Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 8 – Arco 6

Capítulo 149: SEGUNDO ATO DO LIMIAR - O BERÇO DA TERRA

Sentada em um dos degraus na entrada do templo de Éfeso, Elaine observava o céu noturno com o único olho que lhe restava.

Os fios lisos do cabelo azul, solto até cair sobre os ombros, dançava no mesmo ritmo do solo gramado e das folhas nas árvores do bosque ao redor.

A brisa gelada a trazia certo conforto. Em muito tempo não sentia aquela paz, tanto interior quanto exterior.

A sensação tornou-se ainda mais instigante quando uma influência sutil se pronunciou pelo ambiente, fazendo-a virar o rosto à esquerda.

Do “nada”, uma luz branca cintilou em meros segundos, até que a figura da Deusa da Lua se revelou no espaço.

Quando a viu deixar as Passagens Espectrais, levantou-se da pequena escadaria.

Pensou em ir até ela, mas logo encontrou a feição nada agradável da mulher. Assim, decidiu esperar, agarrando o vestido na altura das pernas sem nem perceber.

— Mãe...?

Com o chamado tímido da filha, Ártemis levantou o olhar.

Encontrou-a a poucos metros de si, que foram cobertos em seguida pelas passadas lentas da deidade.

As rígidas linhas da face esmaeceram aos poucos, na tentativa de passá-la algum alento.

Mas, apesar disso, a garota continuou preocupada.

— Como... foi a reunião?...

Ciente de que não conseguiria driblar aquele sentimento, a lunar foi direta ao ponto:

— A missão foi definida. O grupo especial já está a caminho do Berço da Terra.

Enfim se juntou à filha, na entrada do santuário.

Elaine levou uma das mãos enfaixadas sobre o peito e exalou com um lamento:

— Espero que fiquem todos bem...

Ártemis expressou-se com o silêncio. Por compartilhar do desejo dela, não precisou dizer mais nada.

A garota voltou a erguer o rosto.

Embora a lua estivesse em sua fase nova, ou seja, não podia ser enxergada em meio à extensão escurecida, parecia ser capaz de encontrá-la.

Uma conexão além do natural.

Dentro do templo, na divisória da sala para o corredor, Bluebell escutou a conversa encostada na parede.

Os olhos encaravam os próprios pés.

Ainda não conseguia compreender o que sentia.

A visão determinada em seguir o caminho das trevas para completar sua vingança tinha sido interrompida.

Não que desejasse esquecer o objetivo que movia sua vida desde aquele dia. Contudo, já não fazia mais ideia sobre como deveria alcançá-lo.

Os pensamentos profundos acabaram quebrados quando a barriga rugiu. Tomou um susto ao escutar o ronco intenso, que durou bons segundos até retomar o silêncio.

Quando isso ocorreu, de lábios contorcidos em vergonha, a rósea pensou em retornar para o quarto.

Mas o som da porta se abrindo veio antes que ela pudesse dar a volta à passagem dos cômodos.

— Quer se juntar a nós?

A indagação de Ártemis a pegou em flagrante, não a permitindo regressar por meio dos passos silenciosos.

Bluebell virou o rosto por cima do ombro.

As mechas do cabelo solto, a escorrerem sobre as orelhas, podiam esconder a leve vermelhidão de sua face.

Elaine entrou logo em seguida, curiosa com o ruído que tinha escutado do lado de fora.

De repente, esse se repetiu, agora mais alto do que na primeira ocasião.

A filha de Hebe tentou se livrar dos olhares, mas...

— Bellzinha... Isso foi sua barriga?...

À indagação da jovem lunar, estalou a língua, sem ter para onde correr.

Por outro lado, a Deusa da Lua levou a palma sobre os lábios e prendeu uma risada.

“No fim das contas, ela ainda é uma criança”, parte da tensão acumulada sobre os ombros diminuiu. “Estamos seguindo os passos errados há mais tempo do que imaginávamos...”

Caminhou com alguma desenvoltura pela sala, o suficiente para que Elaine pudesse notar a mudança em sua postura.

Bluebell tornou a virar a cabeça, observando a chegada da anfitriã por soslaio.

Cheia de gentileza, a deusa enunciou:

— Até mesmo divindades ficam com fome, não é? — A visita piscou duas vezes. A vergonha desapareceu da feição. — Irei buscar algo bom para jantarmos. Elaine, espere aqui com sua amiga, sim?

Risonha, o total oposto de minutos atrás, a mulher deixou até mesmo sua filha sem resposta.

— O que pensa que ‘tá fazendo, Deusa da Lua?

Voltando a semicerrar as vistas com peso, Bluebell finalizou o giro corporal para ficar de perfil à deusa.

— Nada demais. Só quero fazer um jantar delicioso para nós três.

Ártemis deu a volta e apanhou seu arco em uma das paredes da sala. Depois, a aljava com flechas em um gancho perto da porta.

— Não entendam errado. — A voz de Bluebell a interrompeu na saída. — Só ‘tô aqui por puro capricho. Não pretendo dever nada a nenhum de vocês.

— Sabemos bem disto...

— E não pensem que eu desisti. — Cerrou os punhos. Ainda sofriam pontadas doloridas. — Eu vou matar o deus que matou a minha mãe.

Sentindo o ódio pesado nas palavras da amiga, Elaine apertou a mão contra o peito, inquieta.

Em contrapartida, Ártemis aguardou segundos de quietude.

— Não entenda errado — retrucou, sem nem se virar. — Eu já te disse tudo, não vou repetir. Independentemente do contexto, você ainda é filha de minha falecida e preciosa irmã. Não estou fazendo nada para que fique pensando estar “devendo” algo a mim.

A testa de Bluebell franziu. Nesse momento, um sorriso afável revelou-se diante de seu olhar.

Ártemis moveu a maçaneta com cuidado e abriu a porta.

O vento frio do jardim invadiu o recinto, apaziguando a aflição reunida entre a discussão.

Sem hesitar, a deusa avançou para o relvado e deixou as garotas sozinhas no santuário.

Mediante um resmungo entredentes, a filha de Hebe retornou com passos pesados ao corredor, e de lá para o quarto.

Elaine escutou a porta bater com força, mas não conseguiu fazer algo a respeito.

Apesar de sentir a reaproximação gradativa com a amiga de infância, ainda sentia dificuldades para lidar com aqueles momentos.

Nem por isso pensava em desistir. Já tinha chegado longe o suficiente para permitir que pensamentos negativos a afligissem.

Os lábios se converteram em um riso miúdo.

Diferente da forma que vivera até então, deixou a mente seguir o coração em uma reunião de positividade.

Em alto-mar, a Ordem Divina já tinha perdido visão de boa parte do continente helênico.

Conforme a noite adentrava em sua reta final, começavam a enxergar as reais proporções dos corcéis que só podiam ver ao topo do Olimpo, na demarcação do extremo horizonte.

Hélios assumiu como timoneiro, ao que Selene observava a chegada pela proa.

Chloe e Julie continuavam atentas no cesto de observação do mastro.

— O Mar Jônico — mussitou a primeira. — Até que está deveras sereno...

Ao olhar para trás, a lanceira pôde enxergar um pedaço de claridade começando a ascender no espaço.

A manhã estaria sobre eles em pouco tempo.

Enquanto os demais descansavam, Damon tinha olhos para os corcéis enormes que ficavam cada vez maiores conforme a embarcação diminuía a distância.

— Quem será que construiu isso tudo? — Helena, ao lado dele, indagou boquiaberta.

— Vai saber...

Depois da resposta um tanto desanimada, o filho de Zeus se virou até bombordo.

Gael, de braços cruzados, também contemplava a real magnitude das construções douradas.

Sorria como de costume, sem tremulações ou qualquer tipo de inquietação sob o misto de nuvens e estrelas.

Foi assim que o cacheado suspeitou de que, desde algumas horas, havia algo de errado.

— Aê. — Chamou pelo dourado, que lhe encarou com um resmungo interrogativo. — ‘Cê não tinha medo de escuro ou algo assim?

O filho de Apolo ainda levou um tempinho até entender as nuances daquele questionamento.

— Ah!! Sim, ainda tenho um pouco!! — Soltou uma gargalhada que fez Silver, no outro lado, estalar a língua. — Ficou impressionado por eu estar bem!? É esplendido, não acha, Damon!!?

Helena, em companhia à conversa repentina entre ambos, contraiu as sobrancelhas com curiosidade.

Pelo contrário, o olimpiano franziu o cenho.

— Sei. Esses são seus resultados, então.

— Exatamente!! — Virou-se por completo ao companheiro, acenando com a cabeça. — Tudo isso graças à minha mãe!!

— Aquela musa era sua mãe, então? — A ruiva sorriu com encanto.

O delfiano fez que sim com a cabeça.

— Então consegue aguentar agora.

— Ainda preciso melhorar um pouco!! Mas já é um resultado esplêndido!! — Olhou para o alto, em direção aos pontos brilhantes. — É como se eu pudesse ver minha própria luz!! É assim que posso controlar meu medo!!

— Hm...

Realmente surpreso, mesmo sem demonstrar por meio da faceta apática, Damon desviou o olhar de volta ao caminho coberto de água.

— E você, Damon!!? Como se sente!!?

Ao encará-lo em silêncio num primeiro momento, o filho de Zeus murmurou:

— Sei lá. Acho que melhor. — Encarou o palmo canhoto. — Mas a gente pode ser morto a qualquer momento, então acho que ‘tô um pouco incomodado.

— Verdade!!

— Tenta não pensar muito nisso... — Helena quase o abraçou de olhos fechados, apertados em agonia.

No exato instante de comoção, a camada gélida que rodeava o navio se desfez.

Os três direcionaram os olhares até Tríton, que diminuía a intensidade de energia depositada na embarcação.

— Chegamos.

A afirmação partiu da Notívaga, que só constatou o óbvio ao grupo.

Conforme as primeiras luzes solares os perseguiam a quilômetros de distância, a gigantesca ilha — que também parecia um pequeno continente — tornou-se ao alcance.

— Esplêndido!! — Gael bateu um punho cerrado em outra palma aberta.

Todos seguraram a respiração ao acompanhar o navio chegando à terra firme. Já de cara viram que nada seria tão simples.

O filho de Thalia deu a volta e usou a âncora às ordens dos superiores de Rodes.

Aos poucos, o transporte parou de navegar próximo a uma enorme falésia.

“É bem alto”, Damon nem viu que seus dentes estavam à mostra, tamanha a aflição do impacto inicial.

— Como está? — Hélios lançou a pergunta para o alto.

— Nenhuma ameaça foi identificada nos quilômetros exordiais. — Chloe devolveu, descendo do cesto com sua irmã. — Acerca da altura, visualmente falando, não deve alcançar níveis problemáticos.

— Já temos que começar escalando uma montanha, literalmente — resmungou Tríton, embora sem demonstrar irritação na face plácida.

Assim que todo e qualquer movimento cessou...

Até que enfim.

Uma voz abafada ecoou navio afora, interrompendo a prossecução dos demais.

Sem que qualquer um expectasse, o alçapão do convés foi empurrado com força.

De dentro, subiu aquela que, até então, tinha faltado para a viagem.

— Você...!? — Damon torceu uma das sobrancelhas.

Enquanto mordia uma maçã verde, Melinoe encarou o filho de Zeus, tão incrédulo quanto os demais ao redor.

Apenas as gêmeas da sabedoria mantiveram-se inertes.

— Desde quando estava aqui? — Helena indagou.

— Desde antes de vocês, idiotas. — Sem escrúpulos, a ctónica saltou para a proa, ficando de pé sobre a proteção de madeira. — Que lugarzinho tétrico. Vou me sentir em casa!

Então, pulou para fora do transporte, sendo a primeira a pisar em terras bandidas.

Desprovida de pudor ou temor, ela subiu pelas rochas salientes da falésia barra montanha, até chegar ao topo.

— Já sabiam que ela estava aqui? — Tríton encarou as irmãs gêmeas.

— Precisamente. — Chloe assentiu. — Não obstante a isto, a veterana Melinoe é impecável em esconder influência vital. Como se fosse um fantasma, literalmente.

— É...

O filho de Poseidon, também natural à surpresa da mulher, foi o segundo a descer — ou subir.

Silver, ignorante a tudo — de propósito — foi o terceiro.

Damon, Helena e Gael trocaram olhares em um instante, optando por seguirem os veteranos até o primeiro desafio.

Selene e Hélios vieram na sequência, juntos das gêmeas.

Com todos os detalhes conferidos, os Apóstolos estavam devidamente preparados.

Em frente, restava apenas o maior desafio de suas vidas.

Depois de alguns minutos, todos alcançaram a terra firme.

As primeiras passagens nas trilhas florestais foram rápidas. Assim como pressuposto pelas filhas de Atena, nenhum efeito adverso da subida àquela altitude acometeu qualquer um deles.

O céu começava a clarear um pouco mais, ofuscando os astros pulsantes entre os aglomerados.

 Tendo a chegada inesperada de Melinoe confirmada, a Ordem Divina seguiu unida pelos primeiros quilômetros.

Como conferido pela filha de Atena, nenhum perigo os recebeu. Era tudo muito monótono, tranquilo para alguns.

Desejavam que fosse assim até o fim.

Mesmo cientes de que jamais seria daquele jeito...

Fora isso, todos compartilhavam uma consideração em comum durante a travessia: a atmosfera do local.

Calafrios eram inevitáveis até para a descendente do Submundo, frente a algo extremamente novo e, de certa forma, único.

Apesar disso, aquilo também servia de alento a ela. A fazia abrir um sorriso entredentes de vez em quando.

— É tudo tão quieto... — mussitou Helena, olhando de um lado a outro pelas árvores.

Para Damon e Silver, a princípio, remetia à primeira missão como prodígios em Methana.

Tanto o olfato do primeiro quanto a audição do segundo nada captavam. Apenas o zumbido do vento a uivar entre as folhas que mal se moviam.

— Então, que tal adiantarmos as coisas, hã!? — A ctónica se virou, estando à frente do grupo.

Todos pararam de andar num ponto onde a trilha passava a se abrir, ao invés de afunilar.

— Portanto, com vossa licença... — Chloe caminhou em antecipação aos demais.

Agachou-se sobre a terra e tateou-a com a palma destra, capaz de experimentar a gelidez intensa daquele aglomerado.

Conforme os olhos violetas começaram a emitir um cintilar efêmero, os fechou com delicadeza e entoou na mente:

Rastrear!”

Os traços de Energia Vital construíram fragmentos que se conectaram através do tempo. Segundos a minutos, minutos a horas, todas de volta a um passado recente.

As informações vinham em um turbilhão à cabeça dela, processadas em uma intensa velocidade no intuito de encontrar o que era de interesse.

Não demorou muito até uma resposta ser revelada.

A imagem de figuras trajadas em mantos escuros passava por aquela região.

Chloe cessou rapidamente o contato com o solo. O poder da Bênção perdeu força, ao que ela reabriu as vistas.

— Aproximadamente há duas horas eles atravessaram esta localidade. — Foi sucinta ao delegar as palavras, erguendo-se da terra fria.

— Estão mais próximos do que esperávamos. — Selene fez um gesto assertivo com o rosto.

— Vamo’ acelerar esses passos então, mocinhas!!

Ao rugido de Melinoe, que voltou a comandar os demais a, agora, uma corrida comedida, o espaço se abriu ainda mais.

E com isso, o primeiro grande desafio da recepção deu o ar da graça.

Voltaram a interromper o avanço quando tremores se sucederam pelo solo. Não levou um minuto até seres pútridos surgirem debaixo da terra.

— O que é isso? — Helena se acuou.

Damon tomou a dianteira dela sem pensar.

Nekrós... — A lanceira estreitou o olhar ao apanhar as hastes da lança, as conectando. — Legionários mortos-vivos convocados por uma energia orgânica.

— Devem ser os corpos daqueles que vieram procurar pelas Moiras. — Tríton também apanhou seu tridente. — Se esse for o caso...

— Então tem um monte deles pela ilha toda — complementou Hélios, sacando a lâmina de detalhes flamejantes na chapa metálica.

— Muito bom, então!! — Melinoe pegou a alabarda de dupla lâmina, sorridente. — Isso não é nada!! Mortos jamais poderiam me parar, Moiras malditas!!

Sem pudor algum, balançou a arma desbotada e criou uma investida que jogou diversos dos mortos-vivos para longe, abrindo alas.

— Não parem — anunciou a Notívaga, acompanhando a filha de Hades. — Vamos nos livrar dos aglomerados, abrir caminho e seguir em frente.

— Boa!!

— ‘Tá.

Gael e Damon também se ajeitaram, prontos para os primeiros embates no Berço da Terra.

— Fica atrás de mim. — O cacheado fitou a meia-irmã por cima do ombro.

Ela assentiu, o olhar determinado.

Sentindo segurança naquela afirmativa, o garoto pôde focar nos inimigos sem preocupação.

Assim se sucedeu o caminho dos enviados divinos.

Como esperado, as criaturas não ofereceriam problema algum, principalmente enquanto estivessem unidos.

Puderam se habituar com agilidade e mantiveram passadas apertadas rumo às primeiras imediações da ilha.

Nenhum deles usou energia alguma.

Seria besteira se desgastar só com aquilo.

Dentro de breves minutos, quando as últimas estrelas já desapareciam no topo celeste, eles deixaram a floresta no acesso a um pátio elevado.

Precisaram subir escadas de pedra por metros acima. Ao menos, os tais nekrós foram despistados com facilidade.

Quanto mais pensavam estar próximos do fim, maior parecia se tornar a subida.

Sempre na frente, Melinoe foi a primeira a realizar o salto definitivo até ser banhada pelo primeiro feixe de luz solar.

Assim como um dos últimos...

Pouco a pouco, os membros da corporação chegaram ao fim da ascensão ao pátio encíclico, grande o suficiente para comportar um templo.

Os mais jovens se impressionaram com o que a visão os ofereceu dali.

Nuvens escuras cobriam toda a extensão vindoura da ilha, que mal podia ser concebida daquela posição.

Entretanto, já era possível enxergar o possível destino: uma torre negra, quase a desaparecer na paisagem, como se envolta por bruma densa.

Ela cortava os céus ainda mais escuros àquela altura.

Em seus arredores, meros canos luminosos caíam por possíveis divisões entre as nuvens de trevas.

Mesmo que o amanhecer trouxesse sol, não poderia iluminar em sua totalidade aquele pedaço elevado de terra.

— É como se algo estivesse acima de nós... — Tríton pensou em voz alta.

Mas ao olhar para o céu, só podia ver os próprios aglomerados níveos, bem mais próximos da superfície do que antes.

— Tanto faz! — Melinoe, em sua rotina de resmungos, fixou a atenção no que importava para o momento.

Assim como as nuvens, os corcéis dourados estavam muito mais próximos. Eram quatro no total, um ao lado do outro, mas distantes entre um e outro.

Era clara a indicação.

— Quatro rumos — mussitou Chloe, a mão sob o queixo.

Ligadas às construções aladas, correntes gigantescas se estendiam daquele átrio e se separavam para cada um dos monstros dourados.

A força do vento não era tão elevada, porém suficiente para fazer as grossas correntes balançarem.

Em hipótese alguma seria uma travessia tranquila naquela altitude.

Helena encarou o que havia abaixo, já que tinham subido o bastante. Ao ver o abismo, constatou a presença de rochas pontiagudas que sofriam a colisão de fortes ondas.

Além da queda extensa, ainda sofreria algo pior em seu desfecho...

— Então, o que faremos? — Ela buscou o conforto de algum dos companheiros e veteranos.

O segundo desafio já criava o primeiro grande impasse.

Mas...

— Iremos nos separar. — O raciocínio veloz de Chloe definiu de imediato a melhor saída. — Será prudente que nos dividamos em grupos.

— É arriscado, mas eficaz. — Selene fitou de perfil.

— Tanto faz. É só chegar do outro lado, não é!? — Impulsiva como de praxe, Melinoe pulou para uma das correntes.

Num equilíbrio perfeito, seguiu a corrida com alguns saltos pelos elos conectados.

Embora estreitos, eram grossos o bastante para permitir que alguém pudesse ficar de pé sobre eles.

O balanço causado tanto pela lufada forte quanto pelos movimentos da mulher que assustou a maioria.

Apesar dos pesares, ela seguiu, destemida.

Tríton, sem ter muito o que fazer, andou passos calmos até a conexão inicial de uma das correntes.

— Vamos fazer isso, então...

— Espere um instante. — A lanceira interrompeu a sequência dele no ato.

Começou a observar com maior afinco a corrida da ctónica, que já tinha se distanciado o suficiente do ponto de partida.

“Há algo errado...”, ponderou. “Que pressentimento é este?”

Todos ficaram em silêncio, à medida que os olhos da ateniense se estreitaram mais e mais, com os cílios próximos a se conectarem.

Ao perceber o que a incomodava...

— Pare, veterana Melinoe!!

O grito ecoou, mas a força do vento impediu que alcançasse a descendente do Submundo de maneira apropriada.

Ela chegou a encarar por cima do ombro e pensou em parar, mas era tarde.

Um chacoalhar intenso se alastrou pela corda, ao que a “paisagem” vista pelos apóstolos estremeceu.

— Mas que merd...!?

Pega desprevenida, a ruiva perdeu o contato das sandálias com os elos metálicos.

Um erro crasso de antecipação por parte da sensitiva, sem ter percebido a influência de Energia Vital disparada dos corcéis.

Que, aos poucos, passaram a não ser mais os corcéis...

Incrédulos, cada apóstolo reagiu à sua maneira. O vento tornou-se tão poderoso que poderia levá-los daquele pátio mesmo.

Se seguraram às colunas que sustentavam o âmbito e encararam a nova constituição da paisagem.

O verdadeiro desafio de abertura no Berço da Terra se apresentou em todas as credenciais.

Pendurada pela mão esquerda, Melinoe rangeu os dentes.

Mesmo com o risco de despencar quilômetros até o abismo mortal, mostrou nenhum medo.

Diferente de Helena, que arregalou os olhos esmeraldinos...

— Isso é... insano! — E expressou por todo o grupo.

Os corcéis dourados tinham desaparecido por completo.

As correntes se mantiveram, embora oscilantes ao extremo.

O que tomou o lugar das construções evaporadas, impressionaram ainda mais: quatro pátios suspensos, quase flutuantes.

Um mais distante do que o outro...

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