Volume 1
Capítulo 3: O Morto Vivo Controlador de Mente II
Os olhos negros de Aiyden mudaram para turquesa, e logo em seguida o corpo de Astrid parou de se mover. Seus olhos se arregalaram levemente, vazios como se tivessem perdido a vida. Ela ainda via e ouvia tudo, porém não importava o quanto tentasse seu corpo simplesmente não respondia aos seus comandos.
Porquê não consigo me mover!? O que está acontecendo? Com o pânico se instalando dentro de si, Astrid caiu em um mar de questionamentos até que outra voz surgiu em sua cabeça dizendo: Estou pegando o controle do seu corpo por agora, então só aguarde um pouco. Logo irei te libertar.
Astrid quis gritar e correr para bem longe, no entanto seu corpo não pareceu compartilhar da mesma ideia, pois ao invés de ir para longe ele se aproximou mais de Aiyden, parando ao lado dele e de frente aos ciborgues recém-chegados. Eles trajavam uma armadura verde e prata. Um enorme brasão estava gravado na armadura de cada um deles os quais de modo algum recuaram, mesmo após ver seus companheiros mortos... quer dizer, excepto um deles que muito lentamente recuou e escondeu-se atrás dos seus companheiros.
Um ciborgue deu um passo em frente. Ele tinha o cabelo e os olhos verdes como a maioria dos seus companheiros. Seu corpo era maior que o dos outros e a única parte humana que estava à mostra, era sua cabeça.
— Soldados Aquarianos — gritou o ciborgue. — Nosso generoso Rei gostaria de lhes fazer uma proposta.
— Proposta? Ele está com medo? — perguntou Aiyden, sussurrando.
— Ele não quer mais ver sangue de crianças sendo derramado, por conta de um Rei egoísta e mau, que não pensa em nada além de seus próprios desejos.
— Como Ian diria mesmo...?! Ah! O sujo falando do mal lavado. — Sua voz continuou baixa enquanto o ciborgue discursava.
— Entreguem-se ao reino de Turmalina. Jurem lealdade ao nosso rei e ele vos dará liberdade e um lar para poderem construir suas vidas e...
Um tiro perfurou a cabeça do ciborgue. Um tiro vindo de um dos seus companheiros.
— Não, obrigado. Não quero ser uma máquina... ao menos não uma de verdade — falou a última parte em um tom baixo.
Enquanto os ciborgues gritavam, exigindo explicação ao que havia atirado, Aiyden levantou o rifle e em tom baixo ordenou:
— Vai.
Sem hesitar, o corpo de Astrid começou a se mover, indo em direção aos inimigos. Atrás dela, Aiyden permaneceu parado, acompanhando seus movimentos, e quando ela se abaixou ele atirou no primeiro, segundo e no terceiro a atenção dos ciborgues se voltou para eles.
Não vá! Não vá!!!! Astrid gritou em sua mente, quando seu corpo tornou a se mover em direção aos ciborgues, se aproximando cada vez mais de sua morte precoce.
Um ciborgue saiu em seu encalço e com sua espada, envolta de uma energia verde, ele tentou cortá-la, entretanto Astrid se esquivou indo para o lado direito e na sequência girou seu corpo habilmente, chutando assim a cabeça do oponente. O ciborgue se inclinou ligeiramente para o lado e rapidamente se recompôs. Segurou o cabo de sua espada com força e deu uma investida em Astrid a qual se abaixou fazendo assim o ciborgue cortar apenas a ponta de uma de suas tranças.
— Droga! — Trincou os dentes. Levantou sua espada, direcionando-a para a cabeça de Astrid que deu um mortal para trás e em seguida deu um triplo quando flechas e balas voaram em sua direção.
Os pés de Astrid tocaram no chão e em uma questão de segundos seu oponente surgiu em sua frente, com sua espada pronta para cortá-la ao meio, porém antes de poder fazer seu movimento, um tiro acertou sua cabeça. A espada foi ao chão e o corpo do ciborgue começou a se inclinar para frente, no entanto Astrid o impediu de cair, segurando seu peito firmemente e assim usando-o como um escudo para a chuva de flechas que se seguiu.
Algumas flechas caíram na neve e outras perfuraram a armadura do ciborgue o qual não pode fazer mais nada além de recebê-las. A luz verde, fraca, que ainda piscava no seu único olho robótico se apagou e ele deixou de respirar.
Ele...morreu...?
Astrid quis levantar sua cabeça para verificar se o ciborgue estava realmente morto, no entanto seu corpo, aquele que deveria obedecer unicamente aos seus comandos, permaneceu parado, provavelmente à espera do comando dele. Do morto vivo que havia apontado uma arma para ela.
Se levante...
Pare!! Astrid gritou em sua mente. Não quero lutar, não quero matar ninguém! Então... seja lá o que for que estiver fazendo para controlar meu corpo, pare agora!!
Você querendo lutar ou não, eles iram atirar em você. Não se iluda com suas palavras anteriores, aquilo foi só uma tentativa de nos fazer abaixar a guarda para poderem nos desarmar e depois atirar em nós até pararmos de respirar.
Sentado atrás de uma rocha, Aiyden trocou as munições rapidamente. Saiu de seu esconderijo e atirou no primeiro que apareceu em seu campo de visão.
Estás realmente pronta para levar um tiro? Estás preparada para morrer?! Astrid continuou em silêncio. Ou tens alguma forma de sair dessa situação sem lutar?! Consegues usar o teu poder...
...Não! Foi a resposta de Astrid. Não quero levar um tiro... não quero morrer.
Então vamos garantir a nossa sobrevivência.
Astrid empurrou o ciborgue e correu em direção aos inimigos. Uma ciborgue percebendo sua aproximação pegou o arco que estava em suas costas e atirou uma flecha a qual Astrid se esquivou facilmente. Atirou a segunda e novamente Astrid se esquivou, porém a terceira abriu um corte em sua bochecha, entretanto ela não parou. Mesmo quando todos apontaram suas armas para ela, ainda assim continuou e quando por fim eles dispararam Astrid se teletransportou antes das balas a perfurarem.
Atrás dos ciborgues, Astrid atacou o primeiro que seus olhos capturaram. Afastou as bolas metálicas, dadas por Aiyden, e com a corda de metal que surgiu entre elas, enrolou-a no pescoço de seu oponente. Pressionou os dedos polegares na superfície de cada uma das bolas e a corda se tornou vermelha.
— Maldição...!! — O ciborgue apertou os dentes quando a corda começou a queimar sua pele. Ele levou suas mãos ao pescoço e tentou puxar a corda. Sem sucesso ele decidiu tomar um outro caminho; jogou seu corpo para trás, mas para sua infelicidade não caiu em cima de Astrid e sim na neve.
Astrid reapareceu em sua frente, deu um passo em direção a ele e em seguida um chute acertou seu braço e sem qualquer resistência ela foi jogada para longe. Por alguns segundos seu corpo flutuou pelo ar gélido e em seguida encontrou o chão. Ela rolou pela neve até que bateu a cabeça em um escudo de prata.
Os olhos de Astrid abriram e fecharam várias vezes, com a paisagem entrando e saindo de foco. Ela fechou os olhos com força quando sua cabeça latejou e quando tornou a abri-los eles ainda pareciam vazios.
Sem se importar com a dor que pulsava em sua cabeça ou até com o corte que abriu em sua testa, Astrid se levantou com a primeira arma que avistou; Era uma lança, com uma ponta tão afiada que se seu pai visse com certeza não a deixaria nem chegar perto.
Um ciborgue, carregando um escudo de prata em seu braço esquerdo, estava parado a alguns metros dela. Com um meio sorriso em seus lábios ele disse:
— Morra em paz, azul.
Posicionou o escudo em frente do seu rosto e gritou:
— Modo de descarga de energia!!
Um raio laser de cor dourada saiu do centro do escudo, cortando o terreno de forma linear, indo em direção a Astrid, a qual se teletransportou antes de ser atingida.
— Tcs!
Frustrado o ciborgue abaixou seu escudo e passou seus olhos âmbar ao seu redor.
— Onde...Encontrei você!!
Com um sorriso largo no rosto, o ciborgue tentou levantar seu escudo, no entanto Astrid foi mais rápida; perfurando sua armadura com uma lança. A boca do homem se abriu e fechou várias vezes enquanto sangue escorria por ela e pela lança que estava em seu peito.
— Me-merda! Maldita criança, azul. — Com suas mãos metalicas apertou os ombros de Astrid. — Tire esse maldito olhar...e...eu ainda posso...acabar com você.
Astrid permaneceu em silêncio, encarando-o com seus olhos inexpressivos e que de forma alguma transmitiam medo. O ciborgue se irou, por conta da indiferença em seu olhar. Ele apertou seus ombros com mais força, desejando muito quebrá-los... porém o tiro que penetrou em sua tempora foi o suficiene para acabar com seus planos.
Em um movimento rápido, Astrid removeu a lança do peito do homem de metal e ele caiu no chão. Deu seu último suspiro e mergulhou na escuridão.
Desculpe! Aiyden falou na mente de Astrid. Por seus ombros e sua cabeça. Ela não retrucou e com a lança ainda em sua mão deu um passo em direção a ele, porém no segundo seguinte parou abruptamente e seus olhos assistiram aquele que a controlava ser ameaçado por um ciborgue, que estava atrás dele com uma arma na mão gritando:
— Coloque a arma no chão!!
Aiyden abaixou a arma, mas apenas o suficiente para poder colocar uma das mãos em seu abdômen. Seu corpo se retraiu um pouco e seus olhos se fecharam.
— Mandei colocá-la no chão!! Não está ouvindo!?
Aiyden arfou, abriu seus olhos e falou:
— Estou ouvindo, mas... — Olhou para o ciborgue. — Não há necessidade alguma de fazer isso. Minha arma... — Levantou o rifle. — Não tem munições...tal como a tua.
Em um tempo muito curto os olhos do ciborgue se arregalaram e em seguida ele sorriu forçado.
— Você é uma criança bastante estúpida, se acha que pode me enganar. É claro que minha arma tem…
— Então atire.
— …
— Você não pode atirar em mim.
— Tcs! Certo! Mas… — Jogou a arma no chão. — Mesmo sem usar armas eu ainda tenho a vantagem. Eu posso te quebrar com socos.
O ciborgue avançou em direção a ele. Astrid que se encontrava a poucos metros de distância, girou a lança em suas mãos e atirou-a em direção a Aiyden, o qual se esquivou. A lança passou por ele e atravessou o peito do ciborgue que deu alguns passos para trás.
Aiyden tirou sua pistola do coldre e atirou na cabeça do ciborgue. O corpo caiu na neve ao mesmo tempo em que o rifle caiu da mão de Aiyden.
Novamente o menino tornou a fechar os olhos, pressionou sua mão esquerda no abdômen e enconstou a outra na testa. Seu corpo se curvou em um angulo de 45º graus e ele ficou assim por algum tempo até que seus olhos abriram e encaram Astrid, que permanecia imóvel no mesmo lugar.
Desculpe. Sua voz ecoou na mente de Astrid.
Aiyden forçou seu corpo a ficar em uma posição ereta e de seguida Astrid começou a caminhar, vindo em sua direção. Ela parou de frente a ele que muito lentamente mudou a cor de seus olhos para preto fazendo assim o vazio sumir dos olhos de Astrid.
Seus olhos azuis piscaram diversas vezes. Respirou fundo e depois o soltou muito lentamente. A confusão dançou em seus olhos por alguns segundos e quando por fim seu olhar caiu em suas mãos a compressão chegou a si.
Com os olhos horrorizados, olhou ao seu redor e não viu nenhum ciborgue, ao menos nenhum vivo. Astrid arfou e tossiu compulsivamente. Uma sensação incômoda atacou seu estômago e seu corpo tremeu.
Eu...os matei?! Não! Eu não sou assassina. E eles são robo... O pensamento evaporou-se de sua mente quando tornou a olhar para suas mãos ensaguentadas. Eles são...eram humanos. Uma há uma lágrimas foram caindo de seus olhos. Ela levou as mãos ao rosto para limpá-las, porém não teve sucesso, pois elas continuaram caindo mais e mais enquanto seu rosto era manchado de sangue.
— Não se mexa!
As mãos de Astrid param de se mover, com lágrimas nos olhos encarou Aiyden o qual apontava uma arma em sua direção, novamente. Seus olhos azuis se arregalaram e a passos lentos ela recuou, porém parou quando uma dor atingiu sua cabeça. Sua visão ficou embaçada e suas pálpebras começaram a pesar.
— Não se mexa. — Tornou a repetir antes de levantar um pouco mais sua pistola e apertar o gatilho.
O tiro perfurou o alvo. Astrid fechou os olhos e caiu no chão.