A Garota Pet do Sakurasou Japonesa

Tradução: NiquelDBM, zKamikazeBR, soul-s

Revisão: NiquelDBM


Volume 2

Capítulo 3: Se preocupe apenas com o agora

O sol nasceu.

De acordo com o canal meteorológico, o sol estaria forte por três dias seguidos. Hoje ia ser quente e abafado o dia todo. Mesmo já sendo dia 20, final da metade de agosto, o outono ainda parecia distante.

Depois de passar a noite toda acordado, Sorata se sentou na frente do computador para enviar a sua proposta de jogo.

Ele preencheu os formulários e espaços necessários, e releu tudo o que havia escrito. Tudo o que ele tinha que fazer agora era apertar o botão “Enviar”.

Sorata percebeu que a proposta dele tinha melhorado bastante depois dos conselhos de Ryuunosuke.

Como a proposta dele agora tinha algumas ilustrações feitas por Misaki, e palavras-chaves ditas por Jin, não dava nem para comparar com a versão apenas em texto que Sorata tinha feito antes. Na verdade, agora parecia mesmo uma proposta adequada para um jogo.

Quando ele mostrou a proposta nova para Ryuunosuke, ele não criticou ele igual fazia antes. Então, isso significava que estava bom.

Sorata tinha dado o seu melhor, e ele estava com um sentimento de realização.

Sentindo-se confiante, ele estava 100% determinado a enviar a sua proposta para o “Vamos fazer um jogo!”.

Seguindo as instruções na tela, ele rapidamente preencheu os espaços necessários em menos de 5 minutos. Bastava apenas um clique para ele enviar a sua proposta.

A mão que ele estava usando para segurar o mouse começou a suar, e seu estômago começou a contorcer e revirar.

Sorata sentiu um nervosismo e ansiedade que nunca tinha sentido antes.

Era a primeira vez que seu corpo se sentia assim. Ele não se sentiu tão apavorado assim nem mesmo quando ele se mudou para o Sakurasou.

Que tal contar uma contagem regressiva para depois enviar?

Ele respirou fundo e começou a contagem regressiva na sua cabeça.

— Dez, nove, oito... sete…

Quando ele começou a contar, Nozomi pulou na mesa. Graças a isso, Sorata acidentalmente clicou no botão de enviar.

A tela mudou e exibiu a mensagem “Sua inscrição foi enviada. Obrigado.” Nozomi parecia estar orgulhoso enquanto estava sentado na mesa.

— Por que você…

E de todos os gatos, quem fez isso foi Nozomi, um gato preto. Sorata sentiu que isso poderia ser algum tipo de sinal.

Mas não havia motivo para reclamar agora, então Sorata fechou o navegador e desligou o computador desanimado.

A resposta da empresa chegaria em pelo menos uma semana, mesmo que chegasse rápido.

Até lá, ele não teria nada para fazer.

Sorata se recostou na cadeira e bocejou.

Por enquanto, ele terminou tudo o que tinha para fazer.

Sem nenhum motivo, Sorata gritou.

Assustado, o gato olhou para Sorata.

Ele simplesmente não conseguia se acalmar. Ele pegou Nozomi, que estava tentando dormir na mesa. Nozomi parecia não ter gostado de ser segurado por Sorata, já que ele estava quase dormindo, mas Sorata queria compartilhar um pouco de sua felicidade.

Ele acariciou a cabeça de Nozomi. No entanto, Nozomi se soltou dos braços dele e correu.

Sorata desistiu de compartilhar um pouco de sua felicidade com o gato e se recostou na cadeira novamente. Ele passou a mão no cabelo enquanto olhava para o teto.

Ele foi fechando os olhos lentamente.

Ele não queria fazer nada. Parecia que ele não podia fazer nada. Seu corpo ficou sem forças e ele se sentiu exausto.

Agora que ele pensou sobre isso, Mashiro estava do mesmo jeito que ele. Ele estava ocupado com sua proposta, e ela com seu mangá.

Pensando em Mashiro, a cabeça dele começou a se encher de pensamentos sobre ela.

Uma carta enviada para Mashiro. "Uma pessoa especial"? Era alguém que ela gostava?

Ele viu Mashiro, que quase não sentia emoções por outras pessoas, perguntando a Nanami como enviar uma carta de volta no dia seguinte.

Mashiro parecia feliz quando ela saiu em direção aos correios, mas por outro lado, Sorata se sentiu ainda pior ao ver isso.

Ele realmente não entendia o porquê dela enviar outra carta. Ele tentou criar coragem para perguntar a ela de manhã durante os estudos, mas ele não queria ficar triste com a resposta, então, quase uma semana se passou, e ele ainda não tinha perguntado nada. Ele sempre sentia medo quando se tratava de fazer esses tipos de coisas.

Foi por isso que Sorata decidiu fechar os olhos para a realidade e se concentrar apenas na sua proposta de jogo.

Antes, sempre que ele tinha algum tempo livre, ele ficava fazendo coisas inúteis. Mas nos últimos dias, parecia que ele tinha sido muito produtivo.

No entanto, agora que ele havia terminado a proposta do jogo e estava sem nada para fazer, Sorata não tinha com o que se ocupar. Lentamente, a cabeça de Sorata estava focada apenas em Mashiro.

Mas ele também tinha outras coisas em mente: Os exames externos de Jin. O que aconteceria com Misaki? E ele ainda não foi capaz de resolver aquela briga que ele teve com Nanami.

Nanami estava muito ocupada indo para seus empregos de meio-período todos os dias enquanto cuidava de Mashiro, além de ainda ir para o curso de dublagem. Sorata ainda não teve a chance de sentar e conversar com ela.

Naquele momento, alguém o chamou na porta.

— Sorata.

Surpreso, Sorata perdeu o equilíbrio e caiu para trás com a cadeira. Com o corpo doendo da queda, ele abriu os olhos. Na visão dele, por estar no chão, Mashiro estava de cabeça para baixo.

Ele se levantou rapidamente.

Quando se levantou, ele se lembrou de uma promessa que fez. Hoje era dia 20 de agosto. Era o dia em que o one-shot de Mashiro seria lançado. Ele havia prometido para Mashiro que eles iriam juntos comprar em uma livraria.

— Quer ir à livraria quando você terminar de estudar?

Surpreendentemente, Mashiro balançou a cabeça. Ela nem tentou entrar no quarto.

— A Nanami está estranha.

— Estranha? Como assim?

Mashiro silenciosamente olhou para o final do corredor... para a entrada.

Tinha alguém lá?

Quando Sorata olhou para fora de seu quarto, ele viu Nanami na porta da frente.

Ela estava encostada na sapateira com a cabeça baixa, mas não estava se movendo.

Com certeza tinha algo errado com ela. Ele não conseguia sentir a alegria que ela sempre exala.

Saindo do quarto, ele correu em direção a Nanami.

Mashiro o seguiu por trás.

— Aoyama?

Quando ele falou com ela, Nanami levantou lentamente a cabeça. Os olhos dela estavam quase fechados e o rosto dela estava um pouco vermelho. Ela estava com os braços envoltos do corpo como se estivesse sentindo frio.

— Você...

— Estou bem. Não é nada.

A voz dela também estava diferente do normal. Ela não estava com a voz alegre de sempre.

— Como assim “Estou bem”?

Ele colocou a mão na testa de Nanami. Ele sentiu que a testa dela estava quente.

Ela estava com febre. A febre estava muito alta...

— Eu já te disse que estou bem.

Nanami não tinha força nem para se soltar dele, e quando ela se moveu, tossiu um pouco.

Ele esfregou as costas de Nanami para ajudá-la.

— Kanda… isso é assédio sexual…

— Agora não é hora para isso.

— Estou bem… Agora preciso ir para o meu trabalho... a gente estuda mais tarde, preciso ir...

O que ela disse não fazia sentido. Isso só provava ainda mais que o cérebro dela não estava funcionando direito por causa da febre.

— Não se importe com os estudos. E ir trabalhar agora não é bom, então fique em casa.

— Se eu faltar o trabalho sem avisar... as pessoas de lá não vão gostar…

— Também não vão gostar de ter um trabalhador que não consegue fazer algo direito!

Sorata a respondeu severamente. Nanami não estava em condições de sair de casa. Na verdade, Sorata nem tinha certeza se ela iria conseguir chegar no trabalho caso ela fosse.

— Mas…

Se ela não descansasse um pouco, provavelmente ela iria desmaiar.

— Não se preocupe com isso e apenas descanse. Amanhã é um dia importante para você, certo?

Amanhã, dia 21 de agosto, Nanami tem um teste importante no seu curso de dublagem.

— Isso é verdade, mas…

— Vá para o seu quarto e durma um pouco. Faça isso para se sair bem amanhã. Qual é o número de telefone do lugar que você trabalha? Vou ligar para lá para avisar.

— Não... eu mesma faço isso...

A respiração de Nanami estava quente. Parecia que era difícil até mesmo para ela manter os olhos abertos. Mesmo assim, Nanami pegou o telefone perto da entrada.

Ela apertou os números um por um.

Ela tinha que usar o telefone do dormitório pois a linha dela foi cortada no mês passado.

Como ela estava gastando todo o seu dinheiro para pagar o aluguel do dormitório, ela não tinha dinheiro para gastar em mais nada. Antes, Nanami havia dito que ela iria se virar, mesmo sem dinheiro, mas Sorata realmente não acreditava nisso…

— Oi, é a Aoyama. Sim, obrigada… Sim, desculpa. Não estou me sentindo muito bem, e estou com febre... sim, sim. Obrigada… Sim, eu realmente sinto muito. Sim…

Nanami tossiu novamente quando desligou o telefone e caiu no chão. Ela não tinha mais forças para se levantar.

Sorata apoiou Nanami nele.

Ele conseguia sentir a respiração quente dela. Isso deixou ele ainda mais nervoso. Não querendo perder para o nervosismo, Sorata ajudou Nanami a subir as escadas e ir para o quarto.

Sorata deitou ela na cama.

— Vou pegar um remédio.

Quando ele ia sair do quarto, Nanami agarrou o pulso de Sorata. O suor dela ficou no pulso dele, e ele sentiu o calor do corpo dela.

— O que foi? Quer alguma coisa?

— Eu vou… amanhã.

Nanami falou baixinho.

— Eu vou…

Parecia que ela mesma não sabia o que estava dizendo.

— Tá bom, já entendi.

Ela parou de apertar o pulso de Sorata.

Quando ela soltou, Nanami dormiu como se estivesse muito cansada.

A respiração pesada de Nanami dizia para Sorata que as coisas não iriam melhorar até amanhã. Sorata queria tapar os ouvidos quando saiu do quarto.

Ele voltou ao seu quarto para se trocar e saiu correndo do dormitório para ir comprar um remédio.

Ele foi até a Clínica Machida, que era um hospital privado que ficava perto da zona comercial e, quando ele era mais novo, a mãe dele sempre levava ele para lá quando ele adoecia.

Sorata conhecia muito bem o velho médico que parecia o mesmo de 10 anos atrás. Então, quando Sorata entrou correndo na clínica, o médico não pareceu se importar e ouviu atentamente o que Sorata tinha a dizer.

O médico até concordou em visitar o Sakurasou.

Depois de cerca de uma hora, o médico veio dar uma olhada em Nanami e entrou no quarto de Sorata quando ele terminou de verificar ela.

Era um resfriado de verão causado por excesso de trabalho e um sistema imunológico fraco. Sorata não disse muitas coisas ao médico, mas ele parecia saber exatamente sobre o estado de saúde de Nanami. O médico disse que Nanami tinha que descansar por alguns dias, mesmo sendo jovem e enérgica.

Então, já dava para descartar a possibilidade dela melhorar amanhã.

O velho médico avisou que Nanami não deveria se forçar novamente, e voltou para a clínica, deixando alguns antibióticos e vitaminas para ela.

Chihiro não estava em casa porque tinha ido para a escola esta manhã. Jin também estava fora porque ele estava dormindo na casa de uma de suas namoradas desde a noite passada.

Sorata contou para Misaki sobre o estado de Nanami depois da janta.

Quando Jin voltou naquela noite, Sorata reuniu todos em seu quarto.

Sorata, Jin, Misaki e Mashiro estavam lá.

Sorata começou explicando sobre a situação de Nanami para Jin primeiro.

Eu já esperava que ela fosse adoecer, mas não pensei que ia ser agora.

— Você esperava que ela ficasse doente?

Sorata queria dizer isso para Jin, mas ele se conteve. Não havia sentido em perguntar isso agora, e Sorata também sabia que ela iria ficar doente em breve, mas ele não foi capaz de fazer nada.

— O problema real vai ser amanhã~

Misaki mordeu os lábios e cruzou os braços para pensar.

Todos aqui sabiam que Nanami tinha uma apresentação para fazer no curso. Eles sabiam que ela estava se esforçando ainda mais nos últimos dias, apenas para praticar para a apresentação. Às vezes, eles conseguiam ouvir Nanami praticando do segundo andar.

— Ela estava até dormindo falando, dizendo que iria amanhã.

Faltar o trabalho não era nada comparado a isso. Faltar aula também não. Amanhã era um dia especial que acontecia apenas uma vez por ano para ela. Era um dia em que Nanami seria capaz de mostrar todo seu esforço. Nanami tem trabalhado duro para esse dia.

— Mas não podemos deixá-la ir.

Jin fez uma expressão complicada.

— Sim, eu dei uma espiada mais cedo, e a Nanamin parecia estar com muita dor, então, embora seja triste, acho que ela não pode ir amanhã.

— Se ela disser que quer ir, precisamos impedi-la.

— Você tem razão.

Mesmo isso sendo muito triste, Sorata só podia concordar com Jin. Era tarde demais para eles fazerem qualquer coisa. Eles teriam que fazer Nanami desistir de ir, pelo bem dela.

Jin se levantou dizendo “Então tá decidido”.

Quando ele fez isso, Mashiro, que estava quieta todo esse tempo, falou.

— Se fosse eu, eu iria.

Os olhos de Sorata e Misaki se voltaram para Mashiro, e Jin, que estava prestes a sair da sala, parou.

— Se fosse eu, eu iria.

— Mas, Shiina...

— Se a Nanami quer ir, então deixem ela ir..

Sem saber o que dizer, Sorata olhou para Jin. Jin apenas cruzou os braços para dizer que não tem o que fazer.

— Deixem a Nanami ir, por favor.

Mashiro estava pedindo para eles, mas os olhos dela diziam que ela mesma arrastaria Nanami para lá caso eles não deixassem.

— Por favor.

Mashiro curvou a cabeça.

— Isso é o que ela diz, mas o que devemos fazer ~ Sorata?

— Quero deixar a Nanami decidir se vai ou não, mas…

Ele não conseguia esquecer a mão quente de Nanami agarrando seu pulso. Aquela voz e a determinação que ela tinha... ele queria que os esforços de Nanami fossem recompensados.

— Por favor, Sorata. A Nanami se esforçou tanto... até tarde, todas as noites.

— Eu sei disso, mas...

Às vezes, era preciso fazer as coisas com moderação.

— Por favor.

— Se o seu bom senso está dizendo que fazer isso é errado, então, não é isso que deveríamos fazer?

Foi Jin quem disse isso para Sorata. Ele tinha um rosto que dizia que ele desistiu e chegou a uma conclusão.

— Onde cê acha que a gente tá?

Eles estavam no lar dos alunos problemáticos. No Sakurasou, eles desafiam todos os dias as lógicas do bom senso.

Mashiro olhou fixamente. O coração de Sorata começou a bater mais forte. Ele deveria deixar Nanami ir ou ele deveria impedi-la? Qual era o melhor para Nanami? Pensar nisso era inútil, porque no final, não seria ele quem tomaria a decisão, mas sim, Nanami.

— Tudo bem. Se a Nanami disser que vai, não podemos impedi-la.

Nanami não iria desistir. Mesmo sabendo disso, essa era a única coisa que Sorata podia dizer.

— Tudo bem, então, está decidido! Vamos todos ajudar a Nanamin~! Sim!

Misaki respondeu a si mesma dizendo que sim.

— Obrigada, Sorata.

— Não é nada… Mas eu vou ir com ela amanhã. Seria perigoso para a Aoyama ir sozinha estando desse jeito.

— Então, eu cuido do transporte~

— Ah, entendo. Um táxi seria melhor. Você que vai pagar, hein, Senpai.

— Se preocupa com isso não, nós vamos em uma nave espacial!

Misaki sorriu. Parecia que ela estava planejando algo, mas Sorata decidiu não perguntar, pois achava que não seria algo que iria prejudicar Nanami.

— Só falta a Chihiro, então. Se pararmos para pensar, acho que ela não vai deixar.

Jin ajeitou os óculos.

— Eu não acho que ela seja uma adulta responsável, no entanto...

— Bem, eu vou dar um jeito nela.

— Contamos com você, então.

Sorata realmente não sabia como lidar com Chihiro. Seria melhor se Jin cuidasse disso, já que ele tinha mais experiência e habilidades de vida.

Olhando para Jin, parecia que ele entendia perfeitamente o que tinha que fazer.

— E quanto a mim?

Mashiro perguntou de repente.

— Shiina, vai ser melhor se você não fizer nada.

Se ela se juntasse, o problema ficaria ainda maior.

— Eu também quero ajudar.

Será que apenas Sorata sentiu que Mashiro parecia um pouco desapontada?

— Então, você pode vir comigo e o Sorata, Mashiron.

— Espere, Senpai!

— O transporte vai ficar por conta da Misaki, e eu vou parar a Chihiro. Alguma reclamação?

— Não!

Misaki negou com entusiasmo.

— O que? Eu pensei que ninguém estava em casa. O que vocês estão planejando agora?

Aquela que apareceu de repente foi Chihiro, que acabou de voltar da escola. Ela voltou mais cedo do que o normal porque foi notificada de que Nanami estava doente com um resfriado.

— A Suzune me ligou, então eu tô de saída.

Jin rapidamente se levantou e saiu do quarto.

Misaki seguiu o exemplo, dizendo:

— Eu deveria ir terminar meu storyboard~.

E saiu do quarto.

Se infiltrando no meio dos outros, Mashiro também tentou sair. Ao vê-la, Chihiro a parou.

— Mashiro, isso chegou para você do correio.

Chihiro mostrou um pacote que era bem grande. Na capa, tinha o logo de um mangá shoujo.

— É a cópia que enviam para o autor, certo?

Chihiro pediu a Mashiro para pegá-lo, e ela, sem dizer nada, estendeu a mão para pegar. Sem tirar a fita, ela segurou a revista do envelope.

Mashiro não parecia feliz, nem triste, nem emocionada enquanto folheava as páginas. Olhando para seu mangá que estava no meio da revista, ela apenas olhou para a primeira página e depois fechou.

Ela entregou a revista para Sorata.

— Você não vai ler?

— Já conheço a história.

— Bem, isso é verdade, mas... você não está feliz... ou algo assim?

— Estou muito feliz.

— Você com certeza não parece feliz... De qualquer forma, parabéns pela sua estreia.

— Sim, obrigada.

Ela realmente não parecia feliz. Pode ser porque ela estava preocupada com Nanami.

Sorata olhou para a revista em suas mãos. No canto esquerdo, havia uma pequena introdução em fontes pequenas, dizendo que tinha um novo one-shot. Abaixo da introdução, estava o nome “Mashiro Shiina”.

Suas mãos tremiam enquanto ele virava as páginas para chegar no mangá de Mashiro.

Como ele sabia onde estava, ele conseguiu encontrá-lo razoavelmente rápido.

— Realmente está aqui.

Era óbvio que estaria, mas essa foi a primeira coisa que veio à cabeça dele.

Ele leu página por página. Ele já tinha lido antes, mas ler de uma revista parecia completamente diferente. Parecia que agora era real.

— Então, é possível ser um mangaká.

Essa foi uma reação honesta. Ele estava bastante surpreso.

Ele devolveu a cópia da revista para Mashiro. Mashiro a segurou com os braços cruzados e voltou para seu quarto.

Chihiro, que ainda estava no quarto, olhou para Sorata com olhos de cobra.

— E então? Vocês não estão pensando em fazer nada estúpido, não é?

A professora deles era surpreendentemente inteligente quando se tratava dessas coisas.

— Claro que não. Por favor, saia do meu quarto e feche a porta. Eu tenho minha própria privacidade que precisa ser respeitada!

— Você não tem, não.

Chihiro disse isso e saiu da sala.

Ele mesmo teve que fechar a porta que ela deixou aberta.

O plano deles iria ser feito, de um jeito ou de outro.

Mesmo sabendo que era inútil, ele só podia orar. Orar para que Nanami melhorasse até amanhã.

Parte 2


No dia seguinte, a oração de Sorata não funcionou e Nanami ainda não tinha ficado melhor.

Nanami desceu as escadas, totalmente preparada para sair.

Ela já estava pronta para sair como sempre.

Ao vê-la saindo, Chihiro obviamente a parou.

— Aoyama, volta pro quarto.

— Por que…?

A voz de Nanami estava fraca e ela nem conseguia falar direito.

Sua voz estava muito pior do que ontem. O nariz dela, que estava entupido, afetou a voz dela.

— Não faça perguntas que você já sabe a resposta.

Mesmo com Chihiro mandando, Nanami não parecia que iria voltar. Nanami estava decidida sobre isso. Ela sabia que se perdesse essa chance, não teria outra. Nanami sabia melhor do que ninguém de que ela estava doente. Ela realmente gostaria de descansar para ficar melhor, se não tivesse nada importante para fazer. Mas, ela tinha que ir hoje, para mostrar que todo o seu esforço não foi em vão.

— Apenas volta logo pro quarto e vai dormir.

— Eu não quero.

— Não perguntei o que você quer.

Chihiro tentou agarrar o braço de Nanami.

Mas antes que ela fizesse isso, Jin segurou Chihiro por baixo dos braços.

— O que é isso, Mitaka?! O que cê pensa que tá fazendo?!

— Sorata, deixo o resto com você.

Em vez de responder, Sorata pegou a bolsa e levou Nanami até a porta da frente.

— Você pode até não gostar disso, mas sou eu quem vou levar você.

Nanami queria reclamar, mas ela se conteve e apenas acenou com a cabeça uma vez.

— Então foi por isso que vocês se reuniram no quarto do Sorata!

Chihiro tentou se soltar, mas Jin ainda estava segurando ela.

— Ei, pera aí! Mitaka~! Você tá pegando nos meus peitos!

— Eles estão no meio, então não dá pra evitar.

— Não tenta me enganar, não!

Ouvindo os gritos de Chihiro atrás dele, Sorata levou Nanami para fora do dormitório.

Quando eles saíram, uma mini-van branca apareceu. Era uma van nova e brilhante

— Kouhai-kun! Sobe aí!

Misaki estava no banco do motorista.

— Huh? Senpai, o que está acontecendo?!

Ele tinha deixado Misaki para cuidar da parte do transporte, mas ele estava esperando que ela chamasse um táxi ou algo assim.

Por que Misaki estava no volante?

Sem entender o que estava acontecendo, Sorata e Nanami sentaram no banco de trás. Mashiro deve ter entrado antes, porque ela já estava no banco do passageiro ao lado do banco do motorista.

Quando a ele fechou a porta, Misaki acelerou fundo.

Chihiro, que havia se soltado de Jin, tentou seguir eles, mas quando a van virou a esquina, Chihiro desistiu de ir atrás.

— Uh… Senpai, você tem carteira?

— Tenho sim.

— Desde quando?

— Hm~, uma época aí.

— Explica direito!

Sorata se sentiu extremamente inseguro dentro da van.

Por enquanto, eles ainda estavam no limite de velocidade indicado. Parecia que eles estavam indo pelo caminho que o GPS mostrava, mas ainda assim, era a alienígena Misaki que estava atrás do volante. Era impossível não se sentir preocupado.

— Hm~, então~, ah sim. Naquela época sombria em junho, quando você brigou com a Mashiron e parecia que você tinha levado um fora, Kouhai-kun.

Ele se sentiu triste que Misaki tenha chamado de “época sombria em junho”, mas Sorata realmente não tinha tempo para se preocupar com isso agora, devido ao que estava acontecendo ao redor dele neste momento.

Ele não conseguia entender como Misaki tinha uma carteira de motorista.

— Então… Essa van é alugada?

— Eu comprei ela.

— Por quanto?

— Acho que paguei uns três milhões de ienes… ou algo assim… Eu não tenho muita certeza. Deixei pro Jin pagar.

— Entendi. Deixa pra lá, então.

De acordo com as leis do Japão, as pessoas podem tirar suas carteiras de motorista a partir dos 18 anos. Misaki comemorou seu aniversário de 18 anos em junho.

Nanami provavelmente ainda estava cansada, porque ela estava com os olhos fechados e não estava se mexendo muito. Ela pode estar fazendo isso para não se cansar tanto, talvez.

— Ou então, ela tá descansando, para tentar melhorar, nem que seja um pouco.

Pensando isso, Sorata decidiu não incomodar ela.

A van continuou a andar pela estrada.

Depois de dirigir por quase uma hora, eles se perderam entre os prédios da cidade, e Misaki começou a olhar ao redor.

— Nós não estamos perdidos, né?

— Não~ é em algum lugar por aqui~!

A prova disso foi o GPS, que disse a eles “Você está próximo do seu destino.”

— Aoyama, acho que chegamos.

Nanami abriu os olhos lentamente.

Ela parecia ter dormido bem, porque estava com o rosto atordoado ao se levantar. No entanto, os olhos dela estavam brilhando de determinação. Eram os olhos de alguém que estava determinado a ganhar. Mesmo ainda estando com sono, Nanami estava cheia de vontade.

— Aqui tá bom?

— … Sim, eu consigo ir sozinha daqui.

Nanami abriu a porta e saiu da van. Suas pernas tremiam enquanto ela andava, mas Sorata não conseguia ajudar ela agora, mesmo que quisesse.

Quem iria se apresentar era Nanami, e não Sorata.

Sorata, Misaki e Mashiro se despediram de dentro da van.

Ele não podia dizer “Se esforce”. Ele não era capaz.

Ele queria que Nanami tivesse descansado por mais tempo. Ele realmente queria que Nanami descansasse mais para melhorar logo.

Nanami atravessou a rua quando o sinal abriu e caminhou cerca de 10 metros antes de entrar em um prédio de 5 andares.

— Ah, então o estúdio estava aí~...

Ele era parecido com qualquer outro prédio ou loja da área comercial.

— Vou deixar a van no estacionamento do outro lado.

Misaki dirigiu a van em direção ao estacionamento.

Ela estacionou a van no local com uma certa facilidade.

Dentro da van estava silencioso.

— Quanto tempo vai levar?

Quem quebrou o silêncio foi Mashiro. Foi a primeira vez que ela falou desde que ele entrou na van.

— Ela disse que uma aula normal dura 3 horas, mas não sei se a de hoje também vai ser assim. Vai levar mais tempo? Vai ser o tempo de uma aula normal...? Eu... não sei.

— Certo.

Seria difícil para eles passarem 3 horas na van assim. O silêncio estava os sufocando. Porém, eles não estavam com vontade de contar piadas ou falar algo para levantar o clima.

— Shiina, quer ir à livraria?

— Não.

— Você não quer ver seu mangá lá?

— Tá tudo bem.

— … Por que está tudo bem?

— Porque será publicado de novo no mês que vem.

Ela deve conseguir isso, pois ela é a Mashiro. Se o mangá dela receber uma boa aprovação do público, ele começará a ser publicado mensalmente. Mashiro já estava confiante de que iria conseguir isso. Mesmo se ela acabar falhando, ela continuará tentando. Essa é a Mashiro, e é assim que ela é.

— Entendo.

— Uhum.

No entanto, Mashiro estava um pouco diferente do normal. Ela estava agachada em seu assento.

— Ei, Sorata.

— Oi?

— A culpa é minha?

— Hein?

— A culpa é minha pela Nanami ter ficado doente?

— Não.

Sorata não sabia tudo sobre, mas disse que não.

Foi Nanami quem escolheu cuidar de Mashiro, ter empregos de meio-período e ir para o curso de dublagem. Nanami não pensaria que era culpa de Mashiro, mas sim dela mesma, por se sobrecarregar e ficar doente em um momento como esse.

— Eu preciso me desculpar.

— Mas aí sim que ela vai ficar com raiva de você.

Mesmo que Nanami sentisse que Mashiro era a culpada disso tudo, ela não falaria. Ninguém queria ficar se machucando por causa de um mal-entendido como esse, porque seria perda de tempo.

Com isso, o silêncio entre eles voltou.

Depois de esperar cerca de 2 horas, as pessoas começaram a sair do prédio do curso. Havia cerca de 30 pessoas e Nanami saiu por último.

Ao vê-la, Sorata rapidamente saiu da van e foi falar com ela.

No entanto, ele parou quando se aproximou um pouco.

Nanami estava conversando com alguém. Não, ela estava ouvindo uma garota que parecia ter a mesma idade que ela.

Sorata não foi capaz de ouvir o que a garota estava dizendo, mas ele sabia que ela estava brigando com Nanami.

Vendo Nanami se desculpando várias vezes para uma outra garota que estava ali, Sorata não conseguiu ficar só vendo, e correu para elas.

— Aoyama, vamos.

A garota que estava falando com Nanami se virou para Sorata com uma expressão de raiva. Nanami fez uma cara triste.

— Quem é Você? É namorado da Nanami?

Sua voz era particularmente doce. Ela tinha cílios longos e um pequeno rosto igual ao de uma boneca. Ela tinha uma atmosfera misteriosa e brilhante ao seu redor.

No entanto, como ela estava sendo tão fria com Sorata, não havia vestígios de fofura que pudessem ser encontrados nela.

— Eu vim buscar a Aoyama, e eu não sou o namorado dela.

— Que sorte a sua.

Ela disse isso para Nanami.

— Sinto muito, mas se você tem algo para dizer a ela, então por que você não diz da próxima vez que vierem? A Aoyama não está se sentindo muito bem hoje.

— Eu sei disso, mas como pode me garantir que vai ter uma próxima vez?

— Desculpe… eu sinto muito, Momoko...

— A culpa foi toda sua, Nanami… Droga!

A garota, que se chamava Momoko, se virou e correu. As maria-chiquinhas do cabelo dela balançavam.

— Me desculpa, Kanda...

— Não se preocupe comigo. Vamos.

Ele levou Nanami para a van.

Sorata entrou depois de colocar Nanami no banco de trás.

— Então, vamos lá~!

Misaki agiu energicamente, mas dentro da van estava muito sombrio.

A saúde de Nanami estava visivelmente pior, provavelmente porque o remédio que ela tomou já havia passado.

Ou talvez fosse porque ela parou de tentar esconder que estava doente.

Sorata podia ouvir a respiração pesada dela. De vez em quando, Nanami tossia e se abaixava.

Seu corpo estava dolorido por causa da febre. Sua garganta estava doendo muito e o nariz dela estava entupido. No entanto, Sorata sabia que a saúde de Nanami piorou não por causa do “remédio que passou”, muito menos por “parar de esconder”, mas sim porque ela falhou na apresentação… Ele não tinha nada para dizer a ela.

Misaki se concentrou apenas em dirigir, e Mashiro estava apenas olhando para frente.

Sorata só podia olhar para fora da janela esperando que eles chegassem ao Sakurasou logo.

Enquanto cada um fazia suas coisas, Nanami quebrou o longo silêncio.

— … Me desculpem.

Ela disse isso com uma voz muito baixa e com o sotaque de sua terra natal.

— É melhor você dormir até chegarmos ao Sakurasou.

Sorata respondeu outra coisa, ele pensou que seria melhor não falar sobre isso agora. Ou era porque ele não sabia o que dizer nesta situação.

— Me desculpem por fazer vocês passarem por isso... é tudo minha culpa.

Nanami continuou a falar. Ela ainda estava usando seu sotaque. E cada vez que ela falava com essa voz rouca, o coração de Sorata batia. Normalmente, Nanami falava com uma voz “limpa” e alegre, mas agora que ela parou de falar assim, parecia como se fosse outra pessoa. Uma pessoa fraca e sem esperanças.

— Não se preocupe com isso, está tudo bem.

— Tudo bem…? Todos estavam preocupados comigo, e ainda assim…

— Eu já disse que está tudo bem.

— Até você me disse, Kanda... que eu não deveria me esforçar tanto, que eu deveria aceitar ajuda das pessoas… e para eu não ser tão teimosa.

Nada que ele falasse iria chegar até Nanami, caso ela continuasse se levando pelas emoções assim. Ela não queria ouvir Sorata.

— Eu fui muito arrogante ao pensar que posso fazer tudo sozinha... Eu estraguei tudo. Todos me ajudaram tanto... mas eu não consegui fazer nada...

—Aoyama…

— Eu não sentia meu corpo, minha voz não saía... minha professora reclamou comigo por eu não conseguir dizer as falas... e ainda mais... eu só atrapalhei as pessoas do curso. Por minha causa, a Momoko também vai... Eu sou uma idiota…

Nanami estava se culpando por tudo. Ela estava enfrentando o sentimento de não conseguir fazer tudo que podia e, também, o vazio no peito que ficou quando ela viu que os esforços dela não foram recompensados.

Ela estava triste pois hoje foi um dia extremamente importante para ela, e mesmo assim, ela falhou. Todos esses sentimentos se acumularam em uma grande bola de angústia e tristeza, sufocando Nanami.

— Eu me preparei tanto para esse dia… e quando chegou, eu estraguei tudo… sério, qual foi o sentido de ter feito tudo isso, então…? Eu não me esforcei tanto para isso… eu não… eu, eu pensei que eu seria capaz de dar o melhor de mim… mas… Droga, eu sou tão idiota… Eu sou uma estúpida.

Foi doloroso ver Nanami se culpando assim. Sorata estava apenas ouvindo ela, mas ele foi capaz de sentir as emoções delas através de suas palavras e a forma como ela estava.

Nanami estava descontando tudo nela mesma. Ela não sabia nenhuma maneira de se perdoar... Isso era muito triste. Sorata não queria ouvir ela falando que os esforços dela não valeram de nada.

— Está tudo bem, Aoyama. Mesmo se você me ignorar, eu vou falar.

— O que você está dizendo?! Me dizendo que está tudo bem...? Por favor, não diga isso. Apenas me chame de idiota, de estúpida e depois ria de mim... se não eu vou... morrer.

— Não fale uma coisa dessas. Você não deve pensar assim. Se você é uma idiota, então todos na Terra também são. Que ridículo!

— … Kanda...

Ele sabia que Nanami era rigorosa com os outros, mas ela era ainda mais rigorosa consigo mesma. Suas notas escolares eram excelentes, os professores confiavam nela, ela arrumava trabalhos de meio-período só para pagar o aluguel do dormitório e a mensalidade do curso de dublagem...

Sorata nunca viu alguém da mesma idade ser tão esforçado assim. Uma aluna modelo. Era isso que Nanami Aoyama era. Mas agora, Sorata achava que isso não era verdade.

Como Nanami tinha seu próprio jeito para fazer as coisas, tudo que ela fazia era acima da média. No entanto, isso acabava pressionando ela de mais, e Sorata percebeu que esse era justamente o motivo para ela sempre fazer isso.

Não tem muitas pessoas por aí que são tão esforçadas quanto Nanami.

Nanami teve que enganar a si mesma para dar o melhor de si, para poder correr atrás do que ela quer sem precisar incomodar ninguém.

Uma vez, Jin disse algo para Sorata. Ele disse que Nanami era diferente de Sorata, e provavelmente, era sobre isso que Jin estava falando.

Nanami sempre esteve lutando contra algo nesse último um ano e meio. Ela veio de Osaka para cá mesmo seus pais sendo contra. Ela estava guardando todos os seus sentimentos para si mesma, escondendo tudo de qualquer outra pessoa...

Ela sabia que não seria capaz de continuar lutando se admitisse que tudo na sua vida era impossível. Se, pelo menos uma única vez, ela fraquejasse, ela sabia que não seria capaz de se recuperar disso. Ela não podia confiar em mais ninguém além de si mesma, caso contrário, as pessoas iriam notar as falhas e defeitos dela…

Mas tudo isso que estava acumulado dentro dela eclodiu e Nanami finalmente aceitou a derrota.

— Você deu o seu melhor, Aoyama, nós sabemos disso melhor do que ninguém.

— P… Por que você está dizendo isso…? Se você falar isso, então eu... vou querer... ouvir... ainda mais...

Nanami começou a chorar e várias lágrimas caíram de seu rosto.

Nanami queria dizer algo, mas sua voz simplesmente não saía.

Nanami fungou algumas vezes.

Sorata olhou apenas para a frente, tudo para não ver o rosto de Nanami enquanto ela chorava. A van continuou a andar. Nem Misaki nem Mashiro disseram nada.

Nanami, que ainda estava tentando parar de chorar, colocou sua mão quente na de Sorata. Ele ficou surpreso por um momento, mas de alguma forma sabia o que tinha que fazer. Sorata virou a mão e segurou a de Nanami, para torcer por ela e dizer que estava tudo bem, que ela já se esforçou o suficiente.

Como uma criança pequena, Nanami chorou e agarrou a mão de Sorata, enquanto enxugava as lágrimas com a outra mão.

Sorata continuou a ouvir Nanami tentando desesperadamente parar de chorar até chegarem ao Sakurasou.
 

Parte 3

 

Quando a van que Misaki dirigia chegou no Sakurasou, Nanami, que estava apoiada nos ombros de Sorata, pegou no sono. Sorata a pegou no colo e a deitou na cama dela, no andar de cima, sem acordá-la.

Nanami ainda estava com roupas de sair, então Sorata implorou para Chihiro, que estava esperando ele com uma expressão raivosa, para que a trocasse.

Depois, Sorata, Jin, Misaki e Mashiro tiveram que se reunir na mesa da cozinha e ouvir um sermão de Chihiro. O sermão em si foi uma bela junção de palavras soltas e sem sentido, o que confirmou o quão preguiçosa era a professora encarregada do Sakurasou. No meio do sermão, ela começou a mudar de assunto, dizendo que ela não estava tendo tantas reuniões ultimamente ou que seus alunos estavam começando a namorar. Isso deixou Sorata com vontade de dizer: “Do que cê tá falando?”, mas mesmo assim, para mostrar que estava arrependido, ele ficou quieto.

Foi algo que eles ficaram sabendo depois, mas, aparentemente, foi Jin quem teve que levar todo o sermão no lugar de Sorata e os outros, tudo enquanto eles ainda estavam fora. Graças a isso, tudo o que eles ouviram foram reclamações sobre a vida de Chihiro.

Jin saiu dizendo que Rumi, uma funcionária de escritório, estava esperando por ele em seu apartamento, assim que o sermão de Chihiro terminou.

Sorata ia checar como estava Nanami toda hora, mas em nenhuma dessas vezes Nanami se quer abriu o olho durante a noite inteira. Mashiro se sentou perto da cama e não saiu do lado de Nanami em nenhum momento, mesmo Sorata dizendo que ela não precisava fazer isso.

Mashiro deve estar se sentindo culpada pela febre de Nanami.

— Shiina, você precisa descansar. Já passou de meia-noite.

— Tudo bem. Vou ficar por aqui.

— Mas se você ficar doente, a Aoyama vai dizer que a culpa é dela, de novo.

— Não se preocupe.

— Certo, então. Vou deixar a Aoyama com você. Me avise quando ela acordar.

— Uhum.

Na manhã seguinte, Sorata acordou sentindo o calor da bunda de Hikari em seu rosto.

— Que jeito horrível de acordar.

Ele se levantou e saiu do quarto para ir ao banheiro. Ele lavou o rosto e penteou o cabelo. Depois, os sete gatos, que pediam comida, e o dono deles, desceram juntos para a cozinha.

Na cozinha, Jin estava de olho em uma pequena panela no fogão. Ele estava vestido com as mesmas roupas da noite anterior. Provavelmente ele tinha acabado de voltar da casa de uma das suas namoradas.

Ao perceber que Sorata estava ali, Jin o cumprimentou.

Sorata olhou para a panela fervendo enquanto alimentava os seus gatos.

— O que é isso?

Jin abriu a tampa da panela. A nuvem de vapor subiu bloqueando a visão. Dava para sentir um cheiro bom de sopa.

O que tinha na panela era apenas uma sopa normal.

— Devemos dar alguma coisa pra ela comer, não é?

Dizendo isso, Jin olhou para o segundo andar e desligou o fogão. Ele colocou a panela, a colher e uma pequena tigela de ameixas em conserva em uma tábua de madeira e deu para Sorata.

— Dê isso pra ela. Eu vou dormir agora.

Jin soltou um bocejo enquanto desapareceu em direção ao seu quarto. Sorata nem sequer teve chance de falar algo.

Sorata não tinha como empurrar seus deveres para outra pessoa, também.

Infelizmente, apenas ele e os seus gatos estavam na cozinha.

Quando ele chegou em frente à porta do quarto de Nanami, ele notou que a porta estava ligeiramente aberta.

Mashiro provavelmente se esqueceu de fechar a porta quando saiu.

De repente, ele ouviu uma voz através do espaço aberto.

— O que eu devo fazer, Torajiro?

Era a voz de Nanami.

Com quem ela estava falando? A linha telefônica de Nanami foi cortada. Portanto, era impossível ela estar falando com alguém pelo celular. Quem diabos era Torajiro?

— E como vou saber? Você precisa limpar sua bagunça sozinha.

A outra pessoa também parecia usar um sotaque da terra natal de Nanami.

Mas, parecia que a outra voz também era a de Nanami.

Parecia ser a voz de um menino, mas ao mesmo tempo, poderia ser apenas a Nanami forçando sua voz.

— Mesmo assim, o que aconteceu ontem foi muito vergonhoso.

— Isso aí não é nada. Não existe nada mais vergonhoso do que atrasar o aluguel do dormitório.

Por curiosidade, Sorata espiou pela fresta da porta.

— Mas eu chorei e mostrei meu lado nada atraente para o Kanda, e eu nem consigo me lembrar do que aconteceu depois disso. Ele viu meu rosto enquanto eu dormia? Ah! Eu acho que vou enlouquecer!

— Então por que você dormiu tão tranquilamente na frente dele? E se ele sentir aquilo por você também?

Nanami estava sentada na cama, ainda de pijama. A pessoa com quem ela estava falando não estava no quarto.

Tudo que ele podia ver era apenas Mashiro dormindo no chão.

— O-O que você está dizendo!?

— Para de ter tanto medo disso e só vai pra cima dele de uma vez.

A pessoa com quem Nanami estava discutindo era apenas uma almofada em forma de tigre.

 

— Então esse é o Torajiro...

Sorata falou isso por reflexo, mas falou alto até demais...

— Huh? Q-Quem tá aí?!

— Ah, uh, Aoyama, você está acordada?

— Sim...

— Sou eu, o Kanda. Você se importa se eu entrar?

— Eu... eu... não me importo.

Sorata entrou, tentando fazer o mínimo de barulho possível e foi para perto da cama.

Nanami olhou para Sorata com o rosto meio enterrado na sua almofada em formato de tigre.

— … Você ouviu, não foi?

— Nunca pensei que uma almofada fosse virar uma ferramenta para pedir respostas ao universo.

Nanami enterrou completamente o rosto na almofada.

Suas orelhas e seu pescoço ficaram completamente vermelhos e brilhantes.

Ela olhou de canto para Sorata e exigiu que ele prometesse algo.

— Não conte à ninguém sobre isso.

Sorata só pôde acenar obedientemente.

Torajiro também estava olhando para ele. Parecia que essa não era a primeira vez que Nanami conversava com uma almofada.

Para mudar de assunto, Sorata estendeu a comida que havia trazido.

— Você consegue comer?

Olhando para Nanami, ela parecia muito melhor do que estava no dia anterior.

— Sim. Na verdade... Eu estou com muita fome.

Ela não comeu nos últimos dois dias. Era óbvio que ela estava com fome.

— Você quem fez?

— Não, foi o Jin-senpai.

— E onde ele está?

— Ele me deu isso depois de ter cozinhado e foi para o quarto dormir.

Sorata entregou a pequena panela que tinha a sopa. Mas, por alguma razão, Nanami deu um sorriso amargo e não pegou a tigela.

— Ah, eu realmente quero comer, mas...

Sorata seguiu o olhar de Nanami e viu que Mashiro estava segurando a mão direita de Nanami com as suas mãos.

— Ela deve ter segurado minha mão a noite inteira.

Nanami provavelmente ficou com vergonha, porque ela começou a falar baixinho enquanto mantinha a cabeça baixa. Ou ela poderia estar feliz.

— Não sei o que a Shiina está pensando, mas ela disse que se sente culpada por você e está preocupada.

— A culpa não é dela.

— Além disso, a Shiina te conhece melhor do que ninguém.

— Como assim?

— Se a Shiina não tivesse dito nada, a gente teria impedido você.

— De ir para o curso?

— Sim.Você estava com uma febre muito alta, por isso nós iríamos te impedir caso você quisesse ir. Mas a Shiina disse que você precisava ir, e ela provavelmente iria te arrastar até lá de todo jeito. Ela pediu para mim, para a Misaki-senpai e para o Jin-senpai. Ela sabia o quanto você tinha se esforçado para isso...

— Entendo.

— Foi por isso que decidi te ajudar a ir.

— Então, acho que eu devo agradecer a ela. Eu fui extremamente mal na apresentação, mas fiquei feliz por ter conseguido ir. Se eu não tivesse ido, eu iria me arrepender por toda minha vida.

— Entendo.

— Sim... A Shiina realmente é incrível. Eu fico cega ao olhar para ela. Ela se esforça bem mais do que eu.

Nanami cerrou os dentes de frustração. Ela estava se sentindo angustiada porque sabia que não era nada comparada ao enorme talento de Mashiro.

— Ela está sempre desenhando seu mangá até tarde da noite... Ela nunca me escutava quando eu falava para ela ir dormir...

— Eu já te disse. Quando ela está concentrada, ela praticamente se isola do mundo.

— Eu via ela refazendo as páginas várias vezes. Uma pessoa normal como eu pensaria que as coisas não estavam muito boas para ela, mas a Shiina nunca iria desistir só com isso.

— Eu sei.

— Às vezes, ela ainda estava no computador desenhando quando eu ia acordá-la de manhã. Com uma expressão determinada, uma expressão que mostrava que ela ia terminar o mais rápido possível. Eu sempre pensei que pessoas talentosas não precisavam se esforçar para nada, porque já nasceram com esse talento. Mas, isso foi antes de eu conhecer a Shiina.

— Eu me sinto da mesma forma.

— Então, o que a gente precisa fazer para alcançar essas pessoas talentosas?

Sorata só poderia ficar em silêncio. Ele achou que o silêncio já era o suficiente. Nanami não esperava uma resposta dele, de qualquer maneira. Ela queria descobrir sozinha a resposta para essa pergunta.

— Isso me irrita... Eu sei que alcançar a Shiina não vai ser tão simples.

Nanami deu um tapinha na cabeça de Mashiro com a mão que estava livre. Então, Mashiro soltou um som de gatinho e soltou a mão dela. Nanami olhou para sua mão direita que finalmente foi soltar depois de várias horas. No rosto dela, tinha uma expressão tranquila.

— Ver você se preocupando comigo faz parecer que eu sou a culpada.

Com as palavras de Nanami, Sorata se sentiu aliviado. Ele sentiu como se Nanami finalmente fosse parte do Sakurasou. Na verdade, parecia que ela finalmente fazia parte do grupo.

Nanami segurou a tigela com as mãos. Depois de dizer “Obrigada pela comida”, ela levou um pouco de sopa à sua boca. Com a boca aberta, Nanami olhou para Sorata e disse:

— Não olha pra mim enquanto tô comendo!

— D-Desculpe.

Sorata rapidamente desviou o olhar para outro lugar do quarto.

— Não fica olhando pro meu quarto também!

Sorata só pôde olhar para baixo e observar Mashiro dormindo no chão.

— Não olhe para a Shiina enquanto ela dorme!

Ele não sabia o que fazer. Nanami ainda era a mesma de sempre, mesmo estando fraca. Isso foi legal, foi ótimo vê-la assim novamente.

— Você está me dizendo para sair?

— Eu não disse isso, mas gostaria que você ficasse um pouco mais distante de mim.

— Isso dói, viu...?

Ele se afastou da cama e se sentou em uma cadeira perto da mesa.

— Eu... não tomei banho ainda...

— Hum? Você disse alguma coisa?

— A sopa está muito boa.

— Fico feliz que gostou. O Jin-senpai é muito bom cozinhando. Se seu apetite está voltando, então você deve estar se sentindo melhor. Coma muito.

Nanami estreitou os olhos e olhou para Sorata.

— Se eu comer muito, vou engordar.

Mesmo após dizer isso, Nanami continuou tomando a sopa. Ela devia estar com muita fome.

A tigela de sopa ficou vazia rapidamente. Enquanto Nanami tomava seu remédio depois de comer, Sorata colocou a tigela sobre a mesa de madeira.

Quando o fez, Nanami falou com ele por trás.

— ...Desculpa.

— Por que isso tão de repente?

— Eu fui um incômodo ontem… Eu fiz a Kamiigusa-senpai dirigir para mim, e o Mitaka-senpai teve que segurar a professora…. Todo mundo me ajudou muito, mas, mesmo assim, eu não consegui…

— Não sei se a Misaki-senpai ou o Jin-senpai também pensam isso, mas eu não faço nada para receber agradecimentos de você. Ontem também não foi uma exceção.

— Isso significa que você não vai me perdoar?

Nanami perguntou, parecendo muito preocupada.

— Não, não estou falando de perdão. Como eu posso explicar...? Nunca pensei nisso dessa forma, eu acho…

— Não estou te entendendo.

— Já sei. Tipo, é legal fazer as coisas sozinho, e isso é uma forma de amadurecimento. Mas, eu acho que as pessoas são boas e ruins em certas coisas. E, mesmo que queira continuar assim, têm que aceitar que é assim que o Sakurasou funciona. Então, acho que você deve encontrar seu próprio lugar no dormitório, para que possa contribuir com o que você faz de melhor.

Nanami apenas olhou fixamente para Sorata, sem dizer nada.

— Você sempre pode confiar em nós, porque estamos aqui para você. Se você não fizer isso, vamos ficar tristes.

— … Entendi.

— Tudo bem, então.

— Kanda.

— Oi?

— Você não tem vergonha de falar essas coisas? Eu quero me esconder em um buraco só de ouvir isso.

— Guarde seus comentários para si mesma!

O rosto de Sorata ficou corado. Ele olhou para fora da janela sem motivo, para tentar recuperar novamente a compostura. Ao perceber o que Sorata estava fazendo, Nanami tocou suas costas de repente.

— Obrigada.

Surpreso, ele olhou para trás para ver Nanami, que estava com a cabeça inclinada nas costas dele. Ele ficou sem palavras com aquela rara cena.

— Eu te disse obrigada. Não me faça dizer isso duas vezes.

— T-Tá.

Sorata olhou para Nanami.

— O que foi?

— Aoyama, você era assim antes?

— É que você fica falando essas coisas... Eu não gosto desse seu lado.

Ligeiramente fazendo beicinho, Nanami pretendia parecer chateada.

Sorata ficou atordoado com sua fofura inesperada.

— N-Não... Certo... Tá, tudo bem!

Graças a ele fazendo um barulho alto tentando se acalmar, Sorata acordou Mashiro.

Abrindo os olhos só um pouco, Mashiro olhou ao seu redor.

— Oi, Nanami.

— Dormiu bem, Shiina?

— Você está melhor?

— Sim... Ainda estou com um pouco de febre, mas estou bem melhor agora.

— Entendo. Que bom, então.

— É tudo graças a você, Shiina.

Com esforço, Nanami virou seu olhar na direção de Sorata. Seus olhos diziam que ela queria falar alguma coisa.

— Eu tenho algo para conversar com você, Kanda.

— Hum?

Nanami olhou para Mashiro por reflexo. Só com isso, Sorata sabia o que ela diria a seguir.

— É sobre a tarefa “Encarregada pela Mashiro”... Desculpa, mas acho que será impossível eu continuar fazendo isso por mais tempo. O segundo semestre começa em setembro e, com a escola, os empregos de meio-período e o curso de dublagem também vão voltar… Acho que não consigo lidar com tudo isso.

— Ok, eu ficarei responsável por isso. Vamos trocar na reunião do Sakurasou de hoje.

— Certo.

Não tinha nada que ele pudesse fazer nessa situação. Mas no momento em que Sorata aceitou o dever, ele se lembrou de algo que queria esquecer. Aquela carta. Ele ainda não foi capaz de chegar a uma conclusão sobre isso.

Ele ficava constantemente incomodado com isso, sempre que via Mashiro.

— B-Bem, eu não me importo de fazer isso, mas tem uma coisa que…

— Não se preocupa. Eu já cuidei disso.

— Huh?

Nanami deu uma piscadela em resposta, mas Sorata não conseguiu descobrir o significado por trás disso. Na frente do perplexo Sorata, Nanami olhou para Mashiro e disse:

— Ei, Shiina.

— O quê?

— É sobre aquela pessoa que te mandou aquela carta da Inglaterra. Qual o nome dele?

— Adel.

— Sim. Então, que tipo de relação você tem com ele?

— Espera!

Sorata tentou impedi-la, mas já era tarde demais.

— Ele é meu professor de arte.

Nanami continuou perguntando:

— E qual a idade dele?

— Setenta.

— O quê?

Um ruído de choque saiu da boca de Sorata.

Nanami riu de brincadeira. Provavelmente ela já sabia disso.

— Pronto, ela disse. Problema resolvido?

— Por que você tá me perguntando isso?

— Bem, eu também queria saber. Com isso, minha dívida está paga.

— Você não estava em dívida comigo… Não era isso que... Como você sabia?

Ele perguntou para Nanami e olhou para Mashiro, que estava olhando para ele com uma expressão estranha.

— Toda sessão de estudo matinal eu notava que você estava agindo de forma engraçada sempre que olhava para a Mashiro, então… Eu ficava me pergutando o que deveria ser. Julgando pelo momento, eu percebi que foi isso.

— Você é uma detetive!

— Vendo sua reação, eu devo estar certa.

— Não, não! Não era isso, não!

Sorata percebeu que ele apenas admitiu isso por sua reação exagerada rapidamente tentando se justificar.

— Bem, não é como se eu me importasse com isso, de qualquer maneira.

Ele sentiu que Nanami estava lendo ele como um livro.

Ele ficou bravo com isso, mas como isso significava que Nanami estava se sentindo melhor, ele decidiu não se importar tanto.

— Não é nada, Shiina.

— Mas eu nem falei nada.

— Ah, sim. Você tem razão. Deixa pra lá, então. Sim, está tudo bem.

Mashiro inclinou a cabeça.

— Parece que o Kanda estava preocupado com aquela carta.

— Uau! O que você tá dizendo, Aoyama?!

— Você quer uma carta minha, Kanda?

— Não!

— Vamos, é só pedir~

Nanami disse isso com uma cara de quem estava se divertindo.

— Ok, vou escrever pra você algum dia na internet.

— Certo, certo.

Por alguma razão, ele se sentia muito cansado. Mashiro parecia não entender o que estava acontecendo, mas, pensando no que iria acontecer daqui pra frente, ele não se sentia particularmente feliz com isso.

Sem perceber as preocupações de Sorata, Mashiro bocejou como um gato sonolento.

— Shiina, estou bem agora. Então, volte para o seu quarto e descanse.

Mashiro olhou para Nanami.

— O-O que foi?

— Mashiro.

— Hum?

— Quero que você me chame pelo meu nome.

— Isso é bem repentino…

Era óbvio que Nanami estava surpresa. Já que Mashiro dizia coisas aleatoriamente, coisas essas que eram impossíveis de advinhar de onde ela pensou isso.

— Mas ok, entendi, Mashiro. Afinal, você começou a me chamar pelo primeiro nome já tem um tempo.

Isso deve ter deixado Mashiro feliz, porque Mashiro tentou pular e dormir na cama de Nanami.

A reação de Nanami foi bastante óbvia.

— Vá dormir no seu próprio quarto!

Naquele dia, a troca do “Encarregada pela Mashiro” foi confirmada na reunião do Sakurasou. A nova pessoa responsável era, de novo, Kanda Sorata. Os outros membros estavam preocupados com a saúde de Nanami, então eles também foram a favor da troca.

— Nanami Aoyama devolveu a tarefa “Encarregado pela Mashiro” para Sorata Kanda. Para outras funções, consulte a agenda de escalação. Por que meu ombro parece mais pesado do que o normal? — Salvo por: Sorata Kanda.

— Se você tentar ignorar a realidade, não conseguirá acordar do sonho! — Salvo por Maid-chan, que tem que registrar a reunião.

— Boa sorte com o dever, Kanda. Desculpe por isso e aquilo. Tem uma coisa que esqueci de te contar, então vou escrever aqui. Se você fizer alguma coisa estranha com a Mashiro, eu te mato! — Salvo por: Nanami Aoyama.
 

Parte 4


Nanami melhorou dia após dia e, depois de dois dias, no dia 24, ela voltou a trabalhar na sorveteria. Mesmo que Sorata estivesse preocupado que ela fosse se sobrecarregar, Jin disse que ela não era do tipo que erra duas vezes, então, Sorata confiou em Nanami quando ela disse “Vou ficar bem”.

Ele ficou dois dias sem fazer nada, então já era dia 26.

Restava apenas uma semana de férias de verão. Se alguém o perguntasse se ele tinha alguma boa memória das férias, ele não saberia o que dizer.

Aplicar para o evento de design de jogos é uma grande lembrança, mas isso não foi muito impactante para as outras pessoas.

Mas se ele contasse do dia que ele foi arrastado pela Misaki que aleatoriamente gritou que queria comer takoyaki e levou ele para Osaka numa viagem de trem de 8 horas, ou quando ela disse que queria comer lámen e eles tiveram que pegar um vôo de Haneda até o aeroporto de New Chitose apenas para atender uma ligação da Chihiro dizendo:

— Kanda, onde cê tá? Hã? Em Sapporo? Então nós jantaremos caranguejo. Compre alguns enquanto cê tá por aí.

E que depois ele teve que voltar no mesmo dia comendo um pote de lámen e comprando 3 caranguejos, as pessoas ficariam chocadas. Então, dizer tudo isso estava fora de questão.

Sorata só foi capaz de ficar em Sapporo por volta de uma hora. Foi a primeira vez dele visitando Hokkaido, mas a viagem acabou muito amargamente.

Ontem, Misaki disse que queria comer macarrão, mas ele ficou com medo de ser arrastado até Nagasaki, então ele negou educadamente. Ao invés dele, Nanami, que estava exausta depois de voltar do trabalho, virou alvo de Misaki.

Nanami ficou brava com Sorata.

Ele queria mais memórias normais. Como ir à praia, às montanhas ou passar um tempo juntinho de sua namorada… Esses são eventos que normalmente acontecem durante as férias de verão.

Bom, no caso do Sakurasou, eles eram um grupo misto de pessoas dos dois sexos vivendo debaixo do mesmo teto e com bastante oportunidade para certos acontecimentos, mas isso não era o bastante.

Antes do jantar, Sorata estava relaxando na mesa, e do seu lado, Mashiro estava fazendo rascunhos de mangá num caderninho. Agora que ele pensou sobre isso, ontem a editora dela veio no Sakurasou.

De acordo com a editora, ela veio para falar com algumas coisas com Mashiro sobre o mangá. Por Mashiro sempre mencionar muito o nome dela, Sorata já estava familiarizado com o nome da editora, Ayano. Mas foi sua primeira vez a encontrando. Seu nome completo era Ayano Iida.

Ela era uma mulher magra com um sorriso gentil. Ela tinha 26 anos. Após isso, Jin corajosamente perguntou a ela: Ela tinha 1,56 de altura, seu BWH era 88, 59, 85.

Sorata estava maravilhado com a maneira que Jin foi capaz de naturalmente pegar o número de celular dela.

— Como seu cérebro funciona, Jin-senpai?

— Eu imagino elas completamente peladas e rolando por aí... eu acho?

Ele era o mesmo mulherengo de sempre. Sorata estava preocupado que Jin possivelmente fosse esfaqueado por algo assim um dia.

As ideias de Mashiro aparentemente não estavam indo bem, então a reunião acabou rápido. O problema era que, não havia drama e emoções suficientes nas ideias dela.

Deve ter sido por conta da sua própria personalidade, pois os personagens de Mashiro eram tediosos e sem vida.

Mas, aparentemente, Ayano deu alguns conselhos e foi capaz de guiá-la. Mashiro parecia muito alegre rabiscando em seu caderno ao lado de Sorata. Ela rabiscava as linhas e virava as páginas.

Na cozinha, Jin preparava o jantar. Ele estava falando com Misaki, que trombou na mesa. Era o Sakurasou de sempre, e Sorata até que gostava dessa hora da preguiça.

Chihiro estava na escola hoje e não voltaria até tarde da noite, pois ela iria encontrar uma amiga depois da aula.

Nanami chegou do trabalho no restaurante e foi descansar em seu quarto.

— Jin-senpai, o que vai ter de jantar?

— Eu só estou usando umas sobras, então não será nada especial.

Durante essa conversa sem sentido, Nanami entrou na cozinha. Ao vê-la, Sorata se engasgou com a saliva.

— Ghht!

Nanami, que estava sempre bem vestida, mesmo no Sakurasou, estava com seu pijama e usando seus óculos.

Antes de ver o rosto surpreso de todos, Nanami levemente se curvou à eles.

— Sei que estou um pouco atrasada, mas, me desculpem por ter sido um incômodo nos últimos dias.

Nanami, que estava com sua cabeça baixa, parecia envergonhada e começou a olhar em volta.

— Kanda, não olhe tanto pra mim.

— Por que você só fala pra mim??

— Então você usava lentes de contato, Aoyama.

Jin saiu da cozinha e tentou colocar seus braços em volta dela naturalmente. Ao notar o que ele estava tentando fazer, Nanami o evitou.

— Nanami é tão legal~ Eu gosto dela mesmo ela usando óculos!

Dessa vez, Misaki correu até seus braços. Nanami não teve tempo para desviar, e foi pega num abraço.

— Senpai! P-Pare, por favor! Tá me sufocando!

— Nós duas somos garotas!

Misaki enterrou sua cara no peito de Nanami.

— N-Não! Tem caras aqui!

— Então devemos continuar no quarto? Ou no banheiro?

— Por favor, pare!

De alguma forma, Nanami escapou de Misaki, mas ela estava sem fôlego. Mesmo assim, Misaki ainda estava enérgica. Como esperado da alienígena, ela realmente funcionava com o poder dos cosmos.

— E aí, deveríamos fazer uma festa de boas-vindas?

Jin olhou para todos com uma expressão que dizia que ele acabou de pensar em algo.

Agora, pensando sobre isso, eles ainda não fizeram uma festa de boas-vindas para Nanami.

— Ah, entendi! Ótimo, como esperado do Jin! Boa ideia!

Uma festa de boas-vindas seria ótimo! Eu estava guardando uma coisa durante todo esse tempo! Estive esperando a festa de boas-vindas da Nanamin durante todo esse tempo!

Então, o dia finalmente chegou! O dia prometido!

Como sempre, Misaki correu para o andar de cima. Dava para ouvir barulhos de passos vindo do telhado conforme ela corria.

Na mesma hora, Misaki retornou.

Misaki voltou com um saco de papai noel e jogou as coisas que estavam nele em cima da mesa.

Dentro do saco, havia cerca de 30 roupas de banho estranhas.

— Nós vamos ter uma festa de boas-vindas na piscina!

— Senpai, o que está dizendo?

— Pensa nisso! São nossas férias de verão, porém nós não fomos à piscina ou à praia. Não dá nem pra dizer que foram férias de verão! Não é? É! É!

— Ah, eu.. entendo.

Nanami congelou na hora. Jin parecia não se importar com isso enquanto pegava algumas roupas de banho e começava a murmurar sobre como elas ficariam boas em certas garotas.

Como sempre, Mashiro não mostrou nenhuma emoção.

— Tudo bem irmos à piscina, mas já são 6 da tarde. A maioria das piscinas devem estar fechadas nesse horário.

Nanami comentou após se acalmar.

— Tem a da escola, pô.

— Hã? Você quer invadir a escola?

— Rápido, rápido. Kouhai-kun, Nanamin, vão se trocar logo!

— Eu jamais vou invadir a escola! Não posso permitir que você faça isso!

Nanami rejeitou a ideia firmemente.

— É isso aí!

Sorata concordou com ela.

— Os vastos mares estão me chamando! Você quer ver também, não quer, Kouhai-kun?! Eu de biquíni, a Nanamin de biquini, ou a Mashiron de biquini!

Bom, ele de fato gostaria de ver.

— Não pense coisas sujas, Kanda!

Nanami reclamou com Sorata

— Você está reclamando com a pessoa errada! Você tá se deixando levar pela Misaki-senpai!

Nanami rapidamente mudou seu pensamento

— É, é verdade! Nós não podemos usar a piscina da escola!

Mas dessa vez, Jin disse algo.

— Tá tranquilo. Nós só temos que pegar permissão da escola, tenho certeza que eles nos deixarão usar se falarmos que é pra Chihiro.

— Hã? Sério?

— Se explicarmos o motivo, eles vão deixar.

— M-Mas espera! Eu não tenho uma roupa de banho!

— Escolha a que você quiser. Que tal essa aqui?

Misaki tentou colocar um biquíni apertado em Nanami.

— É impossível! Usar uma coisa assim é muito indecente!

— Talvez fique ainda melhor nesse aqui, Nanamin!

Misaki escolheu um biquíni menor ainda.

— Ha? Esse também não!

Nanami escolheu o que ela mais gostou, e finalmente aceitou ir à piscina.

— Eh~ Se você não tivesse peitos grandes, você não conseguiria usar algo tão sexy quanto esse aqui, Nanamin! Você deveria se mostrar na frente do Kouhai-kun enquanto pode! Eu não vou te consolar caso você se arrependa disso depois.

— Kanda, Mitaka-senpai, por favor, saiam! Vou escolher direito quando vocês saírem.

Ela foi completamente levada pelas ideias de Misaki.

— Você deveria escolher também, Mashiron. Rápido, rápido, só escolhe um!

Com uma expressão de tédio, Mashiro segurou um biquíni, e disse:

— Sorata, escolha um para mim.

Que ultrajante.

— Tá tentando me matar, é?!

Escolher o biquíni de uma garota... Como ele poderia fazer algo assim?

— Então, todos se encontrem na porta da frente em 30 minutos!

Jin acenou enquanto saía da cozinha. Misaki olhou para para ele com um rosto esperançoso, enquanto ele já estava de costas.

Ela provavelmente queria que Jin escolhesse um biquíni para ela.

Querendo discutir algo com Jin, Sorata o seguiu.

Ele o parou na frente da porta do quarto.

— Senpai!

— Sim?

— Você tava mentindo quando disse que conseguiríamos permissão da escola, não era? Se fôssemos estudantes normais, eles seriam capazes de deixar com supervisão de um professor, mas nós somos do Sakurasou.

— Olha, cê adivinhou.

— Bom, eu sou um membro do Sakurasou, apesar de tudo. Mas a Aoyama vai se zangar. Ela não gosta de quebrar as regras.

— É inevitável. Ela não viria com a gente se eu não tivesse dito aquilo antes. É mais fácil inventar pequenas mentiras.

— Bom, talvez seja verdade... Mas a responsabilidade disso tudo vai ficar pra você, Senpai.

— O que cê tá dizendo? Agora nós já somos cúmplices nisso, tá?

Sorata percebeu que era tarde demais.

— Tô contando com você, então, cúmplice.

Se arrependendo de tudo que disse, Sorata tentou lembrar onde foi que ele colocou sua roupa de banho do ano passado.

Sorata, Jin, Mashiro, Misaki e Nanami. Os cinco se encontraram usando seus uniformes escolares em frente à porta após uma hora. Foram 30 minutos à mais que o proposto por Jin. O motivo pelo qual eles estavam tão atrasados é porque as garotas disseram que tinham muitas coisas para arrumar.

Havia passado das sete quando eles chegaram na escola, então estava completamente escuro. Porém, mesmo com o pôr do sol, o calor da tarde permaneceu. Misaki estava impaciente, esperando para pular na piscina assim que possível.

Eles pularam o portão de trás para entrar na escola.

— Você realmente conseguiu permissão da escola?

Nanami olhou para Jin com um olhar suspeito.

— O Sorata ligou para a escola e conseguiu permissão com eles.

— Sim, sim.

Jin gentilmente tratou Sorata como seu cúmplice.

— Bom, creio que esteja tudo bem, então.

A piscina ficava ao lado do ginásio. Para chegar lá, eles tiveram que andar por trás do prédio da escola. A entrada estava trancada, obviamente, então Sorata teve de pular a cerca e destrancar pelo lado de dentro.

Assim que fez isso, Misaki correu em direção à piscina, arrancou seu uniforme fora, revelando seu biquíni rosa, e pulou. Sorata e outros também estavam usando suas roupas de banho por baixo do uniforme.

— Kamiigusa-senpai! Você precisa se aquecer antes de entrar na piscina!

Nanami gritou do trampolim de mergulho.

Misaki se esgueirou para trás de Nanami.

— Aoyama, é melhor você prestar atenção...

Antes que Sorata fosse capaz de avisá-la, Misaki esguichou água na cara de Nanami. Ela, que acabou de receber um jato d’água na cara, pegou uma prancha e jogou em Misaki como um bumerangue.

Misaki bloqueou o ataque com a mão.

— Fraca demais, Nanamin! Você precisa de pelo menos mais 10 anos de treino para me alcançar~!

— É o que vamos ver.

Nanami ia tirar seu uniforme. Mas nesse momento, seus olhos se encontraram com os de Sorata, e ela correu para o vestiário.

— Minha presença é tão desagradável assim? É isso?

Mashiro, por outro lado, começou a desabotoar sua camisa sem preocupação, mas quando olhou para Sorata, ela parou e seguiu Nanami no vestiário.

Jin ainda estava usando seu uniforme. Ao lado da piscina, ele estava montando um hotpot com um fogão portátil que trouxe do Sakurasou.

Sorata não sabia o motivo, mas nas festas de boas-vindas do Sakurasou, o hotpot era uma tradição. Deveria haver um significado nisso.

Quando Sorata notou que Misaki estava mirando nele da piscina, ele rapidamente tirou sua calça e camisa. Ele não queria se molhar enquanto estivesse de uniforme.

Sem dó nem piedade, Misaki esguichou água nele. Sorata pegou a mangueira que estava próxima e revidou.

— Toma essa, Alien! Não posso deixar você dominar a Terra!

— É inevitável! Ataque de prancha!

Quando a prancha atingiu sua testa, Sorata caiu pra trás.

Enquanto isso ocorria, Nanami saiu do vestiário.

Ela estava usando um biquíni azul e branco. Na parte de baixo, ela estava usando um shorts por cima.

Nanami estava cobrindo a área de seu umbigo enquanto estava na frente de Sorata

— C-Como estou?

— ...

— Não! Não diga nada!

Ela empurrou Sorata com sua mão.

— Eu gostei, combinou com você.

— S-Sério?

— Aham.

— M-Mas não é tão ousado quanto o da Kamiigusa-senpai… e-eu dei o meu melhor. É a primeira vez que eu uso um desses, então eu estava com receio de ficar estranha…

— Não, realmente combina com você… Aliás, você está usando seu sotaque de novo.

Sorata estava com vergonha, mas como Nanami também estava, ele foi capaz de manter seu rosto despreocupado.

— Entendo.. isso é ótimo. — Nanami parecia satisfeita ao suspirar de alívio — Mas é um pouco inesperado.

— Hã?

— Então você é do tipo que fala essas coisas, Kanda?

— Hã? Não, mas… Foi estranho? Foi esquisito?

Sempre que ele falava, ele dava um passo para tentar falar com ela, mas Nanami dava outro para trás.

— Por que você tá fugindo?

— Não olhe para mim tão de perto...

A distância era de aproximadamente 5 metros.

— É muito vergonhoso ficar conversando dessa distância.

— E-Então, me prometa uma coisa!

— O que é?

Nanami olhou para Misaki, que estava boiando na piscina.

— Não me compare com ninguém. Nem pense em fazer isso.

— Certo.

— E não fique me encarando tanto.

Ele gostava do fato de estar perto de Nanami, mas não sabia ao certo o que dizer, e isso deixava um silêncio desconfortável no local.

— F-Fale algo..

— Mesmo que você me diga isso...

Nanami parecia desconfortável usando o biquíni. Ela estava olhando para todo canto.

— Olha... realmente fica bom em mim?

— S-Sim.

Assim que disse isso, ele sentiu algo puxando sua mão esquerda.

Ao olhar para trás, ele viu Mashiro, que tinha de saído do vestiário.

Ela olhou para Sorata silenciosamente.

Mashiro também estava usando um biquíni. Era um xadrez laranja e branco. A diferença entre Misaki e Nanami era que ela estava usando uma minissaia com a mesma estampa.

Mas além da estampa do biquíni, o mais marcante era a pele pálida de Mashiro.

Mesmo no escuro, sua pele clara se destacava.

Os olhos de Mashiro, por algum motivo, sutilmente olharam para os de Sorata.

— Shiina, você está pronta para entrar?

— Sim.

Mashiro deu uma voltinha na frente de Sorata.

— Tem algo de estranho em mim?

— N-Não, não tem.

Sorata ficou surpreso com a pergunta repentina de Mashiro. Ela parecia diferente do normal. Mas também não era por causa do biquíni. Provavelmente era por ela não estar desenhando, pois no momento, Mashiro parecia uma garota colegial comum, que veio se divertir na piscina. Ela também parecia contente.

Esse olhar simples atingiu o coração de Sorata. Ele não seria mais capaz de permanecer são. Ele rapidamente desviou o olhar, mas Mashiro acompanhou seu campo de visão.

— O-O que foi?

— ...

Ela continuou olhando para ele sem dizer uma palavra.

— Se você tem algo a dizer, então diga.

— ...

Mashiro andou na direção dele enquanto olhava em seus olhos.

— Sua tonta, não chegue tão perto!

Sorata se colocou numa posição de fuga.

Quando Mashiro o agarrou, seus peitos tocaram a pele de Sorata. Sentindo o toque suave, Sorata quase gritou. De alguma forma, ele foi capaz de se conter e se afastar um pouco. Mas ele ainda não estava fora de perigo.

— O-O que tá fazendo? Você tá me provocando!?

Dessa vez, ela segurou a mão de Sorata com suas duas mãos.

— Você elogiou a Nanami.

— O quê?

— ... O Sorata é um idiota.

Ao dizer isso, ela baixou sua cabeça. Foi a primeira vez que Sorata viu Mashiro desse jeito.

— Me chamando de idiota depois de fazer essas coisas, isso não faz nenhum sentindo. Sério, como você consegue não ter nem um pouco de senso comum? Como é que seu cérebro funciona? O biquíni ficou bom em você.

Mashiro levanta a cabeça com uma expressão que dizia que ela queria ouvir isso de novo.

— Ficou bom em você. Está feliz agora?

Ele queria se esconder num buraco de tão envergonhado que estava. Ele olhou para Nanami em busca de ajuda, mas ela apenas olhou de volta para Sorata com um olhar frio.

Parecia que ela não seria sua salvadora.

Porém, enquanto eles estavam ao lado da piscina, acabaram se esquecendo de uma pessoa que eles deveriam prestar mais atenção. Nanami e Sorata, ambos, abaixaram demais a guarda deles, enquanto Mashiro nunca nem esteve de guarda, para começar.

Após ouvirem gritos vindo de trás deles, eles estavam genuinamente surpresos ao serem jogados na piscina.

— Se vocês estão numa piscina, todos vocês deveriam estar nadando! Isso é o senso comum quando se está numa piscina!

— Senpai, você não tem direito de falar sobre senso comum!

Sorata, que nadou para cima primeiro, reclamou com ela.

Todos os três foram jogados na água.

— Ei! Shiina!

Nanami nadou para cima, mas Mashiro não.

Era bem óbvio. Em hipótese alguma Mashiro sabia nadar.

Sorata rapidamente a salvou na piscina.

Ele a levou para cima com suas mãos.

Nesse momento, a visão de Sorata estava focada nos peitos de Mashiro. Dois belos bolinhos estavam meio visíveis na água.

— Shiina, seu bíquini saiu!

Mashiro lentamente olhou para baixo.

— ...

O silêncio durou cerca de 2 segundos. Levantando sua cabeça, ela rapidamente cobre os olhos de Sorata.

— Não olhe.

Sorata estava obviamente surpreso ao ter sua visão bloqueada.

— S-Sua idiota! Se você vai cobrir algo, cubra seus peitos!

— Fala sério~ o que você tá fazendo, Kanda?

A voz de Nanami veio de trás dele.

— Não! Eu não fiz nada de errado!

— Entendi, mas não fique esperneando! Fique do jeito que está também, Mashiro. Vou arrumar você.

— Ok.

— Kanda, se você tentar espiar pelos espaços dos dedos dela, eu vou furar seus olhos.

— Não vou! Eu fechei meus olhos!

Ao dar o sinal, Mashiro tirou suas mãos do rosto dele.

Sorata cuidadosamente abriu seus olhos. Ao fazer isso, ele viu Mashiro com seus braços cruzados cobrindo seus peitos e fazendo biquinho.

— Foi um acidente.

— Por isso os garotos são os piores.

Nanami o insultou

— Se esse fosse o motivo, eu teria olhado para a Misaki-senpai!

Quando ele disse isso sem pensar, a pessoa que ele acabou de mencionar, Misaki, pulou nele por trás. Ela estava tentando arrancar seus shorts. Sorata desesperadamente lutou para tirá-la, e conseguiu escapar de suas mãos.

— O que você tá tentando fazer comigo, Senpai!?

— Quando você está na piscina, você precisa ficar pelado! Sem nudez, sem vida!

— Se você vai fazer isso, por favor, faça com a Shiina!

Ao olhar para Mashiro, ela parecia desconfortável. Ele deve ter dito algo que não devia.

— Sorata gosta da Misaki.

— Não diga coisas que possam causar mal-entendidos.

— Você também olharia para mim?

— Sim, é claro que eu olharia.

Apenas para provar isso, Sorata encarou Mashiro.

Quando ele fez isso, Mashiro esguichou água em seu rosto.

— Não olhe muito.

— Então o que é que cê quer que eu faça?!

Nessa hora, quando Jin estendeu sua mão salvadora para dizer que o hotpot estava pronto, todos saíram da piscina.

Mesmo ao sair, ele podia notar a expressão infeliz de Mashiro atrás dele.

O hotpot estava quente como esperado. Eles estavam pingando de suor, mas poderiam apenas voltar para a pisicina. Mesmo Nanami, que era contra a ideia, estava animada e participando, comendo vegetais, controlando o fogo e mandando Mashiro não ser tão fresca com comida.

Então, os 5 rapidamente tomaram todo o hotpot. Tudo que sobrou foi o caldo. Enquanto eles esperavam o arroz cozinhar, alguém os iluminou com uma lanterna.

— O que vocês estão fazendo aqui?!

— Corram.

O primeiro a responder foi Jin. Todos olharam para o guarda noturno com a lanterna. Misaki rapidamente levantou e juntou suas coisas. Sorata olhou em volta para ver onde eles poderiam fugir. O guarda estava do outro lado da entrada. Eles seriam capazes de escapar se agissem rápido.

Somente Nanami parecia confusa em meio à situação

— Mas, Senpai, você não havia dito que conseguiu permissão?

— Haha, você realmente acha que a escola iria permitir algo assim? Mas se a gente não tivesse feito isso, você não teria usado seu biquíni, nem teria sua festa, então, tivemos que mentir um pouquinho.

Jin, que tinha acabado de fazer sua confissão, desligou o fogão, pulou e começou a mandar eles correrem.

Misaki, que estava na frente, correu em direção à entrada.

Logo atrás, Jin jogou sua toalha nela.

— Corram!

Sorata pegou seus pertences e começou a correr após agarrar o braço de Nanami e Mashiro.

— E o arroz??

— Se a gente fugir com ele, vamos nos queimar!

— Eu queria comer.

— Ah~ Por que isso está acontecendo?! Eu achava que o Mitaka-senpai era uma pessoa normal.

Gritou Nanami, que estava agora na frente de Sorata.

Após saírem da piscina, eles foram em direção à parte de trás do prédio da escola. O guarda também era rápido, ele já estava logo atrás deles. O problema era Mashiro. Ela corria muito devagar. É óbvio, ela só estava sendo arrastada por Sorata.

— Corra você mesma!

— Por quê?

— E você ainda pergunta?!!

Se continuassem assim, eles seriam pegos. Sorata mandou uma mensagem com os olhos para Jin, que estava olhando para trás checando o grupo.

— Escondam-se entre as cabanas.

Ao comando de Jin, todos se esconderam entre uma parede e uma cabana. Era Misaki, Jin, Nanami, Sorata e Mashiro, respectivamente.

— Ah, Misaki, tente ir mais pra frente! Não fica colada em mim!

— Não dá~ minha bunda e meu peito estão no caminho.
 Jin e Misaki, que já haviam conseguido se esconder, estavam brigando. Contudo, Sorata não tinha tempo para prestar atenção neles. Assim como Jin e Misaki estavam grudados um no outro, Sorata estava em um sanduíche entre Mashiro e Nanami.

Pode até parecer que isso era algo bom pra ele, mas já que ele não podia se mexer, foi horrível.

— K-Kanda, você tá muito perto. Não fica grudado em mim.

— Mesmo que você diga isso... Não empurra, Shiina!

— Tudo bem se formos pegos?

— Não é isso, é que você tá t-tocando minhas costas...

Era possível sentir a pele pelas roupas de banho.

Suas peles escorregadias estavam se tocando.

— Todos fiquem quietos, ele tá passando por aqui.

A luz da lanterna se aproximou deles. Todos seguraram suas respirações, esperando o guarda passar. Eles estavam tão nervosos que mal conseguiam pensar direito. Um tempo depois, os passos pararam. Isso significava que o guarda não estava mais por perto.

— Ele foi embora?

— Acho que sim.

Todos suspiraram de alívio. Mas isso durou pouco tempo, até que Nanami gentilmente perguntou:

— K-Kanda...

— O que foi?

— Alguma coisa tá tocando minha barriga... i-isso é...

Parecia que Nanami estava prestes a gritar.

— Você pode me bater o quanto quiser depois, mas por enquanto, por favor, se acalme, Aoyama.

— E-Eu estou calma. Acalme o seu negócio, também.

— Isso é impossível. Eu não posso fazer nada sobre isso aqui… digo, é doloroso pra mim também!

— Você quer uma ajuda?

Mashiro sussurrou por trás dele.

— O que você quer dizer com "uma ajuda"?

— Vou te ajudar a fazer o que você quer.

Com essas palavras, Sorata pensou em coisas que não gostaria de pensar naquela situação.

— Tem algo que você queira que eu faça?

— Eu imploro, por favor, não faça meu sangue fluir ainda mais!

— Kanda, cala a boca!

Ele rapidamente se calou. A respiração de Mashiro e Nanami dava para ser ouvida de ambos os lados. Ele conseguia sentir a respiração delas nas costas e no peito dele.

Aquele minuto de silêncio parecia uma eternidade.

O guarda murmurou para si mesmo “Que estranho..” e foi em direção à piscina.

— Ótimo, ele finalmente foi embora. Vamos sair enquanto podemos.

Sem dizer nada, todos se apertaram para sair do vão em que estavam.

— Isso foi horrível...

— Eu que deveria estar dizendo isso! Isso... isso é... o negócio do... do Kanda...

Sorata sentiu pena de Nanami, que estava gaguejando o tempo todo.

— Infelizmente, a diversão acaba por aqui nesta noite.

Sorata e Nanami concordaram com a cabeça. Parecia que Misaki ainda queria brincar um pouco mais, mas quando Jin falou para eles irem se trocar, ela foi obrigada a aceitar.

— Mas onde deveríamos nos trocar?

Era arriscado demais voltar ao vestiário ao lado da piscina. E eles estavam atrás do prédio da escola. Eles não eram capazes de entrar na cabana trancada também.

— Meninas, vocês vão pra trás da cabana. Eu e o Sorata vamos nos trocar aqui.

— M-Mas nós estamos do lado de fora!!

— A gente não consegue enxergar no escuro.

— Esse não é o problema!

— Se você quiser voltar para o dormitório de biquíni, eu não vou te impedir.

Jin respondeu.

— Uuuh.

Nanami aceitou calada e foi para trás da cabana para se trocar. Ao fazer isso, ela se virou e disse para Sorata:

— Nem pense em espiar.

— Que tipo de pessoa você acha que eu sou?

— Você é jovem, é normal. Aliás, você tava daquele jeito há pouco tempo. Ou quer dizer que... você ainda tá?

Corando de raiva, Nanami virou a cabeça.

— Por favor, não fica dizendo essas coisas, Jin-senpai! A Aoyama tá prestes a chorar.

— Quem está chorando?!

— Eu disse que “está prestes”.

Ignorando completamente a situação, Mashiro agarra o braço de Sorata.

— Sorata, e a minha calcinha?

— Você esqueceu dela?

Como saíram do Sakurasou com as roupas de banho por baixo, ele já esperava que isso aconteceria. Ele estava contente por ter trazido algumas com ele, só por precaução.

Ele pegou uma toalha e um par de calcinhas e as deu para Mashiro. Por algum motivo, Nanami o encarou.

— Pronto, agora vão se trocar. Se o guarda voltar, vai ser um saco passar por aquilo de novo.

Quando Jin os apressou, Nanami desapareceu para trás da cabana.

— Se você espiar, eu vou te espancar até você não se lembrar de mais nada.

— Já entendi.

Enquanto as garotas se trocavam, Sorata se apressou para se vestir também.

A primeira a se vestir primeiro foi Misaki. Depois, veio Mashiro, mas seu cabelo ainda estava úmido e gotas de água caíam no chão.

Sorata andou em direção a Mashiro e começou a secar seu cabelo, enrolando-o numa toalha, e depois, torcendo a toalha até secar. Era como se ele estivesse secando um gato depois de um banho.

— Você precisa se cuidar mais.

— É verdade, a Mashiro é muito indefesa.

A última a se vestir foi Nanami, mas, por algum motivo, ela estava com um rosto estranho.

A maneira que ela andava também estava estranha. Ela ficava segurando a saia e puxando ela para baixo, e estava andando com as pernas juntas uma da outra.

— Aoyama, por que você tá agindo assim?

— Oi? “Assim” como?

Ela claramente estava tentando negar algo.

Naquele momento, um forte vento soprou.

— Kyaaa!

Nanami desesperadamente segurou sua saia para baixo.

— Você está bem?

— É claro que estou.

— A Aoyama provavelmente esqueceu a calcinha porque ela tava usando o biquíni por baixo do uniforme.

Jin falou de maneira cômica.

— N-Não é isso! Eu jamais faria algo assim!

— Você podia usar a parte de baixo do seu biquíni no lugar da calcinha.

— Eu cogitei fazer isso, mas pensei que poderia ser desconfortável usar meu biquíni molhado por baixo da minha sa-... Não! Eu não esqueci!

— Nanamin, sem calcinha, sem vida!

— É isso mesmo que ela disse, Aoyama.

— Para com isso!

Naquele momento, alguém apontou uma luz de lanterna para eles. O guarda havia voltado após dar uma ronda na escola.

— Ah~ Perigo!

— Corram~!

Novamente, Misaki saiu correndo na frente e Jin seguiu logo atrás.

— É impossível! É realmente impossível! Se eu continuar correndo desse jeito…

— Vai ser pior se nós não corrermos!

Sorata agarrou o braço de Nanami, mas ela não se movia pois estava muito preocupada com sua saia.

— Com certeza você não quer levar uma bronca enquanto está sem calcinha!

— É-É óbvio que não quero! Eu quero vestir uma calcinha assim que possível! E pare de dizer “sem calcinha isso”, “sem calcinha aquilo”!

Nanami relutantemente começou a correr. Sorata segurou a mão de Mashiro e ela foi junto.

— N-Não! Kanda, vai na frente! Corre na minha frente!

— Eu não consigo ver nada, tá escuro demais!

— Vai pra frente logo!

Como parecia que Nanami estava mesmo prestes a chorar, ele tinha de correr na frente dela. Mas, por ela estar preocupada em segurar a saia, Sorata não poderia deixar ela para trás.

— Shiina, você vai na frente!

Ele tentou empurrar Mashiro para frente. Contudo, Mashiro olhou para a roupa de Nanami e balançou a cabeça.

— Sorata, seu pervertido.

— Até você?!

— Não se vire!

— Certo, certo.

Como não havia nada a ser feito sobre isso, Sorata, Nanami e Mashiro continuaram correndo.

Eles passaram pelos caminhos em direção aos portões principais. Misaki disse que não haveria muita segurança nos portões principais. Ela acertou em cheio, pois não havia um guarda sequer em volta da área.

Sorata, Mashiro e Nanami, os três foram capazes de escapar pelo portão que Misaki e Jin abriram, e eles conseguiram fugir em segurança. O guarda não deveria perseguir eles até fora da escola.

Mas eles correndo um pouco mais.

Quando eles começaram a desacelerar, Misaki e Jin foram capazes de alcançá-los.

— Sorata, estou cansada.

— Corra com suas próprias pernas!

— É isso aí, você precisa parar de ser tão desligada.

— Mas, Nanami, você também esqueceu sua calcinha.

— O quê?!

— Pessoal, parem de brigar!

— As coisas estão ficando divertidas por aqui, Sorata.

Jin o provocou e deu uma risadinha.

— Não tá sendo nada divertido pra mim!

Na volta para o Sakurasou, quando o grupo chegou num parquinho, eles pararam para descansar e recuperar o fôlego.

— Foi uma aventura emocionante e divertida! É por isso que eu vou fazer essas coisas para sempre!

— Por favor, nunca mais faça isso!

Nanami reclamou enquanto puxava sua saia pra baix.

— Eu nunca vou esquecer do dia de hoje. Sinto que recebi a missão de contar ao mundo sobre a aventura da Nanamin sem calcinha~!

— Esqueça já disso! Parem de rir, Kanda, Mitaka-senpai!

Sorata segurou seu riso enquanto Jin gargalhava alto.

— Isso é terrível... se isso se espalhar, não serei capaz de ficar viva...

— Não se preocupe com isso, foi só uma corridinha sem calcinha.

— Não fique colocando nomes engraçadinhos!

— Eu acho que é como Sorata disse. Se você ficar muito tempo no Sakurasou, essas coisas vão começar a ser naturais pra você!

Nanami ignorou completamente e seguiu em frente. Parecia que ela não queria dizer nada, mas ao notar que a rua era uma subida, ela andou de volta para o grupo.

— Por favor, vão na frente Kanda, Mitaka-senpai!

— Claro, claro.

Jin deu longos passos para ficar na frente enquanto Sorata o seguiu lado a lado.

Atrás deles, Nanami e Mashiro estavam conversando algo com Misaki.

Jin olhou para cima para vislumbrar as estrelas e Sorata fez o mesmo.

As luzes estavam tão brilhantes, mas também, tão distantes... Eles não seriam capazes de alcançá-las, mesmo que tentassem.

Será que é por isso que o céu estrelado mexe com o coração das pessoas às vezes?

— Quão longe você acha que seríamos capazes de ir?

— Podemos ir a qualquer lugar.

— Você está sendo muito destemido hoje.

— Eu acho que se for o Sakurasou, nós podemos ir aonde quisermos.

Jin colocou sua mão na cabeça de Sorata

— É isso mesmo.

— Do que vocês estão falando~?

Até eles chegarem no Sakurasou, Misaki ficou falando sobre suas ideias para as férias de verão. Mesmo que as ideias dela não tivessem nada a ver com férias de verão, ninguém disse nada a respeito.

Suas ideias eram coisas como viajar pelo mundo ou sonhos que pareciam impossíveis, mas ninguém estragou o clima dizendo que eram impossíveis. Todos pensavam que se fossem eles, se fosse o Sakurasou, eles seriam capazes de alcançar.

Enquanto escutavam Misaki, todos sentiram como se estivessem sonhando.

Mas esse sonho teve que acabar ao chegarem ao Sakurasou.

— Kanda, tem uma carta pra você.

Nanami, que checou a caixa de correio, deu a carta para Sorata. Era uma de um remetente que ele não conhecia. Ele achava que seria o resultado da competição “Vamos fazer um jogo!”

Ele abriu o envelope

Havia apenas uma folha de papel dobrada duas vezes na vertical. Ele achava que era uma carta para comunicar que ele não passou. Com o coração desapontado, ele olhou para a carta.

— Me ensine sobre amor.

No meio da carta, estas palavras foram escritas. Ele não entendia o que estava acontecendo. Não, na verdade, ele pensou em algo. Mashiro havia mencionado que escreveria uma carta para ele. Deve ter sido isso.

Toda a força dele se esvaiu de seu corpo. Ele não conseguiu nem sentir nada.

Nanami chamou Sorata novamente:

— Kanda.

— O que?

— Tem mais uma.

No envelope que ela deu, ele viu o nome da empresa responsável pelo “Vamos fazer um jogo!”. O papel fino de repente ficou mais pesado.

Dessa vez, ele abriu o envelope cuidadosamente.

— Olá, Sr. Sorata. Esperamos que esteja bem. Gostaríamos de te agradecer por ter aplicado para a competição “Vamos fazer um jogo!”. Após checar sua aplicação, nós decidimos ouví-la melhor numa apresentação. Desde já, pedimos desculpas por tomar seu valioso tempo, mas gostaríamos que você viesse na hora, dia e lugar indicados abaixo. Obrigado.

Abaixo, havia uma lista indicando que a data da apresentação seria dia 31 de agosto, numa terça às 13:30 da tarde, junto de um mapa mostrando a localização da empresa.

Também havia algumas informações sobre o computador disponível na apresentação.

Ele leu a carta mais uma vez do início. Não tinha erro.

Ele havia passado na primeira fase do processo seletivo.

Animado com o resultado, Sorata deixou seus instintos vencerem e começou a gritar escandalosamente.

— Aêeeeee.

Nanami, que estava ao seu lado, se assustou com o grito dele.

Misaki e Jin leram a carta.

— Oh~ você conseguiu, Kouhai-kun!

— Foi graças à você, Senpai.

Misaki apertou as mãos de Sorata freneticamente.

— A Nanamin disse que vai te dar um beijo de presente!

— E-Eu não vou!

— É na bochecha.

— Não é esse o problema!

— Sorata, você levou um fora.

— Parece que sim

— P-por que você parece tão desapontado?

— Não é isso, é que você negou tão furiosamente, parece que me odeia...

— Não! Eu não te odeio nem nada, é que...

— Deixa pra lá. Pensando bem, por minha culpa, você se mudou para o Sakurasou, passou por todo tipo de encrenca e conseguiu o apelido de “Corridinha sem calcinha”.

— Eu te disse pra esquecer sobre isso! E nem pensa que eu esqueci que estou sem.

Nanami rapidamente subiu as escadas. Ela deveria estar com pressa para colocar sua calcinha.

Mashiro também não estava ali.

— Cadê a Shiina?

— Quem sabe? Talvez ela tenha voltado pro quarto dela.

— Acho que sim...

Sorata ainda estava no mundo da lua. Ele provavelmente interpretou errado, achando que Mashiro estava contente por ele.

Ele leu a carta de Mashiro mais uma vez.

Estava escrito:

— Me ensine sobre amor.

Mas Sorata não tinha tempo para tentar entender o que ela quis dizer com isso.



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