Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 1 – Arco 1

PRÓLOGO

Raios brancos cortavam o céu dominado pela escuridão.

Os impactos dos trovões pareciam atingir também a terra, que estremecia em todos os cantos daquele continente fadado à destruição.

Entre pilhas de corpos, sangue para todos os lados e o extremo desespero na face de milhares, algumas figuras permaneciam de pé em busca do triunfo que decidiria a virada de uma Era.

No topo de uma montanha quase partida ao meio, estava uma delas. Um homem todo ensanguentado, que tinha a lâmina de sua foice destroçada.

Aquele que se intitulava o Rei dos Titãs.

Ele olhava para baixo com seus olhos obscuros.

Desejava continuar no topo. Lutava para isso.

Ao seu lado, um ser gigantesco fazia companhia; sua maior carta na manga.

Ele também era marcado por inúmeros ferimentos, que iam de cortes mediano e profundos a queimaduras graves.

Ainda assim, parecia imaculado. Sua mera presença já era o suficiente para reduzir as chances de vitória daqueles que resistiam a todo custo.

O grande responsável pela hecatombe daquele campo.

— Não adianta continuarem se debatendo — proclamou o Rei em voz alta, entrecortada pelos estampidos dos trovões. — Essa guerra irá acabar aqui, meus tolos descendentes!! Minha vitória já estava escrita nos rumos do destino desde sempre...

Apontou a foice quebrada na direção do espaço abaixo, local onde seus inimigos pereciam à derrota.

No entanto, um deles se recusava a tombar por completo. O homem dobrava um dos joelhos sobre o chão e se apoiava em uma espada quebradiça.

De cabeça baixa, os olhos cobertos pelo cabelo branco todo desgrenhado, ele respirou fundo ao receber os ecos de seu inimigo.

Seu pai...

— Réia trocou a própria vida pela sua. Deveria ser grato a isso e ter continuado escondido em Creta... — O Rei dos Titãs brandiu a arma ao lado do corpo. — É hora de acabar com isso.

Virou o rosto até a entidade titânica, que nada disse. Apenas começou a caminhar, cada passo causador de um novo terremoto.

Então, o jovem robusto, todo ensanguentado no plano inferior, abriu um fraco sorriso no rosto cabisbaixo.

— Tem razão — murmurou, conforme se reerguia com alguma dificuldade.

Ele abriu a mão direita, a palma erguida ao alto.

Acima dela, surgiu um brilho dourado, que aos poucos se materializou em um objeto.

O Rei dos Titãs bufou em absoluto desdém. Já conhecia bem aquele esperneio de seu filho. Nada mudaria.

No entanto...

— É hora de acabar com isso!

Quando os olhos celestes subiram à direção dos dois adversários, o par de íris manifestou um brilho que iluminou a escuridão ao redor.

Como dois faróis, ganhou destaque em meio a todos que ou estavam caídos ou apenas acompanhavam os desenrolares daquela batalha que já durava dez dias e dez noites.

Então, a forma dourada em sua palma mudou de novo. Tomou a forma de uma longa espada, cuja lâmina era dominada pela coloração prateada.

Apanhou a empunhadura de ferro e, ao mero contato, concentrou uma quantia massiva de energia elétrica por toda a extensão cortante.

O gigante parou de andar na hora. Algo estava errado; algo tinha mudado.

Mesmo o Rei percebeu, torcendo as sobrancelhas em plena aflição.

— O que significa isso? — “Ele ainda tinha um truque guardado?”, completou em pensamento.

— É como você disse, Cronos. Minha mãe deu sua vida para proteger a minha... — Franziu o cenho. — E será dela que virá a sua queda!!

O homem branco pegou com a outra mão no cabo da espada quentíssima, dobrando a condensação de energia sobre ela.

Independente de todo o orgulho ou a confiança tida em si mesmo, aquele chamado de Cronos percebeu que algo grandioso estava por vir.

Inquieto, pensou em ordenar ao gigante que o esmagasse de uma vez.

Só que, antes que pudesse fazer qualquer coisa, correntes negras subiram toda a extensão da montanha e se enroscaram sobre seu torso.

— O qu...!? — Aprisionado de repente, enxergou outra pessoa de pé, no controle daquelas armas.

Outro filho seu, que ofegava de tanto cansaço.

— Hades!? — As veias estouraram por suas escleras.

Poderia se livrar rapidamente daquilo, de qualquer forma. O problema, no entanto, estava nesse ínfimo espaço de tempo arranjado por alguém que já considerava derrotado.

— Cronos!!! — O espadachim ergueu a arma acima da cabeça, no ápice da concentração vital. — Por ter aprisionado seus filhos, meus irmãos!! Por ter tentado me matar!! E por ter matado minha mãe!!! Eu, Zeus, irei tomar tudo de ti!!!

— Seu desgraçadooooooooooo!!!!!

Zeus desceu um corte único. O corte.

A rajada de energia elétrica foi lançada contra o gigante e o Rei dos Titãs, como se fosse uma enorme onda capaz de cobrir toda a montanha.

Nenhum deles teve tempo hábil para se protegerem ou desviar daquilo. A explosão foi catastrófica, engolindo tudo que vinha ao redor em um raio de quilometragem insana.

Todos em qualquer canto do mundo puderam ver ou sentir o grande impacto. Era como se o próprio planeta estivesse gritando, prestes a ser destruído.

Mas ele resistiu. E, com isso, a grande reviravolta da guerra foi determinada.

No fim, apenas as cinzas e os vitoriosos restaram.

O grande monte veio abaixo. E sobre seus escombros, os pés descalços de Zeus avançaram, prontos para desmontarem a qualquer instante.

Ele manteve-se firme. No auge do desgaste físico e vital, permaneceu em frente, até subir ao ponto mais alto que aquele resto de relevo poderia oferecer agora.

Assim o fez. Ergueu o rosto para o céu, que começava a se livrar das nuvens negras, permitindo que a luz do sol atravessasse até o iluminar.

Estufou o peito e respirou fundo. O vento fresco correu pelo local, fazendo os fios bagunçados de seu cabelo dançarem ao ar.

Pouco a pouco, à medida que a fumaça densa se afastava, os demais foram surgindo. Todos caminharam até os arredores dos destroços, onde estavam caídos o gigante e o Rei dos Titãs.

Um morto. O outro inconsciente, mas ainda vivo.

Os dois derrotados.

Zeus fincou a espada na rocha mais alta daquele espaço. Os olhos azulados, pesados por conta dos ferimentos, miraram todos aqueles que se reuniam em frente a seu triunfo.

Ele reuniu o máximo de fôlego e energia que ainda restava dentro de si, só para declarar aos brados:

— Cronos e seus aliados foram derrubados de seu reinado dourado!! De agora em diante, todos eles serão banidos ao Fosso do Tártaro pela eternidade!!!

A mensagem ecoava por todos os cantos.

Deuses ou mortais. Vivos ou mortos. Todos podiam escutar em alto e bom tom...

— A partir desse ponto, uma nova Era será construída. Uma Era dominada pela verdadeira justiça!!! — Um cano de luz vinda do topo caiu sobre o homem que tinha a palavra. — Eu, Zeus... serei seu Rei.

Abriu os braços, no gesto definitivo de seu anúncio.

Ninguém deu um pio. Nenhum aplauso ou comemoração foi executada.

Todos apenas absorveram as novas diretrizes sem nada a declarar. Afinal, tinha sido ele o responsável maior por abrir as portas daquele novo capítulo de uma história épica.

Aqueles que mais tarde seriam conhecidos como os Deuses Olímpicos se tornavam o mais alto patamar.

Uma nova Era acabava de ser fundada.

Muito distante do epicentro daquela conclusão, uma mulher estava de pé na beirada de um enorme precipício rochoso.

Seus olhos dourados, ofuscados pelos fios longos da franja escura, se direcionavam à grande metamorfose daquele mundo, em que a escuridão era varrida pela chegada da nova luz.

Contudo, não era capaz de contemplá-la de fato.

Tudo em seu campo de visão era monocromático e obscuro de natureza. Ela olhava, mas jamais enxergava.

Sua expressão não sustentava algum traço de emoção.

Sequer parecia ter algum traço de vida.

Afinal, tudo que passava pela sua cabeça conforme se mantinha de pé era a mesma pergunta de sempre.

“Por que... ainda estou aqui?...”

Incapaz de encontrar a resposta para aquilo, apenas lidava com a dor gritante em seu peito.

“Eu só quero...”

Já tinha abandonado tudo. Já tinha tentado de inúmeras maneiras se livrar daquele fardo; o fardo de sua própria existência sem sentido.

Talvez se caísse daquele enorme penhasco, pudesse alcançar o fim de tudo.

Sumir...”

Fechou os olhos, quase se tornando uma só com o vento...

Estava pronta para abdicar de todo o equilíbrio do corpo, só permitindo que a gravidade imperasse sobre si.

Até não sentir mais nada.

Com os braços levemente erguidos e abertos, ela levantou o rosto aos céus. E no momento do castigo autoimposto...

Viva.

Uma voz gentil, acompanhada de uma imagem jamais vista, surgiu de súbito em sua mente.

Aquilo a fez abdicar da queda. A fez se esforçar o quanto podia em prol de recuperar as forças para manter-se no equilíbrio.

Ofegante, voltou a abrir os olhos. Só que “aquilo” permaneceu muito vivo diante deles.

Imaginou ter visto um sorriso.

Uma expressão inocente estampada em um rosto puro.

Tão radiante quanto qualquer luz da qual se lembrava após estar tanto tempo afogada nas trevas.

O brilho em cada íris renasceu.

A pele pálida passou a reganhar cor.

Tornou a sentir o frio da lufada arrepiar a espinha; a sensação gélida do chão sob os pés descalços.

Enfim conseguiu enxergar o cenário vasto à sua frente.

O enorme mundo que permanecia conectado a ela.

À medida que os batimentos cardíacos voltaram a martelar em seu peito, ela desistiu de buscar aquele fim.

Mesmo sem compreender o significado da própria vida, ou a visão singular que surgiu em sua mente... encontrou a motivação para manter aquela chama acesa, nem que só mais um pouco.

Conforme a nova Era nascia naquele canto do planeta, a mulher decidiu caminhar.

Rumo a um destino que ainda ninguém conhecia...

 

Opa, tudo bem? Muito obrigado por dar uma chance a Epopeia do Fim, espero que curta a leitura e a história! 

Sobre alguns comentários na seção abaixo, considere-os sendo sobre a versão anterior deste Prólogo que foi recentemente reescrito para uma abordagem mais simples e atualizado!!

✿ Antes de mais nada, considere favoritar a novel, pois isso ajuda imensamente a angariar mais leitores a ela. Também entre no servidor de discord para estar sempre por dentro das novidades.
✿ Caso queira ajudar essa história a crescer ainda mais, considere também apoiar o autor pelo link ou pela chave PIX: a916a50e-e171-4112-96a6-c627703cb045

PadrimApoia.seInstagramDiscordTwitter



Comentários