Fenrir Brasileira

Autor(a): Marcus Antônio S. S. Gomes

Revisão: Ana Paula


Volume 6

Capítulo 69: Enor vs Ferus

Uma poderosa energia vermelha iluminava a praça central de Harp, essa praça que um dia foi cheia de vida, agora estava mórbida e solitária debaixo da chuva forte, mas um misterioso brilho avermelhado iluminou aquele dia fatídico.

A luz irradiada por todo corpo de Enor podia ser vista de longe, seus companheiros cobriam os olhos para não sentirem a ofuscação do brilho vermelho.

Mas uma outra figura assistia aquela cena com um olhar frio, como se aquele brilho não significasse nada. O lobo negro Ferus.

O jovem bestial de origem desconhecida que ganhou prestígio em Lemur em poucos meses.

Esse mesmo, jovem de cabelos negros e olhos amarelos âmbar, encarava Enor com frieza.

Os lutadores que adentraram o palco junto a Enor, tornaram-se meros espectadores diante da situação. Agora apenas Ferus e Enor estão frente a frente preparando-se para o último ato.

Indys finalmente havia encontrado uma posição longe do muro que Ferus havia erguido, mas era tarde, a essa altura caso ela se intrometesse Enor não a perdoaria, a meio-elfa conhecia bem a personalidade de seu companheiro para deduzir isso com um simples olhar.

Gale, o jovem bestial do clã dos cães negros que trouxe Ferus para a emboscada ficou em silêncio, as palavras não saiam de sua boca, pois a tensão criada por aqueles dois não permitiria uma sílaba sequer ser proferida.

Os dois humanos assistiam o conflito com expectativas a uma distância segura.

Um dos humanos comenta com um tom amargurado:

— Parece que não há mais espaço para nós.

— É o que parece — concordou seu aliado.

Ferus une suas adagas e faz sua mana fluir por elas.

— [Shackle great sword]

Suas adagas perdem a forma e dão lugar a uma grande espada de lâmina larga. O jovem lobo percebeu que os demais guerreiros não iriam intervir nessa troca, por isso ele optou por uma arma de mais poder de ataque em vez de armas de resposta rápida.

Ferus segurou sua grande espada com as duas mãos e formou sua postura colocando a lâmina para trás.

Indys apertou os dentes indignada.

— Esse maldito!

Gale parecia não entender essa indignação e pediu a Indys:

— O que está acontecendo?

— Esse desgraçado. Realmente…. não sei o quanto ele é promissor ou genial, seria egoísmo negar seu talento a essa altura. Contudo…. provocar Enor a esse ponto!

Enor encarou Ferus com um sorriso raivoso.

— Ahahahaha! Você não mostra nenhum respeito mesmo moleque. Por acaso me subestima tanto assim?

Ferus piscou duas vezes sem entender as palavras de Enor e perguntou:

— Não entendo sua raiva? O único aqui a ser atacado por todos os lados sou eu.

— Não faça gracinhas, moleque! Em vez de armar uma pose defensiva e esperar um contra-ataque você quer decidir tudo em uma troca?

— Ah! É sobre isso?…. Não existe nenhuma aposta aqui. Sua arma é muito poderosa em uma investida, porém após perder o alvo você abre muito a guarda, se eu deixar isso para bloquear e atacar tenho certeza que você conseguiria se defender do meu contra-ataque, contudo se for um golpe simultâneo…

Enor braveja:

— ISSO É PETULÂNCIA! Acha que vou errar meu ataque?

Ferus sorri.

— Longe de mim querer subestimar seu poderoso ataque, no último golpe mal conseguia bloquear sua investida rápida, por que acha que vou tratá-lo de forma arrogante agora que me mostrou sua habilidade energética?

— Então por que não usa a sua habilidade energética também?

— Eu não preciso — respondeu Ferus indiferente.

O sangue quente fluía pela cabeça de Enor, seus olhos raivosos traçaram Ferus não mais como um adversário e sim como seu pior inimigo, “a morte era pouco”, esse foi seu mais singelo pensamento nesse instante.

Ferus em verdade não subestimava seu adversário, ele decidiu impor dificuldades para si mesmo.

“Caso não possa resolver essa situação sem recorrer a minha habilidade energética então é melhor desistir de enfrentar a Predatory.”

Em seu íntimo, o jovem lobo sabia bem que faltava força em si. Superar as adversidades diante de uma grande desvantagem foi, até hoje, a única forma que ele encontrou para se fortalecer.

Ferus aperta o cabo de sua grande espada e diz a um Enor enfurecido:

— Vou vencer aqui, não tenho outra opção. Uma vitória significa meu avanço, a derrota significa meu fim, não quero ferir seu orgulho, apenas estou pondo o meu orgulho a prova.

Enor clicou a língua.

— Tsk! Então essa é uma batalha onde nossos orgulhos estão a prova? É isso que quer dizer?

— Eu sempre coloco meu orgulho a prova, não chegaria tão longe se não o fizesse — respondeu Ferus indiferente.

— CHEGA!

Enor intensifica sua habilidade energética concentrando todo o poder em sua alabarda.

A arma de Enor toma coloração carmesim, tornando-se muito perigosa.

Ferus fortalece sua postura e invoca toda a mana de seu corpo, assim como a habilidade energética a mana ausente de coloração reveste o corpo de Ferus como um manto de energia.

Indys arregalou os olhos:

— O que é isso? Ele pretende usar a mana como um simples reforço corporal?

O jovem lobo já havia entendido a muito tempo que não tinha talento algum para formular magias de alto nível, seu real talento sempre esteve em seu combate corporal. Entretanto, não usar a quantidade absurda de mana que ele possuía era um desperdício, por esse mesmo motivo ele decidiu experimentar a aplicação da mana em outros aspectos.

A mana incolor cobria o corpo do jovem lobo, não era intenso como a [Índigo Energy], mas podia ser aplicada de outras maneiras.

Enor chutou o chão ganhando uma velocidade absurda, cada passo seu danificava o solo no qual ele pisava.

Como um flash, ele fechou a distância entre ele e Ferus.

— MORRAAAAAAAAAAAAA!

Sua alabarda carmesim perfurou até mesmo o vento.

Para os espectadores o momento foi tão rápido que seus olhos não puderam acompanhar, mas para ambos os lutadores, o tempo parou.

Ferus fez sua mana percorrer por toda sua lâmina revestindo-a com sua magia peculiar.

Enor gritou a plenos pulmões com esperança de que seu ataque ganhasse ainda mais força.

Ferus apertou os dentes diante daquela velocidade e fez seus músculos trabalharem ao extremo.

A lâmina de Ferus rapidamente alcançou a velocidade de investida de Enor e os dois se chocaram.

Ferus passou por Enor como se não existisse resistência.

Um dos humanos grita:

— O QUE ACONTECEU? TENHO CERTEZA QUE AS ARMAS DE AMBOS SE CHOCARAM!

O outro humano completou:

— Mas não houve atrito! O que diabos aconteceu?

Gale e Indys que não enxergaram nada, apenas ficaram pasmados com a situação.

Costas a costas um com outro, Enor abaixou sua alabarda e olhou para o céu.

— Você…. me subestima mesmo, não é garoto?

Ferus permaneceu de costas sem responder uma palavra.

CRECK!

A alabarda de Enor é partida em duas e um corte enorme traçou sua armadura.

O grande bisão caiu de joelhos enquanto tossia e falou:

Enquanto passava a mão em seu peito, onde o corte da armadura foi feito.

— Ahahahaha! Você definitivamente não cortou minha carne.

— [Fissura]! Essa é basicamente minha técnica mais poderosa, com ela posso cortar qualquer coisa com exceção dos seres vivos, entretanto a pessoa que entra em contato direto com minha lâmina sofre um choque com a mana imbuída em seu corpo.

Ferus se vira e para Enor e completa:

— Você não sofrerá nenhum ferimento desse ataque, mas ainda sofreu uma espécie de dano espectral.

Enor fecha os olhos e sorri tentando aguentar a dor:

— Entendo! Você cortou em mim algo mais relevante que minha carne.

Ferus inclinou a cabeça como se não entendesse e Enor completa:

— Você cortou meu orgulho.

Enor sentiu uma dor insuportável massacrar seu corpo, era como uma poderosa descarga elétrica que afetava cada músculo de seu corpo, com isso, o joelho do grande bisão tocou o chão enquanto ele ofegava dolorosamente.

Entretanto o bisão foi teimoso o suficiente para negar-se a cair e usou o restante de sua alabarda como bengala de apoio.

Indys, Gale e os dois humanos saltaram para o lado de Enor confrontando Ferus, mas Enor encerrou o assunto:

— Chega! Essa luta é inútil afinal.

— Mas, senhor Enor! Não pode….

— Eu disse chega! Não vale a pena insistir em uma batalha perdida, mesmo unidos não podemos contra esse moleque, sei que no fundo todos sabem disso.

Ferus apenas olhou indiferente para situação, mas ficou feliz em saber que não haveria mais nenhuma luta inútil.

Ferus suspirou e virou a costas para deixar o lugar.

— Espere! — Chamou Enor.

Ferus parou seu avanço reclamando:

— Escute, já disse que não tenho tempo.

— Nem mesmo para escutar um recado de Barbatus?

Ferus arregalou os olhos e se virou rapidamente.

— Sabe onde ele está?

Enor deu um sorriso forçado e disse:

— Barbatus reuniu um pequeno grupo de aventureiros experientes e partiu para enfrentar a Predatory.

— Sozinho? Aquele rinoceronte ficou doidão?

Enor tenta se levantar, mas foi inútil, seus companheiros preocupados começam a procurar por ferimentos em seu corpo. Gale, o jovem bestial canino que trouxe Ferus para emboscada entoou um cântico e uma luz verde clara saiu de suas mãos, em seguida Gale põe suas mãos sobre a parte atingida de Enor e a face do bisão é claramente aliviada.

O jovem lobo nunca havia presenciado uma magia do elemento sagrado, em parte ele ficou surpreso.

Enor então conversa:

— Barbatus foi completamente contra ao plano de Aurus de capturá-lo e o entregar a Predatory, por isso ele não se envolveu comigo e ainda me avisou que iria me arrepender — Enor exibe um sorriso amargurado — Hunf! Devia ter escutado meu amigo.

Ferus perguntou:

— Onde ele está, preciso me encontrar com ele e oferecer suporte, mesmo que não goste disso parte da culpa é minha e pretendo tomar responsabilidade.

Enor, deu os ombros e respondeu:

— Já é um pouco tarde, a essa hora ele provavelmente está frente a frente com o inimigo, a única coisa que deve estar evitando o confronto agora é o prazo estabelecido para te capturar, creio que já se foi uma hora restando apenas duas.

— Então tenho que ir agora!

— Só mais uma pergunta. — Insistiu Enor.

— Qual? — perguntou Ferus sem paciência.

— O que um príncipe de Deva quer aqui em Lemur?

Ferus apertou os olhos para Enor, o jovem lobo sabia que Hellen era a chave desse problema, por isso ele mentiu com uma cara cínica:

— Não faço ideia, talvez ele queira comprar mais escravos de Rampa.

Enor sabia que ele estava mentindo, mas deixou passar.

— Vai ser assim então.

Ferus virou as costas e se apressou para sair dos portões da cidade.

 

Um agradecimento especial aos revisores que auxiliaram o capítulo: Stewie, Elisson e Rodrigo Silva. Vocês são demais o/



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