Volume 1
Capítulo XXV: É uma torre de uma igreja?
Amanheceu e a dupla exótica de viajantes despertou cedo, Kuria observou mais atentamente as ruínas (com sorte a parte onde estavam era coberta) iluminadas pelos primeiros raios do sol.
—Nossa então estamos aqui...a quanto tempo, não é? Exclamou uma Kuria nostálgica.
—Já esteve aqui, Kuria?
—Sim fazem acho que pelo menos mil anos, aqui era um castelo, um forte, um palácio o que você acha melhor, era grande era bonito e pertencia a um nobre e ele tinha um bom coração era a pessoa mais generosa que eu conheci, aquele rapaz jovem cheio de ideais, as pessoas sob seu jugo prosperavam, os fracos e os escravos ele fazia de tudo para libertar e trazer justiça o máximo que conseguia alcançar...eu o amava...
—E o que aconteceu?
—Outro dia te conto, uma longa história, vocês humanos mortais mesmo que cheios de saúde vivem pouco e ainda vivem menos ainda pois lutam entre si fazendo com que todos até os deuses tomem gosto pela guerra e dela apreciam.
Bom se não me falha a memória mais para frente ao longo da estrada há um vilarejo.
—Distante quanto?
—Um humano viajante comum levaria uns três dias de caminhada.
—Isso dá entre 50 a 60 kms eu acho disse Gilmar
—Uns 200, 250 Heptgalios...
A estrada seguia em direção ao norte de forma sinuosa contornando as colinas tomando as montanhas a sua direita. Desfeito o “acampamento” , Gilmar ligou o veículo não sem antes checar o nível das baterias e ter passado com cuidado um pano nos paineis solares.
Seguindo viagem enquanto Gilmar tomava todo o cuidado ao volante (a real é que ele nunca tinha dirigido um SUV antes....) enquanto Kuria fazia inúmeras perguntas geralmente sobre a vida pessoal do soldado e até opiniões particulares pessoais...
—Por que você quer saber tanto isso?
—Eu quero saber tudo sobre o mortal que reivindiquei a alma.
—Pera... (Gilmar quase freia o veículo botando para correr um viajante que por acaso passava por perto), sério isso? Eu nunca acreditei nisso, achei que era uma piada.
—Claro que sua alma é minha, tenho tudo... como vocês fazem no seu mundo? Registrado e autenticado está aqui o documento que prova que seu espírito me pertence.
Outra freada, Gilmar para o carro (quase acerta a cabeça no para-brisa).
—O que? Me mostre este documento aqui e agora!!!!!
Gilmar pegou com “calma” e leu o documento que constava:
...E fica assim acordado que a Srta Kuria em troca do serviço prometido em benefício do Império receberá além das honrarias previstas o direito de pegar para si o que ela desejar desde que não viole os nobres princípios da constituição...
—Então caro Gilmar, como não tem nada na lei que impede alguém reivindicar a alma do outro e que eu jurei a seu imperador não impedir a manifestação da sua fé isso significa que não violei a constituição do seu país, ou seja... sua alma é minha!
“A infeliz juridicamente falando tem toda razão”. Pensou Gilmar
—E tenho mesmo! Respondeu Kuria
—PERAI!! Você pode ler pensamentos?
—E sonhos também, aliás, gosto da forma sensual que apareço nos seus, tua imaginação, tua libido quando sua consciência baixa a guarda faz ela se libertar, incrível!
—Perai isso não está certo! Ai meu coração é hoje que deixo este mundo...
—Seja forte homem! Kuria deu um tapa nas costas de Gilmar ela tinha carregado sua mão com uma espécie de energia que “reanimou” Gilmar o fazendo pisar no acelerador e dirigir com uma habilidade que até ele mesmo desconhecia.
Passando o “impulso” ele começou a dirigir com o cuidado de antes e por um momento expiou Kuria, a olhada que ele deu foi a que um homem dar em uma garota, a divindade só agora ele reparou, usava um vestido extremamente fino que ao cobrir seu corpo mostrava todas as suas curvas principalmente os seus seios, aquele tecido mostrava com fidelidade cada curva e ponta do que cobria, Gilmar engoliu seco seria impossível um homem não ter uma certa dose de excitação, porém para manter o decoro ele logo desviou o olhar e focou a atenção na estrada ladrilhada.
—Gostou do que viu, garoto?
Ela tinha lido os pensamentos dele, não dava para desviar o assunto.
—Sim...sim...sim muito bonito
—Eu sei o que você sentiu!
—Por favor, Kuria!!!! Preciso me concentrar na estrada ou sofreremos um acidente, não quero morrer!
—Por que teme? Tua alma estará segura comigo...
Gilmar ficou em um estado de semi torpor dirigindo com cuidado, mas de forma automática, alguns quilômetros adiante ele avistou um tipo de construção familiar que fez retomar seus sentidos.
—Pera! É isso mesmo? Vai vamos para lá
—É você que está dirigindo garoto
—É mesmo, bom, tenho que ver aquela torre mais de perto.
Eles então continuaram seguindo aquela estrada calçada com pedras achatadas até que chegaram a um vilarejo onde se localizava aquela torre vista alguns quilômetros atrás, Gilmar e Kuria viram então entre os aldeões um grupo de monges ajudado por outro grupo de rapazes.
Entre os vários sons e conversas no dialeto falado pelos nativos um tipo de som despertou em Gilmar uma sensação mista de intriga e tranquilidade, sim este som era o som reconfortante da língua portuguesa. Não era apenas uma impressão, pois o que foi avistado de longe era de fato uma torre do sino de uma paróquia.
Gilmar dirigindo adentrou no povoado e parou o veículo em frente ao prédio e ignorando completamente tudo ao seu redor ficou observando fascinado pela arquitetura da igreja, ainda em obras que estava somente parcialmente pronta e se passaram apenas poucos meses desde que aqueles mundos tão distintos se conectaram.
—Admirado com nossa paróquia confrade? Apareceu do nada um jovem, seus trajes eram típicos de um civil Brasileiro da sua idade.
—Olá amigo, sim, estou bobo ao ver essa construção.
—Você deve achar que encontramos uma ruína e estamos reerguendo agora como igreja, mas não na verdade estamos construindo do zero, a galera que fazemos parte é aficionada pelo período áureo do cristianismo, a idade média, principalmente as construções do período sabe.
—Então vocês recriaram o estilo? Perguntou Gilmar curioso
—Haha! Sim amigo você ver um legítimo exemplo do estilo Neo românico! Falou o jovem todo orgulho na certa ele com seus amigos e também os nativos suaram muito.
—Olha eu não sou “expert” no assunto, mas mesmo essa igreja sendo pequena (Gilmar tinha uma noção pois outras partes do edifício estavam sendo erguidas e o terreno delimitado), me parece estranho digamos, a quanto tempo vocês estão aqui?
—Dois meses, então vocês ergueram muito rápido até esta etapa de obras.
—Bom não é porque desejamos resgatar os valores antigos que não vamos abrir mão da tecnologia não é? Nosso grupo trouxe várias ferramentas elétricas e micro usinas de energia portáteis.
—Imagino o quanto de tempo economizou, mesmo assim parabéns está ficando muito bonito.
—Obrigado, alias rapaz, qual é seu nome?
—Gilmar de Leiria Castanho e o seu?
—Mathias Manuel Meloso ou irmão 3M sou um frade franciscano, mas neste grupo de irmãos tem rapazes e garotas, homens e mulheres, leigos e religiosos. Espere, você é o Gilmar Castanho, aquele Gilmar do incidente (risos)...
—Sim sou eu e já que mencionou aquele pequeno contratempo que pelo visto o império inteiro está sabendo agora eu sou Cabo Castanho.
O frade começou a rir.
—Relaxa irmão, todos nós erramos e esta jovem ao seu lado seria então....
—Marechal Kuria Epcha ou Sua Santidade a Grande Deusa do Amor, Sexo e Inspiração Kuria Epcha. Disse a mesma se intrometendo na conversa.
—Srta Kuria é uma honra receber alguém que está fazendo algo muito grande para esta nação cristã que é meu país.
—Obrigado frade.
—Então Mathias, perguntou Gilmar, em quantos “colonos” vocês estão?
—15 monges e 200 leigos entre homens, mulheres e crianças e a promessa é que venham mais, quero dizer estamos trabalhando para isso e também em evangelizar os nativos.
—Quantos nativos vivem aqui?
—Cerca de 513 humanos mais uns 60 humanoides de várias raças mas estes ficam mais no campo a poucos kms daqui, ocasionalmente eles passam por aqui para resolver seus problemas ou seguir viagem e vender seus produtos.
—Certo e como vocês vieram para cá? Indagou Gilmar.
—Então meu irmão, assim que soubemos das notícias da abertura do portal sentíamos que era o momento de repetir o que nossos ancestrais fizeram ao chegar na terra que hoje é nosso país: expandir a civilização e levar a fé, então em um primeiro momento formamos um grupo de debate virtual com pessoas de todas as parte do Brazil e assim que o governo iniciou suas expedições com a clara intenção de colonizar discutimos e realizamos uma campanha para arrecadar doações para nossa empreitada, juntamos mantimentos, compramos uns veículos usados e juntamos uma galera que ainda está vindo para cá.
Um leigo desta vez chamado João Miguel Santos interrompeu:
—É rapaz, conseguimos dois caminhões, quatro camionetes, uma van e alguns veículos elétricos todos carregados de equipamentos básicos principalmente geradores hidroelétricos e fotovoltaicos, mas levamos até pouco tempo o que 1 mês mais ou menos, é acho tivemos sorte em conseguir o necessário.
—É acredito que as coisas têm se desenrolado rápido demais, mas fico admirado com a coragem de vocês. Eu lembro de ter visto uma matéria em uma revista virtual que há muitos grupos que partiram para colonizar...
—Sim Gilmar inclusive a uns 10 kms a oeste daqui (a estrada que Gilmar pegou seguia para direção norte) uma galera amiga nossa que conhecemos pela internet fundaram uma colônia chamada São José de Anchieta não sei o número exato porque neste momento nós falamos poucos mas parece que há muitos nativos que foram libertos e estão sendo evangelizados, mas mudando de assunto, logo anoitecerá você e a Marechal poderiam ficar para o jantar e pernoitar?
—Frade não tem como eu recusar este convite, vou ajeitar minhas coisas, os senhores têm iluminação elétrica?
—Só nos pontos principais porque utilizamos os geradores hidrelétricos à noite para fazer comida e preparar água para o banho se quiser ainda dá tempo de te mostrar.
—Agora fiquei curioso, vamos lá acho que dá tempo de ver e depois “desfazer as trouxinhas”.
Desfazendo as malas Kuria e Gilmar acompanhado do Frade Mathias e alguns colonos caminharam até um dos inúmeros córregos e riachos que serpenteando o terreno descem das montanhas dos Alpes Brasileiros. Chegaram a um ponto onde o terreno era bem acidentado há uma distância de aproximadamente 200 metros a água despenca pelo menos 30 metros formando várias corredeiras e no ponto mais alto do terreno vários canos coletavam a água que era levada por uma tubulação que se mantinha o mais nivelado possível até outro ponto mais a frente onde o terreno era mais baixo, uma parte da água era enviada para o povoamento e a outra usada para geração de energia.
Um dos rapazes projetou e ajudou a construir algumas torres de treliças feitas de troncos muito bem lixados e que a despeito do que muitos imaginam estavam muito bem assentados cujas fundações desciam pelo menos um metro abaixo do solo permitindo suportar as tubulações e o fluxo furioso da água. A água coletada para geração era jogada por meio de vários tubos quase verticais para baixo onde as turbinas recebiam a torrente de água e finalmente gerava eletricidade.
Os fios que distribuem a energia destes geradores para seu destino ficavam dentro de algo semelhante a finas mangueiras feitas de material isolante e que eram muito populares entre sobrevivencialistas e garimpeiros esportivos.
Vendo o relevo após ter ouvido esta explicação dos seus anfitriões Gilmar comentou:
—Bonito aqui me lembra muito o Sul de Minas Gerais
—Veja aquelas montanhas sempre cobertas de nuvens, interpelou outro rapaz.
Lembram muito a baixada santista, ele completou.
—Pelo visto, água é o que não falta. Perguntou Gilmar.
—Verdade meu amigo, aqui sempre cai nem que seja um chuvisco, dentro do nosso grupo tinha um engraçadinho que queria batizar esta região de Nova Santos.
Após verem todo o complicado sistema de coleta de água e geração de energia, Gilmar e os colonos caminharam até uma espécie de Saguão onde todos os moradores se reuniam e naquela noite (que logo caiu) haveria um jantar comunitário onde todos participaram.
Ele estava em território estranho, em terra virgem um branco português poderia pensar, mas logo estaria em casa, pois esta terra logo também seria oficialmente em benefício de todos, Brazil.
—A propósito qual o nome deste vilarejo? Questionou Kuria
—Agora se chama São Francisco Xavier de Tarl-harrel, não pergunte a origem deste último nome, pois segundo os nativos quem deu este nome foi um povo que desapareceu há mil anos.
—Você os conhecia Kuria?
—Quando podia só abençoava os partos...
—Outra pergunta. Indagou Gilmar.
—Tiveram dificuldade em aprender a língua dos nativos, Frade?
—Tivemos mais dificuldade em entender os diferentes nomes e variações que esse idioma possuía por isso para evitar complicações. Sabe a gente comum se refere à língua mais falada de Mesogeu ou Yamareus por causa da capital da principal nação que governa este continente, Yamaris, a achamos muito parecida com uma mistura de grego e latim e tivemos a ajuda de seguidores da senhora Kuria que ficaram um tempo conosco e nos ensinaram o básico do idioma.
—O continente inteiro? Perguntou Gilmar que estava muito por fora da situação.
—Bom, pelo que podemos apurar até o momento que não é muita coisa, aqui seria a Britannia ou a Armênia Artaxida deles se é que você me entende (você gosta de história e sabe do que to falando não é?) a oeste era ou é não sei estados aliados/clientes.
—Mas agora? E te respondendo você diz a dinastia de Artaxias I a Tigranes IV? (Gilmar mostrou carinhosamente o dedo do meio para o Frade enquanto mencionava seu amplo conhecimento sobre a Armênia Antiga sobre o qual muita besteira se falou nestas linhas).
—Com essa guerra civil muitas terras a oeste das montanhas viraram terra de ninguém ou estão de jure independentes, ainda há combates, mas o foco dos confrontos é bem mais a leste afinal o grosso do território de um dos pretendentes fica bem mais a leste dos territórios de quem está sentado em Yamaris, foi o que me disse um mercador.
—Vamos todos ou a comida vai esfriar, hoje é um dia especial e recebemos a visita de amigos da nossa pátria. Disse um colono apressando Gilmar e os outros.
—Bom não acho que podemos desobedecer este pedido, eu estou faminto, alias cadê a Kuria?
—Gilmar, acho que sua amiga foi na frente já faz alguns minutos.....
—Ela tem o lindo hábito de andar sem deixar rastros...
—É uma divindade pagã…
—Concordo Frade. Uma divindade pagã que graças a ela e pelo bem da pátria creio eu que a Virgem me negará minha entrada nos Portões do Paraíso....
Após a caminhada Gilmar e os colonos liderados pelo Frade chegaram ao Saguão do povoado onde todos costumavam se reunir, era um edifício de tamanho médio sua arquitetura lembrava a utilizada nos países nórdicos, era feito seu telhado de ripas de madeira e suas paredes de colunas e vigas de madeira e paredes de tijolos tão bem preparados e encaixados que não necessitavam ser rebocados e nem as vigas precisavam ser pregadas, pois também eram perfeitamente encaixadas e nem as telhas também precisavam, fazendo parecer um jogo de montar.
Lá dentro havia mesas compridas, nos cantos alguns sanitários (instalados pelos colonos), fogões a lenha, pequenos cômodos onde se guardavam os mantimentos, armários onde se guardava os itens e tudo que se precisasse e um jogo curioso do contraste feito pela luz das lâmpadas a óleo e também as elétricas.
Decorando as paredes havia objetos com símbolos ancestrais e imagens de santos católicos.
Quase toda comunidade estava lá, Kuria vestia um requintado vestido (de onde ela tinha tirado?) Todos estavam às mesas com os convidados em local de destaque onde a comida iria ser servida.
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