Em Outro Universo Angolana

Autor(a): Tayuri


Volume 1

Capítulo 5: Sono Forçado

Por cima do ombro de Jase, Aiyslnn observava Astrid que estava sentada no chão, encostada à parede e com os olhos voltados para o teto tal que Aiyslnn sabia muito bem não ter nada de interessante para apreciar.

— Ela já está assim há muito tempo — falou Aiyslnn. Desviou os olhos para seus companheiros e prosseguiu: — Não deveríamos fazer algo?

— O quê?! Chloe já fez tudo. Se tentarmos fazer algo a mais, provavelmente só iremos piorar — disse Jase enquanto coçava suas costas.

— O que quer dizer com Chloe! Já fez tudo? Por acaso estás a sugerir que tenho culpa por ela ter ficado parada que nem uma estátua?

— Não estou a sugerir. Estou a afirmar. — Chloe trincou os dentes. Abriu a boca, entretanto antes que pudesse dizer algo Aiyslnn a interrompeu.

— Creio que você tenha sido um pouco dura. Ela deve estar tão confusa quanto nós quando chegamos aqui, então...

— Nós éramos crianças! Ela tem idade o suficiente para ter ao menos uma pequena noção do que é o centro. Não tem como ela estar tão confusa quanto uma criança estaria.

— Ela até pode ser mais velha, porém isso não significa que ela não possa estar confusa ou... até em choque e... não há certeza se os civis sabem realmente como o centro funciona. Antigamente eu pensava que esse lugar era... era como uma escola. Uma escola para pessoas com poderes sobre-humanos. — Aiyslnn tentou sorrir. — Achava que era um lugar divertido e até agradável de se estar.

— Eras uma criança — falou Chloe, em um tom baixo.

— Minha mãe também achava o mesmo.

Aiyslnn olhou para Chloe e depois para Astrid, que permanecia na mesma posição.

— Provavelmente, tal como minha mãe e eu, outras pessoas também pensem que o centro... é um lugar agradável. Eles provavelmente acreditam que estamos vivendo muito bem.

O silêncio assumiu o comando. Cada adolescente encarava um ponto diferente. Cada um perdido em suas próprias lembranças. Todos excepto Jase que assistiu Astrid se levantar muita lenta e repentinamente fazendo-o soltar um xingamento e em seguida se esconder atrás de Lucky que percebendo o que acontecerá cutucou o ombro do menino sentado ao seu lado.

— Edward. Ed. — Freneticamente prosseguiu o cutucando até que ele a encarou.

— O que foi? — perguntou e como resposta Lucky apenas acenou com a cabeça em direção a Astrid. Edward se virou. Seus olhos heterocromáticos piscaram levemente enquanto Astrid vinha em direção a eles, muito lentamente como se tivesse todo tempo do mundo.

— Posso fazer uma pergunta? — perguntou tão logo parou de frente a Edward.

— Claro!

— Aqui... Esse lugar não é mesmo um hospital?

— Não.

— Então... é um centro médico?

— Também não. Esse lugar... é uma prisão...

— Prisão?!

— Sim. Uma prisão que chamam de Centro de Ajuda cinco.

— Não, espera! Porquê... por que raios adolescente seriam trancados em uma prisão. Porquê estou a ser trancada aqui? Eu não sou criminosa!!

— Essa prisão não é para criminosos — disse Jase, ainda coçando suas costas, no entanto seu trabalho foi poupado por Lucky que começou a coçar-lá por ele. — Obrigado! Como ía dizendo... esse lugar não é onde criminosos são trancafiados e sim pessoas com poderes. Ou seja, você está aqui porque tens poderes.

— Não tenho — falou muito rápido. — Por que continuam falando sobre isso? Pessoas com poderes sobre-humanos não existem!!

— Desculpe — interviu Aiyslnn. — Mas... — analisou o rosto e o cabelo de Astrid. — Você é mesmo Aquariana? Ou você cresceu em Aquamarine? Você fala muito bem o nosso idioma, porém...

— Por que está me perguntando isso? — Astrid cerrou os punhos após suas mãos começarem a suar. Lembranças de Zayn surgiram em sua mente puxando-a cada vez mais para aquilo que parecia ser a realidade. A verdade que ela queria tanto ignorar por tão absurda que era. — Eu sou Aquariana.

Quem está errado aqui são vocês e não eu. Astrid quis lhes dizer isso e também queria ter dito a Zayn, no entanto não conseguiu, pós Edward avançou dizendo:

— Não leve a mal as palavras da Aiyslnn. Ela queria apenas se certificar se você é realmente uma Aquariana, pois qualquer Aquariano sabe que pessoas com poderes sobre-humanos existem.

Astrid andou quatro passos para trás. Uma sensação incômoda atacou seu estômago e suas mãos transpiraram ainda mais, de modos que ela teve de limpá-las nas roupas que lhe foram dadas e obrigadas a vestir antes de sair da ala médica. Era um conjunto azul de calça com joelheiras embutidas, camiseta de manga longa e um par de botas pretas. Uma roupa que definitivamente não parecia adequada para uma paciente… ou talvez prisioneira.

— Qua-quando vou poder ir embora? — Seus olhos se voltaram para Jase. — Disseste que esse lugar é para pessoas com poderes sobre-humanos e visto que eu não tenho... — Deu uma pausa e respirou fundo. — Eu poderei ir embora, não é?

— Se você está aqui é porque há uma grande possibilidade de você ter. E caso isso for confirmado a resposta para tua pergunta é nunca.

— O que quer dizer com nunca!?

— O que você entende por nunca?

— Jase! — A voz de Edward soou em um tom de advertência.

— O que foi? Estou apenas sendo sincero com ela. Quanto mais cedo ela entender e aceitar a realidade, melhor será para ela e para nós.

— Ela precisa de tempo para assimilar as informações. Se jogar tudo de uma vez, vais apenas confundi-la mais...

— Ela está indo embora.

Logan avisou. Sua voz saiu baixa, porém ainda assim conseguiu atrair a atenção dos seus companheiros que rapidamente a direcionaram para Astrid a qual caminhava em direção a porta que dava acesso a sala.

— Não vá! Isso é uma má ideia.

— Não quero ficar aqui. Não vou ficar nesse lugar para sempre.

Edward se colocou em pé e logo em seguida seus companheiros fizeram o mesmo.

— Se fosse uma questão de querer, nenhum de nós estaria aqui. E tal como Jase disse: Isso é má ideia. Muito má ideia.

Astrid continuou seu caminho em direção a porta até que uma voz a fez parar. Seu tom não era autoritário ou assustador, entretanto Astrid obedeceu quando ela pronunciou um curto: Pare!

— Olha! — Chloe coçou sua testa e de seguida jogou o cabelo para trás, porém rapidamente os fios ruivos voltaram para frente. — Não tenho a mínima ideia de como você viveu até agora ou até como raios conseguiu chegar aos dezasseis sem ser pegá... o que quero dizer é... aqui ser impulsiva, rebelde ou o que seja não é algo que costuma acabar bem. — Deu uma pausa e tornou a jogar o cabelo para trás. — Então essa... idiotice que você quer fazer com toda a certeza não irá acabar bem por isso faça um favor a ti mesma e não... não seja tão idiota.

Astrid tentou sorrir. — O que devo fazer? Eu fico extremamente idiota quando estou com medo. — Sem encarar nem nenhum deles, Astrid deu um passo em direção a porta, ela se abriu e Astrid a atravessou com a profunda esperança que poderia deixar aquele lugar e alcançar sua verdadeira realidade.

— Ela se foi mesmo — disse Lucky. — O que fazemos? — Olhou para Jase o qual ficou pensativo por breves segundos até que por fim encarou Edward.

O silêncio pairou pela sala por alguns minutos até que foi quebrado por uma voz robótica que soou dizendo: Hora de dormir. Em seguida as portas que se encontravam de cada lado da sala se abriram e a mesma voz retornou anunciando: Porta sendo fechada em dez, nove...

— Uaaau!! As portas se abriram bem quando alguém saiu. Que incrível coincidência. Nem parece que foi de propósito.

— Não fale tão alto — sussurrou Logan. — A velha... quer dizer a diretora, ela pode estar ouvindo.

Jase deu de ombros. — Que ouça. Não disse nada de errado. Ela não terá como me jogar na dimensão das punições.

— Talvez se sairmos agora... — Aiyslnn tentou dizer.

— Esquece! — A voz de Chloe ecoou pela sala. — Ela saiu com os próprios pés, então também deverá voltar da mesma forma.

— Mas... — Logan parou, quando os olhos de Chloe encaram os seus.

— Sem mais. Ela fez sua própria escolha, ninguém a forçou a sair, então...

— Então? — Edward a incentivou.

— ...Ela deve assumir as consequências dessa escolha. Não estou certa?

Os olhos de Chloe não piscaram enquanto Edward sustentou seu olhar sobre ela, sem dar qualquer indício que concordava ou discordava.

— Vamos dormir! — Foi tudo que Edward disse antes de atravessar a porta de uma das celas.

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Olhe para baixo ou para alguma coisa, mas não a encare diretamente. As palavras de Elis ecoaram na mente de Astrid tão logo parou de andar e encontrou os olhos cinzentos de Kendra Russell.

Sua caminhada havia sido relativamente curta. Astrid virou em alguns poucos corredores e encontrou vários guardas que não moveram um músculo enquanto ela passava por eles de, tal modo que Astrid chegou a se questionar se eles realmente eram humanos ou se eram apenas estátuas esculpidas com uma aparência humana, no entanto ela conseguiu caminhar pelos corredores sem qualquer problema o que de certo modo parecia um problema afinal se era mesmo uma prisão os guardas não deveriam fazer algo para impedi-la? Um alarme não deveria soar para anunciar sua fuga? Ao menos era isso que acontecia nos filmes. Mas felizmente para ela a realidade acabou sendo diferente. Nada aconteceu, tal como ela desejou profundamente. Eles sabem que eu não pertenço aqui. Astrid pensou antes de ter seu caminho bloqueado pela diretora.

Não a encare diretamente. As palavras de Swooney sooar em sua cabeça mais uma vez e antes que percebesse ela já havia abaixado a cabeça. Seus olhos azuis se fixaram em suas botas e lá ficaram até que uma pergunta atravessou sua mente. Por que eu estou fazendo isso? Mesmo que ela seja dona desse lugar e tudo mais, porquê eu preciso ficar olhando para baixo? Aquela mulher não é Elis... É apenas uma desconhecida. Muito lentamente Astrid levantou sua cabeça e encarou os olhos cinzentos de Russell, tais que a fizeram se lembrar do menino que chamavam de Jase e consequentemente também se lembrou de todos os outros e seus olhares; alguns curiosos, outros atentos demais e outros de pena e compressão.

— Está indo há algum lado?

— E-eu...

— Sim?! — Russell a incentivou. Astrid limpou a garganta, apertou os punhos e forçou sua voz a sair.

— Quero ir embora... Não! Eu vou embora!

— Você vai embora?

— Sim!!

— Ah! Entendo! — A diretora sorriu e novamente Astrid se sentiu desconfortável com a visão. Sem dizer palavra alguma, Kendra foi para o lado, abrindo assim passagem para ela.

— Po-posso ir?! — Astrid apontou para o elevador que estava ao fundo do corredor.

— Se assim o desejas. Vá em frente!!

 Algo está errado!! Deu os primeiros passos em direção ao elevador. Algo não parece certo. O sorriso da diretora se alargou, bonito e muito assustador. Mas ninguém está me impedindo. Olhou para os guardas encostados à parede, parados como estátuas. Completamente armados e usando máscaras de gás. Porquê? Astrid olhou para trás, para Russell, a qual também usava uma máscara de gás. Algo definitivamente está errado, mas... o elevador está tão perto. Só mais um pouco e eu posso ir embora. Posso sair desse lugar estranho.

Ignorando qualquer alerta que sua mente, seu coração e todo o seu ser mandava, Astrid começou a correr em direção ao que pensava ser sua liberdade. Eu consigo!!... Eh?! Lentamente seu corpo começou a desacelerar e não tardou a ir ao chão, sem qualquer resistência. Astrid pensou em se levantar, entretanto não passou disso: um pensamento, pois seu corpo de modo algum parecia ter forças para tal.

Um par de pernas entrou em seu campo de visão que estava completamente embaçado. Algumas vozes chegaram aos seus ouvidos, porém ela não pôde entender o que diziam, pois para além de sua visão estar ruim sua audição também estava seguindo para o mesmo caminho, lhe dando a sensação que os sons que preenchiam seus ouvidos estavam muito longe.

Porquê? Por...que tenho tanto sono? Não quero dormir... quero...fugir... Seus olhos fecharam e abriram, porém antes de tornarem a fecharam novamente, Russell pisou em sua mão direita  arrancado de sua boca um grito ensurdecedor.

                              



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