Volume 1
Capítulo 30: Um Até Logo
— Jinn, sai logo do quarto, você vai nos atrasar! — disse Kira pela terceira vez.
— Calma, eu já vou sair daqui! — disse Jinn
A emissária se virou para Castiel incomodada, ele ao contrário dela estava calmo, mas se perguntava o porquê da demora de Jinn.
— Vocês homens não deveriam ser mais rápidos em se arrumar? — falou Kira.
— Nem olhe para mim! Minhas memórias ainda não voltaram para poder confirmar ou negar essa informação.
Com a chegada de um novo dia, os emissários estavam desocupando a mansão da governadora para darem início a sua viagem para o Clã do Vento, todavia dentro do quarto Jinn ainda estava debaixo dos lençóis com Nádia, ambos seguravam a mão um do outro aproveitando os últimos momentos que tinham antes que o emissário partisse.
— Ainda dá tempo de você vir comigo — disse Jinn.
— Eu gostaria de ir, mas eu preciso tomar contas das coisas que a minha mãe deixou para mim e a Himiko ainda vai precisar de apoio. Isso é culpa da minha mãe por ser uma pessoa importante — disse Nádia com seus olhos brilhando ao falar de sua mãe.
— Nesse caso, assim que eu terminar de ajudar meus amigos com alguns problemas, eu vou voltar e com as nossas coisas organizadas vamos poder conversar sobre o futuro. Isso é uma promessa!
— Jinn Wu, eu vou esperar ansiosamente pelo seu retorno. Espero que passe tão rápido quanto um piscar de olhos.
Jinn piscou seus olhos repetidamente fazendo a elfa gargalhar e depois a beijou.
— Agora eu tenho que antes que a…
Porém, antes que Jinn pudesse terminar de falar, Kira abriu a porta do quarto irritada.
— Então esse era o motivo da demora… — disse Castiel.
— Pelos deuses me desculpem! Eu não sabia que ela também passou a noite passada aqui, vamos embora Castiel. Encontramos você lá fora! Tente não demorar! — disse Kira.
Enquanto Kira empurrava Castiel para o lado de fora, ele disse:
— Kira, você está vermelha…
— Cala a boca, Castiel! Eu ainda estou em processo de recuperação, mas ainda posso te matar!
Assim que os dois foram embora, Nádia e Jinn caíram na gargalhada, com ele fazendo algumas imitações de Kira constrangida. Quando terminaram de se arrumar, Jinn abraçou Nádia apertado, pois ela não poderia acompanhá-lo até a saída por precisar resolver alguns problemas.
— Teria sido legal ver você como uma Emissária de Vento Aprendiz — disse Jinn.
— Sendo sincera, eu acho que seria mais legal ser uma Emissária do Relâmpago — disse Nádia.
— Ai, essa doeu! Eles são super estimados, nós somos muito mais legais do que eles.
— Hahahaha, eu vou sentir saudades do seu bom humor.
…
Na entrada da mansão, Luther, Lia, Jasmim e Sira conversavam enquanto os policiais junto dos guardas da princesa colocavam os três caçadores com Ash em uma das carruagens que a princesa havia solicitado para usarem até chegar à estação de trem mais próxima.
— Meu pai, não parecia nervoso na carta que recebi mais cedo, então não acho que Castiel será destratado quando chegar. Só tenham em mente que depois que chegarmos ele vai ser interrogado perante o conselho, com a reunião entre os Grandes Mestres Elementais, próxima de acontecer, eles vão querer extrair qualquer informação útil para meu pai apresentar aos outros Grandes Mestres e a Aliança — disse Sira.
— Havia me esquecido dessa reunião, tem certeza que vão receber bem o Castiel? — disse Luther.
— Não confia no meu pai? Você conhece ele, sabe que ele não é um mentiroso.
— O problema é o conselho do nosso clã — disse Lia.
O Senhor do Vento, era conhecido por ser um homem bondoso e razoável, porém o conselho atual era bastante conservador e inflexível em questões relacionadas à segurança do Clã. Com isso em mente, Luther temia que o conselho decidisse algo antes mesmo da chegada de Castiel.
— Como eu disse anteriormente, o conselho não será o nosso maior problema, pelo menos não de começo. O problema são os templários ocupando o nosso território enquanto procuram por membros da Insurgência — falou Sira.
— Ouvi que a Insurgência cresceu ainda mais ao longo desse último ano, quem imaginaria que no meio da paz uma facção de bruxos se tornaria tão forte — falou Jasmim.
— Vocês sabem bem que a paz que nós temos ainda não está tão sólida assim, caso estivesse, um incidente como o que tivemos aqui não aconteceria — falou Luther.
Todos ficaram em silêncio, as mulheres sabiam o verdadeiro motivo pelo descontentamento de Luther e que não tinha relação com o incidente em Port Strong e puderem sentir o rancor na voz de Luther.
— Existem formas melhores de mostrar descontentamento com a segurança do que começar uma facção terrorista para derrubar a organização, promovendo a paz, Luther — falou Sira.
— É, verdade. Eu não estou dizendo que esses criminosos estão certos, estou apenas dizendo que esses usuários de magia e emissários não estão se rebelando por motivo nenhum — disse Luther.
— Seja com ou sem motivo, eles são perigosos e você sabe bem disso. Sira, os templários acreditam que possam ter traidores no nosso clã? — falou Lia.
— Sim, mas não somos o único clã sob vigilância dos templários. O problema é que com eles agitados, vamos precisar ficar de olho nos templários, para que as coisas não saiam de controle com a chegada de Castiel — disse Sira.
Kira saiu da mansão emburrada ainda constrangida enquanto Castiel a acompanhava quando se aproximaram dos demais, eles mudaram de assunto e Luther falou discretamente para Castiel:
— O que aconteceu?
— Fomos visitar o Jinn no quarto dele — falou Castiel.
— Só isso?
— Ele tinha companhia.
— Hahahahaha, queria ter visto a cara que vocês fizeram.
— A dela foi bem melhor que a minha, disso eu tenho certeza.
Após alguns minutos Jinn saiu acompanhado de Nádia e Margery, esperou que Himiko saísse para acompanhá-los, mas ela não apareceu.
— Onde está a senhora Kami? — disse Sira.
— Ela vai encontrar vocês no caminho, senhora Aerius — disse Margery.
— Nesse caso é melhor irmos andando, temos uma longa viagem pela frente — disse Luther.
Sira olhou curiosa para Jasmim que havia explicado que após um início turbulento, os dois pareciam ter se entendido com a nobre, até mesmo tendo chamado o emissário para ajudar em alguns problemas ao longo da semana.
Embora nenhuma das duas tivessem conversado sobre, a intuição delas também havia notado que a nobre que ela estava sempre muito perto de Luther e sempre muito bem arrumada, mesmo para uma nobre.
Guiando as carruagens os emissários seguiram para a entrada da cidade, após se despedirem de Margery e Nádia, felizes de ver que a cidade estava com um clima agradável, embora ainda houvesse alguns reparos a serem feitos, a única coisa que estranharam era que as ruas estavam menos movimentadas comparado aos outros dias.
Foi apenas quando chegaram à entrada principal da cidade que eles entenderam o motivo ao se depararem com vários dos moradores segurando cestos com comida e flores.
Jasmim desceu da carruagem acompanhada dos demais, o sorriso da kitsune ao ver algumas crianças lhe entregando flores chegou a tirar o fôlego de alguns moradores e a comandante Carla foi até a Jasmim dizendo:
— Fico feliz que tenham gostado da nossa pequena surpresa. Com tantas perdas, não achei que fosse sensato dar uma festa, mas queríamos ao menos mostrar nossa gratidão por tudo que fizeram.
— Vocês não precisavam, foi um esforço em conjunto, mas nós também agradecemos a vocês por tudo — disse Jasmim.
O médico da cidade entregou um cesto de alimentos para Lia enquanto sua filha envergonhada entregou uma flor para Sira dizendo:
— Muito… muito obrigada, princesa bonita.
— Eu que agradeço — disse Sira corando.
"Que fofinha, ela me acha bonita", pensou a princesa.
— Ora, ora… parece que alguém está ficando vermelha — cantarolou Luther.
— Luther, você precisa tomar jeito e falar com respeito com a realeza — disse Sira.
A princesa tentou forçar uma postura séria ao falar, mas não convenceu Luther que se aproximou dela rindo de sua má atuação e disse:
— Intimidade é um caminho sem volta, senhora Aerius. Espera porque está ficando mais vermelha?
— Nada de mais! — disse Sira.
Alastar e Sho fizeram menção de rir, mas ao notarem o olhar de repreensão de Sira, os dois mudaram de ideia e se voluntariam a guardar os cestos. Luther olhou confuso para Jasmim, que apertou a bochecha dele e disse:
— Eu não vou te ajudar com tudo bonitão!
— Poxa, Jasmim! — disse Luther.
— Você realmente não tem jeito!
— Se até a Jasmim está dizendo isso, então é o seu fim Luther — disse Kira.
— Do que vocês estão falando?! Alguém me explica. Porque o Jinn está rindo tanto?! — disse Luther.
— Nada não, "bonitão" — disse Jinn beijando o vento.
"Vou ficar aqui quieto fingindo que estou entendendo tudo", pensou Castiel.
Após mais alguns agradecimentos, os moradores abriram caminho para que os emissários pudessem partir e todos com exceção de Luther voltaram para as carruagens.
Quando ele estava prestes a desistir de esperar por Himiko, escutou o som de cavalos cavalgando e viu Himiko chegando com Koloman, Ian, sua esposa e as crianças do antigo governador.
— Eu estava pensando que você não viria — disse Luther.
— Pare de bobeira, como a governadora de Port Strong não viria agraciar com sua presença os heróis da cidade! — disse Himiko fingindo soberba.
"Ela é boa nisso, nem sei se ela está falando sério ou não, era de se esperar, ela é da nobreza", pensou Luther.
Percebendo a confusão de Himiko cruzou os braços ainda fingindo e depois de alguns segundos de silêncio, ela disse:
— Eu estou só brincando, seu bobo.
— Eu sabia, eu só estava vendo até onde você iria — disse Luther.
— Claro que estava, emissário — falou Koloman.
— Por que ele está aqui?
— Nossa, para que todo esse desprezo, somos todos amigos agora!
— Koloman, você poderia nos dar licença? Você vai acabar atrapalhando — disse Himiko.
— Claro, até daqui a pouco colega de viagem! — disse Koloman.
Enquanto o homem se afastava. Perplexo, Luther se virou para Himiko que cobria seu rosto com a mão enquanto pensava em como matar Koloman por estragar o início do pedido dela.
— Você poderia me explicar isso, governadora Kami? — disse Luther.
— As crianças precisam de uma chance de recomeçar, se elas ficarem aqui podem sofrer alguns problemas devido aos outros nobres e alguns cidadãos rancorosos. Ele ia sair da cidade com a sua esposa, então como eles já estavam cuidando das crianças, eu pensei que seria uma boa ideia — disse Himiko.
— Você tem certeza disso? Eles não vão sentir falta do lar deles, talvez fosse melhor se você cuidasse deles.
— Eu não tenho esse direito, Luther. Além disso, você sabe assim como eu que essas crianças precisam de uma família e um lugar onde elas não fiquem revivendo o trauma. Vou ficar de olho neles para que tudo dê certo e darei todos os bens deles, quando atingirem a maioridade.
— É você razão, essas crianças precisam de uma família e uma chance de começar de novo…
O emissário olhou para trás e sorriu para Jasmim que espiava os da janela da carruagem com suas orelhas de raposa denunciando sua posição.
A nobre suspirou vendo Jasmim e sinalizou para Koloman que eles poderiam acompanhar Luther. Vendo os rostos alegres da família de Koloman, o emissário sentiu um calor em seu peito, mas a filha mais velha dos Damaris ainda estava mais contida, ao contrário de seu irmão que falava animado que eles iam para uma aventura.
— Não se preocupe, eles só vão acompanhar vocês até um certo ponto — disse Himiko.
— Está tudo bem, é melhor viajarmos juntos por segurança. Não quero mais nada acontecendo com aquelas crianças, elas já passaram pelo suficiente — disse Luther.
— Obrigada pela compreensão, agradeço a você por tudo que fez por essa cidade. Eu sei bem que você ainda deve estar pensando no que poderia ter feito de melhor, porém quero deixar claro que não só para mim, mas para todos nessa cidade você é um herói.
— Não precisa agradecer Himiko, tudo que fizemos aqui não teria dado certo sem vocês. No final, só auxiliamos vocês. Então você também é uma heroína dessa cidade e todos que lutaram também. Tenho certeza que sua família ficou orgulhosa de você.
Himiko abraçou Luther e depois beijou sua bochecha, fazendo que ele ficasse vermelho como um tomate.
— Você tem jeito com as palavras, tenho certeza que daria um ótimo nobre — disse Himiko.
— Ha! Já pensou que desastre isso seria! — disse Luther.
— Luther Levisay, vamos logo! — falou Sira impaciente.
— Ela vai me matar se eu não entrar na carruagem, posso te adiantar que não existe muita coisa pior que uma princesa irritada — disse Luther.
— Eu imagino que sim… — disse Himiko.
"Parte de mim, gostaria que ele ficasse", pensou Himiko.
— Essa não é a última vez que a gente se vê, você sabe disso, não é? — disse Luther.
— Como… você não é tão denso quanto parece, não é?
Luther deu de ombros fazendo a nobre rir.
— Boa sorte com o seu amigo, espero que o Castiel fique bem! Aliás, não fique tão nervoso e confie um pouco mais em você, me disseram que você lida bem com situações difíceis! — disse Luther.
— Depois me fala quem é, para eu ir atrás desse mentiroso!
A nobre ficou parada por um tempo observando o grupo partindo da cidade enquanto refletia sobre tudo que havia acontecido na cidade. Himiko sabia muito bem como as coisas podiam mudar radicalmente em determinados momentos, mas os últimos acontecimentos foram a prova final desse fato.
Se sentindo encorajada, ela subiu em seu cavalo para retornar aos seus deveres.
"Essa com certeza não será a última vez que a gente vai se ver", pensou Himiko
Dando uma última espiada nos emissários que estava sumindo no horizonte, ela deu um sorriso de canto e partiu, seguindo pelas ruas de sua cidade vendo as crianças de volta às ruas brincando e os demais moradores tranquilos agora que a segurança havia sido retomada.
Agradecimentos
Obrigado Gabriel e tia Fátima, por mergulharem de cabeça nos primeiros caóticos manuscritos dos Emissários e a minha mãe e minha irmã Raquel por pacientemente ouvirem todas as minhas ideias doidas para essa obra e me apoiarem.
Também um obrigado a Mariana e ao meu irmão Hantony, talvez não saibam, mas Emissários da Magia jamais teria existido sem vocês.