Eu Selarei os Céus Chinesa

Tradução: Drago

Revisão: Delongas


Livro 5

Capítulo 652: Navio do Submundo

Quando a voz ecoou, todos os cabelos de Meng Hao se arrepiaram. Um sentimento indescritível tomou conta dele, e parecia que uma mão antiga e gelada estava gentilmente acariciando seu pescoço.

Uma aura de putrefação encheu a área. Quanto ao navio em que estava… tudo de repente pareceu desacelerar. Num momento, parecia que milhares de anos se passaram.

Todos no navio ficaram pálidos e começaram a tremer. Expressões sem precedentes de medo podiam ser vistas em seus rostos. Mesmo aqueles que não conheciam o navio do submundo podiam dizer pela situação atual que estavam em perigo crítico!

O terror encheu os corações dos três anciões. Eles empregaram todo o poder de seu cultivo e até consumiram pilulas para acelerar o barco para frente com toda a velocidade possível.

Meng Hao respirou fundo e girou seu cultivo para dissipar a intensa frieza. Um dos três anciões que estavam sentados gritou com uma voz rouca: ― Não olhe para trás! Todos vocês, me escutem. Sob nenhuma circunstância, olhe para trás!

― Não se deve olhar o caminho para o inferno! Se virar a cabeça, será consumido!

Havia algumas pessoas no navio que estavam pensando em se virar para olhar. No entanto, depois de ouvirem as palavras do ancião, ficaram ali tremendo, sem ousar virar a cabeça nem um pouco.

Os olhos de Meng Hao brilharam. Atrás dele, ele podia ouvir soluços. Parecia o choro de uma multidão. Gradualmente, tudo ao redor ficou ainda mais frio. Na penumbra, era possível distinguir fios de nevoeiro branco que pareciam cabelos, girando no ar.

― O fim do meu Dao… está quase… ― disse a voz, cheia de uma aura de decadência. Parecia estar chegando perto.

Um brilho frio apareceu gradualmente nos olhos de Meng Hao, enquanto ele estava parado na proa. Embora não tenha virado a cabeça, a energia em seu corpo gradualmente se tornou mais concentrada.

O navio ganhou velocidade, mas tudo ao seu redor estava imóvel. Mesmo que se movesse muito mais rápido, ainda seria incapaz de escapar dos fios brancos que enchiam a área e continuavam a crescer.

Quase parecia que o próprio navio estava atolado numa pintura, uma pintura na qual tudo estava imóvel. Não importava se os três anciões usassem sua força, eles ainda não estavam se movendo rápido o suficiente.

A aura de podridão se aproximou, como se o navio do submundo estivesse se aproximando cada vez mais.

Embora o navio deles não estivesse em movimento, a passagem do tempo a bordo parecia estar acelerando. Todos tremeram, pois sentiram sinais de que sua força vital estava começando a diminuir.

O desespero brotou no coração dos três anciões.

Meng Hao silenciosamente levantou o pé direito e depois golpeou suavemente o convés. Instantaneamente, seu cultivo entrou no navio. Grande parte do convés se despedaçou diretamente, mas, ao mesmo tempo, o navio avançou com uma velocidade incrível. A velocidade era tal que parecia que eles se libertariam do mundo ao qual estavam presos. Os três anciões ofegaram, e a esperança apareceu em seus rostos enquanto ajudavam com todo o poder que podiam reunir. Finalmente parecia que o navio se libertaria. O movimento ao redor se tornou visível.

Eventualmente, eles atingiram uma velocidade que era capaz de combater contra qualquer coisa que permanecesse imóvel. O ar começou a se mover e a quietude parecia estar prestes a se quebrar. Foi nesse momento, quando tudo parecia estar prestes a começar a se mover novamente, que Meng Hao ouviu um suspiro em seu ouvido.

Então ouviu a voz de um homem, cheia de amor sem limites. ― Hao’er… você esteve a salvo todos esses anos…? Naquela época, sua mãe não concordava, mas como seu pai, eu… eu insisti que deveria ser assim. Não culpe sua mãe…

Meng Hao tremeu. Ele reconheceu a voz. Memórias que realmente permaneceram. Mesmo depois de tantos anos, ele reconheceu que essa era a voz de seu pai!

Ele ficou lá em silêncio. Ele não olhou para trás quando o navio acelerou. A imobilidade na área estava rapidamente dando lugar ao movimento. Os fios brancos que flutuavam no ar estavam lentamente se movendo para trás, libertando o navio.

Nesse momento, porém, Meng Hao ouviu outra voz.

― Hao’er… você… ainda se lembra de mim? Sou sua mãe, deixe-me ver seu rosto. Faz tantos anos… Sentimos sua falta.

O corpo de Meng Hao tremia e sua cabeça se moveu um pouco. Uma expressão complexa apareceu em seus olhos enquanto estava lá, respirando. Ele não olhou para trás; em vez disso, concentrou toda sua energia no controle do barco. Um som estridente pôde ser ouvido quando a frente do barco finalmente atravessou a quietude.

Meng Hao podia ver a fronteira da região logo à frente; eles estavam quase fora da pintura.

― No fundo do seu coração, está a obsessão. ― Essa voz não era a voz de seus pais em sua memória. Era a voz antiga e decadente.

A voz parecia confusa, como se também estivesse cheia de obsessão infinita.

― Você é um ser vivo que encontrei no caminho para as fontes amarelas. Eu posso ajudá-lo a cumprir sua obsessão. Olhe para trás e você poderá ver como eram seus pais.

O cultivo de Meng Hao de repente parou de se mover. Ele não derramou mais energia no navio, mas ficou ali na proa. Diretamente na frente dele estava a borda da pintura de imobilidade; depois de passarem por essa fronteira, eles ficariam livres.

Meng Hao sabia muito bem que, se olhasse para trás, algo ruim aconteceria. No entanto, as palavras ditas a ele agora o deixaram completamente abalado.

Ninguém mais podia ouvir as palavras ditas em seu ouvido agora, nem mesmo os três anciões. Todo mundo ficou sentado, tremendo e atordoado. Meng Hao era o único lúcido entre todos eles.

Em seu silêncio, Meng Hao de repente sorriu. Era um sorriso desenfreado e cheio da vontade de purificação.

De repente, ele murmurou: ― Qual é o mal em virar minha cabeça? Na minha vida, eu cultivo meu coração. Meu caminho é de entendimento e da verdade.

“Se eu não olhar para trás, como poderia reivindicar cultivar meu coração?” Seus olhos se encheram de uma luz brilhante quando  casualmente se virou para olhar para trás.

A primeira coisa que chamou sua atenção foram os inúmeros fios brancos que flutuavam no ar, torcendo e entrelaçando ao redor do navio. Os fios se originaram de um enorme navio de guerra!

O navio tinha três mil metros de comprimento e irradiava um ar arcaico, como se existisse por inúmeras eras. Foi dilapidado de uma maneira que sugeria que havia experimentado o batismo da guerra.

Na proa do navio de guerra, uma figura era vista. Era um velho vestindo uma armadura preta. Era impossível ver claramente suas feições, mas seu corpo parecia estar apodrecendo dentro da armadura.

Quanto aos fios brancos, eram na verdade os cabelos do homem!

Assim que Meng Hao pôs os olhos nele, o velho o viu. Ele levantou a cabeça e olhou para Meng Hao.

Assim que seus olhares se encontraram, a mente de Meng Hao se encheu de estrondo. Em seguida, uma visão apareceu para ele. Ele viu um caixão, sua superfície coberta com esculturas das nove borboletas[1].

O caixão descansava num antigo campo de batalha. Os arredores eram desprovidos de qualquer cor, exceto preto e branco.

A visão durou apenas algumas respirações. Então se dissipou. Meng Hao ofegou quando recuperou a consciência.

― Sua… semente do dao… ― disse a figura de armadura suavemente, com a voz rouca. ― Em todos os anos, de todos os seres vivos que encontrei, vi inúmeras sementes do Dao… Você, no entanto, é diferente deles.

― Vá. ― O velho estava sentado de pernas cruzadas com sua armadura. Parecia que nunca iria se levantar. Quando falou, sua voz parecia cheia de desânimo. Lentamente, seus cabelos se afastaram do navio em que Meng Hao estava. Ao mesmo tempo, o navio do submundo começou lentamente a recuar. Ao mesmo tempo, começou a desaparecer.

A quietude na área também começou a desaparecer lentamente.

Quando o navio começou a desaparecer, Meng Hao de repente abriu a boca para falar. ― Sênior, você ainda não cumpriu sua promessa! Imediatamente, a quietude retornou. O velho no navio de guerra lançou um olhar profundo a Meng Hao.

Esse olhar parecia conter as transformações do mundo inteiro. Continha as reviravoltas do tempo e foi jogado nos olhos de Meng Hao. Instantaneamente, um som estridente encheu sua mente.

Desta vez, em sua visão, ele viu o Monte Daqing!

Fora do monte Daqing havia um vento violeta assobiando. O nevoeiro agitou-se, cobrindo toda a montanha e, eventualmente, o condado de Yunjie.

Dentro da cidade, as lâmpadas dentro das casas foram apagadas instantaneamente, exceto por uma casa… Dentro daquela casa, as luzes dançavam, iluminando um homem de meia-idade que estava ao lado da janela. Era impossível dizer o que estava pensando.

Os sons de choro podiam ser ouvidos dentro do quarto. Através das rachaduras na porta, a silhueta de uma mulher podia ser vista. Ela segurava um garoto nos braços e lágrimas escorriam pelo rosto.

O garoto tinha olhos inteligentes, mas agora estavam cheios de confusão e perplexidade.

O vento violeta soprou a névoa até cobrir completamente o condado de Yunjie. Lá no alto do céu noturno, um sol violeta se tornou visível de repente.

O sol violeta fez uma pressão assaltar o condado de Yunjie.

Foi nesse momento que o homem abriu a porta da frente e saiu para a névoa violeta. A mulher enxugou as lágrimas e olhou para o garoto por um momento. Então ela se virou e foi embora.

Nesse momento, Meng Hao foi capaz de ver claramente o rosto dela.

Ela era linda, gentil, e suas lágrimas pareciam estar cheias de relutância em se separar. No entanto, ela deixou o garoto para trás na sala, assustada, confusa e desamparada.

― Papai… Mãe… ― exclamou o garoto. Ele parecia estar ficando mais assustado. Ele correu para a neblina.

― Papai… Mãe… Onde estão? Estou com medo… ― A voz do garoto era jovem e terna, e tremia quando falou. Ele parecia aterrorizado. O vento ao seu redor era frio e a neblina era abrangente. No entanto, não pôde fazer nada para reprimir os gritos do menino, que ecoaram na névoa.

Seus soluços ficaram cada vez mais estridentes enquanto corria. De repente, tropeçou e caiu, arranhando os joelhos e rasgando a roupa. Seu cabelo estava desarrumado e lágrimas escorriam pelo rosto. Tudo o que queria era seu pais, mas o que não notou foi que, atrás dele, uma mão espectral preta esticava-se na direção de sua cabeça, dentro do nevoeiro.



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