Volume 1
Capítulo 26: Uno
Lucas se desesperou, quem diabos era aquela gente e de onde vieram? Sua cabeça por um momento ficou num turbilhão, indeciso sobre o que fazer.
Havia tempo, ele precisava agir. Desceu daquele ponto alto e gritou para chamar o máximo de pessoas possíveis, incluindo Mila, que tomou ciência da situação rapidamente.
— São algumas dezenas de homens-lagarto montados em lagartos gigantes. Isso é irônico, mas acho que seja fácil de lidar!
— Talvez, eu só não iria por essa linha de pensamento, Mila, já que não sabemos a força desses bichos. — Enquanto avaliava o cenário, sua mente teve um clique. — Espera, eu sei um jeito de testar. Mantenha todo mundo aqui e não se afastem!
Lucas correu em direção à suas mobtraps de goblins.
Foi só necessário abrir um buraco que uma enchente das criaturinhas inundou a terra vazia, e depois que todas foram liberadas, a quantia dele ultrapassava o sustentável.
Sorte que eles não seguiram qualquer direção, e sim foram na mesma que os reptilianos. O gigantesco esquadrão improvisado os atacou, repelindo suas forças.
A curiosidade do rapaz, por outro lado, continuava atiçada, no entanto ele sabia que enfrentar o exército de goblins era idiotice; por isso, decidiu construir pequenas pilastras na qual pudesse pular.
Aproximou-se rapidamente do grupo de monstros desconhecidos, dali analisou cada um deles.
Um se destacava era um grande homem lagarto cheio de cicatrizes e com um machado feito de pedras lascadas. Com certeza era comparável a um homem das cavernas versão lagartixa.
Porém, havia outro detalhe crucial. Eles falavam, e o pior, falavam português.
— Ó seu filho da puta!
— Me solta, corno!
— Abaixa esse rabo!
A expressão de Lucas não podia ser diferente da mais pura confusão.
Como se não bastasse entender porquê diabos os vampiros falavam sua língua, ainda tinha mais aquela tribo estranha que usava a mesma língua.
Por um lado, isso fez sua cabeça tirar a cogitação de matá-los. Eles eram monstros, sim, mas agiam como pessoas, então matá-los seria o equivalente a matar alguém.
Sua alegria não durou tanto, já que logo eles o perceberam parado no pilar de pedra.
— Ali está, o culpado por roubar nossa comida! — gritou o líder, levantando seu machado. — Peguem ele!
“O culpado? Eu não roubei nada… Eita!”
A resposta veio assim que olhou para as mobtraps abertas atrás de si. Ele saltou para o pilar de trás antes que fosse derrubado pelo machado da lagartixa grandalhona.
Não tinha o melhor equilíbrio ainda, no entanto não havia muito o que pudesse fazer.
— Ei, ei, vamos conversar! Eu consigo entender sua raiva, mas não fiz por mal!
— Não fez por mal?! — Veias saltaram de seus braços e testa. — Você nos fez passar fome, desgraçado.
Uma machadada potente derrubou o pilar antes que Lucas pudesse voltar ao anterior, forçando-o a usar sua técnica mais recente e repentinamente desaparecer da vista de todos.
Já que as palavras não estavam ajudando, ele decidiu que iria por um método mais bruto. Seu corpo repentinamente apareceu bem na frente do homem-lagarto.
“Respire… concentre… e… exploda!”
38% do potencial corporal foi liberado.
O ataque o afastou para trás e deixou uma marca de queimadura no abdômen com o mesmo formato de seu punho.
O dano seria extremamente mais severo se estivesse com as garras, mas ele preferia manter as coisas como estavam.
“O dano foi bom, mas a minha mão já está doendo.”
Em contrapartida, liberar o potencial também causava certo dano. Seus dedos estavam vermelhos, com um grande hematoma que cobria aquela parte.
“Compensou ter passado um tempo a mais com Amora antes de vir pra cá, eu consegui usar mais do meu potencial.”
Antes de tirar sua folga de uma semana, Lucas passou um tempo com seu mestre.
Eles treinavam juntos havia um tempo, o objetivo era desbloquear o tal potencial oculto do rapaz. Como resultado, uma habilidade apareceu.
Potencial Muscular
Rank: F
O usuário pode liberar mais da força oculta em seu corpo, amplificando sua força e velocidade.
Esse feito foi atingido, porém tinha um limite.
Só era seguro desbloquear até 35% do potencial, mais que isso e danos começariam a aparecer e poderia ser muito grave se continuasse assim.
Lucas usou naquele momento mais como um aviso e para nocautear seu inimigo na primeira chance. Pelo estado atordoado dele, parecia ter dado certo.
No entanto, suas expectativas sumiram quando o homem-lagarto soltou uma gargalhada.
— Me diga seu nome, rapaz!
— É Lucas. — Ele não desfez a base do boxe, ainda desconfiado das intenções de seu oponente.
— Interessante… Lucas de que? Qual seu clã?
— Hã? Eu não tenho clã, e de qualquer jeito eu não diria meu sobrenome pra um estranho assim.
— Oh, que sábio… realmente sábio… — Ele bateu o cabo do machado contra o chão. — Então eu lhe desafio, Lucas, o sem clã.
O rapaz levantou sua sobrancelha. Que tipo de armadilha era aquela? Isso só serviu para aumentar o seu ceticismo, especialmente após quase ter uma queda feia.
— Que desafio? E por que você tá pedindo isso agora?
— É pela minha antiga tradição, que caso uma pessoa impressione outro da tribo dos Lagartos Subterrâneos, este deve desafiá-lo e provar o valor de seu oponente. Em respeito às tradições do meu clã, o desafiante escolhe uma prova em que ambas as partes se enfrentam, sendo que o desafiador recebe uma vantagem.
— Hah… tá bom, eu aceito o desafio. — Desfez a postura, levantando os ombros. — Mas com uma condição: se você fizer alguma gracinha durante isso, eu vou quebrar sua cara no mesmo instante, capiche?
— Certo. Em meu nome, Korpes, eu afirmo que o desafio está posto.
Lucas fez uma mesa com o martelo de construtor, impressionando seu oponente que já estava chocado com sua força.
“Eu pretendia usar isso pra jogar com os outros mais tarde, no entanto, esse cara é forte e eu não quero me arriscar. Se o que ele diz é verdade, então terei que usar aquilo.”
Eis que o rapaz tira sua carta na manga, um baralho de cartas vermelhas com "Uno" escrito no verso. Colocou o baralho em cima da mesa e abriu um largo sorriso.
— Esse jogo é ancestral entre a humanidade. — Revelou uma carta do monte, um 0 amarelo. — Amores já foram perdidos, amizades se desfizeram, guerras emergiram e inúmeras tragédias vieram com esse jogo amaldiçoado! Ele é usado como nossa ferramenta para decidir até nosso futuro!
— Ohhh! — O homem-lagarto puxou uma carta, mais maravilhado que nunca. — Um jogo perigoso, entendo… como vantagem, eu quero saber de todas as regras do jogo.
Lucas explicou todas as regras, tais como bater a mão quando aparecesse o número 9 ou ficar em silêncio diante do número 7.
Ele até incluiu que se você jogasse um +2 em cima de outro, os dois acumulavam, e também disse sobre cada efeito das cartas.
Terminado o falatório, seus olhos se concentraram no seu oponente, que dentro da própria cabeça desenvolvia estratégias para vencer.
Porém, nenhuma delas seria o bastante para ganhar de alguém que passou horas de tédio jogando Uno com sua mãe e irmão durante um dia que a operadora de internet era uma inconveniência e não resolvia o problema.
As cartas foram distribuídas e o jogo começou. Korpes era ágil em alterar a cor da carta no topo do monte, usar os bloqueios quando precisava de mais um turno.
Por mais que tivesse uma aparência bárbara, ele também era um estrategista nato, por isso conseguia lidar tão bem com o jogo.
Minutos depois, a mão do rapaz estava cheia. Korpus jogou sua penúltima carta.
— Uno.
Aquilo era tudo o que queria ouvir.
Um gigantesco sorriso maldoso surgiu em seu rosto, indo de orelha a orelha. O homem-lagarto pressentiu algo de errado, e foi então que sua ruína chegou.
Lucas puxou só uma única carta, assim o terror deu início.
— Bloqueio, bloqueio, bloqueio, bloqueio, reverso, reverso, reverso, reverso, reverso, mais dois, mais dois, mais dois, coringa, Uno, mais quatro. Ganhei.
Era uma derrota completa. Korpus tremeu diante de tamanha jogada. Como alguém era capaz de pensar tão a frente e causar uma derrota tão esmagadora? Que tipo de rapaz era aquele que com meros segundos destroçou toda sua moral?
Se na sua mão houvesse um +2, talvez tivesse ganho, mas não, era um maldito 3 verde. Ele tinha gasto seu +2 duas rodadas antes para jogar duas cartas e estar mais próximo da vitória.
Sua pressa por vencer foi ironicamente o motivo de perder a partida.
— Bem, eu venci — disse Lucas, dando de ombros. — Agora, como eu venci o desafio, eu devo conseguir algo em compensação, né, Korpus?
O sorriso dele não poderia ser maior que sua própria inteligência para a vitória.
Korpus estava completamente abalado, era impossível vencê-lo. Por um momento, ele se sentiu como se fosse a presa aos olhos do caçador.
— Eu admito minha derrota… — Prostrou-se, sua cabeça quase afundou no chão.
"Isso foi mais rápido do que eu pensei, normalmente são muitas partidas até decidir…"
Lucas deu de ombros, se a desistência veio tão depressa, não tinha o que se preocupar.
— Tudo bem, mas como eu ganhei, eu devo receber uma recompensa, né?
— Sim, o que você deseja?
— Hmmm… vocês poderiam ajudar nos projetos que eu pretendo fazer?
— O que?
— É isso aí que eu falei. Só quero uma ajuda para resolver o problema. Aliás, posso oferecer quanta comida vocês quiserem, tem muito de sobra no armazém.
O líder ficou boquiaberto. Era a oferta mais tentadora que já recebeu, porém vinda de um estrategista muito bom, tinha que ter alguma armadilha ou um movimento a mais.
Lucas transmitia um tipo de aura de uma pessoa poderosa, pois de acordo com a filosofia de Korpus, apenas pessoas assim podiam ter tanta inteligência.
— Ma-Mas não poderíamos ajudar sem termos algum lugar para ficar. Digo, podemos facilmente cavar buracos e construir nossas moradias no subterrâneo e…
— Pra que? Eu consigo levantar algumas casas em questão de segundos, e mais, ter vocês debaixo de nós só causaria problema. Já imaginou se tudo desaba porque o chão tá oco?
Aquela perspicácia mais uma vez o impressionou, transformando seus olhos em duas esferas brilhosas que se encantaram com o Q.I extremamente avançado de Lucas.
Enquanto isso, o rapaz catou de volta as cartas e coçou um dos ouvidos, esperando uma resposta positiva do líder.
Korpus concordou de uma vez, apertou as mãos daquele homem com uma puta sabedoria desbalanceada.
Depois disso, foram muitas felicidades para o lado de Lucas. Ele acabou de conseguir alguns pares de músculos que podiam acelerar qualquer construção num piscar de olhos.
Claro, explicar a situação para Mila foi uma grande confusão, especialmente porque ela odiava o cheiro de peixe.
Por mais indelicada que fosse, o rapaz ofereceu uma recompensa se ela tolerasse e ajudasse os novos residentes.
Disso, só faltou uma coisa. Lucas olhou para sua nova habilidade de invocar masmorras à tona. Tinha um universo de possibilidades, tudo o que precisava era escolher um.
Mas antes…
— Ei, Milla, podemos organizar algumas coisas antes de eu sair por um tempo?
— O que? E quem cuidará desses peixes gigantes?
— Você, ora. Não é a líder desse lugar?
A vampira ficou quieta por um momento, tinha realmente gostado de ser chamada assim. Aproveitando a deixa, ele continuou:
— Então, eu vou precisar que você prepare algumas coisinhas enquanto estarei fora…
— Mas por que, mestre? É realmente importante?
— Ah, é muito. Eu estarei num nível completamente diferente, talvez acima de 100.
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