Fenrir Brasileira

Autor(a): Marcus Antônio S. S. Gomes

Revisão: Bczeulli e Heaven


Volume 1

Capítulo 3: A insuperável masmorra divina de Ferus

Uma frase que meu irmão falou a algumas horas atrás havia sido cravada em minha mente, mas não sabia que sua consistência era tão forte ao ponto de quebrantar toda a esperança de nossas almas: “expectativa e realidade são coisas diferentes”.

Abaixo de um túnel contemplávamos os monstros da masmorra, eu havia entendido o motivo dela nunca ter sido conquistada, foi bem simples, era impossível.

Um enxame de monstros circulava pela masmorra, o menor deles tinha uns três metros de comprimento, eu perdi toda esperança de um combate.

Meu irmão deu uma risada seca com o olhar vazio:

— Ahahahahaha! “Epic level” no nível zero? Impossível!

Eu não precisava ser um gênio para saber daquilo que meus olhos mostraram, esse era apenas o primeiro andar, e monstros desse nível estavam à nossa espera, foi por esse motivo que construíram uma porta tão forte na entrada, se uma besta destas escapa para cidade, um massacre aconteceria.

Meu irmão e eu tínhamos cogitado a possibilidade de ficarmos mais forte para nos vingarmos daqueles que mataram nossos pais, só que nossos sonhos foram destruídos em poucos minutos.

— Não vamos desistir ainda, tem uma outra saída.

— Outra saída? Eu não consigo enxergar nada além de digestão por entranhas de monstros!

— Não! Ouça Willian! Aquele maldito disse que seus companheiros usariam o olho do senhor para conquistar a masmorra não foi?

— … Sim é…. é verdade, o babaca falou sobre usar aquela máquina do mal para conquistar os segredos dessa masmorra ou coisa parecida.

— Teremos que sobreviver até lá, se racionarmos a comida que o guarda nos deu podemos ter uma chance.

E assim nos escondemos como ratos, esgueirando-se pelos buracos evitando contatos com os monstros, descobrimos que periodicamente monstros iam para entrada verificar se existiam intrusos.

Então o constante movimento foi necessário, isso esvaiu toda nossa força e energia, no terceiro dia a fome e o desespero já estavam tomando conta de nossos corações.

Mas os portões da masmorra finalmente se abriram.

Fraco, meu irmão comentou:

— Veja Willian… Nossa liberdade está próxima…

— Sim irmão! falta pouco agora.

Uma grande tropa adentrou os portões da masmorra e sobre um trono suspenso por servos, ele estava lá, o bispo Sillas.

Trajando suas vestes brancas com símbolos do deus do sol, Sillas comanda as tropas.

Meu irmão sentiu uma raiva tão absurda do velho que seu vigor retornou de forma misteriosa.

O bispo Sillas se levantou de seu trono suspenso e desceu até a frente de sua tropa, como sempre seus dois lacaios, Harbor e Erumir o acompanhavam.

Sillas abre seus braços em frente a sua tropa e discursa:

— Irmãos! Hoje é o tempo que a mudança chegará a todos, o tempo onde todas as nações irão aceitar a supremacia de nosso poderoso deus Isoltis, que está acima dos outros…

Gritos de louvor foram feitos por suas tropas em um ritmo ensurdecedor, mas apenas levantando uma das mãos o silêncio retornou.

— Então meus caros fiéis, hoje faremos história, por meio da sabedoria divina de nosso senhor Isoltis, finalmente completamos o olho do senhor…

Um barulho infernal foi produzido pela máquina maldita que passou a entrada flutuando sozinha, sua aparência espalhafatosa dava e essa coisa que eu e meu irmão conhecíamos bem um aspecto realmente divino.

Para começar a máquina estava levitando, nada a puxava, ela parecia entender de alguma forma as ordens de Sillas.

Sillas orgulhoso de si mesmo continua:

— Contemplem o olho do senhor! A ferramenta divina concedida apenas ao povo escolhido pelo maior dos deuses…

Meu irmão rangeu os dentes, eu podia entender seus sentimentos, a custas de nossos compatriotas essa arma foi egoistamente construída.

Sillas fez seu sorriso demente e declarou:

— Agora testemunhem o poder daquele que recebeu a permissão divina do senhor do sol para usar seu poder…

A máquina chamada de olho do senhor subiu aos céus a uma altura bem considerável, ela abriu um compartimento inferior revelando um grande cano e a estranha máquina começou a concentrar a mesma energia que roubou de nossos compatriotas.

A concentração de energia foi tanta que o tempo se fechou, a máquina estava apontando para o fundo da masmorra, fazia sentido já que era uma masmorra subterrânea.

Meu irmão suou frio e falou para mim:

— Willian Vamos sair daqui agora!

— Certo.

Sem perder sequer um segundo saímos dali com toda nossa velocidade.

A estranha máquina focou sua energia em um único ponto e disparou de seu canhão.

— BEAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAN!

O poderoso disparo fez os arredores tremerem, ao colidir com a masmorra, o disparo que tinha a intensidade de um gigantesco raio, perfurou facilmente o chão, a explosão fez tudo, voar pelos ares.

Mesmo Sillas não esperava tamanho poder.

Meu irmão e eu fomos jogados longe, aproveitamos a fumaça e os escombros para nos esgueirarmos.

A tropa de Sillas também foi jogada longe, em meio a baderna Sillas que não foi poupado do impacto se levanta, ao ver a destruição que sua arma deixou na superfície da masmorra, Sillas ergueu os braços e riu como um psicopata.

— AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! COM ISSO… COM ISSO! O MUNDO SERÁ PURIFICADO, NINGUÉM VAI SE OPOR AO PODER DO SOL NUNCA MAIS!!!!! AHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHA!

Os soldados de Sillas se assustaram com a visão distorcida que seu bispo mostrou, frenético com sua gargalhada maligna que ecoa por toda entrada da masmorra.

Meu irmão observava Sillas segurando sua espada, eu adivinhei seu pensamento, ninguém estava perto dele naquele momento, era perfeito, mas seria trocar uma vida por outra, mesmo que Sillas morresse a vida de meu irmão seria tomada em seguida por um de seus guardas.

Eu me coloco na frente para detê-lo, de repente da grande cratera deixada na masmorra pela máquina de Sillas um urro bestial abalou toda a estrutura do local, mesmo uma montanha se curvaria diante daquele rugido demoníaco.

Sillas calou sua risada e sua face torceu com pavor.

— O… O que é isso?

Do grande fosso feito pela máquina uma intensa luz azul índigo começou a se formar, a luz foi tão forte que se tornou impossível olhar para ela.

Sem ninguém esperar surgiu do fosso um feixe de energia azul índigo pelo menos dez vezes maior e mais poderoso que o gerado pela máquina, o poder atingiu em cheio a máquina que ainda estava no céu reduzindo-a a nada.

Todos que estavam no local foram jogados longe, muitos perderam a vida no processo, por sorte eu e meu irmão estávamos em um local seguro.

Depois que a poeira baixou, havia fogo e corpos por todos os lados.

Sillas ajoelhado no chão, parecia não acreditar no que aconteceu, ele estava ferido pela explosão e lamentou em prantos:

— Não! …. Não pode ser! …. Meu sonho de exterminar os inferiores! Como isso? ….

— Você não disse que acreditava em carma?

Meu irmão aparece na frente de Sillas, eu tirei meus olhos dele por um breve momento na explosão e ele aproveitou-se para esquivar-se de mim e chegar a Sillas, eu não podia fazer mais nada, contudo nenhum dos seguidores de Sillas estava próximo a ele.

Sillas ficou com rosto azul ao notar meu irmão e tentou executar um cântico mágico, mas antes que te tivesse a chance Natã enfia a mão com força na boca de Sillas e puxa sua língua com um sorriso distorcido no rosto.

— Sabe, eu percebi que se vocês não executarem seus cânticos de merda, não podem usar sua magia nojenta não é?

— Uhm! Uhm!

Sillas tentou falar desesperado, mas meu irmão usa a espada que lhe foi dada pelo guarda e arranca a língua de Sillas, o sangue então jorra da boca do velho.

— UUUUUUUUUUUUUH!

Sillas urrou com dor, mas Natã apenas tinha começado, ele agarrou Sillas pelos cabelos e o arremessou ao chão, Sillas tenta se levantar, mas…

— Slash!

Sua perna é cortada fora.

Um jato de sangue voa por todo o local, eu estava assustado com os atos impiedosos de meu irmão, no entanto impiedosamente ele continuou:

— Slash! Slash! Slash! Slash!

Os gritos de dor de Sillas me fizeram tapar os ouvidos.

A imagem de Sillas que já não tinha mais seus braços e pernas se assemelhou a um filme de terror, cortes superficiais foram feitos propositalmente em seu corpo para que ele não morresse rápido.

Meu irmão se aproximava da figura que um dia foi o Bispo Sillas e o pavor o fez tentar se afastar de Natã, todavia a ausência de membros o impossibilitou dessa façanha, as lágrimas de desespero caíram dos olhos de Sillas e a satisfação encontrou forma na face de meu irmão.

Natã viu uma fogueira próxima a ele e encarou Sillas sorrindo, ele fez questão de se abaixar e sussurrar nos ouvidos do impossibilitado Sillas:

— Lembra-se de seu pequeno erro de cálculo?

Sillas arregalou os olhos apavorado, mesmo que não pudesse proferir mais nenhuma palavra era claro como o dia que ele pedia por misericórdia, no entanto essa bênção não foi concedida a esse homem que foi atirado sem ressentimentos na fogueira.

Seus gritos de dor e desespero eram assistidos por Natã até o final de seu último suspiro.

Eu fiquei pasmado com a visão de meu irmão assassinado um homem sem pudor, ainda que ele fosse o lixo que matou nossa mãe, eu sei que não há volta depois disso, mas nunca abandonarei meu irmão, mesmo que ele se torne o pior.

Eu cerrei meus punhos e gritei:

— Natã! Vamos embora!

Natã escuta minha voz e me avista.

Ele corre com pressa em minha direção e eu digo a ele:

— Temos que aproveitar essa oportunidade para fugirmos.

— Você está certo Willian, vamos!

Quando tentávamos correr para a entrada, Harbor e Erumir aparecem, eles veem o corpo carbonizado do bispo Sillas, e focam a atenção em nós.

— Hunf! Que fiasco! Além de uma missão fracassada ainda tenho que cuidar de ratos.

— Harbor! Seu mestre acaba de morrer e essa é sua forma de mostrar respeito?

— Não seja tola Erumir, eu via esse velho nojento da mesma forma que você. Ele era apenas um degrau, no entanto um rato matou ele, me dá vergonha de pensar que servi alguém tão incompetente.

— Infelizmente tenho que concordar com você, um grande tiro acabou sendo uma zebra.

Meu irmão me pega pelo braço e corre para direção da masmorra destruída, Erumir e Harbor nos perseguem.

— Escute Willian você tem que viver!

— Não fale como se você fosse o único a morrer idiota!

Chegamos na beira do fosso criado pela máquina de Sillas e era mais profundo do que imaginávamos, o fundo não era visível.

Natã começa rir da situação e comenta:

— Willian você acredita em deus?

— Hã? Que estória é essa agora? Você nunca acreditou em um!

— Eu acredito agora! Ou melhor eu preciso acreditar.

Eu não entendi o motivo, mas meus olhos lacrimejaram naquele momento, meu irmão parecia tranquilo, será que ele se conformou?

— Não diga besteiras irmão, vamos viver juntos!

— Não dá, mas se um milagre realmente existir eu espero que você viva e encontre a felicidade, eu estarei te olhando com o papai e a mamãe.

Erumir e Harbor sacaram as espadas e vieram com tudo em nossa direção, meu irmão sorriu.

— Eu preciso acreditar em deus agora, por que espero que um milagre aconteça.

Meu irmão em uma decisão de desespero me lançou no fosso, minha última visão foi ver seu corpo sendo dividido pelas espadas de Erumir e Harbor.

— NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!



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