondo. Foi bem cansativo no sábado, pois todos estavam me perguntando apenas isso.
— E por que você não responde?
— Não é como se eu estivesse tentando provocar ninguém, mas... Eu acho que o desejo de fazer ou criar alguma coisa não é algo que você pode aprender com outra pessoa. Claro, eu posso ensinar sobre como se apresentar ou dar sugestões para o projeto, mas eu nunca vou saber o que essa pessoa realmente procura.
— Entendo...
— E, normalmente, as pessoas que fazem algo por si mesmas, são as que realmente têm vontade de fazer algo. Tipo você.
— Não, eu só...
Ele só começou isso tudo porque não queria ser deixado para trás por seus amigos ao seu redor, que estavam se esforçando para fazer algo por si mesmos.
Agora, ele está apenas sendo arrastado pela criatividade de Mashiro, o entusiasmo de Misaki e os esforços contínuos de Nanami.
Então, é por isso que ele não podia se espelhar neles para sempre, ele tinha que encontrar seu próprio ritmo, e, com seus próprios pés, ele tinha que ser capaz de confiar em si mesmo.
No momento, ele estava apenas seguindo seus amigos. Ele queria ser capaz de andar e traçar seus próprios caminhos.
— Há apenas uma coisa em comum entre todos os desenvolvedores, e eu estou incluso nisso.
— O que?
— Nós não desistimos no meio do caminho... Mesmo que nossos objetivos e metas sejam diferentes, todos compartilhamos dessa qualidade.
— Não desistir, hein...
— E precisamos ter nossos próprios truques para poder continuar sem desistir.
— Truques?
Sorata não conseguia entender o que seria esses "truques", mesmo que tentasse.
— É fazer objetivos menores e focar neles enquanto se tem um objetivo maior. Por exemplo, fazer coisas pequenas em 3 meses, meio ano, 1 ano ou até 3 anos, você pode traçar um caminho para um objetivo maior. Além disso, as pessoas tendem a ser mais organizadas quando já têm um objetivo definido. Acho que você será capaz de gerenciar bem sua agenda se fizer isso. Bom, eu posso estar apenas falando besteira, agora...
Kazuki riu desajeitadamente ao dizer isso. Ele parou de rir um pouco, e disse:
— Ah, eu meio que transformei isso em um sermão. Me desculpe.
Sorata balançou a cabeça e negou.
— Não, muito obrigado pelo seu ótimo conselho.
— Que bom, então. Ah, mudando de assunto, você conhece uma professora chamada Chihiro Sengoku? Ela é professora de artes aqui na Suiko.
O nome que Kazuki mencionou foi tão inesperado que Sorata não conseguiu responder por um instante.
Em vez disso, Mashiro respondeu calmamente.
— Nós conhecemos, ela mora com a gente no Sakurasou.
— Que surpresa. Então vocês dois não são apenas meus calouros da escola, mas também são do Sakurasou?
Kazuki deu um sorriso amargo.
— O quê? Fujisawa-san, você também morava no Sakurasou?
— Ha ha, eu era bem jovem naquela época, mas eu costumava pegar escondido alguns materiais da universidade. Aí, um dia, me pegaram e me mandaram para o Sakurasou. De qualquer forma, pensar que a Sengoku, que era toda certinha e respeitosa, agora está cuidando do Sakurasou...
— Eh? Certinha? Respeitosa?
Isso aí não combinava com a Chihiro que Sorata conhecia. Talvez fosse outra pessoa com o mesmo nome? Mas esse não era um nome tão comum..
— Umm, Fujisawa-san, você e a Sengoku-sensei eram...
— Colegas de classe... suponho. Mas eu era apaixonado por ela naquela época.
— O que?!
Mashiro, que estava ao lado de Sorata, também abriu a boca em surpresa.
— Ha ha, que vergonha.
O mundo é mesmo pequeno. E pensar que logo a Chihiro...
— Bem, você poderia me fazer um favor?
— Ah, claro. O que seria?
Kazuki pegou um cartão de visita, anotou seu número de telefone no verso, e o entregou a Sorata.
— Por favor, entregue para a Sengoku.
— Quer que eu chame ela?
Sorata tirou o telefone do bolso enquanto dizia isso.
— Obrigado pela oferta, mas não precisa. Ela não iria querer me ver, de qualquer forma. Ela provavelmente vai rasgar esse cartão, também. Mas não se preocupe, ela não é o tipo de pessoa que finge ser.
Parecia que ele ainda gostava de Chihiro... Nesse caso, seria melhor se ele não a visse. Ele se sentiria tão traído quando descobrisse que a "certinha e respeitosa" Chihiro agora era uma pessoa preguiçosa, que diz ter 29 anos e 22 meses e que usa uma maquiagem forte mesmo se for para uma simples reunião.
É melhor guardar apenas as memórias bonitas.
Não, talvez fosse melhor se Sorata o mostrasse a realidade e o acordasse de seus sonhos falsos.
Antes que Sorata pudesse falar algo, Kazuki se levantou e se despediu.
— Preciso ir. Então, até mais.
— Muito obrigado pelos conselhos.
Kazuki acenou levemente para Sorata e desapareceu no meio da multidão.
— De qualquer forma, a Chihiro-sensei... "certinha e respeitosa"?
Isso era impossível de se acreditar.
— Sorata...
— O que foi?
— Grande problema.
— O que? Por que?
Terminado o taiyaki, Mashiro cruzou as pernas.
— Banheiro?
Ela concordou com a cabeça.
— Então se apressa e vai!
— Eu não posso ir sozinha. Não consigo tirar isso.
Mashiro tentou puxar o zíper nas costas dela, mas não conseguia alcançar.
— Arggh~! Como você estava indo ao banheiro até agora?!
Percebendo a gravidade do problema, Sorata gritou.
— Misaki estava me ajudando.
Bom, eles decidiram ir ao banheiro.
Sorata segurou a mão de Mashiro e a levou para o prédio mais próximo, o de artes.
Quase saltitando pelo corredor, ele chegaram em frente ao banheiro feminino.
Mas o problema começou aí.
— Sorata, venha.
Sem hesitar, Mashiro puxou Sorata.
— Calma aí! Cê tá querendo que eu saia preso daqui?!
Alguns alunos no fundo olhavam para eles e diziam:
— Nossa, eles estão brigando?
Sorata não podia entrar no banheiro feminino, ele era um homem... e o cérebro dele também não aguentaria. E tudo o que Mashiro estava vestindo por baixo da fantasia de gato era a calcinha.
Enquanto Sorata e Mashiro discutiam em frente ao banheiro feminino, todos no corredor encaravam eles.
— N-Nós não estamos brigando!
Sorata deu um sorriso seco. Ele continuou, falando para Mashiro:
— D-De qualquer forma, não dá para fazer nada aqui! Vem comigo!
Eles teriam que encontrar um banheiro que poucas pessoas usavam.
Por enquanto, eles tinham que ir para o segundo andar. Puxando a mão de Mashiro, os dois subiram.
O segundo andar não estava aberto durante o Festival Cultural, porque era usado como espaço de descanso para os estudantes universitários, então haviam pouquíssimas pessoas por aqui. Deve estar tudo bem agora.
Na frente do banheiro feminino, Sorata tirou a cabeça da fantasia de Mashiro e entrou no banheiro junto com ela depois de verificar que não havia mais ninguém lá dentro.
Na entrada, Sorata abriu o zíper nas costas de Mashiro, então ela deveria ser capaz de fazer o resto sozinha agora.
Quando Mashiro entrou na cabine do banheiro, Sorata foi na porta do banheiro para verificar o corredor. Parece que ninguém os viu.
— Eita~, essa foi por pouco.
Assim que Sorata suspirou de alívio e se virou, alguém colocou a mão no ombro dele.
— Opa!
— Então tu gosta de fazer isso no tempo livre, né?
Ao virar, Sorata viu Chihiro Sengoku, a professora de artes que também morava no Sakurasou. Como sempre, ela estava usando uma maquiagem forte na cara, que só mostrava o quão desesperada ela estava para esconder a idade.
— Ah, é só você... graças a Deus~.
O alívio durou pouco, porque Chihiro pegou o telefone e apertou três botões. Era o número da polícia. 190.
— Por que você quer me denunciar?!
— Estou apenas cumprindo meu dever como uma cidadã honesta.
— Você é só cidadã, porquê honesta não é nunca!
— Cala a boca, seu tarado.
— Eu não sou tarado! Tô aqui por causa da Shiina!
— Você acha que ficar colocando a culpa na Shiina vai fazer seus problemas sumirem?
— Esses problemas só existem porque você não cuida dela como deveria!
Naquela hora, Mashiro saiu do banheiro.
— ...
Ela não falou nada ao ver Chihiro. As duas eram primas, mas eram distantes uma da outra, talvez por causa de sua diferença de idade. Ou, Mashiro pode ter alguma sensatez na cabeça e decide não se envolver com Chihiro.
— Sorata, aqui.
Sorata fechou o zíper de Mashiro quando ela se virou.
— Sensei, o que cê tá fazendo aqui?
— Então cês tão fazendo uma exposição de animais?
Ignorando Sorata, Chihiro olhou para a fantasia de Mashiro.
— Por favor, fale igual uma professora deveria falar...
De repente, uma voz doce os interrompeu.
— Chihiro~, não me deixe para trás~.
Quem se aproximou dos três de longe foi a professora de Japonês Moderno, Koharu Shiroyama. Ela deve ser amiga de Chihiro desde os tempos de escola, porque as duas sempre andam juntas.
— Huh, Kanda, Shiina? Não pode~. Vocês não podem fazer filhos aqui só porquê estão felizes com o festival.
— O que você tá dizendo, Koharu-sensei?!
— Estamos de vigia nessas partes da escola, para impedir que os alunos façam esse tipo de coisa durante o Festival Cultural.
— ... Sério?
Sorata ainda não acreditava.
— Sim, é sério. E agora estamos tendo ainda mais trabalho por causa de vocês dois. Pô, se querem transar, vão para algum canto menos óbvio.
Chihiro respondeu.
— Pensa um pouco antes de falar essas coisas!
Era difícil dizer se Mashiro entendia aquilo ou não, porque ela estava apenas piscando, sem palavras.
— Aliás, Sensei...
Lembrando sobre Kazuki, Sorata pegou o cartão que colocou na carteira e deu a Chihiro.
— Me pediram para te entregar isto.
Com uma cara de dúvida, Chihiro pegou o cartão.
Assim que ela leu, ela franziu as sobrancelhas com raiva.
Mas, por um momento, o rosto dela ficou tranquilo. E, logo depois, com raiva novamente.
— Onde você se encontrou com ele?
— No banco, ali no pátio.
— Ei, Chihiro, não foi lá que o Kazuki se confessou a você no dia da formatura?
Então Kazuki estava ali para relembrar o passado. Sorata sentiu que o incomodou.
— Faz silêncio, Koharu. Kanda, finge que não tá escutando ela.
— Não ligo pra isso. O Fujisawa falou que irá para o refeitório mais tarde, você pode passar lá para falar com ele.
Sorata falou isso cuidadosamente, tendo certeza de não falar nada que pudesse irritar Chihiro.
— Ah, valeu. Vou evitar de ir ao refeitório.
Dizendo isso, Chihiro rasgou o cartão de Kazuki em vários pedaços e jogou os pedaços na lixeira ao lado do vaso sanitário.
— Exatamente como ele disse...
— O que?
— Nada, não. Ele só falou que você iria fazer isso.
— Esse é o Kazuki. Ele te conhece muito bem, Chihiro.
Koharu deu um tapinha no ombro de Chihiro, a provocando.
Chihiro beliscou Koharu.
Koharu soltou um pequeno grito após isso.
— Ai~!
Parecia estar doendo bastante... Koharu estava com lágrimas nos olhos.
— Chihiro, você não está sendo honesta consigo mesma.
— Já te falei para ficar de boca fechada.
— Vamos lá, você quer se encontrar com ele, eu sei.
— Já chega.
Não parecia que Koharu iria parar.
— Você não apareceu na reunião de verão, então não pôde ver ele... Ele tá com um corpão agora, viu?
— Não tenho interesse em caras que só querem falar comigo para... reuniões ou trabalho.
— Então quer dizer que se ele quiser falar com você para outra coisa, você iria?
— Ei-
— Vocês dois eram tão lindos juntos. Por que tá fazendo isso logo agora?
— Koharu, se você não se calar agora, vou enfiar um taiyaki fervendo na sua boca.
Dizendo isso, Chihiro foi embora.
— Ei, crianças, vocês também não acham isso? Ela não está sendo honesta com os próprios sentimentos...
Koharu pediu ajuda.
— Sim...
Isso era tudo que Sorata podia responder.
Chihiro virou para outro corredor e sumiu.
— Na época da escola, tudo que a Chihiro se interessava era sobre pinturas.
— E por que você tá falando sobre a história de vida dela do nada?!
— Você não quer ouvir?
Ele estaria mentindo se dissesse que não. Porém, ele se sentia mal ouvindo sobre a vida de alguém que nem estava ali. Além disso, Koharu não precisava trabalhar?
Enquanto Sorata pensava, Mashiro respondeu imediatamente:
— Eu quero.
— Como esperado da Shiina, as garotas amam ouvir sobre histórias de amor.
— E eu tô aqui pra quê, então?
— Naquela época, o Kazuki era bem ocupado criando jogos, então não aconteceu nada entre eles, mesmo os dois sabendo que se amavam. Eles estavam focados em seus próprios objetivos de vida... Não, eles tinham medo...
Ao olhar para Mashiro, Sorata viu que ela estava totalmente concentrada na história que Koharu estava contando.
— Cada um tinha seus objetivos e metas: Chihiro queria se tornar uma pintora; Kazuki queria criar jogos. Eles não tinham tempo para namorar, então acabaram se formando sem nunca ficarem juntos.
Foi a primeira vez que Sorata ouvia sobre Chihiro querer se tornar uma pintora...
— Depois de se formar, Kazuki criou sua própria empresa de jogos e, aos poucos, transformou seu sonho em realidade... No entanto, Chihiro desistiu de se tornar uma pintora e se tornou professora de artes.
"Desistiu", hein... Quando Sorata ouviu essa palavra, seu corpo tremeu. Ele não sabia o porquê.
— Chihiro ainda pensa sobre aquilo.
— Aquilo o que?
— Sobre o que o Kazuki disse para ela.
— O que ele disse?
— "Eu gosto das suas pinturas"... Kazuki foi cruel dizendo algo assim. Ainda me lembro do rosto assustado de Chihiro... "Koharu, o que eu faço? Eu só respondi ele com um 'É mesmo?'!". Eu fiquei a noite toda tentando acalmá-la.
— Acho muito difícil de acreditar.
Que Chihiro já foi... Bom, era difícil de acreditar que Chihiro já foi uma adolescente comum. Sorata pensou que ela sempre foi uma adulta desde que nasceu. Tudo que aconteceu no passado a influenciou a ser quem ela é hoje.
— Mas agora, ela é professora de artes. Chihiro parou de pintar depois de se formar na universidade. Ela é bem orgulhosa, mesmo agora. É por isso que ela "não quer" se encontrar com o Kazuki.
Sorata podia entender um pouco de como Chihiro se sentia. No futuro, se Sorata não conseguisse realizar seus sonhos e objetivos, ele poderia mesmo ficar ao lado de Mashiro? Não... Ele acabaria sendo esmagado por uma força invísivel e não seria capaz de suportar.
Mesmo agora, ele já passou noites em claro sem conseguir dormir, pois estava se comparando com Mashiro, uma pintora gênio e mangaká profissional.
De repente, seu telefone vibrou em seu bolso. Era uma mensagem de Nanami.
— Eita.
Ele percebeu que já passou mais de um hora.
— Se você não voltar agora mesmo, irá se arrepender amargamente.
Foi isso que Nanami escreveu.
Ele rapidamente digitou uma resposta.
Koharu deve ter ficado satisfeita com o que disse a eles, pois ela saiu em busca de Chihiro.
— Tô indo! Não fica com raiva!
Enviando a resposta, Sorata decidiu deixar Mashiro na sala, antes.
Parte 4
Eles estavam passando pelo mesmo caminho de onde vieram. O caminho passava pelo prédio da universidade.
Aliás, Sorata podia perceber os inúmeros olhares para eles, graças à fantasia de Mashiro. Felizmente, Sorata já se acostumou com isso.
Mesmo assim, ele não queria chamar ainda mais atenção, então decidiu ir pela saída de emergência. Estava fechada para visitantes.
Enquanto eles dois voltavam para a sala, Sorata viu duas pessoas que ele conhecia muito bem. Eles estavam de costas, mas Sorata conhecia até o jeito de andar.
Um deles era Jin, e a pessoa que estava andando de mãos dadas com ele era... Misaki?
Jin estava com o uniforme da escola, e Misaki estava com roupas casuais.
— Huh, aqueles ali são o Jin-senpai e a Misaki-senpai?
— Parece que sim.
Se até Mashiro concordava, então sem dúvidas eram eles.
Era exatamente como Nanami disse a ele.
Achando que havia algum engano, Sorata se escondeu nas moitas e foi se aproximando dos dois.
Jin e Misaki não estavam indo para o centro do festival. Na verdade, eles estavam indo para uma área afastada e com pouca gente.
Se eles continuassem por esse caminho, chegariam no clube de jardinagem. Parece que os dois queriam ir para o canteiro de flores.
Nanami disse para voltar agora mesmo, mas Sorata tinha que descobrir o que estava acontecendo, então ele seguiu aqueles dois.
Ninguém, além de Misaki e Jin, estava nos canteiros de flores.
Escondidos atrás de um pequeno galpão, Sorata e Mashiro observavam eles.
Cerca de 15 metros à frente deles, Jin e Misaki ficaram lado a lado e olharam para as flores.
— O que eles vieram fazer aqui...?
Koharu e Chihiro já falaram que algumas pessoas aproveitam para fazer amor durante o Festival Cultural.
Não, eles não fariam isso... né?
— Kouhai-kun, eu quero brincar de esconde-esconde com vocês, também~!
Sorata se assustou com a voz que veio do nada no ouvido dele.
A pessoa que falou isso foi Misaki.
— Misaki-senpai, não me assusta assi... Ei, é o quê?!
— E aí, tô bonita?
Misaki ignorou a surpresa de Sorata, e deu uma pequena voltinha para mostrar o uniforme de garçonete. Era o mesmo usado na sala de Sorata.
— Por que cê tá usando isso?
— Fui na sua sala para comer todas as chocobananas possíveis, e a Nanamin me emprestou.
Misaki não mencionou se Nanami falou alguma coisa sobre Sorata, então ele decidiu ignorar isso.
— Diz aí, Kouhai-kun! Tô linda, né?!
— Acho que sim...
— Você está linda, Misaki.
— ... Será que o Jin iria gostar?
Falando baixinho, Misaki parecia deprimida. Ela sempre ficava assim quando falava sobre Jin.
— A propósito, é sobre o Jin-senpai.
Se Misaki estava ao lado de Sorata agora, isso significava que a mulher que estava com Jin, obviamente, não era Misaki.
— O Jin? O que tem ele?
— N-Não, não é nada!
Seria melhor se ele não mostrasse Jin com outra mulher para Misaki.
Foi o que Sorata pensou, mas Misaki já estava olhando para um lugar.
Ela estava olhando para onde Jin estava.
Jin estava falando com Misaki... Não, com a pessoa que se parece com Misaki.
Misaki falou, para si mesma.
— ... Mana...
Isso mesmo, Misaki tinha uma irmã mais velha que era dois anos mais velha que ela. Ela era a ex-namorada de Jin... Mas por que ela estava aqui?
Parecia que eles estavam conversando, mas Sorata não conseguia ouvir a conversa.
De repente, Misaki se escondeu perto dos canteiros de flores e se aproximou ainda mais do casal.
— Ei, Senpai!
Sorata e Mashiro seguiram Misaki por reflexo.
Olhando pela moita, eles observaram a irmã de Misaki, Fuuka, falar algo.
— O que cê tá pensando em fazer me trazendo para um lugar como esse?
A voz dela era muito mais calma que a de Misaki, o rosto dela era muito mais maduro que o de Misaki, também. Porém, por elas serem bastante parecidas, era como ver uma versão de Misaki no futuro.
— Já deu, né? Você já brincou comigo por tempo o suficiente. Quer, ao menos, me explicar por que quis me encontrar aqui?
— Precisa de motivo para rever uma amiga de infância?
— Nesse caso, sim. Você nem lembra do que me disse quando terminou comigo.
— Claro que lembro. Eu nunca poderia esquecer.
— Sério? As pessoas tendem a esquecer quando são elas dizendo as coisas ruins para alguém.
— Foi a primeira vez que machuquei alguém com palavras, e isso também me machucou. Então eu nunca vou esquecer.
Sorata ouviu Jin falando sobre isso antes.
— Eu sou apenas uma substituta da Misaki para você, não é? Você só quer que ela continue pura ao seu lado, já que você tem medo de machucá-la.
Jin conseguia se lembrar bem disso. Fuuka continuou, falando:
— Inventa uma desculpa melhor, pelo menos.
Aquilo permaneceu guardado nele até hoje.
— Eu estava falando sério quando disse isso.
— Eu também estou.
Misaki mordeu os lábios enquanto observava os dois.
— Então por que não tentamos de novo?
— ...
— Nós mudamos desde aquela época, não é?
— ...
— Acho que, dessa vez, pode dar certo...
— Fuuka, essas suas brincadeirinhas não têm graça.
— Poxa, eu só tava vendo até onde cê iria.
— ... Eu não posso tentar nada com você, Fuuka. Você sabe disso.
— Não fala assim com essa cara triste. Parece até que eu tô te intimidando.
— Acho que cê tá, um pouco, né?
— Ah, tanto faz. Fiquei feliz só em poder te ver.
— Tenho certeza que você não veio aqui só para isso...
— Bom, então cê vai mesmo para aquela universidade em Osaka? A sua mãe me contou.
Sorata tremeu quando ouviu essas palavras. Ele não conseguia ver como Misaki reagiu ao ouvir isso.
O coração de Sorata pesava a cada dia mais. Ele queria ter contado a ela bem antes sobre isso. Mas, esse não era um assunto que envolvia ele.
Cuidadosamente, ele virou a cabeça e olhou para o rosto de Misaki.
Ele viu Misaki com uma expressão diferente da que ele esperava: Misaki estava apenas piscando os olhos enquanto observava Jin e Fuuka, com seus olhos claros, que tornavam impossível de entender o que ela estava pensando.
Sorata esperava que ela ficasse totalmente surpresa e nervosa com isso, e fosse confrontar Jin agora mesmo, mas isso não aconteceu. A expressão no rosto dela era bem calma, na verdade, e isso era o que deixava Sorata nervoso.
— Pô, parece que os pais não sabem guardar segredos, hein?
— Por que em Osaka?
— Em comparação com a Universidade de Artes da Suimei, a de Osaka tem um departamento melhor para a literatura.
Embora isso seja verdade, Sorata sabia que o maior motivo para Jin querer ir era para pôr uma distância entre ele e Misaki. Fuuka também parecia já saber disso.
— Parece que você melhorou nas mentiras.
— E você continua cruel como sempre.
Jin riu sem jeito.
— Quando a gente namorava, você sempre era bem calado, pois não sabia mentir direito.
— Então, acho que aprendi com você, Fuuka.
— Ei, não teve graça, viu?
— Todo homem precisa de uma mulher forte para o ajudar a crescer.
— Se você disser mais alguma coisa, vou te bater.
Jin juntou as mãos em pedido de desculpas.
— Você não mudou nada... E então? Quando vai contar para a Misaki?
— Eu vou dizer a ela quando chegar a hora.
— E quando vai ser isso?!
— ... Foi para isso que você veio?
Por um instante, Fuuka parou de falar. Isso significava que Jin estava certo.
No entanto, Fuuka, rapidamente, falou:
— Por quem você acha que eu terminei com você?
Misaki levantou a cabeça ao lado de Sorata.
Ela estava apertando ambas as mãos cerradas com força. Era a primeira vez que Sorata via Misaki assim, então ele estava ficando ainda mais nervoso.
— Foi... por nós dois?
— Realmente, você ficou mais ousado.
— Bom, ano que vem eu vou ser um universitário. Isso se eu passar, né... Mas não posso ficar agindo como criança para sempre.
— Errado.
— Acho que, nesse caso, você deveria me apoiar. Mas tudo bem, eu até que gosto disso, também.
— Você ignorou o que eu disse.
— ...
— Jin.
Fuuka falou com uma expressão séria.
— Sim?
— ...
Fuuka abriu a boca para dizer algo, mas acabou fechando novamente sem dizer nada.
— Eu vou para casa, então vá comigo até a estação.
Dizendo isso, ela começou a andar sem nem esperar pela resposta de Jin.
— Como quiser.
Jin seguiu atrás de Fuuka.
O casal passou pelo local onde o grupo de Sorata estava se escondendo e foi embora.
Enquanto isso acontecia, Misaki estava agarrando o braço de Sorata. Ela segurava forte o suficiente para ficar vermelho.
Mesmo depois que Jin e Fuuka saíram, Misaki não soltou Sorata.
— ... Misaki-senpai?
— ...
Misaki o soltou sem dizer uma palavra.
Misaki levantou de onde estava. Ela limpou um pouco de terra na roupa. Sorata e Mashiro fizeram o mesmo.
— ...
Misaki ficou olhando para o lugar em que Jin e Fuuka estavam até agora a pouco.
Sorata tentou falar com ela.
— Senpai... desculpa.
— ...
— Eu já sabia sobre... Sobre o Jin-senpai ir para Osaka...
— Kouhai-kun.
Ele ouviu uma voz triste. Era a voz de Misaki.
— Sim?
— Eu vou me esforçar ainda mais para que o Jin possa me notar.
— Como é?
— Eu odeio isso...
Quando Misaki se virou enquanto falava isso, lágrimas brilhavam em seus olhos.
— ... Eu odeio o fato de que não sou eu ao lado do Jin! Não consigo mais segurar, Kouhai-kun...
Uma lágrima caiu de um de seus olhos.
— Eu tinha esquecido... Quando o Jin começou a namorar com a minha irmã, eu comecei a me odiar. Eu pensava "Eu devia ter me confessado antes!".
Mashiro enxugou as lágrimas de Misaki com as patas de gato e acariciou sua cabeça.
— Misaki... não chore.
— Obrigada, Mashiron.
Misaki abraçou Mashiro.
— E-Ei... Senpai?
— O que foi?
Misaki fungou enquanto falava com a voz rouca.
— Então... É sobre o Jin-senpai ir para a universidade em Osaka...
— Sim, ele me falou sobre isso.
— É o que?! Ele já disse?! E você aceitou?!
Se soltando de Mashiro, Misaki foi até o canteiro de flores, arrancou uma folha e assoou o nariz.
— O que foi? Tem algo mais que ele não me contou?
Ela olhou para Sorata, como se não entendesse o que estava acontecendo.
— Huh? Não, mas é que, se o Jin-senpai for aceito lá, ele vai ter que se mudar para Osaka. Aí vocês não vão poder se ver todos os dias... Isso tá de boa pra você?
— Kouhai-kun, você não deve menosprezar as conquistas da humanidade! Leva três horas para chegar em Osaka se for de trem-bala. Menos ainda se for de avião~! Então, sim, nós vamos nos ver todos os dias~!
— ...
Sorata não conseguia fechar a boca aberta em surpresa.
Ele subestimou aquela alienígena.
O padrão de tempo, espaço e dinheiro de Misaki era diferente de um humano comum.
Jin era amigo de infância de Misaki, então talvez ele não entendesse, mas Misaki sempre iria acabar o encontrando, não importava a distância.
Talvez Sorata devesse dizer a ele "Se você quer colocar alguma distância entre você e a Misaki, então cê tem que ir para uma universidade em Marte!". Talvez, assim, Jin entenderia... Ele choraria de emoção, com certeza.
Mas por que Sorata teve que manter isso em segredo até agora? Por que Jin não o avisou que já havia contado? Sorata teria que resolver isso com Jin mais tarde.
— A partir de hoje, começarei minha "Estratégia de Ataque do Amor''!
Misaki se levantou e ergueu o punho cerrado.
Sorata só podia sorrir para o quanto Misaki era positiva e feliz. Bem, esse é o tipo de pessoa que Misaki era. Tudo que Sorata podia fazer era desejar que ela e Jin fossem felizes assim.
— Eu também quero ajudar. Então, se tiver algo que eu possa fazer, por favor, me chame.
Sorata sabia como Jin estava se sentindo.
Misaki pode não ter notado, mas Jin a amava mais que tudo.
No entanto, tinha um motivo pelo qual Jin não podia se confessar para ela ou ficar junto dela.
Misaki tinha um talento muito brilhante. Se Jin tentasse se aproximar desse brilho, ele seria queimado. A sombra dele se tornaria ainda mais escura.
Sorata queria acreditar que Jin e Misaki seriam capazes de superar essas coisas, juntos.
E ele queria lhes dizar uma coisa: sempre haverá esperança.
Se sempre houvesse apenas desespero, então tudo seria muito cruel para Jin e Misaki... Para o próprio Sorata, também.
— Brigadinha, Kouhai-kun! Eu vou fazer isso!
— Isso combina com você, Misaki-senpai.
— Misaki, lute.
— Vou fazer meu primeiro movimento no Jin ainda hoje à noite!
Declarando isso em voz alta, Misaki ergueu o punho cerrado novamente.
Parte 5
Ainda havia muita gente do pátio da escola.
Jogando cascas de banana no lixo atrás da escola, Sorata olhou para o céu, que já estava ficando vermelho com o pôr do sol.
O evento da última noite do Festival Cultural já começou, mas ele tinha que ajudar Nanami com isso, já que ficou mais de uma hora fora.
Ele colocou o lixo orgânico separado do lixo normal.
Com isso, ele já tinha acabado o trabalho. Ele havia suado bastante carregando os sacos de lixo para fora, mas agora que ele começou a relaxar, o suor sumiu.
Quando o sol começou a se pôr, ele já podia sentir o vento frio do inverno.
Ele suspirou. Ao mesmo tempo, seu telefone vibrou. Era uma mensagem de alguém.
Quando viu de quem era, pensou imediatamente:
— Então ela viu.
Ele abriu a mensagem que atravessava o vasto oceano, vindo da Inglaterra.
— Nossa, o que o Ryuunosuke está pensando?! Eu desenhei centenas de imagens e tudo que ele diz é "Bom trabalho, parabenizo você". Que falta de bom senso! Não consigo relaxar, já que a primeira mensagem que ele me envia é algo assim. Bom, não é como se eu tivesse ajudado no Nyaboron apenas para o Ryuunosuke me elogiar... Mas olha a forma que ele fala! Ele é um idiota! Na próxima vez que eu for ao Japão, vou usar meu próprio corpo para ensinar a ele como se trata uma dama! Por favor, Sorata, diga a ele para se preparar. ~ Rita Ainsworth.
Quando Sorata terminou de ler, ele fez um rosto preocupado.
Ryuunosuke pensou que, ao fazer isso, ela se afastaria dele, mas parece que foi exatamente o oposto.
— Vou avisar isso para ele.
Sorata enviou a resposta e fechou o telefone.
Quando uma música de dança folclórica começou a tocar, ele olhou para o pátio da escola.
— Começou...
Ele estava um pouco triste, mas não por que era uma música desse tipo, mas porque ele sabia que o Festival Cultural estava chegando ao fim.
De qualquer forma, Sorata olhou para a Universidade Suimei e a Escola de Ensino Médio associada a ela. Ele vai passar toda a juventude aqui.
— Então, isso é tudo para esse ano...
Sorata percebeu que foi diferente do ano passado. Ele só pôde participar do festival graças ao Nyaboron, mas mesmo assim foi algo inesquecível para ele.
Ele ainda conseguia ouvir as palmas e os elogios ecoando. Ele queria repetir essa sensação.
Andando por um caminho pavimentado com ladrilhos, Sorata voltou para a sala de aula apenas para avisar a Nanami que havia terminado tudo.
As luzes de dentro da escola foram todas apagadas para não ofuscar o brilho da fogueira gigante no pátio.
Sorata estava se guiando apenas com a luz da fogueira e das luzes de emergência.
Ele foi para o segundo andar, onde as salas de aula do segundo ano ficavam.
Como a maioria dos alunos estava reunida no pátio da escola, ele não viu ninguém lá dentro.
Ele podia ouvir a música dentro da escola, como se estivesse passando nas caixas de som dos corredores. Ele se sentiu em uma daquelas cenas das histórias fictícias onde o personagem anda sozinho em um prédio escuro e vazio.
Muitas coisas aconteceram hoje. Ele ficou responsável na "Venda de Chocobanana", foi a um pequeno encontro com Mashiro durante o tempo livre que Nanami deu a ele... E também se encontrou com Kazuki Fujisawa sem perceber.
Embora ele não soubesse mais detalhes, Sorata ficou surpreso com o passado de Chihiro. Ele não esperava ver alguém como Kazuki falando bem de Chihiro.
Ele também foi atingido por uma grande sensação de nervosismo quando viu o que estava acontecendo com Jin e Misaki, e também com a irmã de Misaki, a Fuuka. Ele ficou inquieto e ansioso.
Como sempre, ele ficou surpreso com a positividade de Misaki. A mensagem de Rita também chegou há pouco tempo.
Por hoje, é isso. Não deve acontecer mais nada.
Quando Sorata chegou na sala, ele encostou na porta para abrir, mas parou no mesmo instante.
— Aoyama!
Ele ouviu uma voz nervosa vindo da sala de aula.
Espiando pela porta, Sorata viu Nanami em seu uniforme de garçonete, e seu amigo, Daichi Miyahara, em pé na frente dela.
— Ah, eu já estou terminando aqui, então você já pode ir ver o restante do festival, Miyahara. Me sinto mal com você me ajudando tanto mesmo estando em outra turma.
— Não, eu tenho algo para te dizer.
Sabendo que não podia mais continuar ali, Sorata parou de espiar pela porta. Ele queria sair dali, mas não conseguia. Se ele tentasse sair, iria fazer barulho, e seria descoberto. Ele ainda podia ouvir tudo pela porta.
Daichi continuou falando, com uma voz trêmula:
— Eu gosto de você.
— ...
Até Sorata ficou surpreso com essas palavras. Ele já desconfiava disso, mas ouvir isso do próprio Miyahara...
— Sendo sincero, eu só entrei para o Comitê para ficar perto de você. Pensei que, mesmo se formos de classes diferentes, poderíamos sair juntos pelo Comitê.
— ...
— Desde que o Kanda ainda estava nos dormitórios normais... Mesmo quando pegamos aquela gata... Eu só pensava em você, nada mais.
Nanami ficou em silêncio.
Sorata estava curioso, então ele espiou pela porta. Ele viu Nanami apenas escutando tudo de cabeça baixa.
— Eu sempre... sempre gostei de você.
— Certo.
Finalmente, Nanami falou algo. Sorata continuou olhando pela porta.
— Tudo o que eu penso é em você. Eu tenho todo tipo de pensamentos sobre você...
— Q-Que tipo de pensamentos?!
— Ah! Não, não é isso! Eu só... tipo... imagino a gente saindo juntos em um parque de diversões... andando de mãos dadas... e coisas assim...
— Algo mais?
— Ir ao zoológico ou à piscina... e à praia, também... Por favor, não pergunte mais!
Daichi juntou as mãos em um pedido de desculpas e inclinou a cabeça para Nanami.
Quando ele fez isso, Nanami riu.
— Você é tão malvada. Tá rindo da minha confissão?
— D-Desculpa, não era a intenção... Mas eu só acho que você é bem inocente.
— Tá dizendo que eu sou burro?
— Não, não!
Daichi relaxou ao ver que Nanami estava mais calma.
— Você tá negando tudo... Acho que levei um fora feio!
— Ei, não fala assim.
— Então, por favor, me responda.
Sorata pôde ver, de longe, que a expressão no rosto de Nanami mudou.
O coração de Sorata doeu, mesmo que ele não tivesse algo nada a ver com isso. Ele parou de olhar e tampou os ouvidos.
— Me desculpa.
Mesmo assim, ele ainda podia ouvir a voz de Nanami.
— Ah~... Tudo bem...
Daichi estava totalmente deprimido.
— Eu já sabia que algo assim iria acontecer, mas seria ainda mais doloroso se eu apenas guardasse para mim...
— Miyahara... desculpa.
— Não precisa dizer duas vezes.
— Ah... Miya-... Não, hm...
— Tá tudo bem. Me desculpa por te colocar no meio disso tudo. Eu não queria te ver assim... Bem, acho que agora vou poder focar mais no treino de natação, né?
— Miyahara...
— Não se preocupa, tá? Pode ser um pouco estranho quando nos encontrarmos nos corredores da escola, então me desculpe por isso também. Já estou pedindo desculpas antes que você possa fazer isso, haha.
Daichi riu alto enquanto falava isso em tom de brincadeira.
— Enfim, acho que vou na frente.
— Certo...
— Você também vai ir ver a fogueira mais tarde, né, Aoyama?
Nanami não respondeu a essa pergunta.
Daichi se aproximou da porta.
Percebendo isso, Sorata tirou os sapatos e correu para que eles não pudessem o escutar. Ele se escondeu nas escadas que vão para o terceiro andar.
Escondido na escada, Sorata observou Daichi descendo as escadas enquanto gritava de uma forma extremamente triste.
— "Confissão", hein...
Sorata repetiu essa palavra em seu coração. Ele imaginou o rosto de Mashiro enquanto falava isso para si mesmo.
Depois de esperar um pouco, Sorata voltou para a sala de aula em que Nanami estava.
— Já joguei o lixo.
Ele falou para Nanami. Ela estava arrumando as mesas da forma mais natural possível.
— Cê tá bem atrasado.
— É-É mesmo?
— E você chegou na hora perfeita, hein.
Nanami olhou para Sorata, com um olhar desconfiado.
— Desculpa. Eu não queria ouvir vocês.
— Tudo bem.
— E eu não vou contar a ninguém. Eu prometo.
— ... Eu sei disso.
Nanami respondeu sem entusiasmo. Ela foi até uma mesa perto da janela e se sentou nela. Ela estava olhando para o céu, que estava iluminado pela enorme fogueira.
— Eu fiquei bem nervosa.
— Mas você parecia bem calma.
— Não é como se fosse a primeira vez.
— O que?!
— Dá pra não ficar tão surpreso com isso? E foi só uma vez, quando terminei o fundamental.
Nanami olhou por cima dos ombros para Sorata, com uma expressão desagradável.
— Miyahara... Ele é uma boa pessoa, tem uma boa personalidade e é legal com todos... Por que não pode ser ele?
Era difícil dizer que tipo de expressão Nanami estava fazendo.
Sorata também se aproximou das janelas e se apoiou em uma mesa ao lado da de Nanami.
— Gostar de alguém que gosta de você é fácil demais.
A voz dela ecoou lentamente pela sala de aula e os dois apreciaram silenciosamente a vista do céu.
— ...
— ...
— Você já está gostando de alguém, Aoyama?
Ele falou isso sem nem perceber.
Olhando de lado, os olhos de Sorata e Nanami se encontraram.
Era óbvio que ela não responderia algo assim... Não, Nanami respondeu.
— Sim.
Naquele momento, fogos de artifício voaram e explodiram no céu, iluminando Sorata e Nanami na sala de aula.
Nanami olhou diretamente para Sorata.
Como se estivesse sendo puxado por algo, Sorata não conseguia tirar os olhos dela.
Quando o brilho dos fogos de artifício sumiram no céu, tanto o céu quanto a sala de aula ficaram submersos na escuridão novamente.
— Você me ouviu?
— Ah, sim, ouvi.
— Bom, eu vou repetir, só para confirmar.
— Huh?
— Sim, eu estou gostando de alguém.
Quando os fogos de artifício explodiram novamente, Nanami não estava mais olhando para Sorata, e sim para os fogos. Ela falou "Que lindo...", em uma voz baixa, enquanto observava.
Sorata olhou para ela.
— O festival está chegando ao fim.
Nanami sussurrou enquanto olhava direto para fora.
— Ei, hoje uma garota veio me falar sobre o Nyaboron. "Eu gostei muito, me diverti demais!", ela disse.
— Também vieram me falar isso.
Ele ficou muito feliz depois disso.
— ... Isso me deu vontade de me esforçar ainda mais... O brilho no olhar dela me inspirou ainda mais.
— Sim. Eu tô pensando em enviar uma ideia de jogo toda semana, ao invés de uma por mês.
— Não posso perder para você, Kanda.
— Mas não vá se esforçar demais e ficar doente de novo.
— Fale por você. O seu corpo que é fraco.
— Não fala assim, fica estranho.
Não respondendo a isso, Nanami saltou da mesa.
— Vamos lá fora.
— Hm? Ah, vamos.
— Vem! Vai acabar em breve.
Nanami agarrou a mão de Sorata e começou a correr.
— Ah, ei, Aoyama!
Eles desceram as escadas depois de sair da sala de aula. Por mais que ele gritasse, Nanami não parava, nem soltava a mão dele.
Era o último dia do Festival Cultural. Foi um dia cheio de inúmeros eventos. No final do dia, Sorata percebeu que a mão de Nanami era muito menor que a dele. O vento frio os lembrou de como suas mãos eram quentes.
O inverno estava se aproximando. Era a quarta estação contando a partir da primavera. O fim do ano. Querendo ou não, a última estação do ano estava chegando.
No entanto, Sorata logo se esqueceu disso tudo.
Porque, quando Sorata e Nanami saíram para o pátio... os outros quatro membros do Sakurasou, Misaki, Jin, Ryuunosuke e Mashiro, estavam esperando por eles.
— Vamos comemorar o sucesso do Nyaboron~!
Declarando isso, Misaki acendeu um fogo de artifício.
— Ei! Foi isso que cê quis dizer com "comemorar"?!
Mas era tarde demais. Os fogos de artifício começaram a explodir no meio do pátio da escola. E com um som trovejante, um brilho enorme iluminou o céu sobre eles.
O que aconteceu a partir daqui, todos já sabemos:
— Argh! É o Sakurasou de novo!
O professor de educação física começou a correr para onde eles estavam.
— E aí, é agora que a gente foge?
Jin começou a correr quando ele disse isso.
Sorata agarrou a mão de Mashiro e começou a correr também. Ele percebeu que Mashiro não estava nem um pouco com vontade de correr.
Porém, nessa situação, ele chegou à seguinte conclusão:
— Vou falar com a Mashiro sobre o que aconteceu no aeroporto, se eu passar na próxima vez que enviar uma ideia de jogo. Eu tenho que ser capaz de encarar a Mashiro, então... eu tenho que ser capaz de aceitar meus sentimentos por ela...
9 de novembro.
O seguinte foi registrado no quadro de reuniões do Sakurasou:
— Os fogos de artifício eram lindos. — Registrado por: Mashiro Shiina.
— Eu já disse isso antes, mas o registro da reunião não é um diário! — Registrado por: Sorata Kanda.
— E o taiyaki estava delicioso. — Registrado por: Mashiro Shiina
— Tá fazendo de propósito?! — Registrado por: Sorata Kanda.
— A propósito, quando teremos a reunião parar discutirmos sobre o “Gato Galáctico Nyaboron”? — Registrado por: Ryuunosuke Akasaka.
— Precisamos discutir sobre isso? Foi um sucesso, pô. — Registrado por: Sorata Kanda.
— Todo projeto precisa de uma reunião para discutir pontos sobre o mesmo. Um projeto sem discussão é como um almoço sem tomate, Sorata-sama. — Registrado por: Maid-chan.