Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 117: Confronto

Tudo veio a se acalmar com a lição de moral de Lucas. Lilith chorou igual uma criança, sujando por inteiro sua roupa com uma face preta no centro.

Inicialmente, ele pensou em só tirar a camisa e voltar andando, porém a súcubo foi muito contra, ao ponto de costurar uma roupa completamente nova com seus poderes de materialização sombria.

— De jeito nenhum você pode sair desse jeito, nunca, jamais que eu deixaria qualquer outra pessoa olhar para você desse jeito. Se aquela Aegis te ver assim, juro que vou…

— Tá, tá, entendi, não precisa se preocupar tanto.

Nem precisava de argumentos para convencê-lo, uma intenção violenta era o bastante para fazê-lo repensar no que faria.

Ele aceitou uma veste novinha em folha, um moletom fofinho preto, feita pelas mãos de uma mestra. Mesmo olhando o processo do começo ao fim, impressionou-se que não havia sequer uma farpa do tecido roçando na pele.

— Uau, é incrível… e muito macio. — Lucas ficou intoxicado pelo tecido, confortável demais.

— Huhuhu, minha especialidade!

Lilith colocou as mãos na cintura e esboçou um sorriso arrogante. Ela de fato era especialista na produção de cosplays de altíssimas qualidade, logo, aquilo era fichinha comparado a trabalhos mais complicados.

Lucas também gostava de se vestir como personagem, porém nunca saiu publicamente com um. Aparentemente o inferno possuía coisas de sobra para se aproveitar.

“Espera, por que comecei a pensar nisso se quem vai pro inferno tem que pagar pelos próprios pecados?” De repente, a ideia de visitá-lo parecia terrível.

— Hã, é… a… amor?

O jovem estranhou a forma falada, mas o hábito da súcubo continuava firme, não tinha muito o que fazer.

— Pode falar, estou ouvindo.

— O que eu faço agora? Eu continuo agindo que nem antes? Daquele jeito igual às outras súcubos, atirada para cima dos outros e rodada.

— Sinceramente, seja como você se sentir mais confortável. Pra mim, você sempre será a Lilith.

Ela corou, tocando a ponta dos dedos e desviando o olhar.

— Tá bem. Eu vou me desculpar com Solein depois, acho que fui muito… gananciosa.

Lilith revirou os olhos, parecendo muito sem vergonha para o que falou. Talvez isso fosse comum dada a sua posição de súcubo, mas ainda dava calafrios de Lucas.

Ele evitou olhá-la, com medo de que seu rosto vermelho desse a ideia errada.

— Oh, o que foi, querido? Por que parou de olhar pra mim?

— Nã-Não é nada! Eu-Eu tenho que ir agora!

Lucas deu as costas e pretendia abrir a porta para ir embora. No entanto, um arrepio subiu pela espinha, gerado por mãos quentes tocando seu corpo por dentro do moletom felpudo.

Era Lilith, provocando da forma que sabia melhor, movendo com a delicadeza de uma mestra e causando pequenas reações iguais a choques por onde passava.

Uma respiração calorosa passou pelo pescoço de Lucas, que congelou. Os lábios da súcubo atacaram seu pescoço, por sorte sem marca por não estar usando batom, porém cheios de desejo.

— Obrigada, meu amor.

Esse sussurro na orelha o desnorteou por completo. Quando saiu daquele quarto, quase caiu pelo conjunto de escadas espirais abaixo, tonto demais com a vergonha.

Aquela mulher era perigosa, mais do que um assassino treinado com uma faca apontada para a sua garganta, pois ela sabia como provocá-lo de maneiras que nem sabia serem possíveis.

“Meu Deus, como que ela pode ser uma duas caras tão boa?!”

O coração parecia pular de ansiedade, querendo sair pela garganta e saltitar nos corredores do castelo. Quando retornou ao pátio, seus olhos ainda não conseguiam se focar direito.

Os demônios normais nem chegaram perto, com medo que isso estressasse o homem mais poderoso daquele lugar. Acabou que quem tirou de seus devaneios foi o próprio Igibris, preocupado com o estado dele.

— Senhor Lucas, está tudo bem? — perguntou, numa das suas raras vezes que demonstrava empatia. — Posso pedir aos servos para carregarem-no até a vila dos elfos de gelo, se necessário.

— Não precisa, eu tô bem… — Lucas o tirou do caminho, andando igual um pateta enquanto saia da entrada do castelo demoníaco.

Ele adentrou a floresta de obsidiana não muito depois, sem sequer demonstrar um sinal de vida.
Aquela súcubo era mesmo especialista no que fazia, capaz de sugar até mesmo a alma com um beijo.

 

*****

 

— Entããão, cabeludo…

Kard, quem se responsabilizou por carregar grande parte do drops de monstros, encarou a pessoa que lhe chamou, no caso a vampira Mila.

Ele não gostava dela desde o momento que se encontraram. Aquela imagem de boa moça que tentava passar, com as roupas bonitas e cabelo curto, lhe passavam uma atmosfera diferente do que desejava.

— Qual a sua relação com o mestre Lucas? — continuou, cerrando os olhos enquanto o encarava.

— Não querendo ser invasiva nem nada, só fiquei curiosa…

— Você é péssima em fingir. — O vampiro largou a carcaça de vários morcegos no meio da neve.

— Só tenho um apreço muito grande por ele e sigo suas ordens sem questionar.

— De verdade? Tem mais coisa nisso, consigo sentir… Você também não é afetado pela minha habilidade, né? Aproxime-se.

Kard, por um momento, teve a impressão que um peso surreal encontrou seus ombros. Ele firmou um dos pés com força, afundando-o contra a neve, e não se mexeu um passo.

 — Como pensei, não dá pra te controlar por conta própria… — Mila analisou a tela flutuante e a empurrou para longe, dando de ombros. — Heh, mas não vai se achando, eu sou a favorita do mestre.

— Receio que esteja errada…

— Como é que é? E o que você fez pra ter essa marra?

— Eu protegi a pessoa quem o mestre mais se importa, também colaborei para te invocar e por fim estou tratando de mover as toneladas de monstros que matei para provar meu valor. E você?

— Ora, eu fui a primeira que bebeu do sangue do mestre, fiz um exército pra ele e também o ajudei nas aventuras!

Quando a última parte foi citada, Kard soltou um “Tsc” e virou o rosto, voltando a se concentrar na organização das carcaças.

Aquela foi sua pior escolha, pois Mila entendeu como uma oportunidade para caçoar ainda mais.

— O que foi, hein? Você nunca saiu uma vezinha com o mestre Lucas para uma aventura? Owwwnnn, coitadinho. Tenho tanta peninha de você.

— Cale a boca…

— Hein? Não consigo ouvir! Eu estou meio surda, sabe? Deve ser por causa dessa nova forma.

— Eu disse para…!

— Ahhh, mas é claro, eu agora que lembrei! Nós dois passamos por muitos problemas juntos, mas euzinha o salvei várias vezes! Claro, não é como se você pudesse passar pelo mesmo…

 

Um corte limpo cortou as unhas da mão estendida de Mila. A vampira olhou aquela arma, que carregava uma sombra espectral conforme se movia.

Ela esboçou um enorme sorriso, crescendo suas unhas novamente e tornando-as tão pontiagudas quanto agulhas. 

— Ficou nervoso, foi? Que bom, por que eu também não estava mais te aguentando!

Disso, vampiro e vampira cruzaram golpes. A espada de Kard colidiu contra as unhas reforçadas por magia negra de Mila, cuja expressão trocou daquela mocinha irritante para um diabo.

No entanto, o homem já esperava algo assim. Ele demonstrava muito calmaria por dentro, porém sua verdadeira natureza desejava a destruição do mundo.

A troca de golpes continuou, assustando os pequenos morceguinhos que antes eram ensinados por Mila e os espantando para os pinheiros próximos.

Enquanto isso, Kard se mantinha completamente focado, seus olhos se movimentavam a uma velocidade surreal para contragolpear as estocadas e os avanços da oponente.

Ela aparentava possuir um pouco mais de força e velocidade do que ele mesmo, o que veio a virar um pequeno problema. Mesmo com uma habilidade de esgrima, o vampiro não tinha muita experiência real.

Suas únicas lutas em que se soltou por completo eram pouquíssimas, pois estava acostumado a matar diversas criaturas menos fortes, e isso veio a se tornar uma fraqueza.

Ao menos, o ponto fraco veio a ser compensado pelos seus instintos e reflexos agéis, sendo até capaz de certo modo controlar o ritmo.

Aquilo serviu para estressar mais ainda Mila, cujo rosto se tornou numa carranca irritada.

— Por que você é tão covarde?! Seja mais ousado!

De repente, a pressão retornou, mas não fora usado sua habilidade Voz da Autoridade, ao invés disso a escuridão tomou conta do ambiente como se a noite tivesse chegado.

Mãos esqueléticas se ergueram da terra, trazendo consigo esqueletos movidos por uma energia roxa. Eles avançaram numa formação desengonçada contra Kard, que os repeliu com um único golpe.

— Um truque desses nunca funcionaria comigo. — A espada dançou pelo ar, rasgando traços de magia negra com seu fio espectral.

— Você me subestima se pensou que é só isso que minha magia faz.

As presas apareceram no sorriso de Mila, cuja feição demoníaca representava um desejo cheio de maldade. O motivo de tão poucos esqueletos surgirem era um completamente diferente.

Carne, ossos, tendões e células mortas se juntaram num único corpo, criando camadas e mais camadas que se desmanchavam sobre o próprio peso.

O resultado final era uma amálgama de matéria em composição, que tentava de algum modo se manter vivo.

Esse ser, cujos olhos eram vazios e seus dentes tortos, abriu as asas rasgadas e ergueu sua garra para atacar o vampiro, que esquivou do golpe saltando para o lado.

No entanto, a cauda do monstro veio em sua direção, lançando uma torrente de neve junto. Kard respirou fundo, o rastro espectral se tornou denso e um único movimento desmanchou a nevasca.

Diversos microcortes desfizeram a neve, transformando-os em partículas tão pequenas que perderam qualquer força, mas não só isso, a cauda do dragão zumbi desapareceu.

Não demorou para que numa breve janela de tempo ele também cortasse o corpo do morto-vivo ao meio, mas esse ser somente se desmanchou em energia sombria pelo ar.

Mila mantinha um enorme sorriso convencido, mas aquela criatura não era a única que conseguia invocar. Com um bater de mãos, mais dragões apareceram, cada um sedento por carne fresca.

Kard fundiu sua mente com a espada, ele conseguia prever os ataques e movimentação inimiga como se não fosse nada, dançando por um campo de batalha.

Baforadas de veneno vieram, mas ser um vampiro tinha a vantagem de imunidade a veneno, logo, pouco se importava com aquilo.

No entanto, a coisa que menos esperava era o céu avermelhar. Quando olhou na direção da maga, ela estava com a mão cortada e erguida para cima, lançando feixes inteiros de sangue.

Parecia que pouco importava com os números, desde que matasse o alvo. Armas despencaram das nuvens, obrigando Kard a se dividir entre lidar com os dragões restantes e ainda se defender.

Mila soltou uma risada maléfica, adorando ver a cena do seu oponente sofrendo para se manter estável, mas mal esperava ela que receberia um golpe tão violento na cabeça que ia cair contra a neve.

O vampiro também se surpreendeu com a interrupção abrupta do feitiço, mas isso significava que a conjuradora foi derrubada por alguém ainda mais forte.

Ele se manteve numa postura de batalha, pronto para lidar com um possível invasor.

— Sério, por que ela só causa o maior fuzuê depois de voltar? — reclamou o sujeito, no caso, um Lucas com expressão emburrada e coçando o meio da testa. — Vocês assustaram que só os residentes, vejam se tomem mais cuidado!

— Foi ela que começou.

— Eu não ligo pra quem começou, só arruma essa bagunça e pelo amor, tenham algum controle!

Assim, o jovem saiu, indo rumo a vila dos elfos de gelo. Kard agradeceu pela interrupção de seu mestre, então se aproximou da oponente caída.

— Pelo visto, eu ganhei dessa vez…

 


 

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