Volume 1
Capítulo 7: Vai ficar tudo bem.
Vai ficar tudo bem.
Nicole agiu sem pensar, sem entender o que estava fazendo, então, antes que desse conta, estava de frente a morte. Se arrependendo por sua decisão, fechou os olhos esperando o pior, mas nunca chegou a sentir a dor que esperava.
Enquanto se perguntava como ainda estava viva, a garota não teve coragem de abrir os olhos, temendo que, ao abri-los, veria sua própria barriga perfurada por um laser. Foi quando ela estava caindo nesse poço de medo, que sentiu um toque quente em sua cintura.
Logo seu corpo tinha sido movido com facilidade. Ainda de olhos fechados, sentia o bater forte do coração de Leo, enquanto era envolvida pelo tamanho do garoto quase 20 centímetros mais alto do que ela.
Naquele lugar quente, ouvindo o som forte e constante daquelas batidas agradáveis, acalmou-se um pouco. O cheiro do perfume do garoto era agradável, a firmeza com a qual a segurava, fazia ela se sentir mais segura.
Finalmente abriu os olhos. Viu um rosto belo e confiante, que carregava um sorriso zombeteiro. Era impressionante como o garoto que mal havia captado o seu olhar antes, parecia tão mais belo quando admirado de perto.
Então ele chegou particularmente próximo, permitindo que os olhos dos dois se encontrassem. Por um instante, ela sentiu a mão que estava na sua cintura descer um pouco, o que a fez sentir uma mistura de surpresa, vergonha e medo. No entanto suas expectativas estavam erradas desde o começo, Leo apenas pareceu colocar algo no bolso de trás da sua calça jeans. Em seguida, ele se aproximou das orelhas dela e sussurrou com um tom agradável que massageava os ouvidos:
— Vou ganhar um tempo distraindo Caio, aproveite para pegar o Henrique e fugir daqui. Seguindo a frente no corredor e virando a esquerda, vai encontrar uma grande porta de metal, o professor deve saber a senha para abri-lá. Aquilo é um bunker, então fique escondida lá, em pouco tempo encontro vocês. Uma última coisa, não acho que Gustavo vá fazer nada, mas você é uma garota bem bonita e numa situação dessas nunca se sabe, evite encontrá-lo, apenas deixe o garoto fugir sozinho, ele vai conseguir se virar e depois eu cuido dele.
Nicole nem teve tempo de processar as informações que lhe foram ditas, pois no instante seguinte foi empurrada para fora daquele calor agradável. Vendo como Leo se virava determinado para sua batalha, ela sentiu o coração apertar, preocupada com ele, mas entendia que não tinha tempo a perder.
Buscando salvar a própria vida e de volta a realidade, Nicole respirou fundo. Se acalmando, as instruções que lhe tinham sido passadas voltaram a sua mente pouco a pouco. Ainda um pouco perdida, levou a mão no bolso e sentiu que lá o garoto tinha deixado uma faca.
Decidida, correu até o professor que estava amarrado, o soltou, então deixaram o lugar o mais rápido possível. Correndo sua vida, ela mal teve tempo de prestar atenção sobre onde Gustavo se encontrava. Então, antes que se desse conta, estava lá, como Leo tinha dito, estava lá: a porta de metal.
— Êh... você sabe a senha para entrarmos aqui? — Nicole perguntou falando pela primeira vez com Henrique desde que começaram a correr. — Leo disse que isso é um bunker e que devíamos ficar esperando aí dentro, ele também disse que você deveria saber a senha. — Pelo nervosismo, ela acabava falando demais.
— Bem... talvez, nunca estive aqui, — mais calmo que a garota, o professor tentou colocar a senha padrão para bunkers militares. Por mais que Henrique nunca tivesse sido informado sobre haverem instalações do tipo na escola, a porta abriu.
Enquanto Nicole entrou apressada dentro da sala, o professor foi mais receoso. Ele não conseguia deixar de se perguntar como aquele jovem aleatório sabia sobre aquele lugar. Não só isso, aquele jovem também parecia muito próximo da Sophia. Além disso tudo, aquela sala definitivamente não era apenas um bunker.
Nas paredes, haviam várias gavetas, alguns computadores e até um grande cofre na parede à esquerda. Definitivamente, aquele lugar era algum tipo de armazém de arquivos, ou algo parecido. No mínimo, parecia bem seguro, por isso não era um lugar ruim para ficar.
Dito isso, Henrique não podia deixar de se perguntar: quem era esse Leo? Sua capacidade de agir sob pressão, o conhecimento que tinham, várias coisas não pareciam normais.
Como estava sem acesso aos próprios poderes e, aparentemente, não tinha nada que poderia fazer sobre isso, o militar começou a gastar as energias pensando sobre o garoto misterioso. Principalmente depois da traição de Caio, ele não confiaria tão facilmente em alguém daquela forma.
Para começar, ele analisou a sala com mais cuidado, mas ao tentar acessar os computadores nela, descobriu que não tinha a chave necessária. Da mesma forma, as várias gavetas e portas no lugar, estavam fechadas de forma a impossibilitar o acesso de quem não tivesse a chave.
A única coisa que o homem conseguiu, foi abrir um grande armário que se localizava à esquerda da sala. Era quase como um closet, pois ao ser aberto, ele dava acesso a um estreito cubículo, no qual havia várias armas diferentes nas paredes.
Enquanto o professor tentava se acalmar a investigar a situação, Nicole só ficava cada vez mais ansiosa. Andando de um lado para o outro, fazendo perguntas idiotas, ela não parecia conseguir parar quieta.
Antes daquilo, ela estava se sentindo protegida por ter pessoas fortes e em quem confiava ao redor, mas naquele ponto, se sentia desesperada. Criando uma idealização de Leo, ele orava para que ele voltasse logo, pois acreditava que, contanto que ele estivesse por perto, tudo estaria bem, no entanto, com ele longe, ela estava em um risco constante.
Não querendo piorar o problema, Henrique decidiu não gritar com a garota, porque isso provavelmente a deixaria ainda mais problemática. Ainda assim, prometeu a si mesmo que, se as coisas voltassem ao normal, lembraria de ser mais rígido com seus alunos, um militar não deveria ser tão fraco mentalmente.
Ainda que insatisfeito com as novas gerações, ele não tinha o que fazer e como notou que não conseguiria descobrir nada, voltou suas atenções para meditar Para garantir que ele estivesse calmo e mentalmente preparado para lidar com o futuro, ele queria respirar e relaxar.
— Não acha que o Leo está demorando demais? — Por outro lado, a garota apavorada não permitiria muita paz.
— Ele provavelmente está morto, — disse friamente. Henrique suspeitava que talvez Leo estivesse escondendo seu poder e intenções, por isso poderia ter sobrevivido, mas não se deu ao trabalho de comentar sobre. — Não tem como ele ter derrotado Caio.
— Ele não morreu! Não tem como! Leo com certeza vai vencer.
— Tá, então espere seu herói vir aqui.
— Mas… — a garota caiu em pensamento — pre-preciso verificar o que está acontecendo.
— Pretende ir lá fora conferir? Não sei se entendeu, mas Leo se sacrificou para nossa sobrevivência, não desperdice isso.
— Mas…
Sem querer se importar muito com o assunto, o professor apenas disse que ela era livre para fazer o que quisesse. Para começo de conversa, ele duvidava que a garota de fato tivesse coragem para sair lá fora.
E, de fato, ela não tinha. Apesar de toda a discussão, num primeiro momento Nicole não quis se arriscar. Ainda que quisesse saber se Leo estava bem, ela não arriscaria a vida por ele.
Porém a situação de tensão também não deixava o cérebro operar de forma normal. Ela simplesmente não conseguia ficar parada, muito menos ela conseguia encarar a realidade na qual estava.
Uma atividade, qualquer que fosse, mesmo que estivesse se arriscando, ela queria qualquer coisa para distrair sua mente. Mais que isso, ela queria estar com Leo de novo e, abraçada por ele, tentar escapar da realidade que a cercava.
Foi a soma desses sentimentos e um lapso de coragem, que a fizeram de fato abrir a porta. Então, quando seu pequeno familiar disse que não haviam mais monstros no caminho, ele deu o primeiro passo.
Sem saber bem porquê, ela seguiu em frente.
Graças a isso, Henrique conseguiu ficar para trás sozinho, aproveitando finalmente um pouco de silêncio.
Dito isso, a meditação do homem não duraria muito tempo, afinal ele sentiu seu poder voltar de forma repentina. Ele não sabia se era uma questão de tempo, ou se a razão era outra, mas tinha recuperado suas habilidades.
Naquele momento, pensou em ir atrás da idiota que tinha ido em bora, mas mudou de ideia concluindo que a vida dela, não valia tanto assim. Tinha algo muito mais importante que poderia fazer com seus poderes recuperados.
Respirando fundo, ele se concentrou e fez seus chicotes ficarem infinitamente finos. Em seguida, fez os finos fios de energia entrarem pelas minúsculas frestas dentro das gavetas. Por fim, com cuidado, ele cortou as travas que o impediam de abrir tudo.
Como o esperado, dentro daqueles cofres haviam centenas de documentos secretos sobre os quais nunca tinha ouvido falar. Desde dados sobre estudantes, até pesquisas secretas, com a de transferência de habilidade entre pessoas, testes em humanos e outras coisas.
Mas, dentre todas aquelas pastas, uma se destacava. Era um envelope preto, selado e que tinha sido escondido no fundo falso de uma das gavetas. Definitivamente, aquilo era particularmente importante.
Abrindo o envelope, ele conseguiu ler:
Relatório do orfanato especial - N°136 .
Assunto: descrição da criança problema.
N°23, nome: Leo Oliveira;
Rank: 01;
Idade: 14 anos(estimado);
Habilidades: produzir fogo, queimar e controlar chamar. Mais estudos são necessários, ele aparenta ter uma segunda tatuagem;
Risco: Altíssimo;
Potencial: tesouro nacional;
Perfil psicológico: indeterminado;
Notas: de médias para altas;
Capacidade de combate: alta;
Disciplina: péssima;
Antecedentes: Há um registro em câmera de um roubo em uma loja, além de possíveis crimes delatados por pessoas que moravam em sua região. Infelizmente, não conseguimos descobrir com exatidão sua linhagem familiar, mas eles parecem ter morrido. Ele não quis dar informações sobre, mas acreditamos que eles possam ter morrido num acidente, incêndio ou em uma troca de tiros.
Resumo: Após um ano de observações, acredito que o perigo deste garoto foi subestimado. Ele é incontrolável, desobediente, mas seu potencial é inegável: não encontraram qualquer talento deste nível em todo o mundo. Ele poderia ser o símbolo do nosso projeto, o perfeito soldado que guiará o futuro do Brasil, no entanto recomendo revisão deste plano, a N°05, rank 2 parece uma escolha muito mais racional.
Conclusão: Acredito ser necessário correção comportamental imediata. Talvez, execução.
Infelizmente, o resto do relatório não estava ali, naquele pequeno envelope, só restava um breve resumo, que explicava poucas coisas.
Tentando entender mais sobre o assunto, Henrique caçou entre os documentos, qualquer coisa sobre esse orfanato e acabou achando outro relatório sobre. Todos eram descrições de crianças, seus comportamentos, talento e personalidade.
Ele não conseguiu entender completamente o funcionamento, mas aparentemente foi um projeto para treinar jovens que receberam tatuagem com o objetivo final de criar o futuro grande militar brasileiro. No entanto, por algum motivo, o projeto tinha sido descontinuado e completamente enterrado.
O que deu tão errado para que desistissem completamente disso?
Enquanto pensava sobre coisas complicadas, Henrique ouviu a porta ser aberta e tentou rapidamente esconder tudo antes que Nicole tivesse a chance de olhar os documentos, porém…
— Po-por que você está aqui?
Não foi Nicole quem abriu a porta, mas sim alguém que deveria estar no auditório junto com todos os outros alunos.
Em um segundo, sangue banhou todos aqueles papéis.
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Nota:
Atrasei bastante por vários motivos, principalmente porque decidi interromper a luta no meio e adiantar esse cap, mas as postagens vão voltar ao normal... espero. E no próximo capítulo já voltamos para o Leo.
Quem quiser vai poder me apoiar doando no pix, sempre que acumular 20 reais em doação, vou postar um capítulo extra.
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