Em Outro Universo Angolana

Autor(a): Tayuri


Volume 2

Capítulo 14: Para Onde Os Perdidos Vão

 

— Você…está bem, certo? — Astrid perguntou. 

— Estou. Como estão as tuas mãos? — Seus olhos desceram para as mãos enfaixadas de Astrid. 

— Desde que não tente fechá-las, eu não sinto quase nada. Acho que estão bem. Obrigado! 

Os soldados prosseguiram caminhando em silêncio até que Astrid falou:

 — Sei que você já disse que está bem, mas… — Parou de andar e tocou o braço de Logan com ambas as mãos. Um leve esticão percorreu de suas mãos para os seus braços; Astrid apertou os dentes, e decidindo ignorar a dor continuou. — O que… — Astrid tentou encontrar a própria voz. — O que está acontecendo com você?

Silêncio. Logan respirou profundamente. A mão esfregou os olhos enquanto parecia pensar. Seu rosto continuava pálido e Astrid se conteve para não lhe segurar pelo braço temendo que talvez caísse. Mas suas mãos não se fechavam e ela tinha sérias dúvidas que Logan quisesse que ela o segurasse. Astrid não queria irritá-lo, não queria de forma alguma acordar o monstro dentro dele, então só manteve suas mãos ao lado do corpo e esperou pacientemente, o que Logan decidiria compartilhar consigo. 

— Eu…—Seus olhos encaram os de Astrid e ela viu a incerteza neles. Ele estava com medo, Astrid constatou, tão logo a voz dele quase trêmula falou: — Acho que tem alguma coisa…errada comigo. Mais errada do que o normal — acrescentou. Comprimiu os lábios em uma linha fina. Levou a mão ao pescoço e pareceu estar pensando novamente.

— Logan…

— Acho que ele está acordado! — Astrid o encarou confusa. — O meu outro eu. Ele… — Seus olhos começaram a ir de um lado para o outro até que voltaram novamente para Astrid que ainda parecia confusa. — Tipo realmente acordado. Entende!?

Astrid definitivamente não entendeu, entretanto resolveu apenas ficar em silêncio enquanto que o outro tentava explicar. Suas mãos faziam gestos e suas palavras saiam um pouco estranhas. Sua voz era estranha e um tanto quanto apressada.

— Estou ouvindo vozes e em alguns momentos…

Astrid o puxou para o lado e ficaram rente a parede quando um grupo de soldados passou correndo. Com os dentes trincados e uma careta no rosto, Astrid o puxou para direção oposta a dos soldados. 

— Ele não ficava acordado antes? Sabe o teu outro eu. — Astrid olhou brevemente para ele, e em seguida direcionou os olhos para frente, mantendo-os atentos enquanto suas mãos soltavam lentamente o braço que seguravam. — Logan!! — O chamou e parou de andar. Ele a encarava, mas Astrid sentia que ele não estava realmente olhando para ela. — Logan? — Chamou novamente, mas, mais uma vez, só recebeu silêncio. 

Astrid deu um passo em direção a ele e, em seguida, recuou dois. Seu coração começou a acelerar tanto que ela passou a ouvi-lo em seus ouvidos, como um tambor inquietante. 

Não é ele, certo? Mas não está ferido gravemente…está? O que eu faço se for ele? Astrid tentou engolir a saliva, mas sentiu um nó na garganta.

Lentamente, ela levou a mão direita para as costas e assim que tocou no cabo da foice, sentiu uma leve dor percorrer sua mão. Seus batimentos cardíacos aumentaram e, uma breve constatação passou por sua mente: ela não teria chance contra ele, nem que suas mãos estivessem boas.  

— Meu cérebro… 

Astrid sentiu o coração falhar uma batida. O corpo se sobressaltou levemente e ela tentou focar nele, e voltar a enxergá-lo como Logan. O amigável e fofo Logan que por alguns instantes ela cogitou se deveria usar sua foice contra ele.

— É…É como se desligasse por alguns instantes e então…despertasse. Como eu explico?!

A mão esquerda de Logan foi para a cabeça. Ele a coçou e quando voltou a dar sua atenção para Astrid ainda parecia confuso. 

— Eu apenas o via em meus sonhos. Jase e os outros é que…que me contavam o que ele fazia quando eu estava ausente, mas….mas nós nunca… — disse, incerto. — Nunca… — repetiu um pouco mais alto. — Coexistimos juntos. Quando um dorme o outro acorda…Bem ao menos eu dormia. Mas… — Sua respiração se tornou descompassada. — Eu nunca senti como se…como se ele estivesse acordado, ao menos não o suficiente para assumir o controle.

— Espera!! — Astrid tinhas as mãos enfaixadas levantadas. — Vocês têm trocado? 

Logan negou e depois soltou um: — Não sei!! Não tenho a certeza. 

Astrid pensou em recuar mais dois passos, porém seu corpo permaneceu estático no mesmo lugar.

— Eu acho que talvez…nós estejamos os dois juntos. — As sobrancelhas de Astrid se encontraram. — Tipo agora. 

— Agora? Tipo…agora agora!?

Logan assentiu muito lentamente e seus olhos refletiram o medo que começou a surgir nos olhos de Astrid.

— É como se…neste exacto momento, nós…estivéssemos os dois aqui…Não!! — Levou uma mão ao cabelo, os olhos expressando nada além de confusão. — Eu não sei como explicar ou o que explicar, mas…É como se…eu… — Apontou para si mesmo. — Não precisasse mais dormir para ele acordar. É como se… — Levou a mão ao peito, como se sentisse dor. — Como se ele pudesse, aparecer em qualquer instante. 

Astrid abriu a boca, mas antes que qualquer som saísse dela, Logan foi puxado para trás.

Jase e Aiyden empurram Logan para trás deles, bloqueando facilmente a visão de Astrid que apenas conseguiu ver os cabelos de Logan por cima dos ombros dos companheiros. Jase estava na frente e Aiyden atrás dele e eles pareciam assustados. Astrid olhou para trás, no entanto não viu inimigo algum, se voltou para os companheiros e viu-os recuar dois passos, forçando Logan também a recuar.

— Vocês…

— Não se aproxime!! — Jase quase gritou. Os olhos cinzentos a encarando como se ela fosse perigosa. — Fique aí e… — Olhou para Aiyden. — Por que raios está se escondendo atrás de mim? 

— Huh!? — Aiyden o encarou de volta, entretanto permaneceu onde estava.

— Você está com medo dela? 

Aiyden negou e permaneceu no mesmo lugar. 

— O que vocês estão falando? E onde estiveram esse… — Recuaram dois passos quando Astrid avançou um. — Vocês estão fugindo de mim? 

— O cabelo voltou ao normal. Talvez seja ela. — Aiyden sugeriu. 

— Vai que ela cortou. — Seus olhos estavam em Astrid. — E se ela voltou para nos matar? E sai de trás de mim!!!! — falou exasperado, mas voltou a sua atenção em Astrid quando ela se moveu novamente. 

Jase soltou um xingamento e trocou de posição com Aiyden. 

— Eu não posso lutar com ela — alegou Jase, e Astrid viu Aiyden trincar os dentes e olhar para Jase com uma expressão que a fez acreditar que ele poderia xingar ou até amaldiçoar Jase até a sua décima geração, entretanto apenas fechou a boca enquanto Jase o fazia de escudo humano.

— O que estão fazendo? O que aconteceu…

Jase segurou Logan pelos ombros.

— Você está bem? Ela tentou te machucar? — Logan somente franziu a testa. 

— Ela…Você está falando de mim? Por que eu faria…— parou quando lembrou que quase pensou, realmente em fazer algo contra ele. — Eu não…— Umedeceu os lábios. — Não fiz nada a ele.

— Qual é o meu nome? 

Jase deixou os ombros de Logan e o empurrou para trás de si, enquanto ele mesmo ainda se mantinha atrás de Aiyden.

— Ela sabe o teu nome. Qual é o nome de todos os integrantes do grupo quinze? — Aiyden mudou a pergunta, mas a expressão de Astrid não mudou, ela continuou a encará-los como se tivessem dito algo estúpido.

— Ficar apenas na companhia um do outro vos enlouqueceu? Vocês bateram a cabeça em algum lugar? 

— Não, essa não é a pergunta certa. — Aiyden olhou para Jase. — A Astrid má, sabia que éramos do centro de ajuda. Talvez ela também tenha mais informações — falou e Jase assentiu em concordância. 

— Então…fala alguma coisa que nenhuma outra Astrid sabe? 

Astrid olhou para o lado e coçou a cabeça com as costas da mão quando lembrou que não poderia usar os dedos. 

— Olha, eu não sei…— parou e sua mente a puxou para um ponto: Astrid má. 

Astrid sentiu um calafrio. 

— Vocês…o que encontraram? Outra Astrid…Astrid má…o que querem dizer com isso? 

— Tem duas Astrid neste lugar. Uma é nossa companheira e a outra uma inimiga. Qual delas é você? — perguntou Jase. 

Astrid não disse nada, a boca permaneceu fechada enquanto os pensamentos voavam para longe. 

Outra Astrid? Ela era a única, certo? A outra era só parte de sua imaginação, não era? 

— Ela parece á Astrid boa. — Aiyden começou.

— Pode estar tentando nos enganar — continuou Jase.

— Eu…sou a Astrid. Amiga.

Jase cruzou os braços.

— Prova! — Pediu e a outra por fim o encarou.

— Seu nome é Jase. Quando estávamos na floresta você me falou sobre sua tia que odeia. Sobre o cabelo do Aiyden que você não gosta. — Aiyden encarou Jase, o qual manteve os olhos em Astrid. — Somos do mesmo grupo — parecia pensar, mas ao mesmo tempo não. — Você quase cravou uma flecha em mim. Quando estava prestes a me afogar você me ajudou, com um beijo. Você foi esfaqueado para me proteger e…

— Eu fiz o que? Onde? Para quê? 

Astrid o encarou de forma quase apática, sua mente estava em outro lugar.

— Beijo. Eu. — apontou para si mesmo. — Beijei você? Eu… — Seus olhos foram para Aiyden que olhava para o outro lado. — Eu fiz isso? Eu não estava lembrando. — A mão direita de Jase apertou o ombro de Aiyden, o qual continuou olhando para direção oposta. Jase apertou mais forte e por fim conseguiu a atenção de Aiyden e assim seguiram para uma troca de olhares estranha. 

— Acreditam em mim? Ou tenho que continuar falando?

Ao mesmo tempo os dois a encaram, voltaram a se encarar e quando a olharam novamente foi Aiyden quem tomou a palavra. 

— Olha para mim.

Astrid o fez. Os olhos de Aiyden mudaram para turquesa e Astrid se moveu. Deu dois passos para trás, quatro para frente e parou a dois passos dele. 

— É ela. 

— Tem certeza? Eu te disse, deve ser os óculos que ela estava usando.

— Já controlei ajudantes que usavam óculos. — Seus olhos voltaram a ser pretos e os de Astrid piscaram. — É ela. Aquela me dava calafrios. 

Jase olhou para Astrid. Encarou-a dos pés a cabeça e parou em seus olhos.

— Acho que tinha realmente uma pessoa com o mesmo rosto que o teu na floresta. 

A mão direita de Jase foi para o pescoço e Astrid soube de alguma forma que ele deveria estar aliviado por saber que realmente tinha visto uma pessoa, não um fantasma. 

— E tenho a impressão que essa pessoa é quem o menino fantasma procurava. Ele apareceu de novo. Tentou me matar de novo. 

— Que? — Astrid não disse nada, Jase olhou para Logan.

— Apareceu logo que nos separamos. Acho que tinha dez ou talvez onze anos. Ele só estava atrás da Astrid, disse que ela matou seu amigo e por isso estava atrás dela — explicou Logan e tanto Aiyden quanto Jase voltaram seu olhar para Astrid.

— Eu não o matei.

— Claro que não! — disse Jase, rapidamente. — Suponho que isso tenha sido ele — indicou para as mãos enfaixadas de Astrid que assentiu em resposta. 

— Logan cuidou delas — disse simplesmente. 

— E vocês? — Logan saiu de trás de Jase e se posicionou ao lado de Astrid. — O que aconteceu exactamente? 

— Astrid…má…ela apareceu do além não sei de onde. Ela falou algumas coisas. Acho que estava falando com alguém por algum comunicador e depois nos atacou. Por alguma razão nossas habilidades não funcionaram nela ou perto dela…sei lá.

— Nossas habilidades? Achei que era só a minha. — Jase olhou para Aiyden que tinha os braços cruzados e uma expressão que quase beirava a indignação. — O que aconteceu com: “eu não usei porquê não quis?” 

— Já era o suficiente um de nós se sentir um fraco, por não ter conseguido usar os poderes — disse Jase, dando de ombros. 

— Por isso não conseguiu fazer nada diante dela? 

Os olhos se encontraram de novo e desta vez os de Jase estavam irritados. 

— O que queria que eu fizesse? Eu sequer tinha a certeza que ela era realmente outra pessoa. Eu te disse, eu não podia lutar contra ela e também…você não fez nada. Eu ao menos tentei me defender, mas você não…

— Parem! — Astrid entrou no meio, obrigando-os a se afastar, no entanto, já estando no meio deles, com as mãos levantadas e uma expressão de quem pararia a briga, ela não soube o que falar, sua mente estava cheia demais, interviu apenas por impulso, não havia um discurso ou palavras prontas que os faria terminarem com aquilo definitivamente. 

— Jase não luta contra mulheres — disse Logan e Astrid baixou as mãos. — Precisamos nos mover. Vamos. 

Aiyden olhou para Jase e em silêncio, saiu atrás de Logan. Astrid ficou para trás e só começou a caminhar quando Jase o fez. 

— Como… — A voz de Astrid era baixa. — Como ela era? 

Jase a encarou, confuso e quando a compreensão chegou a si, olhou para frente.

— Como você?! — Sua voz soou incerta. — Quer dizer…Ela usava uma roupa diferente e o cabelo…bem ele estava com tranças, mas o resto…era você. Mesma altura, mesma voz. Tudo você. Quer dizer não exatamente tudo, mas…você entendeu não é? 

Astrid só assentiu e Jase suspirou. 

— Como soubeste que os teus poderes não funcionavam nela? 

Seus olhos se encontraram e Astrid pensou mudar de assunto. Jase olhou para as costas de Aiyde e falou: 

— Pensei em usar para aumentar minha velocidade para poder me esquivar dela. Ela era muito forte. Só consegui me defender por alguns segundos. 

Ela é forte. Astrid pensou. Ela ainda pode estar aqui. E se ela me encontrar? Astrid sentiu um leve calafrio na espinha, e sua mente a arrastou para cenários ainda não vivenciados onde ela era terrivelmente espancada por sua sósia. Era sua mente, mas nem lá se via saindo vencedora. 

— Você está bem? 

Astrid e Jase pararam de andar. Logan estava com as mãos no braço de Aiyden, oferecendo apoio, enquanto o outro tinha a mão no peito, pressionando-o. 

Som de passos soaram repentinamente e os soldados começaram a se mover, procurando um caminho de fuga. Logan tinha o braço de Aiyden em seus ombros, servindo como apoio e juntos caminhavam no meio, Astrid ia atrás e Jase na frente.

Os soldados entraram aqui e ali. Se desviaram de vários grupos de Turmalinos e enfrentaram alguns, de forma mais silenciosa que conseguiram, colocando os corpos inconsciente nas primeiras salas ou armários que encontravam e quando enfim sentaram, Astrid estava com um olhar distante, Logan tinha os olhos fechados, Aiyden por sua vez tinha a mão no peito, respirando de forma quase ofegante ao passo que Jase, estava em alerta, olhando para todos os lados. 

— Continua doendo muito? Você parece com sono, talvez se descansar um pouco ajude. Feche os olhos por alguns instantes, nós ficaremos de vigi…

Aiyden negou.

— Se dormir, não irei mais acordar. 

— Ele ficará desacordado por dias — acrescentou Jase. — Acho que será o mesmo de quando ele chegou inconsciente. Melhor ele ficar acordado até sairmos daqui ou… — Olhou para Aiyden. — Será só um peso para nós. 

— E também… — Logan abriu os olhos. — Pode acabar sonhando. — Olhou para Aiyden. — Você também sonha com ela, não é? 

Aiyden assentiu, sua mão direita ainda massageando o peito, enquanto lutava para manter os olhos abertos. Ele estava morrendo de sono, pensou Astrid. Ele havia mencionado que estava com muito sono. Astrid se lembrou e isso a fez se sentir mal. Ela não havia dado atenção às suas palavras. Para ela, o sono parecia insignificante comparado a ferimentos, e assim era para eles, mas este não parecia ser o caso de Aiyden. 

— Ela quem? — perguntou Astrid, ninguém dizia nada então decidiu continuar o assunto, para talvez fugir de seus pensamentos.

— A criança, mulher…que aparece nos nossos sonhos. Ela aparece nos sonhos de todos que têm poderes. Você já sonhou com ela?

Astrid encontrou os olhos de Jase, a mente a arrastando para alguém que não gostaria de lembrar, mas que agora pensando nela, Astrid sentiu saudades.

— Está falando de uma mulher com cabelo azul e… — Jase assentiu, fazendo com que os olhos de Astrid se arregalassem. — Vocês também sonham com ela? Por que? Você sabe quem é? — perguntou, falando rapidamente.

— Infelizmente, sim. Todos nós sonhamos com ela. Ninguém sabe o porquê ou quem pode ser essa mulher.

— Ela é simplesmente o pior pesadelo de todos — acrescentou Logan. 

— Eu nunca mais a vi. Ela não…ela nunca mais apareceu em meus sonhos. 

— Dumm — falou Logan e Astrid o encarou. — Dumm, é quem faz com que não sonhemos com ela, mas seu poder só tem efeito em nós quando estamos no centro, fora dele, se dormirmos ela irá aparecer…em nossos sonhos.

— Já te…tentaram investigar. Ian disse que não…não encontraram ninguém que se…se parecesse com…— Aiyden fez uma pausa para recuperar o fôlego. — Com a mulher…Ela…ela não existe. 

— No meu mundo existe — declarou Astrid e segundos depois achou suas próprias palavras estranhas. Seu mundo, aquele poderia ser mesmo seu lugar quando todos lá eram normais e ela…uma anormal?

— Como assim? Você a viu…tipo na vida real? 

— O mesmo rosto. Elas têm apenas o mesmo rosto. Kaira tem o cabelo verde e é bem real. Ela não é fruto da minha imaginação, eu já testei várias vezes. Ela é real. 

— O nome dela é Kaira? — perguntou Jase, a testa franzida. 

— Kaira Watchworfy. Trabalha no internato em que estudo, ela tem um café lá. Um dia ela simplesmente apareceu e…ela tinha o mesmo rosto da mulher dos sonhos. Foi assustador. Foi…Eu me senti tão aliviada, tão feliz…em vê-la bem. Foi estranho. 

Jase a encarava com uma mistura de compreensão e estranheza. Ele estava a entendo, mas ao mesmo tempo não tanto. 

— As vezes eu acho que são a mesma pessoa. 

Logan e Jase se entreolharam e depois cada um procurou onde olhar.

Astrid engoliu em seco, abraçou as próprias pernas quando o desconforto aumentou. Ela não era a única, o que significava que aquela mulher poderia ser mais do que ela pensava. Aquele não era seu pesadelo exclusivo.

Um arquejo puxou Astrid para longe de seus pensamentos. Olhou para o lado e viu Aiyden respirando com dificuldade, seu peito se movendo rapidamente. Ele esfregava a mão no peito com mais força, tentando desesperadamente normalizar sua respiração.

Ele está a ter um ataque de pânico? 

— Aiyden!! — tocou em seu braço e o sentiu tremer. Astrid olhou para Logan que também parecia preocupado e tal como Astrid sem saber o que fazer.

— O que… — murmurou Jase, os olhos presos em uma fresta que deixava escapar um pouco de luz. Astrid ouviu o som de máquinas e vozes que ecoavam baixo, vindos de algum lugar que ela não se deu ao trabalho de procurar. 

— Jase! — chamou Astrid, mas o outro permaneceu onde estava. — Jase!! — insistiu e nada. Deixou o braço de Aiyden e de joelho se aproximou de Jase, chamou novamente e sem nenhuma resposta, Astrid o segurou pelo ombro e o puxou, fazendo assim as costas de Jase irem contra a parede. Astrid apertou os dentes quando a dor pulsou em suas mãos, mas a esqueceu rapidamente quando viu os olhos de Jase, ele parecia horrorizado. 

— Eles…eles estão…

— Jase!? 

Novamente ele ficou em silêncio. Astrid olhou para o lado e muito lentamente se aproximou da parede e olhou pela fresta. Tinha homens e mulheres de jaleco branco e outros usando uniformes laranja. Ciborgues, pensou Astrid, quando viu pessoas deitadas em macas, o corpo metade humano, metade robô, alguns completamente montados e outros ainda em fase de montagem. Astrid colocou a mão na boca, quando sentiu o estômago embrulhar. Engoliu a vontade de vomitar, mas ela voltou tão logo leu: “Centro de Ajuda. Soldados Aquarianos”. Os olhos de Astrid lacrimejaram e seu queixo tremeu, quando seus olhos encontraram os jovens deitados sobre macas, enquanto eram transformados, em ciborgues. 

Astrid se afastou e olhou para Jase, seu horror se refletindo nos olhos dele.

— Nossos…nossos companheiros mortos. Ciborgues?

— Ciborgues? — perguntou Logan. — O que… — pausou e voltou sua atenção para Aiyden que começou a cuspir sangue. O corpo de Aiyden balançou levemente de um lado para o outro, e Logan o amparou. — Aaah! Jase! — Só Astrid o encarou. — O que está acontecendo com ele? — perguntou, assistiu o companheiro cuspir mais e mais sangue. — Ele está morrendo? — olhou para Astrid que parecia tão perdida quanto ele. 

Astrid arrastou os joelhos até eles e mais uma vez tocou no braço de Aiyden, mas a tremedeira a assustou e ela levou a mão para longe rapidamente. 

— Astrid — chamou Logan, e ela desejou ser mais forte.

— Eu vou nos tirar daqui. Segure no Aiyden — pediu e sentou. Encostou-se a parede e tentou buscar por concentração. Estou desesperada, então vai funcionar. Só se concentre. Centro. Vá para o Centro. 

Astrid segurou a mão de Aiyden e tocou no ombro de Jase, o apertando com força quando o sentiu tentar fugir de seu toque, para talvez partir aquela parede e lutar por seus companheiros. 

Vá para o centro. Vá para o centro, por favor!! 

Astrid os segurou com mais força fazendo suas mãos doerem terrivelmente, entretanto ela não os soltou. Fechou os olhos e quando os abriu eles estavam no corredor, do Centro de ajuda cinco. 

Astrid os soltou. Jase deu um soco no ar, a mão soltando raios. Aiyden começou a gritar, tanto que Astrid acabou esquecendo de sua própria dor. 

— Te…tente ficar calmo!! — pediu Astrid, mesmo não sabendo se aquilo era o ideal a dizer para o companheiro que batia no peito, parecendo estar sem ar. 

— Vamos levá-lo para ala mé…

— I…Ian

Todos olharam para o lado. Doutor Ian Moore estava parado a poucos passos deles. 

— Me…me aju.. 

A mão de Aiyden caiu para o lado, sua respiração ficou lenta e seus olhos foram para o teto, encarando-o, quase vazios. Astrid se lembrou de Aiyslnn. 

— Aiyden. Aiyden!! — Astrid o sacudiu levemente, os olhos atentos em seu peito que subia e descia em um ritmo muito lento.

Guardas, uma doutora e quatro ajudantes, passaram por Ian e foram para perto dos soldados. Logan, Astrid e Jase, foram afastados. Ian se aproximou e Aiyden foi colocado em uma maca. 

— Eu irei cuidar dele. — Ian tentou pegar na maca, no entanto a doutora segurou em seu pulso e o afastou. 

— A directora deu ordens para não tocarmos nele, até ele recobrar a consciência. — Fez sinal e os ajudantes tentaram mover a maca, mas Ian os parou. 

— O que quer dizer com recobrar a consciência? Ele está… — Olhou para Aiyden e rapidamente desviou para mulher. — Ele está acordado agora, se não for tratado agora, quando…

— Ele vai perder a consciên… — parou quando viu os olhos de Aiyden se fecharem. — Acho que já está inconsciente. Agora é só esperarmos.

— O que!!?

— Ele acordar. Se conseguir sobreviver, nós iremos tratá-lo.

Ian puxou a mão para longe do aperto da mulher.

— Como raios…você acha que ele vai sobreviver, sem tratamento? Ele precisa ser tratado, agora!!

A doutora limpou o ouvido direito, o rosto demonstrando apenas desdém. Era como se não se importasse. Melhor…ela não dava a mínima.

— São ordens, querido superior. Achei que era bom em entendê-las e segui-las. 

— Vão deixá-lo morrer? — murmurou Astrid. Seus olhos foram do rapaz deitado na maca para os guardas que apontavam suas armas para eles. 

— Não se mova — pediu Logan, o mão direita envolta do braço de Astrid. — Nossos poderes já se foram. 

— Ele precisa de tratamento — falou Moore, os olhos concentrando furiosamente os castanhos da mulher.

— Ele não pode ser tratado — disse em um tom mais alto. — Antes do efeito passar não podemos fazer nada. Ele precisa sobreviver sozinho, para podermos fazer alguma coisa.

Dois guardas se juntaram a eles e se posicionaram ao lado de Ian Moore. Não apontaram as armas para ele, mas Astrid sabia que Ian Moore não estava em uma posição diferente deles no momento, é possível que eles atirassem, se assim os ordenassem.

— Nós iremos apenas nos certificar se ele está limpo, claro caso sobreviva. E depois bem…deixaremos para você. Então saia da frente.

Ian segurou na maca e os soldados tentaram levantar as armas, mas a doutora fez um sinal com as mãos e eles recuaram dois passos. 

— Tudo bem! — disse ela, sorrindo. — Aqui, na ala médica ou em qualquer outro lugar, não importa…afinal… — seu sorriso se foi. — Ninguém vai fazer nada por ele mesmo. 

As mãos de Ian caíram e ninguém se moveu. Aiyden permaneceu inconsciente, com seu peito subindo e descendo, muito devagar. Os guardas continuavam apontando para Astrid e seus companheiros, os quais apenas encaravam Aiyden como se esperassem que ele acordasse, entretanto ele não fez, mesmo após vários minutos ele apenas permaneceu onde estava, até que o levaram.

— Eles…eles vão deixá-lo morrer — disse Jase, quando só eles ficaram no corredor.

 



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