Emissários da Magia Brasileira

Autor(a): Gabriel Gonçalves


Volume 1

Prólogo: A Carta Nunca Escrita

Ano 3805, Era da Unificação.

 

Sentindo uma dor excruciante, o homem se imaginava mandando uma última carta para o garoto de oito anos que estava esperando por ele em casa:

“Luther, eu sei que quando parti, não expliquei para onde estava indo, na verdade, eu jamais explico, não é mesmo? 

Eu consegui encontrar sua mãe, pensei que finalmente poderia cumprir com a minha promessa de que seríamos uma família novamente. Sei que você sonha em se tornar um grande herói que vai salvar a todos, como nas histórias que lhe contei toda noite. 

Mesmo que eu esteja ciente que alimentei isso em você, espero que você siga o caminho oposto, espero que a sua vida seja comum.

O comum é muito mais valioso do que muitos imaginam. Em minha jornada vi muito mais do que devia e não desejo que veja o mesmo. 

Quem você não tenha o mesmo destino que o meu.

Não seja um herói. Seja apenas você.

Algo melhor que o seu pai que nem ao menos possui magia.

Viva, viva mais do que irei.

E me perdoe por fazê-lo esperar pelo meu retorno”.

O homem foi tirado de seu devaneio ao ouvir uma voz distante o chamar:

— Michael! 

Michael havia perdido praticamente todos os seus sentidos. Nem os cortes em seu corpo doíam, nem mesmo a ferida profunda em seu abdome doía, tudo que Michael conseguia sentir eram lágrimas caindo em seu rosto e arrependimentos. Muitos arrependimentos. 

Ele tentava lutar para se manter consciente por sua família, recusando seu destino com todas as forças que lhe restavam, receoso do destino que aguardava seu filho. Mais do que tudo, Michael queria poder avisá-lo do perigo que ele poderia estar exposto.

“Quem sabe não há uma bênção naquilo que não se sabe? Ha! A quem eu estou tentando enganar… estou apenas agindo como um tolo.", pensou Michael.

Michael se perguntou se talvez houvesse a possibilidade, de que neste ou até mesmo em outro mundo, ele retornasse com sua esposa para casa e que aquele momento em que se encontrava não passasse de uma lembrança ruim.

O homem, ainda em seus trinta anos, podia sentir que ainda havia muito tempo pela frente para viver e ansiava por uma vida normal, longe de todos os conflitos que rodeavam o seu mundo. 

“Esse é realmente o meu fim? Tanta coisa que falta para fazer… ”, pensou Michael enquanto imaginava sua família reunida e o sangue se espalhava em seu sobretudo preto, “Não importa… enquanto não souberem… da existência dele, tudo ficará bem. Eles… nunca o descobrirão…”.

Com a consolação de que ao menos seu filho estaria em segurança, Michael se permitiu ser levado pelo enorme cansaço que sentia e lentamente seus se fecharam.



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