Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 33: Zona²

Após ter um reencontro meio tenso com Viviane, Lucas optou por esquecer um pouco as coisas e tentar focar em outras mais importantes.

Primeiramente, voltar para casa, trabalhar e ter enfim um tempo para olhar os sistemas. Uma coisa irônica que ele descobriu era um meio de acessar as zonas mais facilmente.

Ao invés de precisar esperar dar noite, ele achou um pequeno espaço que o permitia modificar os lugares em que a entrada aparecia e o horário.

Meio que zonas não eram exatamente o que ele pensava, poderiam se resumir a “masmorras surpresa”, que surgiam em determinadas horas e momentos.

O da porta do condomínio, por exemplo, era programado para funcionar somente tarde da noite, mas com uma pequena modificação, ele passava a funcionar mais cedo.

Inicialmente, Lucas decidiu usar disso para farmar alguns níveis com os goblins e escolheu pegar uma magia nova. Por mais irônico que fosse, ele ganhou uma que foi super útil. 

 

Demolir

Nível 1

 

Permite deteriorar estruturas construídas mais rapidamente.

 

Aquilo deu um grande sorriso para Lucas, que logo derrubou todos os prédios da primeira parte da zona com aquela magia e se deliciou com o spawn extremamente acelerado dos goblins.

Depois de engolir uma das poções de reforço, era hora de terminar seus exercícios físicos, no caso, a corrida. Isso tudo aconteceu antes de se encontrar com Viviane, e agora ele estava de volta a zona.

Pela expressão de sua colega de sistema, ela com certeza estava assustada. Um sorriso surgiu no rosto de Lucas, que deu uns saltos por cima de alguns entulhos no caminho.

O caos completo dos edifícios caídos e da área gigante aberta lhe causava certa vergonha, pois era como se uma garota tivesse entrado quando com seu quarto desarrumado.

— Toma cuidado, eu derrubei tudo isso hoje e depois vou precisar fazer uma limpeza.

— Você fez isso… em questão de horas? 

— Sim, ué. Foi coisa fácil com minha nova magia. — Deu de ombros, seguindo até um ponto onde dava para enxergar goblins sem chegar tão perto.

Lucas não viu o rosto dela, mas a expressão pasma e amedrontada indicava muito por si só. Ela queria fugir, talvez se esconder do outro lado do mundo, enfim reparando que na verdade nunca teve chance.

Faixas inteiras de terras destruídas, semelhante ao efeito de furações e terremotos, causados por um mero capricho de um humano testar um novo brinquedo que adquiriu.

Por instinto, ela o seguiu, talvez fosse o mais prudente levando em conta que não estava na posição de reclamar.  

Seus olhos observaram as criaturinhas verdes de longe, fazendo-a questionar como estavam vivos depois de tantas coisas serem derrubadas.

— Eu tenho certa confiança em você, então deixa te explicar como essa coisa funciona… — Levantou o dedo. — Aqui, os monstros sempre vão reaparecer e são definidos pela área que estão. Nessa, os goblins, poucos morcegos e menos ainda lagartos surgem infinitamente. Quanto maior a área livre, mais eles aparecem.

— O seu sistema faz isso? Deveria ser impossível… É como praticamente construir uma dimensão de bolso que você pode criar em qualquer lugar.

— Não posso criar em qualquer lugar. Sou limitado a alguns, um deles é aquele que entramos. Bem, você se sente a vontade pra me mostrar algo que você tem?

A mulher ficou de bico fechado, demorando alguns instantes para respondê-lo de volta.

— Tá, eu vou te revelar. — Suspirou, andando na direção dos goblins. 

Lucas permaneceu parado, curioso para saber o que aconteceria em seguida. 

A cena se desenrolou rápido, as mãos de Viviane se transformaram em algo escamoso e garras surgiram no lugar das unhas verdes e rasgou um goblin que avançou em sua direção em pedaços.

Em seguida, ela saltou na direção do restante, usando suas mãos transformadas para dilacerar de um em um. Quando terminou a chacina, pegou um braço dos goblins e arrastou pelo chão.

Lucas colocou a mão no nariz por conta do fedor de sangue, só que quase sentiu vontade de vomitar quando Viviane colocou o pedaço perto da boca e deu uma mordida.

Depois de fazer isso, os olhos dela mudaram, aparecendo um par de esferas negras dentro de uma íris amarela. Foi aí que o rapaz sacou o sistema.

— Então você consegue copiar as coisas que o que você comeu fazem?

— Sim, faço isso há anos… a essa altura já comi boa parte dos animais comuns da Terra. Não é atoa que comecei a devorar monstros para ter outras habilidades, mas o sabor é horrível quando cru.

— Que coisa roubada… caramba, eu queria ter algo assim.

— Diz a pessoa que tem uma dimensão de bolso supostamente sem limites e sem ninguém por perto, além de poder usar habilidades diferentes e ter o pleno controle da sua dimensão…

Lucas acenou em concordância. Talvez fosse mais atrativo por ser algo que ele não tinha. Pensando por outro lado, também poderia ser que os sistemas um do outro se complementassem.

Enquanto uma comia criaturas para ficar mais forte, ele matava e trazia infinitas delas, uma ótima dupla pro que quer que quisessem fazer. Uma lâmpada acendeu na sua cabeça, era perfeito o que tinha em mente!

— Ei, Viviane, quer fazer um trato? 

— Que trato? Só pela sua cara consigo ver que tem algo mais…

— É simples. Eu quero me aventurar por esse lugar, só que não fui tão longe, então por segurança que tal você vir comigo? Assim você come mais monstros e eu descubro mais das coisas.

— Hmm… — Ela colocou o dedo no queixo e estalou a língua. — Interessante, vamos fazer isso… só fique avisado que darei no pé no primeiro sinal de perigo grande demais. Não sou idiota de me matar junto de um idiota maior ainda.

Ele deu de ombros, pouco se importando com aquele tipo de ameaça. Ambos andaram pelos destroços, matando goblins que apareciam aqui e ali como empecilhos. 

Lucas gostou de apanhar algumas ervas da manhã para sua bolsa, em que mais tarde seriam usados para evoluir a profissão Alquimista. Por outro lado, sua atenção se desviava às vezes para Viviane.

Ela mastigava alguns pedaços dos goblins com a maior face de desgosto, porém insistia nisso como forma de adquirir novas habilidades. 

O esforço deu um sorriso na cara do rapaz, que usava uma espada para rasgar os membros e cabeças de qualquer desafortunado que aparecesse. 

Após uma chacina e um mar de sangue, eles chegaram na borda de uma das zonas. Lucas deu um salto para passar e esperou sua colega também vir, agora eles estavam na segunda parte.

Lucas explorou muito pouco daquele lugar, tudo o que sabia era que agora os goblins sumiram e morcegos os substituiriam. Como isso ia acontecer, ele abriu sua janela de habilidades e escolheu uma nova magia. 

— O que você tá fazendo aí? — perguntou Viviane, encarando a tela flutuante.

— Vou pegar uma coisinha. — Ele conferiu as outras abas por um breve momento e clicou no bloco de magia, uma roleta girou diante de seus olhos. — Você tem alguma habilidade no seu arsenal pra atirar em coisas distantes? 

— Consigo disparar alguns espinhos… Aprendi com porco-espinho. Por que?

— Aqui tem muitos morcegos, não espere conseguir matar eles de perto. 

Escutando isso, diversos espinhos cresceram ao longo das mãos de Viviane. Já para Lucas, sua magia acabou de aparecer.

 

Lâmina de Vento.

Nível 1

 

Dispara uma ventania forte que ganha a forma de um arco e corta coisas facilmente. 

 

— Perfeito, agora vamos lá!

O seu sorriso não podia ser maior. Após entrarem, não demorou para que uma enxurrada de morcegos aparecessem um seguido do outro, ocupando a vista.

Lucas estendeu o braço, pronto para testar sua magia, mas rapidamente foi interrompido por uma saraivada de espinhos que voaram dos braços de Viviane.

Ele sentiu uma certa raivinha, inclusive inveja porque atirar espinhos era muito legal, mas logo a oportunidade veio quando mais das criaturas brotaram.

Acumulou mana na ponta dos dedos, o vento começou a passar mais forte, e assim uma ventania correu na direção dos morcegos, estraçalhando qualquer um que estivesse no caminho.

Parecia um joguinho de matar patos digitais com uma pistola que atirava na tela, mas ao invés de uma arminha, eram magias e espinhos.

Só que, conforme o tempo passava, os níveis de Lucas aumentavam e mais morcegos vinham, algo começou a se tornar estranho. Eram demais, muito mais do que imaginava.

Ondas e mais ondas, quase como se todo o spawn de morcegos fosse direcionado para aquela zona em específico. 

Lucas teve um mal pressentimento, algo estava de errado, não era para ter tantos morcegos no mesmo lugar.

— Chega, podem parar… — disse uma voz suave no meio de tudo, fazendo a multidão de morcegos desaparecer. — É claro que não lidariam com tudo que entra no meu território, então deixem para mim.

O rapaz levantou a cabeça e encarou quem era. Uma mulher cheia de curvas, pele pálida e cabelo prateado, com olhos vermelhos como o inferno.

Lucas estranhou e muito a mulher. Primeiro, era uma vampira, sabia disso pois na sua primeira vinda aquela dimensão ele descobriu como era a aparência dos vampiros.

Segundo, não era para algo daquele calibre surgir tão cedo, especialmente numa das zonas, mas quando atiçava um pouco a memória, o povo lagarto que enfrentou estava em sua mente.

Ou seja, era questão de tempo até surgir outros monstros mais fortes que o normal, e no caso foi aquela vampira… mas havia uma coisa a mais, algo que não podia dizer direito.

Mordeu a língua, seus olhos rolaram na direção de Viviane, que aparentava estar numa mistura de surpresa e aceitação ao mesmo tempo. 

— Ei, eu acho que seria bom você usar tudo o que tem no arsenal se puder… — falou, estreitando os olhos de volta para a vampira. — Isso vai ser barra pesada.

— Hah… bem que eu te disse que ia fugir na primeira instância de perigo extremo… mas, pensando bem, talvez tirar um pedaço dela valha o risco.

— O que os dois vermes estão cochichando? — A vampira levantou a voz, sentindo-se ofendida pelo desprazer de tê-los no seu raio de visão. — Ao menos, serão meu primeiro banquete em muito tempo, espero que estejam preparados para enfrentar o tártaro contra mim…

E assim, uma terrível luta começou.



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