Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 43: Suportar

A praça de alimentação entrou em caos. As pessoas corriam para longe do portal, que cada vez mais despedaçava a realidade para dar lugar ao seu verde fantasmagórico.

Os olhos de Levi tremiam. As pernas não saiam do lugar, sua mente entrou numa imediata confusão e tudo o que pôde fazer foi se manter no mesmo lugar.

Já Natália estava no completo oposto do espectro. Foi um susto, mas seu modus operandi a tirou do choque e a colocou num modo alerta.

— Levi, a gente vai sair daqui agora, tá? Não larga a minha mão e…

Seus olhos caíram sobre o namorado, a expressão dele, a hesitação nos lábios e olhos, jamais havia visto aquilo em todo tempo que ficaram juntos.

O medo emitido pelo pequenos gestos que fazia, o desespero irradiando da pupila, tudo servia como um grande adendo para uma sensação além da compreensão de Natália.

Ela mordeu os lábios, mas não se recusou a pegá-lo nos braços e começar a correr o mais rápido possível. 

Se ele não estava numa posição que pudesse ajudar, sua namorada faria isso com as próprias mãos para assegurar a segurança daquele que era tão especial a ela.

Uma nova explosão. Um par de asas emergiu das costas de Natália, a ventania pelas batidas revirou as mesas na praça e seu corpo voou o mais rápido que podia.

“Preciso ser rápida. Não sei quanto tempo os raiders levarão para chegar, mas eu devo colocá-lo num lugar seguro e depois enfrentar seja lá o que apareça desse portal.”

Portais eram comuns de aparecer em lugares de acordo como as partículas se comportavam lá, mas, algumas vezes, eles podiam surgir esporadicamente.

Chamados de “Portal Insurgente”, esses eram os mais perigosos de todos, pois assim que eram formados, os monstros tinham como sair no instante seguinte.

O temor de deixar Levi por perto era exatamente se por acaso ele fosse pego no meio do combate contra essas criaturas.

Natália sabia qual era a habilidade dele, então não tinha porquê deixá-lo no meio se havia a altíssima chance de machucá-lo.

O silêncio repentino trouxe alguma paz a adrenalina em sua cabeça, mas seu pior erro foi ter baixado a guarda naquele momento.

A gravidade pesou de uma forma estranha, Natália foi subitamente puxada para trás. O ar escapou de seus pulmões quando o peso em seus braços desapareceu.

— Levi, acorda! — Seus gritos foram em vão, já que ele não ouvia nada.

O corpo do rapaz despencou do alto, a qualquer momento ia se espatifar no chão.

O desespero de Natália criou choques dourados no ar, seu corpo começou a esquentar por tanta energia que circulava ao seu redor.

Mesmo que se mexesse contra a correnteza que movia seu corpo, não foi o bastante. Jamais o alcançaria, por mais que tentasse chegar perto.

— Levi, Levi! Não!

Contrariando qualquer falta de esperança que a garota tinha, Levi parou são e salvo no chão. Uma silhueta alta e forte o pegou no momento em que cairia.

Era um homem estranho, forte e emitindo o jeito de um homem sábio. Ele tinha uma barba rala grisalha, seus olhos brilhavam igual o fogo do inferno.

O tal estranho pôs Levi encostado numa parede distante, cruzando seus braços ao lado enquanto analisava o desenrolar da situação a sua frente.

Natália novamente entrou num surto de confusão. Quem era esse cara? E por que ele ainda estava parado ao invés de se importar com o portal?

Ao invés de responder questões internas, a garota enfim voltou sua atenção a qualquer coisa que estava a puxando, e só assim viu um largo espinho preso na ponta de uma de suas asas.

Ela desmaterializou aquela parte, caindo no chão feito um meteoro. O impacto fez toda a praça tremer, mas ela continuou intacta.

Encarou os tais seres que saíram do portal, diversos insetos gigantes combinados com uma criatura humanoide montada num grande escaravelho.

— Insetos…? De tudo, tinha que ser isso? — A expressão dela se transformou no mais puro nojo, ela odiava insetos de qualquer forma. — Eu posso talvez segurá-los por um tempo…

A criatura no escaravelho tinha um bastão estranho, a ponta era rodeada por flores brilhantes de pétalas negras.

“Parece um báculo. Isso significa que o baixinho é um conjurador, os outros são seus subalternos.” Suas mãos foram revestidas pela energia dourada, transformando as unhas em garras pontiagudas. “Se eu enrolar e arranjar alguma informação, posso sair na vantagem. Vamos, não posso decepcionar a mestra Viviane!”

O primeiro monstro a enfrentá-la foi um grande louva-deus, as patas curvas dele desceram como um machado e cortou parte do piso no impacto.

Natália, por outro lado, saiu dali com um passo rápido para trás. Seu corpo leve avançou com uma estocada das garras, perfurando a proteção da carapaça fina do louva-deus.

O dano foi massivo, um grande buraco ficou colocado no meio do peito da criatura, forçando-a a recuar.

Por mais feliz que estivesse por sua curta vitória, ela viu seu esforço sumir quando o ser humanóide levantou o cajado e regenerou por completo a ferida do louva-deus.

“Merda, tem um poder de cura. Vai levar muito tempo se eu continuar lutando por tempo demais.” 

O louva-deus veio em sua direção novamente, só para Natália passar por baixo de suas garras e levantar a corte limpo em formato de aro.

Ela abriu o estômago do monstro, e mesmo que enojada pelo cheiro e órgãos caindo em sua cabeça, teve coragem de abrir a boca e disparar uma onda de fogo gigante que incinerou metade do corpo do inimigo.

Era menos um para conta, no entanto assim que olhou as forças dos insetos, se decepcionou ao ver mais um repor o lugar da criatura caída.

“Agora vai me dizer que eles também tem sabe-se-lá quantos monstros lá dentro? Vá se foder, isso já é sacanagem! Eu sou forte, não de aço!”

Após uma sessão de resmungos, Natália acumulou a energia na boca, modificando seu rosto para algo parcialmente dracônico.

Ela puxou todo o ar de seus pulmões, liberando uma corrente poderosa de energia que consumiu parte dos tijolinhos de pedra do chão.

O serzinho balançou o cajado, erguendo uma parede de rocha e redirecionando parte da rajada para cima, criando uma espécie de farol brilhoso que alertou todas as pessoas num raio de quilômetros.

Aquele ataque em vão ao menos serviria como forma de avisar qualquer pessoa por perto para se manter longe, mas logo Natália adivinhou que os curiosos chegariam perto.

Era sempre natural do ser humano procurar a fonte de entretenimento, e esses idiotas sem noção viriam para olhar seus heróis em ação.

A garota redistribuiu sua energia para os pés, correndo numa velocidade alucinante na direção da parede e derrubando-a com um soco de dragão.

As rochas voaram conforme Natália atravessava a parede, só para lançar outra fortíssima onda de energia da boca voltada para baixo.

Uma explosão irrompeu do conflito da barreira mágica erguida pelo conjurador e o raio, mas novamente não teve efeito.

O cansaço da garota ficou ainda mais expressivo quando teve que lidar com monstros vindo contra ela.

Um besouro gigante avançou em sua direção, e ela teve que segurar no chifre do maldito para evitar ser empurrada para longe.

Com todo ódio do mundo, sua mordida cheia de dentes afiados conseguiu atravessar a carapaça grossa e arrancar parte do olho da criatura.

A ponta afiada de sua garra entrou na carne exposta, despedaçando o lado de dentro e deixando para que os vermes comessem a carne.

Outro veio, dessa vez um cupim com um par de ferrões enormes. Uma simples mordida quase partiu seu corpo ao meio caso não desviasse a tempo.

Precisou sair várias vezes da frente da criatura, mas ainda assim, conseguiu de alguma forma arrancar sua cabeça fora ao montar em cima dele.

Então veio outro monstro, e outro, e outro… Aquela altura, ela já não sabia porque estava lutando ainda, sua cabeça ia quebrar de exaustão.

Isso até os olhos dela pararem por uma formiga que passou ao seu lado. Ela estava indo na direção de Levi, e novamente Natália não teve tempo para pegá-la a tempo.

Quem fez o serviço no lugar foi o homem estranho, que com um único soco tornou o inseto em vísceras voando ao vento. 

“Quem é esse cara?! Ele destruiu aquele bicho com um único golpe!”

Quase Natália foi atingida por um ataque, obrigando-se a mais uma vez se atentar a batalha.

Um golpe em linha reta a obrigou a levantar suas mãos para frente e torná-las em escamas, mas mesmo assim ganhou um corte leve em sua pele, sinal que estava cedendo a pressão.

— Ei, você! — chamou o homem, recuando para ter uma trégua. — Pode me ajudar?! Eu estou quase morrendo aqui!

— Não posso. Devo unicamente proteger o mestre Levi. — O homem voltou à posição original, limpando os punhos de fluídos formigais.

— Eu também tô fazendo isso. Esses monstros vão atacar ele se eu não estiver aqui, então se você me ajudar, vai protegê-lo mais ainda!

O rosto dele ficou impassível por um momento, analisando aquela questão, até enfim concordar e se unir à causa.

Seus punhos e força física se provaram armas letais contra a horda, repelindo-os com facilidade. 

Ele também mal fazia esforço em seus movimentos, como se não sentisse nada além do impacto causado pelos seus golpes.

Ele também não vacilava quando era atacado, sua expressão sequer mudava quando recebia um corte ou pancada no corpo. 

Ironicamente, aqueles que vinham atacá-lo eram enviados para a lua sem esforço.

Estava funcionando lutar em dupla, mas as coisas só melhoraram de verdade quando uma bola de fogo queimou uma porção dos monstros.

Uma mulher ruiva se aproximou, ela usava uma mascara e tinha um manto vermelho envolvendo seu corpo.

Sua presença era igual a de uma assombração, emitindo negatividade em meio ao crepitar de suas chamas.

Seja lá quem fosse essa raider, Natália agradeceu sua aparição, pois isso alternou as marés da batalha.

Fatigada e ferida, com duas pessoas ao seu lado, ficou mais fácil aguentar o tranco.

A que tinha habilidade com fogo, em especial, demonstrou ser de  tremenda ajuda, já que sua habilidade era extremamente efetiva contra os monstros.

Sem contar nos diversos usos que a raider entregava as chamas, como correntes, flechas explosivas e minas programadas. 

Era impressionante a criatividade e flexibilidade do fogo dessa forma, mas o estrago continuava igualmente gigantesco.

— Você precisa de um tempo… — disse ela, em voz baixa, saindo do meio da luta para ficar ao lado de Natália. — Se continuar nesse estado, morrerá logo. Descanse por um tempo, vê-la desmaiar de cansaço seria péssimo nesse momento.

Ela obedientemente catou a ordem, recolhendo-se a uma distância segura dos monstros.

Era frustrante ter que voltar, mas não podia ir contra, do contrário se tornaria um estorvo para os dois.

Natália sabia que precisava matar o ser humanoide, supostamente o líder dos monstros, só não sabia como desvender esse enigma.

Se chegasse perto, ele protegia com magias. Se não matassem os monstros a tempo, ele curaria e jogaria seus esforços fora.

Do mais absoluto nada, um par de espadas dilacerou os monstros. Uma corrente de vento forte soprou as cabeças e o sangue para o alto.

Natália reconheceu aquela pessoa, era o invasor, aquele que veio no campus a noite. No entanto, sua garganta hesitou em falar.

“O que é essa pressão? Não vai me dizer que… vem dele… Droga, que merda é essa?!”

Aquela pessoa estava furiosa… não, sedenta por sangue. Louca para destruir aqueles que ameaçaram machucar seu querido irmão.

 

A arte Sequência Mortal foi criada.



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