Volume 1
Capítulo 21: Preparação
Lucas estava desejando realmente que o treino antigo voltasse. A carga recebida em seu corpo era tanto que ele mal conseguia mexer a boca direito para reclamar.
E ainda estavam pegando leve, pois a única coisa que fazia era andar em círculos pela sala.
— Mais uma volta! Mais uma volta!
Amora dava todo apoio emocional do mundo, com uma bandeira hasteada ao seu lado escrito "Força! Força!" em letras tortas e gigantes.
Mesmo com esse tipo de ajuda, a dificuldade permanecia igual. Cada vez mais seus treinos se assemelhavam aos de personagens de animes e mangás, porque só estavam ficando absurdos.
"Porra, eu tô treinando pra virar Super Saiyajin?"
Novamente ele arrastou as pernas pelo chão, tentando ao máximo manter seu equilíbrio. Se não fosse pelas habilidades recém-adquiridas, com certeza estaria com o rosto afundado no chão.
Não soube dizer quanto tempo ficou repetindo isso. Parecia que horas haviam se passado, mas ele não tinha certeza, já que a sala drenava sua noção de tempo.
— Já tá bom! Pode tirar os braceletes!
Lucas arrancou os dois dos pulsos. A leveza que seu corpo recebeu foi monstruosa, sentia até que conseguia pular até as alturas com facilidade.
Esticou os braços e respirou fundo, em seguida limpando o suor com uma toalha e caindo de bunda no chão. Até então foi o exercício mais cansativo já feito, mal se comparava com os demais.
— Por mais… quanto tempo faremos… isso?
— Até que você não sinta mais nada enquanto usa eles!
O rapaz revirou os olhos, como sempre seu mestre era uma pessoa insensível e muito bruta para ter tanta coragem de realizar treinos fatais.
Não teve muito tempo para reclamar, pois uma pessoa entrou na sala. Era sua chefe com as clássicas roupas de empresária, e seu rosto parecia um pouco preocupado.
— Lucas, preciso ter uma conversa com você. Venha.
Agora a preocupação tinha sido passada ao garoto, que se despediu de Amora e a seguiu até o escritório. Lá, a mulher organizou uma pequena papelada em sua mesa bagunçada.
— É quanto ao que você me deu… Hah… Você é um tipo de monstro ou o que?
— Que eu saiba, não. Por que?
— Aqueles frascos que você me deu… Senhor Amado, tudo aquilo é uma fortuna! — Ela bateu o punho na mesa e abriu o maior sorriso do mundo. — Você me deixou multimilionária, não tem noção do que é isso!?!
Um arrepio atravessou o corpo de Lucas. A maneira como ela apertava seus ombros e o rosto tão próximo o deixou corado e ao mesmo tempo sem palavras.
— Não, claro que você não sabe. — Bianca afagou a cabeça do garoto e o empurrou para trás. — Enfim, temos muito a fazer, e com os recursos que podemos obter com esse dinheiro podemos transformá-lo num Raider de primeira linha em um piscar de olhos!
— Mas e o meu irmão? Eu fiz isso pra ele, principalmente.
— Bom, quanto a ele… talvez a recuperação seja acelerada por conta daquela medicina. Não é garantia, mas já pedi para fazerem testes em monstros, animais e pessoas.
Bianca então o entregou uma folha em específico, mostrando um suposto valor de venda para as demais companhias. Era um valor exorbitante, do tipo que Lucas nunca imaginou ter em vida.
Ela explicou em seguida que tentaria obter esse dinheiro o mais rápido possível, tanto para dar um pagamento bem gordo ao novato mais bem-sucedido da empresa, quanto também reunir alguns equipamentos de treino de qualidade ainda maior.
As sobrancelhas da mulher repentinamente se ergueram. Havia lembrado algo muito importante que não tinha dito antes.
— Acho que fiquei tão animada com o extrato do produto que minha mente começou a pifar… — Pegou o celular e discou uma mensagem rapidamente. — Lucas, converse com minha secretária. Pegue o que quiser do nosso estoque e leve, temos mais uma coisa para fazer.
— Pra você permitir que eu pegue qualquer coisa, tem que ser algo meio sério demais, né?
— Hahaha… Eu ia te deixar fazer isso mesmo se não tivesse. Bem, vá logo, pois temos uma Raid para concluir.
*****
Lucas não sabia direito se tinha sorte ou azar.
Por um lado, pensava ser sorte, pois os equipamentos e os diversos itens do Arsenal da empresa eram realmente fodas. Por outro, tinha que ir a uma Raid.
O lado mais ruim disso não era exatamente fazer uma, mas o fato de que não podia usar os melhores equipamentos disponíveis por conta que já foram pegos por outras pessoas.
Era uma sacanagem gigantesca, especialmente depois de tanto treino feito. Ao menos, tirou de lá algumas peças muito úteis.
Manoplas da Ventania
Raridade: Raro
Um par de manoplas feito no pico das montanhas que foram banhadas com magia de vento. Elas são muito leves e possuem garras retráteis na região dos punhos.
Dá +10% de velocidade quando na forma de punho
Dá +10% em agilidade quando na forma de garra.
Punho de Vento/Rasura de Vento.
Impulsiona os golpes por um breve momento, triplicando a velocidade que o item dá/Realiza um rasgo no adversário ignorando 30% de sua resistência.
Conjunto Órquico
Raridade: Incomum
Um traje usado por guerreiros orcs, feito de pelagem dura e ossos de animais que um dia caçaram. Dizem que essas roupas são abençoadas por um xamã num ritual.
Dá +7,5% de Força por cada peça (30%).
Fúria de Orc.
Faz o usuário entrar num estado de êxtase, nulificando a dor, venenos e toxinas, além de temporariamente prolongar quaisquer efeitos positivos recebidos. Aviso: enquanto estiver nesse estado, aliados podem acabar sendo feridos.
Anel de Magistério
Raridade: Raro
Um artefato mágico de um mago que morreu há muito tempo. Dizem que ele ensinava coisas incríveis sobre magia e deixou apenas os pergaminhos de seus estudos para trás.
Dá 15% de mana.
Economia Arcana
Magias de nível 3 ou menor tem seu gasto reduzido em 20%.
O prego no caixão era sua recém-adquirida magia, obtida ao pôr mais um ponto nas magias iniciais e receber aleatoriamente uma nova.
Seu desejo era algo de suporte, que pudesse preferencialmente aumentar as estatísticas, e a sorte lhe sorriu ao entregar uma habilidade que servisse a esse propósito.
Proteção da Montanha
Nível: 1
Uma magia que invoca os espíritos da terra para protegerem o usuário, aumentando sua resistência enquanto a magia se mantiver.
Se fosse no atributo força, seria melhor, porém nenhum brasileiro reclamaria de andar por aí com um colete balístico se tivesse um.
Lucas então organizou suas poções de cura em um cinto de utilidades que arranjou do armazém.
A única coisa que não levava era seu arco e as flechas, pois seria coisa demais para levar e atrapalharia o estilo lutador que queria adotar na Raid.
— Lucas, precisamos ir agora — chamou Bianca, vendo-o colocar as ombreiras do conjunto. — Seja o mais discreto possível, entendeu?
— Sim, eu entendi, você fala isso desde ontem…
Ele suspirou e levantou do banco, saindo daquele vestuário. A chefe foi a responsável pela carona tanto dele quanto de outros profissionais que analisariam os raiders novatos.
A tal raid era somente um teste para novas pessoas que foram admitidas na empresa e que passaram pela primeira fase.
Era um procedimento padrão adotado por qualquer lugar que tivesse que contratar algum raider para suas atividades, sendo todos obrigados por lei a realizarem o processo.
Os analistas eram raiders de rank alto, que estavam lá para recrutar calouros para seu grupo ou para trazer novos potenciais para si.
A única exceção era Lucas, que aos olhos dos demais parecia um “cachorrinho” de Bianca.
Eles preferiram nem tocar ou conversar com o garoto, já que temiam que a chefe cortaria cabeças se fizessem.
Depois de algumas horas, chegaram ao local. Havia um portal aberto no meio do parque, rodeado por cercas amarelas da polícia e com um grupo de pessoas de diversas idades reunidos.
— Espere um tempo no carro — avisou Bianca, abrindo a porta. — Quando todos os olhos estiverem em mim ou em outra coisa, saia e se junte à multidão. Lembre-se, seja o mais discreto possível.
Lucas acenou com a cabeça e os viu se juntarem em volta de um pequeno palco, onde a chefe pegou um microfone e deu um breve discurso motivacional aos candidatos.
Assim que todos olharam para ela, o rapaz saiu do carro e caminhou devagar para a multidão. Pensou ter se disfarçado bem, mas tinha uma pessoa olhando para ele fixamente.
Era uma garota de cabelo curto, que escondia a cabeça com um capuz e usava um moletom amarelo.
Por um momento os olhos dos dois se encontraram, mas Lucas não conseguiu discernir quem era. Em seguida, Bianca chamou atenção de todos com um pigarreio no microfone.
— Primeiramente, parabéns aos que passaram da primeira fase, e sejam bem-vindos à segunda parte do exame.
Ela indicou o portal ali perto com a mão.
— Vocês passarão pela simples prova de enfrentar este portal de classe E. Todos também receberão um aparelho especialmente feito que servirá para monitorarmos e que em caso de emergência ativará um escudo para evitar algum desastre.
Prosseguiu explicando que a prova contaria pontos a partir do número de monstros mortos e materiais extraídos. Os que possuíssem maior pontuação seriam admitidos na empresa.
As regras também eram claras: ferir outro Raider levaria a desclassificação imediata, materiais de fora não seriam levados em conta e os que perdessem a consciência ou fossem derrotados pelos monstros também seriam retirados do teste.
Ela estalou os dedos, chamando um de seus empregados para verificar uma última vez os diversos integrantes.
A expressão de Lucas não podia ser de maior preocupação. Estava ansioso, era sua primeira raid e mal sabia como havia parado naquela situação.
Sorte a dele usar o Fluxo funcionar para mantê-lo concentrado nos momentos de maior tensão, caso contrário ele estaria talvez vomitando no banheiro.
Checados os participantes, foi dada a largada com um apito. Todos correram em direção ao portal aberto, exceto pelo rapaz, que estava plantado no chão.
Depois de balançar a cabeça e recobrar os sentidos, ele disparou junto dos demais e saltou para dentro da fenda dimensional.
Seu corpo ficou envolvido por uma gelatina esquisita assim que entrou, pouco a pouco esfriando até que a sensação passou e seus pés tocaram um piso de pedra.
O jogador adentrou a dungeon Formigueiro de Cristal
*****
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