Volume 1

Capítulo VI: Minha vida é andar por este país

Ao longo de duas semanas os jornais de todo o país publicaram histéricos em papel e em suas páginas na internet uma série de manchetes sobre a visitante ilustre que aproveitou sua tarefa de escolher o melhor local para criar um portal para conhecer o Império

Correio do Amazonas:

UMA DIVINDADE ENTRE NÓS! DEUSA VINDA DO PORTAL ABERTO NO JAPÃO VEIO PARA MANAUS!

A Crítica de Manaus

ELA É UMA DEUSA!!!! CATIVANDO OS CIDADÃOS COM SUA BELEZA A AUTOPROCLAMADA DEUSA DO AMOR DÁ PALESTRAS SOBRE AMOR E SEXUALIDADE

Jornal Madeirão

EM PASSAGEM PELA REGIÃO KURIA EFCHA CONHECE UM POUCO DE NOSSA HISTÓRIA E PRESTA HOMENAGENS AOS TRABALHADORES QUE MORRERAM NA CONSTRUÇÃO DA MADEIRA-MAMORÉ 

Terça Livre TV

O impacto da sedução de uma divindade pagã, quais serão as conseqüências para a fé dos brasileiros a partir de agora?

Diário do Pará

DIVINDADE PAGÃ ARREGIMENTA SEGUIDORES

Diário do Nordeste

ELA NÃO LIGA!!!! KURIA EPTCHA DIVINDADE DO AMOR DA DISTANTE MESOGEIA SE DEIXA FOTOGRAFAR ENQUANTO TIRA DIA DE DESCANSO NA PRAIA

Jornal A tribuna de Santos

DEUSA DO NOVO MUNDO PASSA POR CIDADES DA REGIÃO

Jornal 1ª Linha

CATARATAS ENCANTAM E ATRAEM ATÉ OS “DEUSES”, ENCANTADA COM BELEZA DESTAS ÁGUAS, KURIA PROMETE TRAZER “PARENTES” PARA CONHECER, DEUSA PASSOU O DIA EM MEIO ÀS QUEDAS.

No gabinete do governo as opiniões eram divergentes, um misto de curiosidade, indiferença e preocupação tomavam o clima entre os altos representantes do governo e o monarca.

D Rafael, católico devoto, estava visivelmente preocupado com a forma como os jornais e os súditos pareciam se deixar levar por esta mulher e havia de fato uma possibilidade de a mesma juntar um grande número de seguidores fundando sua própria religião.

Chegou lá seu primo e ministro das relações exteriores D Luiz Phillippe, o monarca então perguntou se valeria à pena tudo o que foi apostado e isto ele considerou tanto entregar a alma de um dos seus soldados como a ideia da própria fé cristã ser uma vez contestada com a presença desta e talvez de outras divindades.

—Primo, eu pergunto, a você e a todo o governo, por que fazem isso?

—Luiz, há possibilidade de explorarmos novos recursos, povoar novas terras, eu particularmente vejo um mundo novo com tanta coisa para estudar e aprender, uma chance a mais de perpetuar nossa cultura, nossa civilização.

—Está no nosso sangue, não é?

—Começou uma corrida e eu como soberano tenho muito a responder se for responsável por nosso país ficar para trás.

—Acho estranho meu primo que é o Imperador só ficar atento a estes jornais sensacionalistas, você não viu os fóruns, os grupos, veja o que seus súditos pensam.

—Mas eu não fico atento só a mídia “oficial” quando consigo observo outros meios sociais para saber o que o povo está pensando, mas anda tudo tão corrido

—Então observe mais o que seus súditos dizem, este é meu conselho. Bom preciso ir tenho muito que fazer deixa comigo vou fazer o meu melhor ao lidar com as relações com outras potências. Acredito na nossa força e de minha parte não ficaremos para trás, aproveite o tempo livre e veja o que te mostrei. D Luiz tinha enviado uma série de páginas de vários fóruns da internet para o email do seu primo.

E assim dando ouvidos ao príncipe pelo qual tinha grande amizade e carinho, o monarca tirou o resto do dia para observar o que os súditos do império diziam nas redes sociais e fóruns virtuais.

E não tinha susto maior, um misto de alívio, gratidão e compromisso, pois o que se via eram brasileiros extremamente animados e desejosos para explorar e colonizar. Grupos de pioneiros se formavam a espera de uma oportunidade, um deles que se autodenominava como Sociedade Pioneira de Exploração e Colonização de Minas Gerais tinha como regra para quem quisesse ingressar um juramento do estatuto cuja primeira parte dizia: 

Juramos perante nosso Senhor Jesus Cristo.

Explorar e se fixar nas novas terras que possam existir.

Divulgar nossos conhecimentos e nossa fé

Prosperar e praticar a caridade

E reivindicar em nome de nosso Imperador a posse de onde chegarmos

Haverá sempre em cada assentamento a cruz de nosso Senhor e um mastro onde tremulará a bandeira do nosso Império.

—Então esta é a vontade do Brasileiro? 

Em outra página de um grupo chamado Sociedade Colonizadora do Alto Tietê dizia o aviso fixo do fórum:

Tomar para o Brazil, para nosso império as terras que lá existem, prosperar e evangelizar.

Ainda navegando pela internet o monarca observou qual eram no momento os “trending topics” além de usando outros mecanismos qual era a ou as palavras mais usadas no momento, D Rafael também observou inúmeras pesquisas de opinião em diversos sites e páginas da internet.

Não havia opinião unânime, isso é quase impossível e é até bom que seja algo quase impossível, mas o que foi visto pelos olhos do imperador dava para ter uma noção de qual era a opinião dominante e como era dominante. 

Mesmo não sendo unânime a visão que estava cada vez mais forte, tão forte que mesmo as grandes “big techs” não conseguiam manipular contra. Era uma “avalanche de opinião” a prova de qualquer censura.

A opinião era de que o Brazil uma vez que fora fundado por exploradores que se jogaram no mar desconhecido sem medo, então seus descendentes deveriam continuar o legado.

Já fazia alguns dias que Kuria partira para conhecer o país e achar um local bom para abrir o buraco de minhoca ou vórtice e a questão que vinha em mente do imperador, era de onde ela estaria naquele exato momento?  Estava pensando nisso com certa preocupação, pois outras nações também estavam trabalhando na mesma idéia e o monarca então ouviu o telefone tocar...

—Alô.....rei....

—Kuria? Imagino que tem se divertido muito em sua viagem.

—Tenho sim, seu povo é extremamente numeroso e diverso, um prato cheio para uma divindade curiosa como a minha.

—O mundo do seu lado não tem tantas pessoas?

—Talvez...

—Mas você estava em Tóquio achava que já tinha se acostumado

—Parecia que lá era um lugar excepcional, mas aqui eu não imaginava que até em suas florestas havia tantas pessoas.

—Ué as florestas do seu mundo não são habitadas?

—São, mas não por humanos se é que você me entende, humanoides vocês são chamariam.

—E onde você estaria agora?

—Estou em uma cidade gigantesca, eu olho o horizonte e só vejo casas e construções, vejo essas estruturas que vocês chamam de antenas, elas estão por todo lado....

—São Paulo é o nome só pode ser, mesmo assim ainda é menor que Tóquio e você esteve lá.

Fico me perguntando como é que uma suposta divindade com tanto poder e conhecimento parecia uma criança vendo coisas que nós apenas reles humanos construíram, claro vocês divindades conseguem fazer mil vezes melhor.

—Rei porque fala comigo com um tom de indiferença?

—Apenas quero o cumprimento de sua promessa, achou um local para criar o vórtice?

—Achei um local interessante nas florestas ao sul desta cidade, estarei retornando para mostrar o local e darei as instruções para que os senhores me ajudem no vórtice.

O distrito de Parelheiros foi o local escolhido, essa região ainda com matas e riachos fica a 60 Kms do marco zero da capital bandeirante e meros 20 kms do mar, de alguns pontos na crista das montanhas da Serra do Mar é possível avistar o Atlântico e sua imensidão com suas águas cheias de navios cargueiros de todos os cantos do mundo.

Kuria viu aquilo lá, se encantou pela beleza, não que ela nunca tivesse visto algo parecido afinal na Mesogeia havia tantas ou mais paisagens maravilhosas algumas os medíocres terrestres só conhecem por sonhos como restos de civilizações de outrora, mas aquela vista em muito a agradava, uma vista linda digna de ser apreciada por uma deusa. 

Enquanto via, lembrou de ter lido em algum canto sobre uma cidade portuária cujo cais, diferente dos cais nas cidades que ela visitou, era atrás da cidade em uma espécie de canal ou braço do mar, colado com o centro da cidade.

Ela também leu que do lado existia a cidade mais velha do império, talvez o Imperador tratasse melhor ela se no seu retorno trouxesse consigo uma lembrancinha de um dos locais historicamente mais preciosos, no entanto não era um monarca que ela queria agradar no momento

Mas tem que se observar, se esse pobre rapaz jurou lutar pelo império, jurou se sacrificar, ora, era isso que o império exigia dele, um sacrifício pelo Imperador para que se pudessem desbravar e tomar novas terras.

Longe do temor de ser tomado por um ser repugnante cheirando enxofre, quis o destino que ele fosse escolhido para pertencer a uma deusa linda, mas mimada e um pouco chata.

O que levar como presente para aquele soldado? Ela pensou, pensou também que seus compromissos em Brasília poderiam esperar. 

Um passarinho lhe contou que havia uma certa dificuldade nas conversas entre os governos japonês e americano, até o imperador japonês que durante quase um século era apenas uma figura simbólica precisou intervir, e também contou este mesmo passarinho que os chineses estavam discretamente alimentando os dois aliados com informações falsas e intrigas, ela teria ainda bastante tempo.

Sim as expedições de outras nações nestes territórios do novo mundo iriam demorar, os nacionalistas japoneses estavam em ascensão loucos para tirar os americanos da jogada e com eleições se aproximando, fora o governo americano e o governo chinês que tentavam conter sua sede ao pote evitando porém de toda a maneira apesar de ser um pouco desejada a próxima guerra mundial.

Brasília pode esperar a tarde se transformou em uma noite com luar, perfeito para que ela possa seguir seu caminho para planície.

Na manhã seguinte:

Jornal A Tribuna de Santos

MORADORES DE ITANHAÉM E MONGAGUÁ RELATAM LUZES MISTERIOSAS DESCENDO A SERRA

A serra estava escura e ela precisava enxergar, se ela tinha o poder de iluminar porque não utilizá-lo, e que demais teria oferecer aos moradores da região essa espetacular, mas singela “apresentação”, as montanhas são um convite de exploração e aventura que nem os deuses recusam. 

 



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