Fenrir Brasileira

Autor(a): Marcus Antônio S. S. Gomes

Revisão: Heaven e Bczeulli


Volume 2

Capítulo 21: A cidade de Harp

— Hun! Essa estátua com um camundongo tocando uma harpa, por que isso na entrada Hiekf?

— Ah! … Isso é por que o clã roedor é conhecido por seu talento musical, a história de Lemur diz que o leão branco, Bérius, teve como um de seus companheiros um bardo que tinha o poder de encorajar as tropas com sua música “mágica”, por sinal ele era um roedor e nasceu nessa cidade.

— Hiekf! Você é uma espécie de professor? eu não consigo imaginar alguma coisa que você não conheça!

— Ahaha! Fico lisonjeado menino, mas eu só sei aquilo que li e estudei.

Eu penso em Hiekf como uma biblioteca ambulante, até o momento apenas coisas como habilidades recém descobertas por mim foram os tópicos que ele não teve resposta.

Eu encaro novamente os portões da cidade de Harp, eles são fabulosos, essa é apenas a segunda cidade que visito, entretanto não imagino nada melhor no momento, o vilarejo de Hiekf é muito arcaico comparando com esse lugar.

Nem entramos pelos portões e já achei impressionante, para começar, a movimentação de pessoas foi muito acima da média, típico de uma cidade grande.

Me lembro de algo e pergunto a Hiekf:

— Ei Hiekf! Harp não é uma cidade restrita? Estou vendo muitos membros de inúmeros clãs aqui?

— Hum! Sobre isso jovem, apenas parte da cidade é proibida aos demais bestiais que não são roedores, o restante é aberto ao público geral, isso é consequência de Harp ser um polo comercial poderoso, como é parada obrigatória para as caravanas de comerciantes, algumas exceções são feitas.

— Entendo! Me diga logo onde não devo ir, como sou um idiota declarado, não quero fazer merda, sabe!

— Basta não ir para a parte sul da cidade, o restante é liberado.

— Ok, agora me espere aqui enquanto vou compra o tal item de ocultação para proteger seu status.

Hiekf acenou para mim positivamente com a cabeça.

— Ferus! Eu já falei para você como os mestiços são tratados aqui! por favor não cause confusão por causa de seu pavio curto, tudo bem!

— Pode deixar! Eu prometo a você.

Empolgado, eu adentrei a tão falada cidade de Harp, para começar ela seus muros são feitos de rochas brancas, o que dava uma aparência pura vista de longe, as casas também são feitas de alvenaria e madeira, construções modernas se levarmos em conta os recursos desse mundo.

As ruas bem pavimentadas, tem um sistema simples de catalisação de águas pluviais, mesmo assim há um.

Apesar do alto tráfego de pessoas e carroças a cidade é limpa, reparei que existe aqui funcionários responsáveis pela limpeza urbana, quem quer que seja o responsável pela organização dessa cidade, está fazendo um excelente trabalho.

Depois de andar alguns minutos cheguei na praça central na qual Hiekf havia me falado, como ele me descreveu era realmente abarrotado de pessoas, quase não se podia andar sem esbarrar em algum bestial.

Eu me espremi entre as pessoas ali e passei com dificuldades até o outro lado da praça, foi muito desconfortável, esqueci o sentimento de estar com tantas pessoas assim, tanto que me senti tonto.

Ofegante eu finalmente cheguei em meu objetivo, uma barraca chamada “cabeça de javali” um nome horrível, mas Hiekf disse que o dono dessa barraca seria o único que venderia algo para mim.

Olhei de um lado para outro e notei que muitos bestiais me observavam, alguns tinham expressões enojadas para minha pessoa, outros mostraram as presas e cuspiram no chão.

Eu falo sozinho:

— Eeeeh! Parece que ser um mestiço é uma bosta mesmo!

Escuto então uma reclamação:

— Oinc! O que faz na frente da minha barraca, mestiço? Oinc! Vai espantar os fregueses! Oinc!

Quando eu me virei eu vi um bestial com cabeça de javali, uma experiência muito ruim depois de matar um monstro parecido com ele, talvez Hiekf tenha senso de humor!

Com a mão por trás da cabeça eu tento um diálogo:

— Eeeeh? Bem! eu quero comprar de você um equipamento especial que oculta o status.

— Hunf! Pare de brincadeiras mestiço! Oinc! … Alguém da sua laia não tem esse dinheiro! Oinc!

Eu levantei meu punho fechado, mas lembrei de prometer a Hiekf de não causar confusão, respirei fundo e disse com um sorriso:

— Apesar de minha condição racial, garanta ao senhor PORCO que tenho o dinheiro necessário!

— Maldito! Quem você está chamando de porco? Oinc! Não vê que sou um javali?

Com um sorriso cínico me desculpei:

— Eu sinto muito senhor Javali, mas voltando aos negócios aqui está o dinheiro.

Eu pego um saco de moedas que tirei com antecedência de meu espaço dimensional e balanço na frente do bestial javali.

Ele arregalou os olhos para o saco que tive um tamanho modesto, mas cruzou os braços e falou:

— Não é o suficiente mestiço! Eu não conferir o conteúdo, mas pela proporção sei que não tem ai setenta moedas de ouro.

— Hou! Então o preço é de setenta moedas?

O javali torceu o rosto para mim, ele viu que falou demais, mesmo assim ele declara:

— Hunf! que seja! Traga setenta moedas e o item é seu, afinal já dei o preço! Oinc!

Eu respondo sorrindo:

— Ahahaha! Não volte atrás com sua palavra hein! Agora sei por que Hiekf lhe indicou!

— Hunf! não me subestime! Oinc! Tenho meu orgulho de vendedor!

— Volto em cinco minutos com suas setenta moedas.

Felizmente os negócios foram feitos sem nenhum problema, tudo correu como planejado, o item de ocultação de status veio em forma de pulseira, havia também a opção de anéis e colares, mas os anéis não serviriam em Hiekf e os colares eram femininos, honestamente pensei em comprar o colar só para zoar, porém Hiekf com certeza me retribuiria com um golpe na cabeça.

Voltei até a entrada da cidade, encontrei Hiekf que me esperava impaciente e afoito, ao me ver ele colocou a mão no peito e suspirou aliviado.

Ele exprimiu:

— Graças a deus a cidade não veio abaixo!

Uma veia azul saltou em minha testa:

“Eu sabia! Devia ter comprado um colar de mulherzinha para essa hiena filha da put…”

Eu entreguei joguando a pulseira de ocultação para Hiekf, que em seguida a equipou.

— Hm! Excelente! Obrigado Ferus.

— Tsk! De nada!

— Por que está bravo?

Eu me virei e entrei na cidade ignorando Hiekf, que me acompanhou.

— E então o que devemos fazer primeiro? Vamos logo nos registrar como aventureiros?

— Isso seria formidável Ferus! Mas já está ficando tarde e se não encontrarmos uma estalagem dormiremos na rua!

Eu dei os ombros e respondi:

— Eu não me importo! Dormi grande parte dos meus dias nas florestas, não vejo problemas em acampar!

Hiekf deu um sorriso seco com meu comentário e me explicou:

— Olhe menino! Nessa altura do campeonato, não devemos nos preocupar só com a sobrevivência, quando torna-se um aventureiro algo mais superficial é necessário…

— Superficial? …. E que porcaria seria essa coisa superficial que devo me preocupar?

Hiekf deu um agradável sorriso e respondeu:

— Sua imagem!

— Hããããã?

— Ahahahahahahahaha! Eu suspeitava que agiria assim! …. (Tosse)! Preste atenção Ferus! Para aqueles que vão se destacar como aventureiros, uma boa imagem é fundamental, ela vai fazer seu futuro brilhante.

Eu inclinei minha cabeça em dúvidas, não entendi o objetivo de Hiekf, então perguntei:

— Hiekf! Por que acha que quero ser um aventureiro? Por que acha que eu vou me destacar? E por que diabos tenho que ter uma boa imagem?

Hiekf que sentiu minha hostilidade para ele fechou os olhos por um momento, mesmo assim não tirou o sorriso de sua face, ele respondeu com um olhar suave e com gentileza em sua voz:

— Um tempo atrás, você me disse que deveria “cumprir seu objetivo” eu não sei nada sobre esse objetivo e prometi não perguntar nada à você, mas vou dar o meu melhor para fazê-lo trilhar o caminho correto, existem muitas formas de se alcançar alguma coisa, mesmo que o objetivo não seja nobre.

As palavras de Hiekf de alguma forma me comoveram, eu sempre o trato de forma áspera, contudo ele pensou tão longe pelo meu bem… eu sou um egoísta…

Hiekf pegou em meu ombro e continuou:

— Escute Ferus! Eu não quero que trilhe o caminho errado, você é melhor que isso, se você pode ser alguém com o poder de influenciar esse mundo, porque não se torna um herói que todos sentirão orgulho? Eu realmente acredito que você seja capaz disso!

Eu encarei Hiekf nos olhos e ele me olhou sério, em nenhum momento brincou com as palavras que acabou de me dizer.

— Hunf! francamente Hiekf! Acha que eu tenho um perfil de um herói?

Hiekf respondeu dando os braços:

— Não! Você definitivamente é um vilão delinquente de merda!

Eu caio de cara no chão com a sinceridade dolorosa de Hiekf.

— Guh! Nã… Não é pra tanto né?

Hiekf acariciou minha cabeça e falou sorrindo:

— Mas qualquer um pode mudar se der o seu melhor! Por isso dê o seu melhor Ferus! Mostre que pode ser um aventureiro de primeira linha, seja um exemplo!

Com um sorriso eu respondi:

— OK!

Hiekf apontou para frente e falou confiante:

— Bom! Primeiro achar a estalagem, depois o registro de aventureiro.

— Ahahahaha!

E assim partimos em busca do alojamento, só não sabíamos que essa seria uma aventura maior que o registro para aventureiro.

“Não há vagas”, “Não há vagas”, “Não há vagas”, “Não há vagas”, “Não há vagas” “Não há vagas”.

Com as mãos na cabeça eu bravejei:

— MAS QUE BOSTA! UMA CIDADE DESTE TAMANHO E NÃO TEM UMA PORRA DE ESTALAGEM COM UMA MERDA DE QUARTO!

Hiekf tenta me acalmar!

— Eh! Acalme-se jovem…

— UM PORRA QUE VOU ME ACALMAR! LEMUR INTEIRA VEIO PASSAR FÉRIAS AQUI? ESTOU ANDANDO A QUATRO HORAS E NADA!

Hiekf suspirou cansado e se sentou, um homem do clã dos roedores passou pela rua e eu o abordei perguntado:

— Ei você! Me diga por que não há vagas em nenhum lugar?

O roedor pareceu assustado demais para responder, então eu me acalmei e refiz minha pergunta:

— Desculpe-me pela forma que agi, mas poderia me informar o motivo pelo qual meu amigo e eu não conseguimos nenhuma vaga em estalagem nenhuma?

O bestial camundongo agora calmo respondeu:

— Ah… Ah! Isso é por que um monstro atacou as rotas de caravanas comercias a um tempo atrás, os comerciantes ficaram estagnados nas cidades, pois o monstro ficou no caminho das rotas, quando finalmente a criatura foi detida e os comerciantes retomaram suas viagens, aconteceu isso, pois eles retomaram suas viagens todos de uma só vez, após a morte da criatura.

Eu coloquei a mão no queixo e comentei com o roedor:

— Nossa! Deve ter sido uma criatura terrível essa?

— Si…. Sim! Dizem que um desconhecido deu cabo dela!

— Hou! Existem muitas pessoas incríveis nesse mundo não é?

— Sim de fato!

— Bem! obrigado, senhor roedor!

— Por nada!

Eu me dirijo a Hiekf e digo:

— Escutou essa Hiekf? Existiu uma criatura terrível que interferiu no comercio de Lemur e alguém matou ela, deve ser uma pessoa bem forte né?

Hiekf me encarou com um olhar de pena, aquilo me incomodou um bocado.

— O… O que foi?

— Nada!

Hiekf se levantou e foi continuar a procura por vagas em estalagens.

Eu fiquei calado, acho que Hiekf deve estar de mal humor por ter andado demais.

Depois de muita procura, encontramos um local na periferia, o motivo de haver vagas ali foi bem simples, nem mesmo as baratas queriam viver lá, sinceramente preferia dormir na floresta, mas Hiekf me veio com aquela estorinha de imagem, então aceitei para não escutar abobrinhas.

Cada um dormiu em um “quarto” diferente, mas onde fomos acomodados não podia ser nomeado como quarto, um título de catacumba ou alçapão cairia melhor, o mofo e a umidade junto a um cheiro horrível dava esse lugar um toque de pior lugar do mundo ou último local no qual queria estar.

O pior de tudo era escutar o movimento de insetos e parasitas rastejando por todos os lados, mesmo na floresta os ruídos não eram tão constantes.

— Tsk! Amanhã eu caio fora daqui desse mausoléu!

Não consegui dormi direito e na manhã seguinte me levantei e esperei por Hiekf, ele levantou com uma aparência pior que a minha, suas olheiras estavam ainda mais fundas.

O dono da suposta estalagem veio até Hiekf e perguntou a ele:

— Dormiu bem senhor?

Hiekf fez um sorriso e respondeu:

— Se ousar me fazer uma pergunta cínica assim novamente voará comum soco!

— Guh! ….

Rapidamente o roedor dono da pousada se distanciou de Hiekf que estava com um péssimo humor pela noite de sono ruim.

Sem falarmos muito deixamos aquela pousada do inferno a busca de uma decente.

Infelizmente não tivemos êxito novamente, com fome eu reclamei:

— Ei Hiekf! Eu quero comer alguma coisa! Não ponho nada na barriga desde ontem!

— Aaah! Vamos parar no primeiro restaurante que aparecer!

Andamos por alguns minutos até a praça central, o mesmo local onde comprei o bracelete de ocultação de Hiekf, dessa vez não foi tão cheia quanto ontem, ainda sim o movimento de pessoas era pleno.

— Hun! Ontem havia mais pessoas!

— Oh! Isso é porque que ontem foi um dia de feira, hoje é considerado um dia comum.

Entendo! Parecido com meu antigo mundo, os finais de semana eram propícios a terem feiras.

Para minha alegria avistei um restaurante com bom ambiente próximo.

— Ei Hiekf! Aquele ali parece bom!

Hiekf avalia o restaurante e dá sua opinião:

— De fato jovem! O ambiente é acolhedor, vamos nesse!

— Apoiado!

— Já decidiu o que vai comer Ferus?

— Carne!

— He! E eu ainda pergunto!

Hiekf e eu paramos na frente do prédio o nome do estabelecimento é “A toca da coelha” adentramos lá sem perder tempo e para nossa surpresa o ambiente foi muito bom.

— Uau! Requintado hein!

— De fato! Mas está surpreendentemente vazio, essa não seria a hora de pico para esse tipo de estabelecimento?

— Isso não importa Hiekf! Estou morrendo de Fome aqui!

Hiekf sorriu amargamente e falou:

— Tudo bem! vamos aguardar o atendente.

Nos sentamos em uma mesa redonda vermelha, cada detalhe pareceu estar em ordem, uma pessoa apareceu e Hiekf a chamou.

— Com licença! Queremos fazer um pedido!

Uma fêmea bestial do clã dos coelhos cinzentos sorriu e se aproximou nós correndo.

Eu fiquei hipnotizado pela tamanha beleza que ela tinha, um longo cabelo cinzento e olhos amendoados e negros.

Por um reflexo eu perguntei assustado:

— Todos as pessoas de seu clã são tão lindas quanto você?

A moça que é bem mais velha que eu, recuou um passo corada e falou com uma risadinha:

— Fufufufufu! Sinto muito! Eu sou comprometida!

Eu corei na hora ao perceber a besteira que fiz, realmente minha pergunta soou como uma cantada barata.

Eu tentei me justificar:

— Nã… Não é isso! É que eu me surpreendi com o quanto você é bonita e….

— KYA!… Eu já disse que sou comprometida! Fufufufufu

Meu rosto ficou mais vermelho que um tomate, Hiekf apenas me observou rindo da situação.

Eu me calei para não piorar as coisas, mas a moça falou:

— Ah! Se eu fosse dez anos mais jovem! …

Hiekf que não aguentou mais a cena desabou em risos:

— MUAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! Senhorita por favor pare! O jovem não tem experiência com sexo oposto, então não o provoque tanto OK!

A coelha colocou a mão sobre a boca e riu divertidamente.

Então ela só estava me provocando!

A coelha fez uma reverência respeitosa a Hiekf e falou:

— A quanto tempo senhor Hiekf Gnoll!

Eu levantei e gritei na hora!

— ENTÃO VOCÊ SE CONHECIAM?

— Calma! Calma! Jovem Ferus, foi só uma coincidência! De fato eu conheço a senhorita Stela a tempos, mas eu não esperava encontrá-la aqui!

Eu a encarei e disse:

— Hunf! Então seu nome é Stela não é? Qual foi a graça de brincar com meu coração frágil?

— Ora! Ora! Quando vejo um jovenzinho inocente e bonito me faz querer provocá-lo, isso é só meu instinto feminino eu acho?

Eu me assustei com ela.

— Se…. Seu instinto feminino… deve ter feito muitos homens chorarem!

A coelha de cabelos cinzentos exibiu um belo sorriso que fez todos os pelos do meu corpo arrepiarem de pavor, meu instinto de sobrevivência gritou que ela é perigosa de um jeito diferente, eu me afastei e me escondi atrás de Hiekf.

Impressionado Hiekf comentou:

— Hou! Estou surpreso rapaz! Parece que você tem um dom de reconhecer as mulheres podres!

Uma bandeja atingiu a cabeça de Hiekf que caiu na mesa sem consciência.

A senhorita Stela me perguntou com um sorriso encantador, mas para mim foi algo intimidante e medonho:

— E então jovem cliente! Qual o seu desejo?

Eu engoli seco e respondi:

— Eu… Eu aceitarei suas sugestões!

Algum tempo depois Hiekf acordou do seu sono induzido e uma refeição nos foi servida, para minha surpresa foi uma comida deliciosa, ainda que não tivesse muita carne.

Curioso eu perguntei a Stela:

— Você é a única que trabalha aqui?

— Não! Eu geralmente trabalho apenas na cozinha, minhas duas funcionárias pegaram uma folga hoje, já que o movimento está fraco.

Hiekf pergunta:

— Ei Stela! Por que diabos há tão pouco movimento em um estabelecimento elaborado assim? O ponto também é excelente! Pelo menos é o que acho!

Eu entro na conversa:

— Concordo! Não vi ainda nessa cidade um restaurante tão requintado!

A coelha cinzenta deu um longo suspiro e fez uma carranca, ela então começa seu lamurio com o rosto insatisfeito:

— Tsk! Isso é por que temos um pequeno problema com alguns baderneiros que moram no andar de cima.

— Hã?

— Eh?

A coelha continua enquanto massageava sua testa com os dois dedos:

— Sim! São cinco malditos bestiais do clã dos lobos cinzentos, eles são aventureiros de nome, como o prédio era alugado a eles antes de comprá-lo, eles têm direito de moradia, infelizmente não posso despeja-los… o problema é que eles se embebedam e arrumam confusões com os clientes e ainda por cima assediam minhas funcionárias.

Stela olha para longe com um olhar farto e comenta:

— Já perdi a conta de quantas funcionárias pediram demissão, desse jeito terei que fechar por conta desses inúteis, Fufufufufu! Será que devo envenena-los?

Hiekf sorriu amargamente com a última parte sinistra que Stela deixou sair sorrindo.

Uma ideia me ocorreu e perguntei:

— Você não pode forçá-los a deixar o local?

Stela deu um sorriso conformado:

— Não poderia fazer isso, como vê sou só uma coelha!

Eu sorrio alegremente e pergunto levantando a mão:

— Se eu enxotá-los daqui, posso alugar o quarto deles?

Hiekf que estava bebendo algo cuspiu tudo.

— Cof! Cof! Ei Ferus! Já quer aprontar no seu primeiro dia na cidade?

— Tsk! Ou isso, ou o mausoléu das baratas! Qual você prefere?

Hiekf coçou a cabeça por um momento, ele parece ter se lembrado da noite terrível e bufou:

— Hunf! Se… Seja rápido!

Eu me virei para Stela e perguntei sorrindo enquanto batia os punhos:

— Onde eles estão?

Stela deu um passo para trás e fez um rosto preocupado, ela encarou Hiekf e Expressou:

— Ei Hiekf! Mandar o garoto Fazer algo assim! Por que você não vai?

Hiekf levantou a mão e respondeu:

— O rapaz é absurdamente forte! Eu só vou ficar no caminho, pode confiar eu sei dos talentos do menino.

A coelha amaciou um pouco a expressão, isso mostra o como ela confia na opinião de Hiekf.

Mudando totalmente a conduta anterior ela se aproxima com os punhos cerrados e me pede:

— Ne… Nesse caso, algum problema se você quebrar uns braços ou pernas?

Eu respondo inclinando a cabeça:

— Não!

No entanto Hiekf agarrou repentinamente a senhorita Stela pelas orelhas e as esticou, Stela ficou sem nenhuma ação, foi medonho.

Hiekf exprime:

— Escute aqui coelha! Estou dando o meu melhor para colocar o jovem lobo no caminho correto, não vou permitir que más influencias o tirem do caminho certo, FUI CLARO?

Com o rosto cheio de desespero Stela gritou:

— TUDO BEM! TUDO BEM! AGORA SOLTE-AS POR FAVOR, VOCÊ VAI ARRANCÁ-LAS!

Medonho! Hiekf é medonho com raiva, eu nunca mais vou provocá-lo na minha vida, a voz dele até distorceu no final, pareceu um filme de terror!

Os pelos do meu corpo arrepiaram com a visão de Hiekf maltratando Stela, eu engoli seco ao lembrar que o provoquei diversas vezes ao longo da nossa viagem.

Largou as orelhas de Stela, ela caiu de joelhos no chão com lágrimas, o gnoll sorriu e me avisou:

— Nada de ossos quebrados ok!

— Si… Sim! Vou tentar!

Uma gota de suor escorreu em minha testa.

Stela me levou até as escadas que levavam ao andar de cima.

— Aqui jovem! Hun! Qual é o seu nome mesmo?

— A sim! Esqueci de me apresentar!

Eu baixei minha cabeça e falei:

— Eu sou Ferus, um bestial lobo mestiço!

Stela sorriu e comentou:

— Fufufufu! Você é surpreendentemente educado ao se apresentar, deve ser a influência de Hiekf!

Eu sorri com ironia.

— Ahaha! Não vou negar isso!

— (Tosse)! Bom! Voltando ao assunto garoto! Os indesejados inquilinos residem subindo essas escadas, pelo o horário, devem estar dormindo!

— Hã? Dormindo? Já passam das duas!

Stela deu os ombros e suspirou:

— Vagabundos são assim não é?

— Affs! Vou dar um jeito nisso.

Eu subo as escadas e sinto um cheiro horrível de suor e álcool, ao chegar a acomodação vi uma bagunça dos infernos, lixo para todos os lados, foi difícil acreditar que o ambiente de baixo estava ligado com esse aqui.

Deve ser duro para a senhorita Stela afastar esse cheiro horrível dos clientes, parece que entrei na jaula de um zoológico.

Com o tempo meus olhos se acostumam com a escuridão e finalmente vejo os cinco vagabundos dormindo sobre beliches, um deles dormia no chão e outro em uma poltrona suja.

A cena não era diferente do que veria debaixo de uma ponte nas favelas do meu antigo mundo, só faltou um tambor em chamas.

Aquilo me deixou muito puto, o local é amplo e excelente, mas esses caras preferem viver na porcaria e na sujeira, nem os bichos da floresta aguentariam tanto fedor.

Eu enchi meus pulmões de ar e gritei a com toda a força:

— ACORDEM! ACORDEM BANDO DE VAGABUNDOS!

Os babacas saltaram de onde dormiam, um deles quase atinge o teto.

Foi hilário! Quase caio na risada.

O maior deles, um bestial lobo cinzento corpulento e com uma grande pança reclama:

— MAS… MAS QUE DIABOS! QUEM É VOCÊ CÃO MALDITO.

Ao escutar a palavra “cão” meu humor foi completamente arruinado.

— Cão? Eu sou um lobo seu balofo maldito!

Os cinco bastardos começaram a me observar de cima abaixo.

— Tsk! É a merda de um mestiço!

Um deles veio até mim e agarrou meu cabelo dizendo:

— Escute aqui “imundo” por ter ousado acordar lobos de verdade como nós, vamos ensinar a você uma pequena lição!

Eu vi os malditos se armarem com porretes, garrafas e um dos imbecis até pegou um sapato velho.

O sorriso de raiva e rancor foi a única coisa que meu rosto conseguiu formar.

— Me desculpe Hiekf! Mas é impossível não quebrar alguns ossos aqui!

Embaixo:

— Hiekf! O menino vai ficar bem?

— Sim ele vai ficar!

Stela começa a beber seu café junto a Hiekf quando der repente se assustou com os gritos:

—CRASH! CRAZ! POW! SOC! SLAH!

— SOCORRO! PARE ESSE MOLEQUE É LOUCO!

— MEU BRAÇO! NÃO SINTO MEU BRAÇO!

— QUE DIABOS SÃO ESSAS CORRENTES!

— UM DEMÔNIO! VOCÊ É UM DEMÔNIO!

— IAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Stela se levantou apavorada com os gritos e olha para Hiekf, o gnoll no entanto só saboreia o café como se não fosse nada.

Hiekf suspirou e disse coçando a cabeça:

— Droga! Eles devem ter pisado no calo do garoto! Algo como chama-lo de “cão” ou coisa do tipo! Tsk! Eu disse para ele pegar leve droga!

Stela sentiu a loja tremer com os impactos lá de cima, repentinamente os cinco lobos cinzentos caíram rolando as escadas cheios de hematomas.

Eles saíram desesperados pela porta da frente, um deles foi se arrastando.

Hiekf os chamou.

— Ei você!

Os cinco param com os rostos tensos e com medo um deles fala:

— Já estamos indo embora! Nun… nunca mais vamos voltar… então mande o lobo demônio embora! Por favor!

Hiekf força um sorriso, ele pega de sua bolsa cinco moedas de ouro e dá para um deles.

Hiekf declara:

— Isso vai cobrir as despesas com a morada de vocês por alguns meses, então se esforcem até lá.

Comovidos os bestiais lobos cinzentos deixam o local.

Stela encarou Hiekf com um rosto fechado e murmurou:

— Tsk! Mole como sempre hein!

Hiekf coçou a cabeça e apenas riu com a reprovação de Stela.

Voltando ao andar de cima:

— Tsk! Esses filhos da puta!

Eu dei uma olhada melhor no local e vejo que apesar da bagunça, se fizermos uma boa limpeza, daria uma ótima morada, para começo o espaço é muito amplo, podemos até reconfigurar dividindo-o em cômodos.

Tem até uma lareira aqui, só de pensar como esses malditos fizeram tão mau uso desse lugar me faz querer surra-los novamente.

O cheiro do lugar está insuportável, eu sei bem que bestiais são em parte animais, mas isso não significa que temos que viver como a parte animal.

Sem suportar mais coloquei os dedos para tapar o nariz e desci as escadas.

Hiekf estava me esperando lá junto com a coelha cinzenta.

O gnoll suspira e me fala:

— Ferus! Eu não falei para pegar leve!

— ……

Hiekf deu um olhar farto e mudou o assunto:

— Como está o estado da acomodação?

Com uma expressão farta respondo:

— Affs! O lugar está um lixo! O cheiro é insuportável, acho que até o mausoléu que dormimos na noite anterior está em melhor estado, contudo os pontos positivos são que o espaço é bom e depois de uma limpeza minuciosa o lugar pode ser remodelado a nosso gosto, já que é bem grande.

Hiekf perguntou a Stela:

— De quanto é o aluguel coelha?

Stela pensou por um tempo e respondeu:

— Cobrarei um ouro mensal, mas isso vai incluir as refeições e os banhos, o que acha?

— Se incluir também a lavanderia fechamos o acordo!

Hiekf e Stela apertam as mãos naquele momento.

O problema veio depois, a limpeza que tivemos que fazer no local foi muito trabalhosa, praticamente nada ali dava para ser aproveitado.

Stela felizmente se propôs a ajudar, ela até nos emprestou o material de limpeza de seu restaurante.



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