Volume 1
Capítulo 12: Esclarecimento
— Então eles estavam vigiando a cidade esse tempo todo. Ainda bem que consegui convencer os representantes da cidade a desistirem de uma fuga — disse Himiko, sentindo as dores de cabeça que teria tido se as coisas tivessem seguido um caminho diferente.
— Tinham pessoas planejando deixar a cidade?! É muita ingenuidade pensar que uma ideia dessas daria certo. Ou estavam planejando deixar os cidadãos usuários de magia para trás? — perguntou Luther, com um tom de incredulidade.
— Não, o plano deles era fugir com as pessoas que não podiam lutar, mas esse plano é falho por diversos motivos que eu expliquei para eles. Isso só ficou ainda mais óbvio depois de você me contar o que aconteceu. De qualquer forma, vou avisar a comandante para reforçar a segurança das fronteiras com os civis que se colocaram à disposição para proteger a cidade.
— Você quer colocar civis para lutar?! — Luther tentou não falar em tom de confronto, mas, devido ao descontentamento que já sentia em relação a Himiko, não conseguiu evitar.
“Uma hora ou outra isso ia acontecer”, pensou Himiko. Ela suspirou, cansada, e se aproximou do emissário. Luther não conseguiu decifrar a expressão no rosto da elfa, que, embora não fosse agressiva, também não transmitia amistosidade. A nobre fitou Luther com seus olhos azuis e disse:
— O que você sugere que eu faça? Acha mesmo que a polícia sozinha consegue cuidar de tudo? Mesmo com seus aliados, acredito que essa seja uma tarefa difícil. Precisamos usar os recursos que temos à nossa disposição.
— Eu sei disso, mas não acho que deveria permitir que civis se envolvam. Podemos encontrar outro jeito — respondeu Luther.
— Que jeito? Aliás, esta cidade é tão deles quanto minha. Se eles querem ajudar a defender a cidade deles, eu não vou impedi-los. Não temos o direito de passar por cima do desejo deles de manter o lar e as pessoas que amam a salvo.
— Tem certeza? Não está apenas usando a vontade deles de ajudar para se proteger?
— Ha! Então era sobre isso?! Eu não te disse que faria de tudo para proteger esta cidade? Precisávamos tirar Dariss do poder!
— Ou talvez isso tenha sido apenas outra conveniência. O útil se juntou ao agradável.
“Quem ele pensa que é para me julgar dessa maneira?”, pensou Himiko. Se não fosse pela educação que recebera para lidar com os mais variados tipos de debate, ela não conseguiria esconder sua irritação de Luther com tanta eficiência. Mantendo-se calma, embora com dificuldade, Himiko agradeceu mentalmente aos seus professores pelos ensinamentos que recebera.
— Eu não sei quem diabos você pensa que eu sou, mas posso te garantir que estou lutando por esta cidade tanto quanto qualquer um! Estou fazendo o que precisa ser feito, mesmo que não seja fácil. Alguém precisa fazer isso — disse Himiko, com firmeza.
— O interessante é que o ex-governador disse algo semelhante para mim antes de ser preso — respondeu Luther.
— Não me compare com ele! Não ouse me comparar com Dariss! Essa cidade foi construída pela minha família! Os Damaris só vieram depois, com o dinheiro deles, para ajudar na “expansão” e aproveitaram disso para tomar o controle da cidade enquanto estabeleciam as rotas comerciais de Port Strong, que não foram desenvolvidas desde então.
Himiko chegou perto de Luther e, ficando cara a cara, ela continuou:
— Eu estou tentando proteger todos nesta cidade! Fui eu que cresci aqui! Este lugar é precioso para mim, e não vou deixar que me compare a um homem disposto a permitir que pessoas daqui fossem mortas dormindo só por terem magia. Eu e ele não somos iguais!
Embora Himiko ainda falasse sem elevar a voz, seus olhos ardiam de fúria. Em sua mente, vinham lembranças de seus pais contando sobre o desenvolvimento da cidade, tudo o que sua família havia feito e tudo de bom que ela ouvira sobre eles enquanto crescia.
Luther, ainda não convencido pelo discurso de Himiko, voltou a falar:
— Então, por favor, me explique. Por que você não simplesmente contou qual era o seu plano desde o começo? Por que precisou nos manipular para que fizéssemos o que você queria? Nem eu, nem nenhum dos meus companheiros gostamos de nobres que veem as pessoas ao seu redor como peças em um tabuleiro. Posso ser um soldado, mas não vejo as vidas ao meu redor de forma tão leviana.
— Você está enganado… você está enganado… — disse Himiko, cerrando os punhos.
“Não importa se você não consegue ver dessa maneira, não muda em nada o que você fez”, pensou Luther.
Quando o silêncio preencheu o ambiente, Luther se voltou para a janela, sentindo que já havia dito mais do que necessário. O melhor seria se juntar aos seus amigos no reforço das fronteiras.
— Esse é o meu legado, não me importa que você não consiga entender! Não muda nada! Eu vou continuar fazendo o que posso por este lugar — disse Himiko, com determinação.
O emissário parou antes de sair e voltou para falar com a nobre, que o observava com firmeza. No entanto, ele foi interrompido pelo som da porta se abrindo. Um policial entrou às pressas e se espantou ao ver Luther parado no meio do escritório. Ele olhou para Himiko, aguardando permissão para falar.
“Por que Margery não o acompanhou até aqui? Ela normalmente não deixa ninguém vir falar comigo assim sem aviso”, pensou Himiko, enquanto sinalizava para que o policial falasse.
— O senhor Blecor conseguiu obter algumas informações no interrogatório e solicitou que eu a chamasse imediatamente para relatar à senhora o que foi dito — disse o policial, olhando para Luther.
— Algum problema, policial? — perguntou Luther.
— De forma alguma, senhor emissário.
Himiko e Luther trocaram olhares por um instante, e a elfa disse casualmente:
— Você não queria ser um dos primeiros a ouvir o que Blecor tem para dizer? Me acompanhe. Não é bom para uma dama andar sozinha à noite. Pensei que você fosse um cavalheiro.
— Eu irei acompanhá-la, senhora Kami — disse o policial.
— Tudo bem, eu vou junto. De fato, quero saber se Blecor é realmente de confiança ou não — disse Luther, com indiferença.
— Se isso for um incômodo para o senhor, pode deixar comigo — disse o policial.
— Não se preocupe com ele, apenas guie o caminho — disse Himiko, com um sorriso gentil.
O policial saiu na frente, e Himiko olhou para Luther, agradecida, quando estava prestes a deixar o escritório. Antes que Luther saísse, algo chamou sua atenção na mesa de Himiko: um retrato dela pequena com sua família.
Aquele simples retrato da família Kami fez com que Luther deixasse o escritório com a mão no peito, na região onde o pingente de seu cordão se encontrava por baixo da camisa.
“Agora eu entendi por que simpatizei com ela no começo”, pensou Luther.
No caminho para a delegacia, Himiko desacelerou seus passos para ficar mais próxima de Luther, ao notar que o policial estava suando, mesmo com o clima fresco e uma leve brisa gelada vindo do mar.
— Qual é o seu nome mesmo? — perguntou Himiko, mantendo a postura gentil.
— Gunnar, Gunnar Holt — respondeu o policial, sem olhar para trás.
— Está com calor, Gunnar?
— Desculpe, senhora Kami, é que corri até a mansão para avisá-la o quanto antes. É um assunto urgente que o senhor Blecor tem para tratar com a senhora, então não podia perder tempo. Devo estar parecendo um porco, não é? — disse Gunnar, rindo.
“Agora o assunto é urgente?”, pensou Himiko.
— Não é para tanto, policial. Se é um assunto urgente, entendo o motivo de estar assim. Apenas se lembre de, depois disso, tirar um tempo para descansar.
— Sim, senhora!
“Por quanto mais tempo ela pretende continuar fingindo? Esse cara só não é mais óbvio porque não escreveu na testa que está mentindo”, pensava Luther, enquanto sorria, fingindo normalidade. No entanto, sua mão não saiu do cabo da espada desde que deixaram a mansão.
Ao chegarem à delegacia, depararam-se com o hall de entrada vazio. Foi só na área onde ficavam as mesas que encontraram dois policiais conversando. Ao verem Gunnar, foram em sua direção, e um deles disse:
— Holt, o que você está fazendo aqui? Não vai ajudar a vigiar as entradas da cidade?
— Esqueceu, Kirk, que fui buscar a senhora Kami para levá-la até o mordomo? Onde ele está? Não era para estar aguardando aqui?
— Ele estava agitado, então voltou para tentar tirar mais alguma informação do senhor Damaris até que a governadora chegasse — disse o outro policial.
Ambos os policiais fizeram uma breve reverência a Himiko.
— Ele voltou para a cela? — perguntou Himiko.
— Sim, senhora — respondeu Kirk, que logo se virou para seu companheiro. — Skoou, pegue as chaves para levarmos eles imediatamente ao mordomo. Não vamos fazer a senhora Kami perder tempo.
— Agradeço a iniciativa — disse Himiko.
Os três policiais seguiram pelos corredores da delegacia, passando por algumas celas provisórias no andar principal, até chegarem à porta que dava acesso às celas do subterrâneo, onde todos os detentos estavam.
Gunnar foi na frente, enquanto Kirk e Skoou acompanharam o grupo na retaguarda. Luther, percebendo que não havia saídas à vista e que o espaço não era amplo, arriscou-se a falar em voz baixa, para que apenas Himiko o escutasse:
— Não estou gostando disso. Chega de fingir. Não temos rotas de fuga aqui.
— Não temos escolha. Eles estão com Blecor. Continue andando normalmente. Não deixe que percebam o que você está pensando.
Alguns dos presos, a maioria policiais que ficaram do lado de Dariss, observavam o grupo passar por eles, até chegarem ao final do corredor. Alguns dos presos riam e xingavam Himiko.
Gunnar parou em frente à porta que dava acesso à última cela, isolada das demais. Era o local onde haviam colocado Dariss, sua esposa e a assistente deles, Ena, para mantê-los seguros dos outros presos e garantir privacidade durante os interrogatórios.
A sala era dividida em uma cela e um espaço para visitas, onde Blecor estava. Quando Gunnar abriu a porta, Himiko avistou Blecor sendo segurado pelo ex-comandante da polícia da cidade, Jasper Koloman, que tinha uma pistola apontada para a cabeça do mordomo.
— Senhorita Kami! É uma armadilha! — gritou Blecor.
Gunnar pegou Himiko pelo braço e a puxou para dentro da sala, enquanto sacava sua arma. Himiko, sem escolha, não resistiu.
Luther sacou sua espada tão rápido que conseguiu cortar o antebraço de Skoou antes que ele pudesse pegar sua pistola. Enquanto mordia a língua para não gritar de dor, Skoou usou o peso do corpo para empurrar o emissário para dentro da sala.
Luther cortou o pescoço de Skoou, que tentava subjugá-lo, e fez menção de avançar na direção de Kirk. No entanto, ao ouvir um som estranho, o emissário voltou sua atenção para outro policial, que tinha uma espingarda apontada para ele. Luther agarrou o cano da arma com a mão livre, desviando-a de sua direção.
O emissário reconheceu imediatamente o policial que havia interrogado na noite anterior, a quem seu companheiro chamara de Ian. Ele manteve a espada apontada para Kirk, que mirava na cabeça de Luther, pronto para atirar.
— Chega, Levisay! Você pode até conseguir matá-los, mas não vai salvar Himiko e o mordomo — disse Koloman.
— Deveria ficar assustado por você saber meu nome?! — respondeu Luther.
A briga agitou os prisioneiros do lado de fora, que, embora não fossem muitos, tinham suas vozes ecoando pelo corredor, deixando Luther ainda mais apreensivo.
Blecor olhou para Himiko, que tinha duas armas apontadas para ela, e disse com pesar:
— Sinto muito, senhora Kami. Eles aproveitaram que a maioria estava ocupada nas ruas para agir.
Himiko notou os corpos dos policiais que haviam ajudado na rebelião, mortos no chão, e encarou Dariss, que estava atrás das grades, divertindo-se com a situação enquanto segurava uma arma apontada para ela.
Dariss tinha um sorriso debochado no rosto, enquanto Ena permanecia encolhida em um canto. Ele estalou os dedos para atrair a atenção de Luther e Himiko.
— Não precisam ficar tão nervosos. Só quero conversar. Afinal, temos um assunto pendente a tratar, não concorda, Kami?
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