Volume 1
Capítulo 16: Acorrentada Por Uma CyberSpide
Vou morrer.
Astrid concluiu. Dois soldados se jogaram da nave.
— Jase, vamos! — Chloe chamou, ou ordenou, no entanto o outro sequer se aproximou. Os olhos de Chloe se reviraram, antes de ir até ele e o puxar para perto da saída.
— E-e-e-espere. Eu vou... mas... — pareceu pensar enquanto tentava não olhar para fora. — Vamos contar até vinte. Não! quarenta.
— Vamos no seis, e não há mais discussão. — Puxou Jase para mais perto. — Um...
— Espere!!!!. Vamos contar juntos.
— Tudo bem.
— Um...Dois....
— Seis — Chloe gritou e o puxou para fora da nave e assim se foram com gritos e xingamentos de Jase.
Astrid olhou para Edward, que não tardou a encará-la de volta.
— Fica descansada, eu sei contar.
— Vamos rapazes!
Com Kane e Orfeu ao seu lado, Alanis parou em frente à saída. No entanto, diferente dos outros, ela não tinha equipamento de paraquedismo, ao invés disso um enorme par de asas, saiam de suas costas e se arrastavam pelo chão.
— Quer vir comigo, Logan? — falou, com um braço estendido para o menino loiro o qual se escondeu atrás de Lucky. — Acho que é um não. Então vemo-nos lá embaixo fofinho.
Alanis correu, seus companheiros seguiram e os três saltaram sumindo de vista.
Em seguida Logan e Lucky se foram e por fim Astrid se viu andando para mais perto da saída. A mão de Edward que antes parecia ser o suficiente para ela pegar coragem, pareceu não ser mais e assim se agarrou ao braço dele.
— Vamos no seis, tudo bem?
De olhos fechados Astrid assentiu e Edward sorriu, contou e eles pularam.
Sobrevive! Foi o primeiro pensamento que veio à cabeça de Astrid após seus pés encontrarem o chão ou a neve. Brutal! Foi a segunda coisa que veio em sua mente, quando seus olhos se voltaram para o céu, para altura colossal em que caiu.
Após breves questões sobre seu estado, Edward a puxou para perto de alguns de seus companheiros e se foi, para algum lugar que Astrid não se preocupou em questionar.
Diante de uma nova paisagem, a soldada não evitou em realmente olhar para o lugar, que era preenchido por curandeiros, ajudantes e soldados de uniforme azul escuro, não havia ninguém de branco como no centro, apenas azul escuro e alguns pouquíssimo de preto, que era a cor do uniforme de Aiyden.
Várias tendas estavam dispostas aqui e ali, alguns carros estavam estacionados pelo que parecia ser um acampamento. Mas o que mais chamou sua atenção foram os feridos, que eram vários, principalmente quando o número de curandeiros parecia ser bem reduzido. Eles corriam de um lado para o outro em seus trajes brancos, curando-os não com medicamentos ou algum tipo de método médico que Astrid conhecia, mas sim com poderes, poderes que eram capazes até de fazer um membro que fora cortado voltar para ao seu estado anterior.
— Cura temporal — disse Lucky, quando Astrid sem querer presenciou algo que certamente nunca esqueceria.
Enquanto tentava procurar alguma coisa que pudesse substituir o que viu, Lucky a chamou e seguindo atrás dela, Astrid se juntou a um grupo de soldados.
— Fiquem preparados. Não poderei vos enviar para longe da batalha, os robôs não...
— Nós sabemos. Pode prosseguir — falou Edward e a menina de olhos amber afastou-se um pouco deles, esticou a mão e um enorme portal apareceu bem ao lado de onde o grupo se encontrava.
A mão direita de Astrid se levantou, entretanto não o tocou, por mais que estivesse se coçando para tocá-lo, ela não o fez e apenas observou admirada e horrorizada o imenso portal amarelo que se estendia em direção ao céu.
— Estou vendo ciborgues e...guerra!
— É para onde estamos indo — anunciou Chloe e antes que Astrid pudesse processar totalmente a mão da menina se moveu e o portal levou o grupo inteiro, sumindo tão rápido quanto surgiu.
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Edward havia dito: Não se afastem muito uns dos outros. Mas Astrid o fez, de uma maneira que ela não saberia explicar, acabou se perdendo de seus companheiros. Sem boas habilidades de combate. Sem experiência de guerra. Sem um bom controle de seus poderes, ela certamente já sabia qual seria o desfecho mais óbvio para aquilo.
A sua precoce morte.
Explosões, gritos, disparos e tintilar de espadas. Eram muitos sons, muita gente, muitos inimigos e muitos mortos.
Astrid não fazia a mínima ideia de onde estava indo, entretanto ainda assim não conseguia se obrigar a parar de correr, a adrenalina ou o medo que estava sentindo era tanto que nem se sentia cansada. Continuou correndo enquanto desviava de tudo e de todos até que a neve decidiu ferrar consigo e a fez ir de cara no chão.
Com o rosto congelando, Astrid levantou a cabeça e rapidamente sentiu a adrenalina que a matinha correndo se esvair em uma velocidade alarmante. Seu corpo de repente começou a doer e o cansaço a atingiu como se fosse aço.
Astrid trincou os dentes, quando sua primeira tentativa de se levantar falhou. Tentou novamente, porém não conseguiu. Socou a neve, suas pernas e quando cogitou em tentar novamente algo a parou, um ciborgue vinha em sua direção, tão grande que o chão parecia tremer sob seus pés.
O homem meio sucata, sacou uma arma de suas costas e mirou em Astrid, no entanto antes que tivesse a chance de desmembrá-la uma rajada de raios o atingiu e seu corpo metálico foi jogado para longe.
Não muito tempo depois, o corpo de Astrid foi abruptamente retirado do chão, a fazendo soltar um gritinho. Já em pé ficou cara a cara com Jase, que ao contrário de como o havia deixado agora possuía alguns machucados no rosto e uma das mangas do casaco rasgada, entretanto ele estava bem, ao menos ainda respirava e tal facto aliviou Astrid.
Com as duas mãos em seus ombros, Jase a inspecionou rapidamente e quando seus olhos cinzentos voltaram para o seu rosto ele perguntou:
— Estás bem?
Astrid negou com a cabeça e ele arregalou os olhos.
— Foi uma bala? Lâmina? Perfurou em algum órgão vital... — Jase recomeçou a inspeção.
— Ninguém atirou em mim — Astrid admitiu e os olhos de Jase se voltaram para o seus.
— Então porque negou!!?
Seu companheiro gritou e Astrid gritou de volta: — Porque não estou...
— Para baixo!!
Alguém gritou e Jase e Astrid foram levados ao chão.
— Mexam-se!!
Edward tornou a ordenar, Jase tirou Astrid do chão e a puxou para qualquer lugar, e quando pararam, eles perceberam tarde demais que haviam sido cercados.
— Fiquem perto de mim. — Edward pareceu ter falado para os dois, porém seus olhos estavam em Astrid.
Os três ficaram de costas uns para os outros e Astrid cerrou os punhos para não segurar a mão de Edward.
Três ciborgues levantaram suas armas para eles e atiraram, entretanto as balas foram contidas pelo campo de força de Edward.
Um dos ciborgues de armadura verde, sacou um escudo de suas costas, o equipou em seu braço e o virou para o lado antes que uma chuva de tiros fosse disparada por um de seus companheiros.
Os ciborgues pararam de atirar e o traidor jogou a arma para o lado, correu em direção ao ciborgue que carregava o escudo, o qual subitamente foi tirado de seu braço e jogado para longe, por alguma coisa que não era visível.
O traidor se transformou em Lucky, a qual se jogou no chão deslizando para debaixo das pernas do ciborgue e atrás dele, a soldada assumiu novamente a aparência de um homem ciborgue e os que se encontravam a redor dela atiraram, porém os tiros não a alcançaram, sendo parados por duas barreiras que se ergueram entre ela e os ciborgues.
Com seu corpo de sucata, Lucky chutou as costas do inimigo. Seguiu com uma série de socos até que ele se desequilibrou e então ela pulou e caiu em cima dele.
— King!! — Os ciborgues gritaram em uníssono. Um deles largou a arma, sacou outra e rapidamente Edward desfez todas as barreiras e projectou um novo campo de força em volta de Lucky, antes da chuva de tiros que se seguiu.
— Se livrem deles!!
Não foi uma ordem só para Jase, Astrid percebeu. Era hora de agir. Ela constatou.
Jase saiu correndo, com raios em volta de suas mãos. Dois ciborgues pararam de atirar e vieram em sua direção. Um ficou para trás quando algo atingiu sua panturrilha, algo tão pesado ao ponto de amassar o metal, de que era feito sua perna.
O outro por sua vez avançou. Direcionou sua espada para cabeça de Jase que deslizou os joelhos na neve. A espada passou diante de seus olhos. Seu corpo parou, ele se levantou e tirou as espadas da bainha. Os raios que ainda estavam em suas mãos foram absorvidos pelas lâminas, as quais ficaram envolta de seus raios roxos. O ciborgue se virou, Jase avançou; primeiro lançou uma espada em direção a cabeça do adversário que se esquivou e no segundo seguinte desferiu um corte na lateral do inimigo o que caiu sangrando enquanto seu corpo soltava raios.
— Astrid.
— Si-sim? — respondeu ao chamado de Edward. — Edward? — O chamou, após vários segundos de silêncio, que continuou, enquanto ele criava barreiras a volta de Lucky que se encontrava em movimento indo de um lado para o outro com quatro ciborgues atrás de si, tão obcecados e sedentos de sangue que pareciam não ver mais nada além da assassina de seu companheiro.
Astrid não tinha a certeza do que Edward pretendia dizer para ela, mas estava certa que deveria fazer algo, deveria ajudar, no entanto seu corpo não se moveu, seu corpo não queria ir para longe de Edward, a sua única possível proteção ou garantia de sobrevivência. Isso até que foi forçada a fazê-lo.
Uma corrente se prendeu a sua perna esquerda como uma serpente, e antes que pudesse informar a Edward, seu corpo foi ao chão e segundos depois ele foi abruptamente puxado, deixando-a com a única ação de gritar, muito alto.
O corpo de Astrid deslizou pelo campo de batalha invernal, como se fosse um trenó, só que diferente dele, ela não era feita de madeira, então tudo e qualquer coisa que seu corpo encostava a magoava. Tentou tirar a corrente do pé, entretanto quanto mais tentava apenas parecia que ela se prendia mais, então desistiu e um tempo depois encontrou quem a arrastava e tudo que se formou em sua mente foi: Aranha.
Bem ela não era exatamente uma aranha, entretanto as patas mecânicas saindo de suas costas não a deixavam afastar ideia e o medo que começou a tomar conta de si.
Pouco a pouco o espaço entre elas foi diminuindo e o desespero começou a tomar conta de Astrid que em pânico tentou se agarrar a qualquer coisa, no entanto tudo que havia à sua volta era neve.
Não. Não. Não!!
Astrid tentou soltar a corrente do pé, o qual era puxado por um cinto de metal que estava envolta da cintura da ciborgue, que por sua vez afiava uma lâmina que estava no lugar da sua mão direita.
Há poucos metros de distância dela, a ciborgue sorriu e sem nenhum aviso prévio o corpo de Astrid foi jogado para cima, flutuou por breves momentos e foi contra o chão. A mulher repetiu o mesmo movimento mais três vezes e no último Astrid bateu a cabeça em uma superfície metálica.
O mundo girou aos seus olhos e voltou ao normal ao passo que uma voz soou dizendo: Escudo de energia ativado. Deseja entrar em modo...energia?
— Quê? Es...cudo.
Astrid se esforçou para focar no objecto que acabara de falar e percebeu que era o escudo usado pelos ciborgues, a arma que um dos ajudantes havia mostrado, a arma que alertaram para ter cuidado.
— Vá, venha minha querida. — Uma voz atravessou os ouvidos de Astrid. Seus olhos piscaram e ela se lembrou da aranha de metal. — Para que eu possa te fatiar.
Dito isso lentamente o corpo de Astrid começou a ser puxado para trás e consequentemente ela se agarrou ao escudo dourado que a manteve imóvel por meros cincos segundos, antes de ser arrastado com ela.
Se o arrependimento mata-se, Astrid com certeza diria que já estaria morta ou quase morta, pois ao repassar em sua mente o que foi dito pelos ajudantes, um item importante veio à tona entre as várias informações que circulavam em sua cabeça, sendo a maioria delas rotuladas como: irrelevantes. Mas que agora realmente, pareciam muito relevantes.
Com um puxão da ciborgue, Astrid ficou de cabeça para baixo, entretanto manteve o escudo por trás do corpo, em uma tentativa quase desesperada de escondê-lo de sua adversária.
A mulher sorriu, um sorriso tão largo quanto de um palhaço, os olhos verdes brilhando de pura insanidade quando disse: — Sabe qual é a coisa que eu mais gosto no mundo? — perguntou, no entanto Astrid não lhe ofereceu uma resposta e apenas se manteve pensando nos possíveis piores cenários que aconteceriam, se não conseguisse usar o escudo, se ele não respondesse a sua voz. O que faria? — Fazer salada de soldadinho.
A ciborgue caiu em uma risada escandalosa e quando por fim parou, mostrou sua lâmina.
— Vamos começar!! — Sua voz soou baixa antes de ela abrir um sorriso digno de um filme de terror.
Em um movimento rápido Astrid colocou o escudo em frente e sem hesitação gritou: — Modo de descarga de energia.
Astrid não tinha a certeza do que realmente esperava daquilo, mas não pode negar o quão surpresa ficou quando simplesmente seu corpo foi ao chão e sua inimiga sumiu.
Ganhei? Foi a primeira coisa que lhe passou pela mente. Forçou seu corpo a deixar o chão e olhou ao seu redor, porém não encontrou sua adversária. Algo dentro de si pareceu se aliviar e alguma outra coisa começou a soar dizendo: Assassina.
O chão abaixo de seus pés pareceu retumbar levemente. Seus olhos azuis se elevaram para o lado e em poucos segundos a ciborgue já havia a alcançado e um soco estava sendo direcionado para sua barriga, poucos segundos antes de se teletransportar.
Astrid recuou alguns passos e ela avançou, muitos. Tentou correr e ela já estava correndo e quando percebeu isso, Astrid já havia sido pega. A corrente que estava envolta de sua perna, teve a outra extremidade puxada pela mulher de sucata, forçando assim a gravidade a puxar Astrid para baixo, com tanta força que ela não pode evitar ir com a cara no chão.
A ciborgue puxou e o corpo de Astrid foi arrastado em direção a ela, e pela terceira vez no dia, a soldada se sentiu ser arrastada para sua morte. E talvez dessa vez...ela realmente morria.
Com os olhos horrorizados, Astrid olhou ao redor. Procurou por ajuda, porém não havia. Todos estavam ocupados demais, lutando por suas próprias vidas, o que significava que, ela deveria lutar pela sua.
Astrid fechou os olhos com força, tentou clarear sua mente e expulsar o medo que não fazia nada além de acabar com seu raciocínio ou qualquer hipótese de conseguir sair daquela situação.
Calma! Calma! Pediu ao passo que seu coração batia freneticamente. Eu posso sair dessa. Eu posso. Posso, mas...como?
Seus olhos se arregalaram e rapidamente se voltaram para seu braço direito, o qual colocou em sua frente, o encarou por breves segundos antes de gritar:
— Modo de descarga de energia!
Nada aconteceu, nada além de uma risada exagerada da ciborgue.
Astrid tirou o escudo do braço. Se funcionou no filme, também deve funcionar na vida real. Com tal pensamento, arremessou o escudo em direção a mulher, tal que arregalou os olhos e em um piscar de olhos sacou uma espada.
O escudo viajou em direção a ela, a qual se manteve em posição de ataque até que o objecto mudou de direção e caiu ao lado dela de forma quase patética.
Uma pausa e uma risada irrompeu da garganta da ciborgue, que só percebeu que havia perdido o controle da situação, quando seus olhos assistiram, Astrid correndo em sua direção. A soldada deslizou para debaixo de suas pernas, e agarrada a corda seu corpo flutuou um pouco, seus pés se firmaram no chão ao passo que seus braços puxaram a corrente com toda a força.
A ciborgue se ajoelhou. Astrid constatou pelo canto do olho. Trincou os dentes e decidiu tomar um caminho ainda mais ousado. Avançou pelas costas da mulher, firmou os joelhos em seus ombros, amarrou a corrente envolta de seu pescoço e o puxou com toda a força.
Sua inimiga, por sua vez, tentou agarrá-la com a mão livre. Astrid se esquivou, inclinando o corpo para trás por alguns segundos e quando retornou, enrolou a mão metálica com a corrente e puxou-a para trás. A ciborgue começou a se debater indo para trás e para os lados de forma descompassada e pouco a pouco Astrid se sentiu perdendo o controle.
Ela irá se libertar.
Com a mão ardendo por debaixo das luvas, Astrid puxou a corrente com mais força e então seu corpo começou a se inclinar e assim percebeu que a ciborgue estava caindo...ou melhor que elas estavam caindo...de um precipício.
Astrid pensou em se teletransportar, entretanto seus poderes não funcionaram. Eles a abandonaram completamente a mercê da morte iminente e, mais uma vez percebeu que deveria se virar sem sua ajuda.
As correntes caíram de suas mãos. Usando os ombros da ciborgue como trampolim, seu corpo foi impulsionado para cima. A ciborgue tentou esticar sua mão, porém não alcançou nada, tal como a de Astrid, enquanto era puxada para baixo, pela gravidade e por todas as forças do universo que queriam ferrar ainda mais com a sua vida.
Seu corpo caiu. Se teletransportou e aterrou em cima de alguma coisa, tal que tempo depois, Astrid descobriu se tratar de Edward.
— Estas péssimo! — declarou, enquanto ajudava Edward a levantar.
— E você está melhor que eu. Anda...
Edward puxou o corpo de Astrid para o chão e no segundo seguinte uma lâmina passou por suas cabeças e como um boomerang, voltou para seu dono.
Ao mesmo tempo, Astrid e Edward levantaram suas cabeças e seus olhos assistiram quando um urro de furar os tímpanos, escapou da boca de um ciborgue e em seguida seu pé foi contra o chão, duas vezes, fazendo-o estremecer, de uma forma que fez Astrid questionar se aquilo não acabaria mal, para o lado deles.
O homem se pôs a correr, dando mais uma tremedeira na terra, que parecia mais frágil que camada de gelo prestes a ruir.
O monte de sucata avançou em direção a eles, no entanto antes que pudesse os alcançar um punho gigante, feito de cabelo, o acertou e ele foi jogado para longe.
Com os olhos piscando de confusão e as mãos nos ouvidos, Astrid encontrou um rosto conhecido olhando para eles, o rosto de alguém que Edward com certeza saberia chamar pelo nome.
Sem dizer nada, a soldada saiu correndo.
— Consegue levantar?
Astrid olhou para cima ao som da voz de Edward, que já estava em pé, com a mão direita estendida para ela.
— Ah! Si-sim.
Com dificuldade, pegou em sua mão. Edward a puxou, ela ficou em pé e então o algo se quebrou. O chão abaixo de seus pés se quebrou.
Seus olhos se voltaram para baixo. Depois eles se encontram. Olharam para frente e por fim correram.
Em um filme de acção, com certeza aquela seria uma cena épica, que daria vontade de rever e rever outra vez, entretanto na vida real era mais assustadora e letal do que épica.
Astrid e Edward correram a toda velocidade, enquanto o chão abaixo deles desmoronava. Correram por suas vidas, para alcançar o solo estável e quando chegaram perto dele, Astrid pegou impulso, pulou, seu corpo flutuou por meros segundos, antes de se teletransportar e cair na neve.
Com o coração quase saindo do peito, respirou profundamente e quando levantou seus olhos, viu Edward que sem a mesma sorte ou habilidade, estava no pico da montanha tentando não cair, mas a neve não cooperava e apenas parecia mais voltada a ajudar na sua iminente queda.
— Não! Não!! Não!!!
Astrid engatinhou em direção a ele, agarrou em sua mão direita e por um momento o corpo dele ficou suspenso, sobre o pico até que o pedaço em que uma parte de seu tronco estava apoiado, se quebrou, Edward caiu e o corpo de Astrid deslizou.
— Facão!! — Edward gritou e o cérebro de Astrid trabalhou tão rápido, que ela só percebeu o que fez, quando já sacou o facão preso no coldre e o fincou no chão, deixando-os assim suspensos, com Astrid segurando Edward com a mão direita e com a esquerda segurando o facão.
Um, dois, três segundos e Astrid já não sentia seus braços. A sensação de estar sendo quebrada a invadiu mais uma vez. Apertou os dentes com força e lentamente, mesmo estando no meio do frio sentiu suor descer por suas mãos enluvadas e começou a cogitar que largaria algo, só não sabia se seria o facão ou Edward.
Eu consigo, eu consigo! Repetiu e repetiu mais, com a esperança de que talvez aquilo se tornasse realidade. Agarrou a mão de Edward com mais força e aumentou o aperto envolta do cabo do facão.
— Não solte! Não solte mi...nha mão. Segure firme!! — falou para ele quando sentiu sua mão escorregar cada vez mais.
— Nos teletransporte — sugeriu ele, e Astrid o encarou.
— Não consigo — admitiu e um sentimento incômodo surgiu em seu estômago.
— Então...
— Não vou! Não quero cair, mas eu não vou... — Seus olhos deixam os de Edward quando o aperto ao redor do facão começa a ceder e um toque pousou sobre sua mão, como se alguém estivesse segurando, mas não havia ninguém, no entanto o toque não sumiu.
— Logan!?
Chamou e não recebeu qualquer resposta. Seus braços perderam as forças. Astrid soltou o facão e o toque fantasmagórico deixou sua mão. Apertou a mão de Edward com força e fechou os olhos, entretanto seu corpo não se quebrou em mil quando suas costas se chocaram contra algo.
Os olhos de Astrid se abriram. Um rosto enorme entrou em seu campo de visão, ao passo que seu corpo viajava, em uma enorme mão, ao lado de Edward que parecia menos chocado que ela, enquanto Orfeu que estava ajoelhado no pico da montanha, os levava para o alto e cuidadosamente os colocou no chão.
Edward soltou um: obrigado, quando seus pés tocaram o chão, antes de Orfeu esmagar alguns ciborgues com seu punho enorme e por consequência fazer o chão retumbar.
Mais ciborgues se aproximaram, provavelmente atraídos por Orfeu, que infelizmente para os três acabou voltando ao tamanho normal, tão repentinamente que até ele pareceu ficar chocado com sua nova altura.
— Por favor! me diga que fez isso de propósito? — Edward murmurou, enquanto seus olhos bicolor observavam os inimigos que se aproximavam.
— Acho que nem posso diminuir de tamanho.
— Fiquem perto...
Várias flechas caíram perto deles e tudo que Edward fez foi gritar: — Corram.
Orfeu e Astrid o fizeram rapidamente, com as flechas explodindo por todo lado. Mais flechas voaram e os sons se tornaram irreconhecíveis enquanto Astrid corria para qualquer lugar, até que seus pés encontraram o ar e ela sumiu.
Neve foi o que o corpo de Astrid encontrou, porém ela não estava quebrada, não estava morta, apenas com dores, muitas dores.
Lentamente levantou a cabeça, olhou para o céu, e o silêncio que se seguiu a assustou. Baixou seu olhar e encontrou o corpo de um ciborgue...morto.
Há uma velocidade extraordinária, a soldada saiu correndo enquanto gritava como se tivesse visto um fantasma e então...parou quando percebeu que não havia ninguém, para além dela, não tinha ninguém vivo.
Vários corpos de ciborgues sem vida, estavam espalhados pela neve. Tal como da primeira vez em que realmente vira um ciborgue, em carne e metal.
Astrid caminhou por entre eles, fazendo o possível para não pisar em nenhum dos corpos até que um arrepio percorreu todo seu corpo e ela soube rapidamente que não era pelo frio. Seu corpo travou, tremeu e sua respiração falhou.
Algo está vindo. Levou a mão para a arma a qual estava guardada no coldre que estava em sua perna esquerda. Retirou a pistola e com a mão trêmula, a apertou. Algo pressionou sua cabeça.
— Solta a arma!
Astrid o fez.
— Tire as foices das costas.
E Astrid lembrou, das duas foices que estavam presas às suas costas. As armas que um dos ajudantes disse, com um rosto sério que ela deveria nomeá-las, que se as chamasse pelo nome elas viriam até ela, onde quer que estivesse. Astrid havia tirado sarro dele e jogado tal informação para o canto: irrelevante.
Eu as esqueci completamente. Mesmo quando elas estavam bem aqui.
— Tire-as!! — Gritou.
Uma a uma, Astrid as tirou de suas costas e jogou-as aos seus pés.
— Vire!
Astrid não o fez. A arma foi pressionada com mais força em sua cabeça e ela virou, tão logo o fez a mão metálica do homem, alcançou seu pescoço e tirou seus pés do chão.
A boca de Astrid abriu e fechou quando o ar começou a fazer falta. Seus olhos se fecharam e voltaram a se abrir. Suas mãos tentaram empurrá-la para longe e sem sucesso começou a bater seu punho no braço de metal.
— Po-por favor!....na...não....
Um largo sorriso se formou nos lábios do ciborgue e alguns segundos mais tarde ele sumiu. Os olhos do homem se arregalaram, no entanto eles não encaravam Astrid, os olhos vermelhos olhavam para cima de seu ombro. A arma lentamente deixou a cabeça de Astrid a qual assistiu com os olhos quase se fechando, o homem atirando na própria cabeça, antes de sua mão deixar seu pescoço, ele cair no chão e ela cair logo em seguida.
Tosses consecutivas, deixaram a garganta de Astrid. Uma forte vontade de vomitar a fez cobrir a boca e levar uma mão à barriga. Por um longo tempo se manteve na mesma posição, expirando e inspirando e quando a náusea por fim a deixou, levantou a cabeça, e novamente só viu morte. Deitado ao seu lado estava o ciborgue que atirou na própria cabeça ao invés de na dela.
Deveria sair correndo. Gritar cheia de medo, entretanto ela não o fez, estava exausta, tão exausta que poderia ficar aí sentada por um longo tempo só para não ter de mover nenhum músculo, entretanto como o universo parecia nunca querer cooperar consigo, Astrid sentiu alguém se aproximando.
Forçou seu corpo a ficar sentado. Pegou a primeira coisa que seus olhos alcançaram, e era uma de suas foices. Segurou-a com força, olhou para seu rosto refletido na lâmina e antes que congela-se olhando para seu reflexo, focou os olhos na pequena quantidade de sangue que manchava o lâmina e algo surgiu em sua mente, sorriu amargamente para foice e baixo anunciou:
— Seu...o vosso nome será Scarlet.
Provavelmente teria achado brega, se não estivesse quase morrendo de medo do que quer que estivesse atrás de si.
Vamos sobreviver.
Astrid respirou fundo. Virou-se e quando seus olhos encontraram um rosto conhecido, a mão que segurava a foice ficou estagnada, como se tivesse perdido a força ou... a coragem.
Agachado bem a sua frente estava o garoto parecido com seu colega de escola. Seu cabelo preto coberto com alguns poucos flocos de neve, balançavam levemente com o vento. Um corte em sua bochecha, seu lábio e um pouco acima de sua sobrancelha sagravam, porém não pareciam incomodá-lo, pois ele mantinha uma expressão calma. Com uma arma em sua mão e os olhos negros atentos ele parecia um ator saído de um filme de acção.
— Você...
Seus olhos negros a inspecionaram.
— Está bem? — perguntou, o monstro do grupo zero.