Fios do Destino Brasileira

Volume 1

Epílogo: Novos fios

— Tá, quem vai me explicar essa coincidência absurda?

A pergunta de Reiko, incrédula, reverberou pelo enorme grupo ali reunido. Diversos rostos, conhecidos ou não, ocupavam os lugares das duas mesas redondas de oito pessoas — bem mais gente do que ela esperava durante o primeiro jantar dentro da Academia de Palas. Um misto de ansiedade e tensão pairava sobre as cabeças dos jovens, um tanto acanhados pelo ambiente e pessoas não costumeiros.

— Quer dizer então que vocês três e Togami estão no mesmo quarto, nós estamos em outro, Haru e Kyo com elas e… Ichika, certo? — Ayame apontou para o garoto, que concordou. — Ichika com o senhor Ryoujin e os outros dois. É isso?

— Não esperava tanta gente — suspirou a ateniense. — Mas enfim, acho que podemos todos dizer que estamos ligados! Não vou falar pra todo mundo se apresentar, mas eu sou Reiko Chiwa, primeira princesa de Sophis, e esses aqui são Hanako e Togami!

— É um prazer vê-lo de novo, senhor Tatsuyu, senhorita Haruhi… — A faeri fechou a cara ante ao terceiro integrante. — e senhor Reiketsu.

— Igualmente, Alteza — cumprimentou o Guardião de Hefesto, corado e sorridente. 

— Tô começando a achar que eu sou o problema.

— Só percebeu agora, imbecil?

— É, a Haru tem razão, você é mesmo o problema.

Com bate boca desenfreado entre Heishi e Ayame a pleno vapor, os demais colegas encontraram uma margem para também se inserirem na conversa — entre comentários sobre como eles se davam bem apesar da briga ou sobre a magia de gelo inconsciente do Guardião de Búri, um certo par de barras de ouro encontrou um certo par de esmeraldas em meio ao caos de palavras e interações desconexas.

Diametralmente opostos um ao outro na mesa em que ocupavam junto de seus colegas, Yoko e Shuyu estavam mudos desde o momento que trocaram o primeiro olhar, vidrados um no outro como se fossem a única coisa que conseguissem ver. O rubor suave, incomum às bochechas de porcelana da princesa, chamou a atenção de Ichika, cuja condição de Guardião de Eros, o Arauto do Amor, o permitia ver coisas muito além da superfície. Ali, sem dúvidas, existia um sentimento tão intenso que se sentiu contagiado pela paixão deles. Não comentaria com Yoko, pelo menos não por enquanto, sobre sua descoberta inusitada.

— Esses são Akashi e Zuko! — Keiko puxou a atenção para si, apontando para os colegas. — Fizemos a prova todos juntos.

— Não irá comentar que você invadiu o barco da Academia Real de Warrea? 

— Isso foi só um detalhe que genuinamente não deve entrar em questão aqui! Ah, e essa é a senhorita Yamazaki.

— Cara, você tem quase a mesma altura que eu?

— T-T-Togami, certo?

— Eu mesmo! E você também é só um pouco mais alta que eu…

— Por favor, não chegue mais perto.

— Não esperava termos 3 harenarianos aqui… Espera, vocês são harenarianos, não? 

— Gintei, acho que esse tipo de pergunta não se faz logo de cara. Nem o Zuko é tão insensível assim.

— O que você tá falando de mim, Akashi?

— Nada não, coisa da sua cabeça.

Os herdeiros apaixonados eram apenas um dos vários elos dispostos ao olhar especial do nobre solano. Unilaterais ou não, fracos ou fortes — todos ali estavam para o garoto admirar, com enorme prazer, o primeiro encontro daquele grupo singular e as implicações que ele traria em seus novos colegas.

Aquelas linhas, que até o presente momento trilharam seu próprio rumo sozinhas, ainda tinham um longo caminho a percorrer. Teriam de se conectar, entrelaçar, fazer curvas. Romperiam-se, por vezes, ou será que fariam nós em si mesmas para se manterem unidas? Ichika não tinha esta resposta exata, mas tinha uma única certeza. 

O futuro seria escrito por seja lá o que fosse se tornar o emaranhado desses e de muitos outros fios espalhados pelo planeta. Muitas histórias, separadas pela tênue linha do bem e do mal e unidas pela ironia do acaso, ainda seriam colocadas no tear cósmico que o menino podia ter um vago vislumbre.

A rede do futuro, tecida pelos fios do destino.