Volume 1
Capítulo III: Punição divina
6 de novembro de 2040 Distrito de Kabuchiko, Prefeitura de Tóquio, Japão
Neste dia a deusa foi ao escritório do bordel, caminhou de forma provocante igual a toda garota que com seu corpo buscava obter o máximo de ganhos materiais, afinal homens fortes e perigosos no fundo gostam de serem dominados e gostavam de premiar aquelas que de forma natural satisfazem seus desejos mais íntimos.
Chegou como mais uma que ia pedir favores em troca de oferecer tudo, mas naquele momento seria diferente. Ela não perguntou nada, não falou nada, já que sabia tudo o precisava saber. O dia do Incidente de 6 de novembro ficaria registrado na história pois neste dia aquelas moças seriam libertadas e um aviso seria dado.
O jovem mafioso responsável no momento por todo estabelecimento, muito novo, mas muito temido por seu sadismo e violência sem hesitar a agarrou com força, ela segurou a mão direita deste e o fez agarrar forte seu seio, porém quando este estando entregue ao prazer iria agarrá-la para dar um beijo possuído pelo desejo, todos no bordel ouviram apenas um estalo.
Um estalo seco e rápido que aqueles que ouvia demoravam em entender, mas se alguém tivesse visto aquilo viria que Kuria como se fosse acariciar o rosto do sujeito. Foi com uma mão leve e macia como se nunca tivesse posto a mão na massa para trabalhar.
Foi o mais belo movimento, leve e rápido e com sua mão direita em direção ao rosto daquele rapaz, que quando encostou manteve seu caminho e se esticou e logo aquela mão branca, macia e graciosa estava coberta de sangue, pois era a mão de uma duocoteseo e aquele rapaz provará um desejado beijo, mas um beijo da morte.
A mão esticada em uma fração de segundo erguia como se segurasse um troféu, a cabeça do criminoso. Sua alma condenada pelas mulheres que tiveram que ser violadas para sobreviverem, das mulheres que por prazer matou, pelos rapazes que por azar cruzaram seu caminho. Todo o sangue derramado por prazer agora assombra seu espírito naquele preciso instante.
Vozes aleatórias vinham até aquela alma infeliz dizendo: “mataste por prazer morreste na mão da deusa do prazer”. Que morte foi essa? Sua cabeça erguida foi separada perfeitamente do seu corpo com um golpe só e por um tempo impossível de se medir, seus pecados irão persegui-lo, existência maldita ninguém se deu o esforço de saber seu nome e eu não quero saber seu nome. Ser vil miserável maldito foi o dia em que nasceste!
— Vocês estão livres, são donas de si mesmas!
Um dos clientes gritou:
— Quem é você sua vagabunda!!!
Kuria abre a porta e com sua cabeça aponta em direção à carcaça do mafioso antes temido e que agora estava morto.
Alguma palavra precisaria ser dita? Aquele cliente e os outros entenderam a mensagem e igual a crianças assustadas fugiram gritando e chorando em desespero pelas estreitas ruas de Tóquio.
Espalhou-se uma lenda, um conto de que a mais linda das mulheres observa todos os bordeis de Tóquio, e sabe onde está cada cafetão ou mafioso, ela sabe o que eles fazem e prepara a mais cruel das mortes para aqueles que maltratam as mulheres.
Qual a verdade destas histórias, passadas de boca em boca pelas madrugadas profundas da cidade? A polícia acabou tomando conhecimento disso após analisar cinco casos de suicídio que ocorreram naquela área.
Segundo relatos, as vítimas tinham cometido abusos contra suas “funcionárias” e tomando consciência dos atos e do que os aguardavam, preferiram seguindo as tradições nipônicas, dar um fim a suas vidas de forma honrosa em vez de morrer igual aquele infeliz.
Pois acreditava haver alguma redenção a quem tomava coragem e enfiava uma lâmina no seu ventre e cortá-la do que de outra forma ter suas entranhas retorcidas por uma mulher mesmo que ela tivesse poderes divinos.
Mas Kuria não estava lá. Após castigar achou justo que todo dinheiro guardado naquele lugar fosse dividido entre as garotas, e para si mesma pegou uma boa soma que graças à ajuda de uma daquelas garotas descobriu quanto valia aquele maço de papel colorido e florido que tinha em mãos.
Também ouviu que do outro lado do mundo havia um país onde existiam inúmeras mulheres tão bonitas como ela, um lugar de muitas belezas e cheio de tantos contrastes, um povo ao mesmo tempo devoto e também disseram a ela, amante do prazer.
Ela imaginou que esta gente, que segundo suas novas amigas, têm todas as cores do mundo e que era tão devotos e amantes do prazer que com certeza iriam adorá-la ou no mínimo reverenciar.
Feitos os planos, sem nada além da roupa do corpo e uma boa quantia de dinheiro, soma essa aumentada após Kuria ouvir mais histórias sobre aquele distrito e fazer uma “limpa” na região, deixando para trás uma meia dúzia de cafetões e mafiosos mortos (e por isso os boatos se espalharam fazendo outros tantos criminosos se matarem para não compartilharem o destino de seus “colegas”). A deusa foi com suas amigas ter um dia de compras e diversão que elas muito mereciam.
Findo este dia o primeiro dia tranquilo na vida dessas mulheres, chegou à hora da despedida, tamanha a gratidão pela caridade e vingança realizada por Kuria que aquelas garotas se tornaram as primeiras seguidoras da deusa do amor no nosso mundo.
Cada uma tomou seu rumo, algumas voltaram para seus países de origem, nações tão distantes como Quênia ou Taiti, outras estrangeiras com sua parte em mãos decidiram continuar no Japão e tentar de novo mesmo que fosse em alguma fábrica ou comércio, não importa o ofício desde que fosse uma atividade honesta com poucas chances de retornar ao submundo
Com Kuria ficou apenas duas brasileiras que eram amigas de infância vindas de Fortaleza, elas se chamavam: Belatriz Moreira Torres de 18 anos e Jaci Cavalcanti Pires de 19 anos. Essas moças acompanhariam Kuria até o Brasil, afinal foram elas que sugeriram a deusa vir até sua pátria e naquele momento elas seriam uma espécie de guia.
—Muito bem meninas, o que devemos fazer?
—Acho que seria bom irmos para um hotel e amanhã para o aeroporto internacional de Haneda e de lá podemos seguir para casa
—Aeroporto, Haneda, interessante quero saber mais sobre isso.
—Vou pedir um táxi, comprei um celular com uma parte do dinheiro que você me deu Kuria.
—Celular você diz esse objeto que parece um espelhinho mágico? E ele pode fazer isso que você falou Belatriz?
—Sim, já estou chamando um aqui.
Logo chegou um carro dirigido por um rapaz, o seu serviço foi solicitado por um aplicativo similar ao Uber e a tantos outros que há décadas eram comuns no mundo inteiro.
Rapaz era tímido, mas bem arrumado que realizava serviços de transporte de passageiros nas horas vagas, geralmente após o fim do expediente no escritório onde trabalhava. Quando as garotas entraram no carro Kuria que se sentou no banco de trás do lado do motorista chegou ao seu ouvido e disse num japonês formal e elegante:
—Espero que você seja um bom menino e nem pense em fazer qualquer coisa conosco ou terá uma grave consequência.
O rapaz ficou branco, chocado, paralisado de medo, deixando até mesmo cair uma lágrima de choro tamanho o pânico que sentia, as palavras de Kuria eram doces, mas ao mesmo tempo intimidadoras.
— É então....para onde vocês desejam ir?
Enquanto perguntava o destino de suas passageiras o rapaz ficou ainda mais pálido ao ouvir o noticiário da rádio:
(“.... a polícia continua investigando os misteriosos e trágicos incidentes ocorridos pela manhã. Segundo informações oficiais, cerca de 10 integrantes de diversos clãs da Yakuza foram brutalmente assassinados. Em comum, o fato de eles serem responsáveis por estabelecimentos de entretenimento adulto...supostamente uma estrangeira de feições ocidentais participou dos incidentes e como disseram testemunhas....as autoridades não descartam uma guerra entre facções....”
— Garoto nós não conhecemos muito aqui poderia nos levar a um hotel não muito caro próximo ao Aeroporto de Haneda?
— Sim, sim, conheço um. Eu juro que irei levá-las o mais rápido e de forma mais segura possível, mas, por favor, não façam nada comigo.
— Não faremos nada contigo jovem, aliás pelo contrário não iremos pagar com dinheiro nossa viagem, mas com isso...
Kuria segurou a mão do rapaz, colocou na sua palma uma jóia e fechou com todo carinho.
— Aceite isso, deve ser suficiente.
O rapaz atônito abriu sua mão e viu o que tinha, era um colar pesado de ouro que com certeza Kuria pegou de um dos mafiosos mortos.
— Bem, temos que ir, não se esqueçam de pôr o cinto de segurança...
— O que o rapaz nos pediu? Questionou Kuria.
— Por o cinto de segurança, é um objeto que segura quem está no carro no banco e protege em caso de acidente seu uso é obrigatório. Respondeu Jaci que foi mostrando e ensinando Kuria a utilizar.
A viagem pelas ruas cheias e iluminadas de Tóquio foi tranquila. As garotas, devido ao cansaço e o rapaz por puro medo, fizeram com que todos viajassem em silêncio. Logo chegaram a um hotel executivo próximo ao aeroporto que tinha o nome de Yanai Suites Hotel), o rapaz parou o carro se despediu e foi para casa já às garotas solicitaram um quarto para pernoite.
Chegou o dia seguinte as moças se aprontaram para ir ao aeroporto até que algo chamou muito atenção das brasileiras: Elas tinham a fim de economizar decidido ficar todas no mesmo quarto, quando acordaram encontraram alguém totalmente diferente com elas, na verdade era Kuria que usando seus poderes mudará sua aparência completamente com exceção da cor da sua pele, antes que fosse feitas perguntas a divindade já foi logo respondendo pela primeira vez em português:
—Calma meninas, sou eu Kuria mudei minha aparência porque conversando com uma das meninas, eu perguntei como se sai desse país e uma delas disse que precisa de algo chamado documento de identidade que sem isso não se pode viajar, ela até me disse que quando vocês foram cooptadas roubaram seus documentos, ainda bem que vocês duas recuperaram os seus mas eu precisava de um.
Por isso naquele dia que saimos para relaxar fiquei sabendo que uma garota do seu país que por um motivo próprio, não queria voltar para seu país e decidiu ficar como vocês dizem? “Sumida” então não fiquem preocupadas com essa moça que esteja onde quer que esteja, estará sob minha proteção como vocês.
A garota se chamava Lidia Maria Gabriela tinha 23 anos, ruiva magra de olhos castanhos era muito bonita com uma beleza típica nordestina, Kuria com suas habilidades copiou quase tudo com exceção da altura, pois a brasileira tinha um pouco mais do que 1,67 e a deusa tinha quase 2 metros.
Para ir finalmente ao aeroporto chamaram outro motorista pelo mesmo aplicativo onde o “ritual” da noite anterior foi repetido, depois conseguiram comprar sem problemas suas passagens para o Brazil com uma pequena escala em Dubai nos Emirados Árabes Unidos, lá durante a escala conheceram um dos mais altos prédios do mundo.
—Seus deuses não punem vocês humanos por erguerem algo tão grande assim? Comentou Kuria horrorizada.
Elas visitaram o máximo de pontos turísticos como as ilhas artificiais, passaram em frente ao parque de diversões da Ferrari e visitaram as luxuosas lojas, queriam ver mais coisas, mas precisavam retornar ao aeroporto para seguir viagem.
Depois de um longo percurso estando já em solo brasileiro o avião fez uma escala em Fortaleza e lá as amigas tiveram que se despedir, a deusa mais uma vez prometeu que as garotas estariam sob sua proteção não importasse o tão longe estivessem.
Seu próximo destino era Brasília.
Novamente no ar, a deusa continuou impressionada com a tecnologia existente no nosso mundo, ficou ainda mais chocada ao percorrer os quase 1700 kms entre Fortaleza e o Distrito Federal, 1700 kms de território contínuo, 1700 pertencentes há uma só nação.
—Então há grandes impérios neste mundo...