Volume 1
Capítulo 10: Uma Escolha Ruim
Algum tempo antes que Luther, Lia e Jasmim fossem chamados por Himiko, Castiel caminhava pela cidade sem rumo.
Castiel buscava um tempo para si enquanto se via em conflito, se questionando se deveria ou não contar o segredo que estava escondendo para os outros. Ele quase chegou a dizer mais cedo para Jasmim, mas se conteve.
Durante a rebelião ele teve alguns fragmentos de sua memória, ele escutou uma voz feminina o aconselhando durante toda a batalha. Era uma voz conhecida por ele.
Mas sua maior surpresa foi quando se deitou para um rápido cochilo e sonhou com uma pessoa que ele também sentiu conhecer.
Essa pessoa em seu sonho aparentava ser uma elfa e seu cabelo era do mesmo vermelho intenso de seus olhos. Ela também possuía algumas cicatrizes no rosto.
A mulher dormia em sua cama usando uma camisola branca e ao lado da cabeceira havia uma espada longa com um cabo de ouro detalhado com uma criatura mágica que Castiel supôs ser um basilisco.
Ele sentiu uma estranha conexão com mulher em seu sonho, e ele a chamou. Ela abriu os olhos de imediato e puxou a sua espada com apenas uma mão e encarou o intruso, todavia antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa para ela, ele acordou.
Sendo que alguns segundos antes que despertasse, ele a escutou chamá-lo pelo nome com a voz já distante, mas ele reconheceu como sendo a mesma voz que o aconselhou durante a batalha.
Ao mesmo tempo que Castiel sentia estar ficando próximo de descobrir quem era, seus extintos o aconselhavam a ser cuidadoso com o que faria a seguir.
"Eles falaram que vão me ajudar, por que eu não posso simplesmente confiar neles? Eles estão confiando em mim e vem me tratando bem desde que passei a acompanhar eles. O que está me preocupando tanto?".
Castiel parou ao perceber haver chegado a fronteira da cidade e alguns policiais estavam no local de prontidão, “Acho que eu deveria dar meia volta agora, mas do jeito que estou vou acabar falando algo que não deveria assim que encontrar a Kira e os outros. Vou andar mais um pouco”, com esse pensamento Castiel passou pelos dois policiais e seguiu para a floresta.
O ambiente tranquilo da floresta ao redor de Castiel era aconchegante e tudo que podia se ouvir além de seus passos era o som de alguns pássaros e as folhas balançando. Ele tomando cuidado para não se perder não foi longe o suficiente a ponto de que não soubesse como retornar e parou fechando seus olhos, se permitindo relaxar.
Embora, na verdade, aquilo fosse o que Castiel queria que a pessoa que ele sentiu estar o observando, pensasse.
No mesmo momento que um som como um sopro veio em sua direção, Castiel em um movimento rápido se virou e pegou a adaga a milímetros de atingir o seu olho.
Apesar de no primeiro momento que Castiel adentrou a floresta, ele tivesse escutado ou visto nada de suspeito, um desconforto tomou conta dele após alguns minutos de caminhada.
— Acho que eu sei bem quando estou sendo observado! — disse Castiel lançando a adaga no chão. Mesmo impressionado com sua própria perspicácia em notar não só a direção que a adaga havia sido lançada, mas também de ter conseguido a pegar a arma, ele manteve a compostura se mantendo atento ao oponente que estava a espreita.
“Se esse caçador começou a me seguir assim que entrei na floresta, eles já devem estar de olho na cidade a um tempo. Preciso confirmar minhas suspeitas, embora tenha sido uma grande estupidez vir para cá sozinho”, pensou Castiel.
— Eu já sei que você está aqui! Não há motivo para continuar se escondendo! Você não vai conseguir me acertar com suas adagas! — blefou Castiel ainda incerto do nível de suas habilidades e ao ficar sem resposta continuou a tentar instigar seu inimigo — Todos ficam chamando vocês de Caçadores de Elite, mas tudo que vi até agora é um bando de covardes assassinos que não sabem nada além de se esconder! O único feito de vocês nessa cidade até o momento foi instigar medo em pessoas inocentes e matar usuários de magia que não fizeram nada de errado!
— Você fala como uma criança repetindo palavras que ouviu alguém dizer e achou soar bem — disse uma voz feminina de uma direção ainda incerta para Castiel — Você ainda não viu nada e age como se soubesse de tudo.
Outra adaga foi na direção de Castiel tão rápido quanto a anterior e desta vez sacando uma de suas espada ele defletiu a arma. Entretanto, Castiel foi surpreendido pela caçadora, que descendo do alto de um dos galhos das gigantescas árvores daquela floresta, atingiu Castiel com um chute forte o suficiente para quebrar o maxilar de seu oponente.
Castiel cambaleou para trás colocando a mão sobre a região do seu rosto que havia sido atingida e para não só a sua surpresa, mas também para a da caçadora, não houve nenhum ferimento grave. Ainda que a dor do golpe da caçadora tenha estivesse sendo sentida por ele.
“Isso deveria ter no mínimo deslocado o maxilar dele”, pensou a caçadora enquanto se preparava para o seu próximo ataque.
Ficando claro que ele não poderia subestimar seu oponente, Castiel sacou sua outra espada para se defender da caçadora, que ao se aproximar, ele reconheceu como a elfa de cabelos brancos que estava com Poltergeist na noite em que ele caiu do portal.
A agilidade da elfa era notável e não demonstrava dificuldade alguma em lidar com Castiel. Não dependendo apenas do uso de sua arma, ela também tentou acertá-lo com chutes quando havia alguma abertura.
“Droga, ela é muito melhor do que eu pensava, isso é diferente que lutar contra aqueles policiais, preciso me focar para não perder sem esquecer que eu preciso tentar tirar alguma informação dela”.
— Se você acredita que eu estou falando do que não sei, me explique: porque vocês estão matando pessoas inocentes?! Qual a justificativa?! — disse Castiel se afastando da caçadora e correndo para dentro da floresta.
“Covarde! Ele está tentando me cansar com uma perseguição?!”, pensou a caçadora indo atrás de sua presa.
— Eu não vejo a necessidade de entrar em um debate fútil com você! — disse a caçadora lançando uma de suas adagas em sua direção.
Castiel ouvindo a adaga cortando o ar em sua direção, se abaixou e a caçadora o alcançou pegando de volta a adaga que havia se fincado no tronco de uma das árvores.
— Fútil, você diz? Mas gosto mais da possibilidade de que eu não seja a única “criança” aqui repetindo o que ouviu outros dizerem — Antes mesmo que Castiel terminasse de falar, a caçadora voltou a atacar ele com os olhos cheios de fúria. Sem recuar, Castiel riu, encontrando a oportunidade ideal para instigá-la a falar — Acho que acertei, não foi? Você deve estar apenas seguindo ordens! Não deve nem saber direito o porquê você faz isso!
— Cala essa sua boca! — A caçadora ficou cara a cara com Castiel ao se lançar contra ele e continuar pressionando suas adagas para fazer ceder em sua defesa e o som estridente das lâminas se chocando tomou conta do lugar — Você continua falando sobre o que não sabe! Você não faz ideia da ameaça que vocês usuários de magia trazem para pessoas como nós! Isso não é sobre certo ou errado, isso é sobre sobrevivência! Afinal não tiveram problemas para ajudar uma rebelião assim que chegaram, não é? Deve ter sido fácil para você matar aquelas pessoas!
— Tsk, você é bem engraçadinha, não é? A diferença é que meu objetivo não é massacrar a cidade!
— Se quisessem tanto proteger a cidade, não teriam interferido!
Castiel estava prestes a responder à caçadora, mas teve sua atenção desviada pelo rosnado que ecoou pela floresta. Era semelhante ao de um leão, porém ele estava sobre a impressão de que não era esta criatura que havia escutado de fato.
“Essa parte da floresta deve ser território de deles, mas tem outra coisa me incomodando muito mais aqui, preciso concluir o meu objetivo”, pensou a caçadora ao se afastar de Castiel e olhando para seu pingente disse:
— Por que você ainda não usou nenhuma magia?
— Não achei necessário!
— Eu quase matei você pelo menos uma cinco vezes desde que começamos a lutar e você ainda não achou necessário usar sua magia? Você pensa que eu vou acreditar nisso, após ter usado aquela conjuração poderosa para proteger a filha da floresta?
“Onde ela está tentando chegar com isso?”, pensou Castiel investindo contra a caçadora.
Porém, o som do rosnado ficou ainda mais alto e os dois se depararam com a criatura mágica, que estava decidida em expulsar os intrusos de seu território. A criatura conhecida como kon mender era semelhante a um leão, embora fosse maior e tivesse as patas e asas de um falcão.
As aves agitadas com a chegada do kon mender deixaram as árvores dos arredores e Castiel e a Caçadora de Elite tinham sua atenção voltada para criatura mágica que estava prestes a atacar.
Por alguns segundos ninguém se moveu até que a criatura optou por atacar a caçadora. Castiel avançou contra a criatura no mesmo momento que a caçadora.
“Desculpe, mas eu não posso deixar você matar a minha fonte de informação”, pensou Castiel.
A criatura evitou o ataque dos dois abrindo suas asas e as batendo com força para que o vento tirasse o equilíbrio dos dois. Quando Castiel caiu e derrubou uma de suas espadas, o kon mender foi em sua direção para pegá-lo, a elfa se apressou para impedir a criatura, ”Eu ainda não terminei com ele!”.
— Essa presa é minha! — A caçadora saltou da direção da criatura e ficou uma adaga nela.
O kon mender rosnando de dor girou e acertou os dois com suas asas. A elfa foi lançada contra o tronco de uma árvore e a criatura furiosa investiu contra ela. Outra vez Castiel se colocou no caminho da criatura e o kon mender parou a poucos centímetros de distância de Castiel.
Para o homem o que aconteceu a seguir foi que ao não mostrar medo algum da criatura e usar toda a sua capacidade de intimidação, a criatura recuou com medo, mas aquela era apenas uma versão ingênua que de nada aparentava com a verdade.
A elfa não chegou a ver os olhos de Castiel mudarem como da última vez para um vermelho e a pupila mudar para um formato felino. Todavia ela viu as asas como de morcego saírem das costas dele e se abrirem enquanto encarava a criatura e grunhiu com um olhar amedrontador que fez com que o kon mender recuasse.
Quando Castiel se virou para a caçadora e viu a expressão de espanto em seu rosto enquanto se levantava com adagas em mãos, se deu conta do que havia realmente acontecido e tomou consciência de suas asas.
A caçadora avançou em sua direção, mas desta vez ele estava assustado demais com que acabara de fazer para reagir. Ela o derrubou e ficando por cima dele, colocou a adaga contra o pescoço de Castiel e disse:
— Quem é você e, porque está fingindo ser mais fraco do que realmente é?! — disse a caçadora.
— Eu não estou fingindo? Eu sou um Emissário de fogo! — disse Castiel se lembrando das instruções que lhe foram dadas por Kira.
A elfa aproximou seu rosto do de Castiel olhando diretamente para os olhos vermelhos dele e encostou sua adaga no pescoço que cortou superficialmente por conta da lâmina afiada.
— Você acha que eu sou idiota? Eu já vi um Emissário de fogo e você com certeza não é um? Por que ainda não tentou se soltar? Eu estou vendo suas asas apontadas para mim.
Castiel por instinto moveu suas asas e ambas estavam posicionadas para atacar a caçadora. Seus olhos, por outro lado, voltaram ao tom amarelado de antes. Mesmo com uma arma em seu pescoço, ele estava se sentindo estranhamente tranquilo e falou:
— Por que você me protegeu da criatura, poderia ter aproveitado que eu estava distraído para me matar?
— Eu poderia te perguntar a mesma coisa. Tudo que vi você fazendo desde que começamos a lutar é incoerente! Meu pingente está detectando uma grande energia mágica vindo de você, mas até agora não fez nada que um guerreiro comum faria.
— Não sou o assassino aqui, se lembra? Talvez usuários de magia não sejam o mal que você acredita.
— Você acha que é melhor que eu? Você tem alguma ideia do que é ter tudo que te é precioso porque alguém é mais poderoso do que você e isso é motivo o suficiente para ele agir da forma que quiser?
Cada palavra que saiu da boca da caçadora era coberta por rancor e ódio, porém ao contrário da reação que ela esperava de Castiel, ele abaixou suas asas e encarnou a caçadora com pesar.
— Eu não sei como é passar por algo assim — disse Castiel, surpreendendo a caçadora que esperava que ele tentasse rebater — Não posso entender como você se sente e nem ninguém, não posso nem entender quem eu sou. Entretanto, mesmo que eu esteja errado e seja um monstro ou algo do tipo, quero tentar por mim mesmo descobrir um caminho em que menos pessoas precisem sofrer, independente de qual lado.
“Você devia relaxar um pouco Ash, você parece cansada, não precisa se esforçar tanto”, por um segundo a caçadora viu um rosto de seu passado, um garoto ainda em sua adolescência com o rosto semelhante ao dela rindo, os cabelos brancos como a neve e os olhos verdes como esmeralda. Ela se afastou de Castiel assustada, mas se recompôs retornando a postura firme de antes assim que se lembrou de onde estava e do que estava fazendo.
Apesar disso, o coração de Ash permaneceu acelerado com as lembranças desencadeadas por aquela simples visão que ela teve.
— Você está bem? — disse Castiel acreditando ter sido o culpado pela reação da caçadora.
— Da próxima vez que nos encontrarmos, eu vou matar você! — disse Ash.
— Eu estarei esperando por você! — Castiel levantou com o olhar determinado e sem qualquer hostilidade, enquanto a caçadora se retirava.
Tão breve quanto veio, Ash desapareceu em meio a mata, deixando Castiel sozinho.
— Tsk, que irritante, você me lembra dele — disse a Ash para si mesma, enquanto olhava para a sua mão trêmula.
“Se eu não tivesse partido, ele iria acabar percebendo que eu estava vulnerável, não deixar minhas emoções me afetarem dessa forma. Eu só tenho um objetivo e preciso me manter fiel a ele. Para compensar, vou pegar aquela coisa por ficar em meu caminho”, pensou Ash enquanto seguia pela floresta.
Se vendo perdido na floresta, Castiel caminhou por um bom tempo. Ele tentou seu melhor para fazer com que as suas asas sumissem, mas seu esforço não trouxe resultado algum e a preocupação de que ele fosse alguma espécie de ameaça para as pessoas ao seu redor aumentava a cada momento que suas asas não desapareciam.
“Será que eu estou me transformando em algum tipo de monstro?”
Foi apenas após o sol se pôr que Castiel escutou uma voz familiar gritando por seu nome e enquanto a mulher corria em sua direção, ele conseguiu fazer com que as suas asas sumissem e sorriu aliviado ao ver a pessoa que o estava chamando.
— Castiel! Você está bem?! — Kira correu na direção de Castiel cheia de preocupação — Jinn, eu encontrei ele!
— Não grita, eles ainda podem estar por aqui — disse Castiel às pressas.
— Eles?! — falou Jinn ao se aproximar dos dois.
— Tem caçadores pelos arredores da cidade, eles têm vigiado tudo que acontece. Vamos sair daqui logo, temos que avisar os outros que um ataque deve acontecer mais cedo do que esperávamos.