Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 72: Copião

Lucas se via cada vez mais forçado a utilizar a pulseira e mudar de forma. 

Era meio desconfortável a toda hora mexer aquele braço desproporcional ao seu corpo, no entanto, para bater de frente com o minotauro, precisava usá-lo.

Seu rosto desconfigurou parcialmente por conta dos efeitos da pulseira, um de seus olhos ganhou um risco e a cor alaranjada, enquanto a ponta da boca ganhou uma fileira de dentes afiados.

Ainda bem que não podia ver a própria aparência, do contrário se assustaria consigo mesmo. Os pés do garoto se arrastaram para trás quando foi atingido por um punho ósseo.

Lucas girou pela força do golpe, mas uma gigantesca rocha caiu sobre seu corpo e o jogou de volta ao chão, esmagando seu corpo nos campos de cinza.

Ele teve que morfar ambos os braços para tirar aquele peso de cima, e logo retornou à sua forma normal para não ter que lidar com duas partes completamente diferentes.

Aquela luta era difícil, enquanto um servia como fronte, a outra cobria o que faltava em dano com magias poderosas. Mesmo que o efeito não fosse grande, estava degradando suas energias. 

Abriu um dos bolsos de poções, engolindo uma poção de energia e uma poção de cura. Seu corpo esquentou, seus olhos se abriram um pouco mais e seus nervos pareciam mais afiados.

Ele escutou passos em sua direção, puxando um outro frasco e tirando a rolha. Água voou na direção da pessoa que se aproximava.

— É um grande pra… Argh, que merda?! — A pele do sujeito queimou em contato com o líquido.

 

Água Benta

Raridade: Raro

Uma água imbuída com energia divina. É extremamente efetiva contra demônios.

 

 — E não é que é efetiva mesmo… — Lucas olhou para o frasco em sua mão, então para o homem à sua frente, estufando os olhos quando percebeu o que fez. — Foi mal, foi reflexo!

A capa e capuz do homem queimou por completo, forçando-o a tirá-la e jogá-la longe. O desespero ficou explícito em seu rosto, mas vê-lo puxou o chão de Lucas.

Era como se olhasse para um espelho, a pessoa à sua frente era idêntica a ele, desde o cabelo curto até o par de óculos no rosto… Vendo assim de perto, ele não sabia como tinha ficado saradão.

— Uau, eu tô bem bonito… — Por causa da distração, Krevo o acertou nas costas com uma chifrada e o jogou longe novamente.

O rosto de Lucas se arrastou ao longo da neve, criando uma longa trilha pelo caminho. Enquanto isso, Philomeu largou um suspiro e colocou a mão no rosto, estranhando o tal corpo.

— É flexível e forte… O mais forte que já tive até agora. — Ele abriu e fechou os punhos várias vezes. — Aegis! Esse garoto tem umas habilidades muito boas, acho que você adoraria torná-lo uma de suas marionetes! Aliás, manda uma espada mesmo!

— Hah… Seria uma boa se ele permanecesse vivo até lá. — Aegis folheou o grimório e pôs as mãos no meio das folhas, arrancando uma espada preta com um rubi no pomo, em seguida arremesando-a para o colega lá embaixo. — Faça questão de arrancar uma mão para mim, por favor.

— Com prazer… — Ele pegou a espada no meio do ar e a brandiu, incendiando-a com chamas arroxeadas. — Só me desculpe se sair meio queimada.

— Vocês falando de partes me deixam sem graça… — comentou Krevo, outra vez se pondo na frente dos dois.

— Nenhum de vocês vai pegar meu macho não, ô bando de zé ruela ladrão de esposo gostoso! — gritou Lilith do outro lado do campo de batalha, ainda escondida numa moitinha.

Enquanto isso, Lucas tentava tirar sua cabeça enganchada abaixo da terra. Ele parecia um avestruz despenado. Após passar por um breve perrengue para sair do buraco, ele levou o rosto sujo de cinzas na direção dos generais.

Era uma ótima atitude não o atacarem enquanto estava completamente indefeso, eles ganharam um ponto positivo por isso, no entanto, ainda estranhava o fato do cara ali ser igualzinho a si mesmo.

Deu de ombros, largando um longo suspiro pelo jeito que as coisas foram tomadas. Contra o seu doppelganger com certeza não seria uma boa ideia usar a pulseira.

Por mais que ganhasse bastante força e resistência, em troca perdia a velocidade, o que seria crucial para enfrentar aquele cara de espada.

O outro problema também era o grandalhão, contra ele seus golpes normais causavam quase dano algum, tendo que usar a pulseira para ter alguma chance de causar dano.

E ainda tinha a moça de cabelo rosa, que conjurava feitiços toda hora e atrapalhava tanto a movimentação quanto o posicionamento certo que deveria ter.

De certa forma, o trio era responsável por uma formação de pirâmide invencível… Isto é, até alguém derrotá-la. 

Um plano ganhou forma na cabeça de Lucas, ele rapidamente arrumou os frascos nos bolsos do cinto e derramou água benta na sua katana.

 

45% liberado.

 

Sangue correu por suas veias, seu coração acelerou e seu rosto ficou um pouco mais vermelho e vapor saiu de sua pele, sinal de uma melhoria considerável em seus atributos.

“Não é hora de pegar leve, a parada agora é séria…”

Philomeu reparou na mudança repentina do rapaz. Ele repetiu a mesma coisa e sentiu seu corpo aquecer, como se seus músculos estivessem se esticando e retraindo o máximo que podiam.

— Oh, essa habilidade é interessante. É um aprimoramento físico sem ser mágico ou de origem sobrenatural, pelo contrário, usa puramente o próprio corpo e alguns truques de autoindução. Sinto que vou aprender bastante com esse cara…

— Pare de murmurar, idiota, ele está vindo pra cá. — Krevo rodopiou seu machado numa das mãos, o garoto se aproximava a passos lentos. — Queria entender o motivo de andar, será que vai testar nossa paciência.

Nuvens carregadas de relâmpago se formaram no céu, Aegis mantinha seu grimório flutuando e lançando energia mágica para o céu.

— Se vai testar, não deveria. Eu odeio ser provocada assim…

A raiva da mulher era palpável, ambos sabiam o quão fácil ela caia em provocações e gostava de entrar numa briga. 

A eletricidade correndo pelas nuvens foi descarregada numa saraiva de flechas azuis que cruzaram o céu e iluminaram a vista do castelo. 

Um mero toque delas e o garoto viraria uma torrada de pão que acabou de subir na torradeira. No entanto, ao mesmo tempo que os lampejos apareceram no céu, disparou em linha reta.

Sua velocidade, misturada às cambalhotas e piruetas que usava para se esquivar das flechas despencando, favoreceram-no ao ponto de mal ser atingido.

A expressão incrédula de Aegis ficou evidente no momento que ele deu um passo para trás onde uma flecha elétrica ia cair e em seguida passou rasgando o ambiente com sua velocidade.

Agora, como ela não podia fazer tanta coisa, faltava Philomeu e Krevo fazerem seus trabalhos. Philomeu pretendia interceptá-lo, e até conseguiu com seu aumento de atributos.

A lâmina da espada voou na horizontal em direção ao garoto, que deu uma rasteira para desviar e continuou correndo, no entanto na direção do minotauro.

O monstro esqueleto se colocou numa posição defensiva e pretendia acertá-lo com seu machado, apenas para Lucas evitar todos os golpes de tão lentos que eram.

Usando a katana do rei veneno e a espada comum, ele soltou uma enxurrada de golpes que gradativamente tiraram a força do monstro e ao mesmo tempo stackaram seu buff.

 

O debuff Fraqueza foi aplicado

Todo ataque físico teve sua força reduzida pela metade. 

 

Os atributos do inimigo foram cortados pela metade. . .

A resistência do alvo escolhido diminuiu a efetividade da habilidade. Atributos reduzidos em 25%

 

Foco de Batalha

 

A cada golpe atingido com sucesso, aumenta em 2,5 os atributos de força e velocidade do usuário, até o máximo de 40. 

Atributos ganhos atuais: 35

 

A habilidade Veneno Mortal foi reativada. . . 

A natureza do alvo escolhido impediu o efeito de morte instantânea. 

 

“É um morto-vivo, não tem como morrer duas vezes.”

Seria engraçado vê-lo falecer uma segunda vez, mas a mente de Lucas descartou essa ocorrência ridícula no instante seguinte.

Tendo maximizado os ganhos de Foco de Batalha, ele recuou novamente e analisou seus arredores, bolas de fogo vieram em sua direção, mas sequer causaram dano direito.

Então, em meio as centelhas, Philomeu emergiu brandindo a espada sombria, estocando em linha reta e abrindo caminho no meio do fogo, mirando no peito de Lucas.

O golpe acertou, as chamas arroxeadas encostaram em seu corpo e tentaram consumí-lo, mas isso mal fez efeito direito, o rapaz manteve-se relaxado e de pé enquanto o fogo roxo tentava inutilmente comer sua pele.

Precisou de umas batidinhas para apagá-lo, mas ele não ligou tanto em fazer isso. A benção, junto de seu traje de leviatã, praticamente aniquilou qualquer chance de causarem dano por meio desse elemento.

Philomeu mordeu os lábios, frustrado por não conseguir tirá-lo do sério direito. As estatísticas de ambos deveriam ser iguais, ou seja, estarem de pé em igualdade um com o outro.

Uma pena que Lucas destruia essa lacuna pelo seu controle superior com o próprio corpo. A liberação de força não era necessária ser usada toda hora, e se fosse, causaria mais mal que bem

O doppelganger pelo visto não reparou nisso, levando em conta como não parava de atacar com aquela habilidade ainda ativa.

— Me leve a sério, seu maldito, eu sou o general número 1 deste reino!

— Ok, te levarei a sério.

A katana teve seu fio mesclado com a Lâmina de Vento, fazendo-a ganhar um tom verde claro que se misturava a água benta ainda presente ali.

Lucas, no entanto, não a usaria ainda, apenas conjurou um círculo de fogo e obstruiu sua visão de todos os lados, o que Philomeu acreditou ser uma péssima estratégia.

No entanto, a magia de Demolir dizia outra coisa. Ele demoliu o chão e cavou um buraco por baixo, emergindo atrás do demônio copiador e rasgando suas costas com um corte profundo da katana.

Em seguida, Lucas deu um salto para trás, rodopiou no ar e puxou a varinha guardada, conjurando Esfriar Clima, o que imediatamente abaixou a velocidade de todos. 

Uma gigantesca bola de fogo vinha em sua direção, mas um jato d’água potencializado pela mudança do ambiente perfurou a magia e acabou atingindo Aegis do outro lado, encharcando-a de água e derrubando-a como um passarinho molhado.

Como se não bastasse, Lucas ainda usou os Estilhaços de Gelo para trazer inúmeros espinhos do céu, que desceram igual chuva na direção de Krevo, quebrando muito de seus ossos no processo.

A vitória foi quase unilateral, sobrando somete Philomeu de pé. Ambos os gêmeos se encararam, o rosto do demônio copiador ficou mais vermelho que o normal, indicando a liberação de poder.

O rapaz preparou sua katana à frente do corpo, vendo-o saltar como uma besta descontrolada em sua direção e atacar com sua espada num simples corte tranversal que partiu um rochedo não muito distante só com a pressão do vento.

Lucas se concentrou em bloquear a chuva de ataques de espada, mas sabia que o Foco de Batalha estava aprimorando o poder do inimigo.

Ele deveria acabar com isso mais rápido, no entanto, esperar era melhor e gastaria menos energia do que somente encerrar a luta de uma vez.

A espada de Philomeu ficou lilás, sinal da combinação da Lâmina de Vento com as chamas roxas de antes, tornando cada golpe mais quente e fatal que antes.

Se não fosse pela armadura e benção, Lucas seria um pedaço de picanha assada naquela hora. Ele foi recuando conforme os golpes continuavam.

Uma janela repentinamente apareceu em meio aos golpes, Lucas usou seu punho para acertar o meio do rosto de Philomeu com um soco, que foi seguido de outro como se fosse a coisa mais natural do mundo.

 

A habilidade Contra-Ataque foi ativada

A Arte Um Dois Potencializado foi ativada.

 

O dano foi grande, ultrapassando até a resistência aumentada do demônio e o obrigando a recuar passos para trás.

Philomeu limpou o nariz escorrendo sangue, seus olhos também jorravam cores vermelhas e seus dentes estavam em tempo de sair pela boca, mas foi aí que aconteceu.

O demônio não conseguia se mexer mais. 

— Esse é o efeito rebote de utilizar essa coisa por tempo demais — explicou Lucas, se aproximando para dar um peteleco e enfim nocautea-lo. — Não dá pra durar tanto tempo.

Philomeu caiu contra as cinzas sem resistência alguma.

— Agora, só falta o boss final…

Lucas se virou na direção do castelo, sentindo uma aura sinistra emergir dali. No entanto, não precisou sequer dar um passo em frente.

Uma figura de terno e coroa andava em sua direção, carregando uma pesada lança vermelha sobre os ombros. Bastou trocarem os olhares que Lucas imediatamente entendeu quem era aquela pessoa.

“Sorte a minha que não preciso mais procurá-lo.”



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