Volume 2
Capítulo 66: Vulcão
O treino de Amora ainda era árduo, então tentar enfrentar diversos monstros logo depois de estraçalhar os músculos não parecia uma ideia muito inteligente.
Por isso esperar até o dia seguinte parecia o plano de ação inteligente, e felizmente isso deu tempo dele resolver quaisquer questões inacabadas, como a decoração de sua nova casinha.
Se tudo desse certo, ele não perderia aquele lugar no futuro e poderia retornar a esse lindo lugar. Um pouco distante da casinha de madeira, ele clicou no ícone do Vulcão Infernal.
Uma porta feita de rochas vulcânicas e magma apareceu, estava tão quente que ele mesmo tinha dificuldade de ficar perto disso, a neve ao redor também derreteu num piscar de olhos.
— Hora de ver o que tem do outro lado… Ah, não tem como não ficar nervoso quando isso acontece, né?
Ele antes conferiu seu equipamento, vendo se sua armadura estava bem posta e se não esqueceu nenhuma poção ou item adicional trago da loja.
A katana do rei veneno pendia numa bainha no lado da sua coxa, enquanto o sabre pirata ficou preso na lombar para mais fácil acesso.
Havia também uma mochila grossa nas suas costas, que serviria para coletar drops de monstros e talvez alguma coisa de útil que achasse enquanto explorava.
Escolheu levar junto a varinha de gelo, as magias talvez seriam bem usadas contra qualquer monstro do outro lado, porque por lógica, água ganhava de fogo, e esse item possuía uma magia de água.
Se tudo estivesse de acordo com seus planos, a armadura, a benção e as magias de gelo e água fariam aquela aventura ser facinha, mais do que até matar o Leviatã.
Lucas respirou fundo e saltou para a outra dimensão.
Masmorra Vulcão Infernal
O calor ardente queima sua pele.
Aquelas notificações assustariam qualquer um, até Lucas, que sentiu o coração subindo pela garganta, mas ao olhar sua armadura e pele intactas, achou que não seria tão importante.
Sem contar que a resistência a fogo deveria estar ajudando bastante naquilo. Seu queixo caiu pela vista, demônios e wyverns voaram sobre sua cabeça, um pouco longe demais para vê-los.
Ele havia saído de um tipo de entrada numa caverna, praticamente na base do vulcão, e seus arredores eram tapados por uma neve acinzentada e árvores pretas igual obsidiana.
A paisagem era bem maneira, Lucas até cogitou construir uma base ali, mas achou ridículo o pensamento se em breve a base sumiria ou pelo vulcão ou por terminar a masmorra.
— Agora… o que tenho que fazer? A última missão foi resgatar um doido da cabeça, espero que dessa vez eu não tenha que fazer o mesmo…
Uma missão foi gerada.
Missão Divina: Lição Duradoura
Derrote o Chefe: 0/1
— Ok, direto ao ponto. — Ele bateu os próprios punhos e ganhou um sorriso confiante no rosto. — Vou descer a porrada nesse cara.
O chefe se encontra no topo do vulcão, o Rei do Céu Ardente, Igibris.
— Não tranca meu cu com o nome, sistema…
A tela desapareceu com o comentário de Lucas, mas deixou mais claro o que deveria fazer. Por sorte havia retirado os pesos anteriormente, facilitando certa mobilidade no terreno nevado.
Seus pés afundavam no chão, mas um chute livrava parte do problema. Uma pena que a cor azulada da armadura ficaria cinza pelo excesso que caia nela.
Era tão maneira da cor que estava, mais tarde limpá-la daria um trabalho que Lucas sentiria ódio.
Ele amava azul, o cinza só serviria caso ele fosse um vilão, anti-herói ou protagonista edgy, o que não era o caso pelo tanto que apanhou até agora. Nenhum protagonista edgy apanhava desse jeito.
“Fico imaginando o que as pessoas pensariam de mim se eu fosse um protagonista de anime… Nah, que ideia estúpida, já bastam os deuses me olhando lá de cima, duvido que tenha outra pessoa além deles. Ah, e ainda bem que não são invasivos quanto a pensamentos, já imaginou se alguém conseguisse ler o que você tá pensando? Porra, eu ficaria com muita vergonha.”
Enquanto voava nos próprios pensamentos, o primeiro inimigo apareceu. Era um demônio chifrudo e pequeno, da altura de um goblin e com um rabinho pontiagudo balançando de um lado para o outro.
— Eu já tava esperando por alguma ação. — Ele sacou a katana da bainha e encarou o bichinho com um sorriso. — Se prepara pra virar meu level up, ô cabeçudo!
— Groh? Grah!
Instigado pelas palavras do rapaz, a diabrete conjurou uma bola de fogo rapidamente e a arremessou. A magia atingiu o alvo, que não reagiu a tempo.
A criaturinha se alegrou com isso, mas de repente sua visão ficou partida em dois pontos distintos. Logo atrás dele, havia o mesmo garoto, armado com aquela espada curva estranha.
A bola de fogo acertou, com toda certeza, então por que ele estava ali parado, quando deveria estar morrendo no chão com queimaduras de 3° grau.
O motivo dele estar ali? Óbvio, a merda de uma bola de fogo fraquinha não dava dano nenhum quando havia uma benção de resistência a fogo e uma armadura super foda o protegendo.
A diabrete se desmanchou em cinzas com um gritinho fininho.
2x Essência de Fogo
1x Cauda de Diabo Inferior
— Por algum motivo, eu sinto que acabei de matar um goblin… Por que a sensação foi semelhante? Será que matar aqueles caras causou trauma severo em mim?
Ele recolheu os itens e guardou na sua bolsa nas costas, o que foi uma péssima ideia pois quase queimou suas coisas lá dentro.
Lucas se preparou para um momento assim e arranjou uma lancheira térmica que pudesse guardar as coisas. Assim, ele seguiu em frente, destruindo o restante das diabretes no caminho.
Eram tão fraquinho que Lucas nem sentia nada, a facilidade com que deslizava entre os monstrinhos era assustadora, ao ponto de não se cansar em nenhum momento.
“Esses são os resultados do treinamento de Amora, malditinhos!”
18x Essência de Fogo
7x Cauda de Diabo Inferior
Ele não guardava nenhum rancor contra os monstros, mas não fazia mal fingir que tinha algum para se impulsionar a matá-los.
Era divertido deslizar de lá pra cá, lançando cortes de espada em todas as direções e estraçalhando qualquer cabeçudinho voador no caminho, mas, isso ocasionou num pequeno problema
O líder dos demônios se enfurece levemente com sua intromissão.
Ele enviou um de seus subordinados.
Lucas não teve tempo de analisar aquela sentença direito, o chão estremeceu de repente e um impacto vindo de baixo o jogou no ar.
Sangue bombeou para o cérebro, sua reação imediata foi recobrar algum equilíbrio enquanto estava em queda livre, o que também lhe deu tempo de analisar o inimigo recém-aparecido.
Era um tipo de monstro com corpo de toupeira e garras super afiadas, junto de uma cabeça que lembrava um lagarto, com mandíbulas cheia de dentes pontiagudos.
Além disso, tinha um pelo vermelho grosso, que pela grossura dos fios se assemelhava a uma armadura cheia de espinhos, sem contar é claro nos bigodes que eram tão grossos quanto os pelos.
Lucas analisou o inimigo, aquela coisa estranha que parecia a combinação de vários seres em um só, no caso de toupeira, lagarto, porco-espinho e gato.
Ele puxou seu Sabre de Pirata, a queda ainda não havia terminado, mas começar com um belo golpe seria melhor do que só cair.
Levantou as armas para o alto, vento se acumulou nas lâminas e espantou a neve caindo do céu. Uma cor verde tomou conta do metal em ambas, intensificando mais o seu poder de corte.
Enquanto isso, o monstro toupeira abriu a boca, como se quisesse comé-lo igual uma bala que era jogada para cima e em seguida abocanhada de maneira trágica.
Foi uma falha miserável, as espadas de Lucas deslizaram para baixo num corte quase limpo que tanto serviu para ele se apoiar no meio da boca do monstro quanto evitar ser comido vivo.
Lucas conseguiu retornar ao chão em segurança, ainda por cima levando a katana junto, uma pena que o sabre de pirata foi engolido pelo monstro.
— Filho da puta, isso custou caro! — Ele rapidamente abriu o zíper da bolsa, tirou uma espada comum que comprou na loja por 100 unidades e arremessou a bolsa para longe. — Tu vai me retribuir cada coisinha, ouviu, ô quimera do Acre!
Outra vez avançou na direção da criatura, mas num ritmo diferente do que tinha contra as diabretes, então sua velocidade de movimento aumentou exponencialmente. Uma garra veio em sua direção.
Lucas saltou para trás e viu o chão ser esmagado na sua frente.
O usuário ativou Sequência Mortal.
O efeito de Contra-ataque foi ativado.
Manejando ambas as espadas, ele dilacerou a carne do monstro em quatro golpes, dois de cada arma. Somente a katana causou qualquer dano significativo, a outra só fez arranhões na pelagem dura.
“Os status devem ter reduzido em 15% agora, devo ter alguma vantagem dessa vez.”
O efeito Predador Natural foi ativado. Os atributos foram aumentados em 10%
“É isso aí!”
Lucas viu a toupeira-quimera se retorcer de dor e abanar o braço extremamente ferido, usando o outro para atacar o garoto que sorria feito um louco.
No entanto, dessa vez o rapaz estava motivado por um tipo de energia estranha. Era uma sensação semelhante a uma sede por sangue, como se desprezasse o inimigo.
Um golpe poderia extremamente danoso, mas comparado a sua vontade de estraçalhar o monstro à sua frente com uma sequência de ataques, não era nada a se temer.
Ele habilmente esquivou passando por baixo do braço, erguendo a katana para rasgar os joelhos da toupeira, mas sua tentativa foi imediatamente frustrada.
O monstro saltou para o alto, o que pareceu muito idiota porque definitivamente aquele bicho não possuía asas, por lógica isso foi feito apenas para desviar do ataque.
Isso até Lucas reparar nos pelos da criatura endurecerem. Uma saraivada de espinhos voou em sua direção, centenas deles, tão afiados que facilmente cortariam metal.
O monstro soltou um rugido bizarro que mais se assemelhava a uma risada.
O rapaz não acreditava que um Círculo de Fogo o tiraria daquela situação, então novamente manifestou uma Lâmina de Vento em suas armas.
Ele outra vez ativou Sequência Mortal, lançando uma onda de balanços de espada e forçando cada vez mais mana em direção as espadas, fazendo o vento mexer de acordo com o movimento de seus braços.
No entanto, mesmo assim, a chuva de espinhos o atingiu incontáveis vezes. Quando parou, Lucas estava fazendo cosplay de porco-espinho azul.
O demônio despencou do céu e caiu de forma semelhante a um meteoro, jogando diversas árvores negras e um punhado de cinzas para o alto, além de também fazer o rapaz voar para longe.
— O chefe vai ficar orgulhoso! — disse, com a voz mais fina do mundo, muito igual a um monstro toupeira pequenininho, o completo contrário dele. — Hah, esses humanos, eles sempre vêm aqui com essa ideia de nos matar e impedir da gente fazer o que der na telha… Ainda bem que me livrei desse bem rápido, agora vamos pegar o corpo dele e…
— Tu tá falando com quem? — perguntou Lucas, aparecendo na frente do monstro quando as cinzas abaixaram. — Tava achando que eu morreria só com isso? Eu tenho cara de fracote por acaso, ô dinossauro?
Aquele monstro toupeira ficou completamente atônito. Ele queria tentar voltar ao buraco de onde veio, mas só teve como recuar num grande passo para trás.
Lucas acompanhou com um soco no meio da barriga do monstro, que o levou mais para trás ainda e instalou o arquivo medo.exe nas entranhas dele.
O rapaz caminhou em linha reta na direção da criatura, fazendo-a se remoer e quase encolher ao tamanho de uma toupeira normal.
— E ai, vai continuar assim? Tu me atacou primeiro, então devia tá proto para as consequências!
Naquela situação, Lucas esteve na posição de chefão de uma masmorra, destruindo a expectativa de aventureiros que queriam provar sua verdadeira força ao mundo.
Aquele monstro veio com a intenção de derrotá-lo e conseguir reconhecimento de seu chefe, mas essas esperanças sumiram ao reparar na aura assustadora ao redor dele.
Ele havia acabado de assustar um demônio, coisa que nem mesmo a própria espécie demoníaca poderia sonhar em acontecer.