Fenrir Brasileira

Autor(a): Marcus Antônio S. S. Gomes

Revisão: Heaven


Volume 4

Capítulo 42: Aquilo que não queria ver

Um escravo havia morrido mais cedo em meus braços, isso deixou uma marca em mim, não sabia como explicar, porém, sentia isso, o mundo ao meu redor mudou, melhor seria dizer que o que mudou foi minha visão desse mundo.

Chegando aos portões de Harpa, finalmente reparei no olhar frio do guarda, andando pelas ruas via bestiais indo e vindo, mas nunca me dei conta dos seus olhares para mim.

Olhares frios, cheio de desdém, observavam as cores de meus cabelos e olhos, observavam a coloração da pelagem de minha cauda e depois viravam seus rostos.

Nas ruas haviam aqueles semelhantes a mim, estes me viam calorosamente. Crianças bem vestidas e crianças em farrapos, separadas não apenas pelas condições sociais, havia algo bem mais sutil, uma diferença invisível que eu me neguei, ou melhor, não enxerguei.

As diferenças raciais, eu me lembrei dos insultos de Laruk, “Um mero mestiço sujo”“cão”“imundice”.

Eu caminhava lentamente entre a multidão, senti-me tonto com a realidade me afetando, olhei novamente para a multidão nas ruas.

Vi pessoas de cabeças baixas e outros que andavam orgulhosos de suas existências, vi mestiços andando esgueirando-se pelos cantos, enquanto aqueles que tinham o “sangue puro” estufam o peito em sua superioridade.

Vi pessoas trabalhando em barracas com um sorriso formidáveis, mas após enxergar a marca do selo escravo escrita em seus corpos percebi a palidez de seus rostos, a magreza de sua carne e as bolsas em suas pálpebras cansadas, em seus olhos opacos finalmente havia percebido que o brilho tinha ido embora, o sorriso não passou de uma ordem dada por seus donos para esconder as marcas do sofrimento, porque seria ruim para os negócios.

Meu coração doeu, não enxerguei isso? Eu não queria enxergar? Porque me incomoda tanto?

Com a mente em desordem corri rápido dali, fui a um beco, quero me afastar da multidão, com o corpo encostado na parede do beco, minha respiração ofegou, não estava em plena sanidade, sentei-me no chão e abracei meus joelhos, mas os meus sentidos me torturavam, escutei cada som, senti cada aroma, mesmo desligando meus [Sentidos Sobrenaturais], ainda sentia a mudança em meu redor.

Eu queria gritar.

— Ferus!

Uma voz familiar me chamou, levantei minha cabeça e vi Hellen, ela estava com olheiras fundas, uma pequena cesta em sua mão transportou algum alimento, com certeza para consumo próprio.
Eu não conseguia me levantar, não é como se não tivesse força para fazê-lo, apenas não tive vontade.

Hellen balançou para o lado seu cabelo curto e pediu:

— Por que está assim? Alguma coisa aconteceu?

Sem vontade de mover os lábios, gesticulei positivamente com a cabeça, ela me observou com calma, depois de parar um pouco ela falou:

— Venha comigo!

Vendo minha falta de vontade, ela agarrou minha mão e me puxou do chão.

— Vamos! Venha logo!

Sem escolha, segui a felina que ainda me puxava pela mão.

Andamos por alguns minutos chegando em uma parte mais afastada da cidade, me lembrei de quando Hiekf e eu viemos a Harp pela primeira vez, não havia vagas nas estalagens, por isso não tivemos escolha a não ser procurar um quarto na periferia, não preciso lembrar que a noite foi frustrante naquela época.

Hellen me levava pela mão na direção da mesma periferia, curioso eu perguntei:

— Aonde está me levando?

Hellen se virou e respondeu com um sorriso sem graça:

— Minha casa é aqui perto, vamos conversar um pouco lá!

— Hellen! Você mora na periferia?

— Fufu! Onde mais moraria? Uma garçonete não ganha tanto!

Isso é muito óbvio, foi uma pergunta tola da minha parte, como qualquer lugar, existem partes onde a morada é supervalorizada e outros onde ninguém quer morar, estes são os mais baratos.

Em um beco estreito, Hellen soltou minha mão, pois o beco era muito estreito para passarmos juntos.

— Venha logo!

Ela se adiantou, sem opção a seguia.
Nesse pequeno beco estreito dava para ver as janelas das casas, não existia um mínimo de luxo ali, são como as favelas de meu antigo mundo.

Passando pelo beco, Hellen se adiantou até uma casa humilde e modesta, para falar a verdade, a estrutura da casa parecia que ia cair com o mínimo de vento, mesmo assim ainda era melhor que muitas casas ao lado.

Hellen sorriu e disse:

— Essa é minha casa!

Abrindo um pequeno portão que não chegava nem em sua cintura ela entrou, fui atrás dela em seguida. Procurando em sua cesta, Hellen achou a chave, em seguida abriu a porta da frente.

A porta era perfeita para Hellen, eu, no entanto, tive que baixar minha cabeça para entrar, a simplicidade da casa de Hellen é surpreendente, mesmo assim, o local estava arrumado e bem limpo.

— Sente-se.

Sentei em uma cadeira antiga que ali estava, Hellen foi até mais a fundo na casa, provavelmente foi deixar suas compras na cozinha.

Ela voltou em seguida, foi uma surpresa para mim saber que Hellen é na verdade uma garota simples, com a beleza dela, certamente poderia se casar com alguém rico e viver no luxo, porém, Hellen é uma garota que não usa maquiagens e nem se enfeita, só depois de um tempo, percebi que ela é desleixada consigo mesma.

Hellen age como se quisesse esconder sua beleza, o que é uma pena, mas acho que seria impossível para ela passar despercebida, pois até em trapos essa garota seria linda.

Hellen se sentou em uma cadeira em frente à minha, sua forma de se sentar e mover, parece que ela tem uma grande etiqueta para essas coisas, até para comer, seus gestos e movimentos tem um certo refinamento.

Eu iniciei a conversa:

— Millin está preocupada com você, ela até me pediu para ver como você estava, foi sorte nos encontrarmos, eu acho!

Hellen torceu a face quando falei de Millin, eu continuei:

— Você não foi trabalhar ontem e nem hoje, sua face está bem frágil!

Ela riu seca, mas mudou o assunto:

— Você, no entanto, parece pior do que eu, alguma coisa aconteceu?

O sentimento de ver aqueles homens morrendo, foi um baque para mim, não entendia, talvez apenas quisesse desabafar, por isso falei para ela:

— Hoje fui atacado na floresta, eram assassinos que queriam minha vida!

Hellen arregalou os olhos, mas vendo-me aqui, entendeu mais ou menos o que aconteceu. Continuei meu desabafo:

— Eu não gosto de matar pessoas, embora já tenha feito, detesto isso. Lutei contra eles apenas para nocauteá-los e assim fiz, mas…. mas…. algo estava errado! Os homens que me atacaram eram miseráveis, pareciam que não tinham uma refeição decente a dias, então uma coisa aconteceu…. eles eram escravos, suas ordens foram me matar ou morrer se falhar…

Hellen apertou o rosto cheia de tristeza e falou comigo:

— Você nunca tinha presenciado uma morte por descumprimento de ordem de um escravo, não é?

Foquei meu olhar perturbado para Hellen e ela continuou:

— A escravidão foi proibida em Lemur, mas apenas foi proibida a aquisição de novos escravos, os escravos já obtidos continuam com seus destinos terríveis, o terror da morte pela simples vontade de seus donos…

Foi aí que eu perguntei:

— Por que todos os escravos são mestiços?

Hellen olhou para mim com ternura, ela parecia saber de algo que eu não.

— Ferus! Os mestiços são considerados seres inferiores, são como uma praga em Lemur, aos olhos dos grandes clãs, somos como pragas que devem ser extintas, quando um bestial olha para um mestiço, ele não encara um semelhante, ele vê um incômodo, como insetos que temos que conviver por que não conseguimos exterminar.

— Mas… porque isso? Não somos todos bestiais?

Hellen sorriu para mim, mas logo baixou seus olhos como.

— Então, é assim que você pensa? Achei que você apenas ignorava aqueles que te desprezam, queria te chamar de estúpido, só que estou feliz em saber que você na verdade é apenas inocente!

— Inocente? Eu não entendo Hellen! Existe alguma coisa que eu não compreendi?

Hellen deu um largo suspiro, mas depois de ponderar um pouco, sorriu para mim e disse:

— Ferus, você não enxergou a verdade sobre Lemur, pensei que você apenas ignorasse isso, mas agora vejo que você apenas acreditou nas pessoas, por isso não conseguiu ver a verdade!

Eu não entendo, como um semelhante trata o outro assim, sei que no meu antigo mundo a escravidão existiu, sei também que ainda existia um ressentimento, embora ninguém falasse sobre isso, mas aqui, é uma coisa bem pior, agora eu sei o que a Predatory realmente representa.

Hellen continua:

— Ferus! Pessoas como eu, os “mestiços”, são desprezados, não temos um lugar aqui, para falar a verdade, eu detesto Lemur.

— Por que continua aqui então? Um lugar onde ninguém te quer!

Hellen riu amargamente e respondeu:

— Acha que o mundo vê os bestiais com bons olhos? Em Gaea eramos os escravos que sustentaram o país até que o rei Bérius nos libertou a quinhentos anos, em Deva, o país dos demônios, somos o melhor “produto” a ser adquirido. Não há como um bestial viver em Asturia, mesmo com os bons relacionamentos com os anões, não ficamos bem em locais sem florestas…. Magnólia, o país dos elfos simplesmente é muito longe.

Droga ficar em lugar detestável só porque não existe um melhor é como se a vida não desse uma escolha.

Não tinha ideia de como era difícil para nossa raça, ainda que eu seja um tipo estranho de bestial, ou melhor, me tornei um bestial por meios estranhos, eu ainda sou um bestial, o rótulo de mestiço, foi uma coisa que eu mesmo aceitei para proteger meus status, mas agora, eu não consigo tirar esse rótulo de mim, inclusive sinto a dor disso.

— Ferus, quero que veja uma coisa!

Hellen se virou e mostrou as costas para mim, por um breve momento ela desamarrou a parte de cima de seu vestido, meu coração deu um grande disparo ao notar a pele branca e lisa de suas costas, mas não era isso que Hellen queria me mostrar, o que ela queria que eu notasse, foi a marca em suas costas, um selo escravo, parecido com os dos homens que morreram mais cedo.

Uma preocupação veio a minha mente.

— Me diga! Você não vai morrer repentinamente, não é? Afinal você fugiu, com uma ordem seu antigo dono não poderia te matar?

Hellen cobriu novamente suas costas e falou:

— Não há problema! Meu selo foi reescrito graças a habilidade única da senhorita Stela, para todos os efeitos é ela agora a minha dona!

Suspirei aliviado e Hellen sorriu:

— Então você se preocupa comigo afinal!

— Claro que sim! Não foi você aquela que disse para nos tornarmos amigos?

Hellen dei um sorriso terno, nunca havia visto ela sorrir assim, mais uma vez meu coração acelerou, tenho medo de apaixonar por ela, afinal ela é muito para mim, no final só levaria um fora.

A felina parou seu sorriso como se lembra-se de alguma coisa terrível.

— Hellen! Por que não foi trabalhar? Existe alguma coisa errada? Somos amigos, não somos? Então…. conte comigo, por favor!

Hellen com os olhos lacrimejantes falou:

— Ranpa está vindo atrás de mim, eu sei, pois, a forma que você foi atacado é a marca de dele…

“Então foi esse tal Ranpa o mandante!”

— Hellen! Você me falou uma vez que foi comprada por um valor absurdo, mas… eu não entendo uma coisa! Porque fugiu? Se fosse um nobre seu comprador, não teria você uma boa vida!

Hellen riu e revelou:

— Esse era o plano! Para falar a verdade, para uma escrava, minha vida não foi tão ruim, Stela me ensinou tudo e me criou como uma mãe!

— Stela te criou? Mas…. seu dono não era o tal Ranpa?

— Sim, mas a senhorita Stela trabalhava para ele, Stela era a responsável por educar escravas de luxo, no entanto quando ela soube quem era meu comprador fugiu comigo depois de vender informações para Aurus em troca de uma morada segura.

Entendo! A capital é um lugar podre afinal, em Harp a política parece acontecer de forma individual, também temos Jhedar que é um contato de Aurus, existe o fato de que Alba Lepus reside aqui, mesmo esse tal Ranpa não ousaria pôr os pés em Harp.

Mas ainda há uma coisa que quero confirmar:

— Quem era seu comprador?

Hellen fez um olhar de repulsa para minha pergunta, esse cara deve ser bem nojento para ela agir assim.

— O nome dele é Azfir, o sexto príncipe de Deva.

— Então é um príncipe do país dos demônios, incrível Hellen! Até um príncipe caiu por você!

Hellen não mostrou satisfação a meu elogio, em vez disso ela revelou com amargura:

— Existem rumores bizarros sobre ele, um deles é que ele arranca a pele de jovens inocentes para usar como vestimentas, acontece que não é só um rumor, o que ele quer de mim é minha pele!

Meu corpo se arrepiou com tamanha repugnância, nunca esperei escutar uma coisa tão absurda.

— Você só pode estar brincando!

Esse maldito pensa nos seres vivos como animais com peles exóticas? Eu realmente não posso perdoar esse lixo de príncipe.

Hellen baixou os olhos com tristeza:

— Eu estou com medo! Na primeira vez quando vi, senti que iria morrer, meu coração, corpo e alma me disseram isso…. que eu iria morrer!

Vi o tremor de Hellen, seus finos braços abraçaram seu próprio corpo, as lágrimas desceram de seus olhos azuis, me sentiria um homem inútil se não fizesse algo.

— Eu vou te proteger! — declarei com convicção. — certamente a protegerei, então não precisa ficar com medo, seja do Ranpa ou desse tal príncipe do inferno, dou minha palavra que vou salvar você, ou melhor, vou libertá-la desse selo escravo!

Hellen sorriu fracamente, prova de que não levou a sério minhas palavras, claro, eu não podia culpá-la, afinal sou apenas um moleque metido, eu sei bem quem eu sou afinal, mesmo assim disse a ela:

— Vá trabalhar amanhã, sua amiga está preocupada, tenho certeza que Stela também passa por dificuldades, já que ela traiu Ranpa, mesmo assim ela não deixou de fazer suas obrigações, não deixe que uma coisa assim a abale, tenha força, isso é tudo que eu posso dizer!

Me levantei com confiança, o mau que senti pela morte dos escravos ainda ficou, mas agora, ao menos sei o que tenho que fazer, primeiro tenho que salvar essa menina na minha frente, se eu conseguir fazer isso, então terei confiança em fazer algo pelos outros.

— Hellen! Obrigado, depois dessa conversa sinto força para seguir em frente! Então, eu espero que minha conversa tenha a motivado de alguma forma.

Abaixei minha cabeça e agradeci mais uma vez:

— Realmente estou agradecido e mais uma vez obrigado!

Hellen abriu um modesto sorriso e falou:

— Fico feliz em ter ajudado!

— Então… eu vou indo agora!

Me despedi de Hellen que respondeu com um sorriso, minha mente já está feita, por esse mesmo motivo segui para guilda de Harp.

Demorou alguns minutos até que eu finalmente chegasse a guilda de Harp, pedi uma reunião com Jhedar que ao saber que se tratava de mim, recebeu-me de imediato em sua sala.

Como sempre, sua sala era arrumada, igual a um escritório de negócios em meu mundo, não era difícil imaginar que Jhedar é uma pessoa polida.

O homem pantera de idade avançada, que possui marcas dos tempo em seu rosto perguntou:

— O que o trás aqui jovem lobo? É a primeira vez que veio me ver sem ser chamado!

Fui direto ao assunto:

— Ranpa está agindo! Ele mandou escravos atrás da minha vida!

Jhedar juntou suas mãos e fechou os olhos lamentando, após isso falou com amargura:

— Infelizmente sei disso!

Eu ia reclamar, mas ele se adiantou:

— O motivo de não ter informado para você antemão, foi para confirmar como ele agiria.

Não entendia a explicação de Jhedar, felizmente ele percebeu isso.

— Estava preocupado se ele agiria de forma direta ou indireta, como ele foi subjuntivo na forma de atacá-lo posso concluir que ele já sabe da situação atual de Harp.

Ainda sem entender eu pedi:

— E qual é a situação atual de Harp?

Jhedar, deu um suspiro igual ao que Hiekf faz quando não entendo suas explicações de primeira.

— Veja bem! Harp no momento abriga três aventureiros da liga adamantium e também minha filha que é da liga oriculum, ele não ousaria atacar sendo que tenho esse aventureiros a disposição.

Entendo! Existem apenas onze monstros¹ que ocupam a liga adamantium, mesmo com todo o dinheiro, não deve ser fácil contratar um aventureiro assim, até porque eles já devem ser muito ricos.

Eu me lembrei de algo e perguntei a Jhedar:

— Aquele Cyous, onde ele está?

— Cyous, Donovan e Sendor yami, estão na estalagem do escudo dourado, fica ao leste daqui. Se pretende ir lá tenha cuidado para não entrar na área restrita, só os bestiais do clã roedor podem adentrar ali sem prévio convite.

— Entendido! Me diga uma coisa! Existe alguma forma de retirar o selo escravo?

Jhedar arregalou os olhos e logo disse:

— Rapaz! Não fale disso tão levianamente! Retirar um selo escravo de forma ilegal implica em penas sérias segundo as leis da capital Bérius.

— Entendo! Mas existe ou não um jeito!

Jhedar suspirou desistindo e respondeu:

— Existe! Magos de alto nível podem usar uma magia chamada {Invalidar} essa é uma magia específica para cancelar contratos mágicos, claro, o selo escravo não é exceção.

— Entendo! Poderia me manter informado sobre os passos de Ranpa?

Jhedar balançou a cabeça positivamente:

— É o mínimo que posso fazer! E me desculpe por não informá-lo de antemão, mas para que eu possa agir é preciso confirmar a ação do inimigo!

— hun! A propósito, Ranpa usou oito escravos para tentar me matar, infelizmente eles foram parados por mim e morreram, pois, descumpriram a ordem de seu mestre, eles estão enterrados ao oeste próximo a uma bela cachoeira, se puder, gostaria que desse a eles um enterro decente, se possível gostaria de saber seus nomes.

Jhedar me deu um olhar afiado e pediu:

— Posso mandar uma equipe para lidar com isso, mas… me diga! Para que quer seus nomes?

Com um sorriso forçado respondi:

— Foram homens sem liberdade que morreram pelo egoísmo de seu mestre, quero saber quem eram para ao menos saber a quem devo responsabilidade por suas mortes!

Jhedar suavizou seu rosto e disse:

— Não foi sua culpa rapaz!

— Eu me pergunto isso! Como mestiço, não deveria eu, fazer alguma coisa para meus semelhantes? Acho que finalmente entendi o quanto fui egoísta — com um olhar sincero me despedi — Obrigado senhor Jhedar, se você encontrar Hiekf, diga que eu preciso conversar com ele.

Saio da guilda de aventureiros procurando a tal estalagem do escudo dourado, não foi complicado achá-la, ela era bem chamativa, para dizer a verdade, dava até vergonha.

Meio relutante, entrei nessa estalagem espalhafatosa, logo de cara encontrei os três aventureiros da liga adamantium da outra vez.

Cyous Leanon, um aventureiro que sempre anda com sua armadura metálica legal, ele tem uma aparência cativante, provavelmente se dá bem com as garotas “Esse maldito!”.

Sendor Yami, uma pessoa que exala um ar de excentricidade, veste-se como um bruxo com roupas negras e um chapéu pontudo.

Donovan, parceiro dos dois, ele não usa nenhuma armadura complexa, parece ser do tipo que valoriza sua velocidade e mobilidade, seus cabelos são bem atípicos, com uma coloração verde, suas roupas também são diferentes, parecem roupas de alguma tribo diferente ou coisa do tipo, não parecia ser uma pessoa afeiçoada a grandes cidades.

Os três estavam ali bebendo até a alma, suas conversas calorosas deram a impressão de que são amigos de longa data.

Sou meio atrapalhado com interações sociais, então me senti envergonhado de atrapalhar a conversa alheia, mas não era hora para isso.

— Hmm! Com licença…. senhor Cyous?

Os três pararam sua conversa e focaram os olhos em mim.

— Ora! Ora! Se não é o lobo negro! — comentou Donovan.

Cyous que me encarou com certa malícia falou:

— E então meu rapaz! Já perdeu a virgindade? Ahahahahahahahaha!

— MUAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!

Os três se divertiram com minha cara, não podia fazer nada além de ficar vermelho com a situação, segurei minha raiva e pedi:

— Será que posso conversar com você?

Cyous fez um rosto sério quando me olhou nos olhos.

— Sente-se rapaz!

Peguei uma cadeira e sentei-me junto aos três.

— Pode dizer o que tem para falar! Estes dois são como irmãos para mim, então não se abstenha — disse Cyous.

Engoli meu fôlego, sabia bem que um grande aventureiro da liga adamantium não teria tempo para um mero aventureiro da liga ouro, mesmo assim eu ousei:

— Sei que estou sendo ridículo, mas queria uma orientação sua! Estou em um grande aperto e não sei mais como evoluir sozinho, poderia me ajudar?

Donovan deu um sorriso fraco e tomou sua bebida, Sendor yami inesperadamente perguntou:

— Que aperto seria esse rapaz?

Não vejo o porque esconder deles, então falei com sinceridade:

— Estou enfrentando um grupo perigoso, acho que já sabem disso, não me importaria se fosse apenas eu, mas…. pessoas importantes estão nesse problema, embora sejam coisas diferentes, ainda estão relacionados…. para resumir, estou enfrento o próximo membro da Predatory, seu nome é Ranpa.

Donovan clicou a língua:

— Tsk! Rapaz, esse homem é perigoso, evite-o a todo o custo, não posso aprovar que vá contra ele, inimigos que detém poder político e econômico podem acabar com sua vida!

— Eu não tenho escolha! O alvo é minha amiga!

Donovan afastou os olhos e suspirou alto:

— Aaaah! Aquela história ridícula da garota que vale dois milhões de platiniuns!

Sorri com amargura quando ele disse isso.

Cyous cruzou os braços e falou:

— Bom! Eu não tenho escolha a não ser ajudá-lo!

Donovan gritou:

— EI! EI! CYOUS, SUA HABILIDADE DE SE METER SE ATIVOU NOVAMENTE!

Sendor deu uma risada:

— AHAHAHAHAHAHAHA! Desista Donovan! Cyous já fez aquele olhar decidido!

— Urgh!

Eles pareciam em perda com meu pedido, mas eu não podia deixar de ficar feliz, Cyous aceitou me dar umas dicas, com isso posso evoluir mais.

— OBRIGADO! — gritei eufórico.

Cyous falou:

— Mas…. eu não sou o tipo de pessoa que perde tempo, vou ensinar o básico e lhe dar dicas, não posso ser seu mestre ou algo do tipo!

— Eu entendo! Qualquer ajuda vai ser ótima, realmente obrigado!

Me lembrei repentinamente do que Jhedar me disse mais cedo, que existe uma magia que pode quebrar o selo escravo.

Olhei para o bruxo, Sendor Yami e perguntei baixo:

— Senhor Sendor! Você por um acaso pode usar a {invalidação}?

Sendor me olhou severamente:

— Sim! Eu posso! Porque?

Não podia deixá-lo pensar que queria um favor, magos são ambiciosos afinal, então eu perguntei:

— Quanto cobraria para quebrar um selo escravo?

Donovan e Cyous riram amargamente, embora não soubesse o motivo.

Sendor falou com uma voz severa:

— Quinhentas mil peças de ouro!

Como esperado, muito caro, pagar por isso me levaria a falência, mas não acho que teria outra oportunidade.

— Nesse caso! Quando pode atender meu pedido!

Sendor arregalou seus olhos e suspirou profundamente com a mão em seu rosto.

— É serio? Tão jovem e tem essa quantia? Ahahahahaha!

Donovan comentou:

— O tiro saiu pela culatra hein?

— Não subestime os jovens, Sendor! — falou Cyous.

Eu não entendi o motivo disso, mas Donovan explicou:

— Sendor não pretendia usar sua magia de {invalidação}, para que você desistisse, ele pediu um preço absurdo!

— Eh? Mas…. mas…. você não vai fazer?

Sendor riu com tristeza e explicou:

— Menino Ferus! Usar essa magia para apagar um selo escravo é um crime com a pena capital, isso em qualquer país, embora eu não tema isso, não posso dar um mal exemplo indo contra a lei, aposto que sua condição é justa e correta, mesmo assim devo obedecer a lei, sinto muito, mas não vou fazê-lo.

Donovan falou com admiração:

— Em pensar que pagaria essa quantia absurda sem nem hesitar! Sua amiga é bem importante para você!

Eu não sei se isso prova que alguém é importante, eu pagaria sem pensar duas vezes se fosse para salvar a Millin ou a Stela, não preciso mencionar Hiekf, acho que uma vida tem um peso maior que qualquer dinheiro.

Fiquei triste ao saber que não posso dar um jeito nisso, suspirei em minha mente pelo fracasso da minha ideia.

Cyous limpou a garganta e declarou:

— Me encontre amanhã na montanha de Lenor, ou melhor dizendo, no que restou da montanha de Lenor….

Eu desviei olhar quando tocaram no nome da montanha de Lenor, escutei de Hiekf que essa montanha era um patrimônio histórico de Lemur, e eu a botei abaixo.

Cyous então me fez uma pergunta complicada:

— Ferus! Sempre estive curioso com uma coisa! Em sua luta contra Jù yuán, você deu um súbito surto de força, até venceu a cópia “O forte”² sem dificuldades, quando nem sequer conseguia lhe dar com “o sábio”², o que diabos aconteceu ali? E o principal, quem é Fenrir?

Com meu coração acelerado, comecei a botar minha cabeça para funcionar, devo inventar uma desculpa logo.

— SEGREDO! — isso foi o máximo que minha capacidade intelectual formou como resposta.

Cyous, Donovan e Sendor, perfuraram meu corpo com seus olhares severos.

 

Nota1 – No caso, a palavra “monstro” se refere ao sentido figurativo e não literal da palavra.

Nota2 – Jù yuán possui a habilidade de criar cópias residuais dele mesmo, essas três cópias tem os nomes de “O sábio” “O forte” e “O destemido”.



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