Volume 1
Capítulo 12: Um Tiro, No Quarto Dos Meninos
Estátuas, era isso que seus companheiros pareciam.
Seis armas estavam apontadas para Aiyden. Eles não se moveram. Ele não se moveu e Astrid também não.
E então um tempo depois a cabeça de Aiyden se moveu para direita e depois para esquerda, fez o mesmo movimento mais duas vezes e por fim avançou para cela à esquerda, para a cela dos meninos.
“Porta se fechando em…”
Uma voz robótica anunciou a contagem decrescente. Aiyden adentrou a cela ao passo que todos abaixaram suas armas.
— Droga, droga...
Batendo o cabo da pistola na própria testa, Jase prosseguiu repetindo a mesma palavra.
— Eles já nos torturam todos os dias e agora... agora jogam...
Como se suas próximas palavras fossem difíceis de pronunciar, ele parou no meio da sala e passou a mão pelos cachos platinados, visivelmente frustrado.
— Será que a Russell quer se livrar de nós?
Aiyslnn perguntou para ninguém em específico e, ao seu lado enquanto roia uma unha, Chloe soltou um abafado:
— Humm. Ou...
Antes que pudesse roer a outra unha, Aiyslnn pegou em sua mão direita e a puxou para longe de seus dentes. Chloe tentou puxar de volta, no entanto Aiyslnn negou com a cabeça e ela pareceu desistir e continuou dizendo:
— Ou talvez... — Olhou para todos e Astrid não pode evitar sentir medo e um tanto quanto confortável por naquele momento os olhos de Chloe, a lembrarem como sua amiga a encarava quando estava prestes a chegar a parte mais assustadora da história. — E se a partir de agora... o grupo quinze... for o novo grupo zero?
Por um momento tudo pareceu congelar, e um medo desconhecido tomou conta do corpo de Astrid. Se aquela versão de seu colega de escola a assustava? Isso com toda a certeza. Se sabia o que significa o grupo zero ou porque parecia que deveria teme-lo? Ela definitivamente não o sabia.
— Novo grupo zero? Você está de brincadeira? — disse Jase, elevando a voz e cortando o momento sombrio. — Porque está brincando com uma coisa dessas!!
Com um encolher de ombros, Chloe desviou o olhar e tentou roer as unhas de sua mão esquerda, porém Aiyslnn a impediu, novamente.
— Preciso pensar.
Chloe encarou Aiyslnn que somente negou com a cabeça.
— E se a Chloe estiver certa!
Uma voz baixa e suave atravessou os ouvidos de Astrid, que não precisou olhar para o dono para saber que vinha de Logan.
— Não vamos morrer. Nenhum de nós.
Edward passou o braço pelos ombros do mais novo e prosseguiu com seu discurso.
— Se for necessário, eu mesmo, serei o primeiro a colocar uma bala na cabeça dele.
.
.
Há sono, cansaço, mas ninguém parecia prestes a dormir.
Todas estavam sentadas em suas devidas camas, cada uma absorta em seus próprios pensamentos.
Lucky estava de costas olhando para a parede. Aiyslnn tinha a cabeça voltada para o chão, as pernas se balançando levemente. Chloe roía as unhas e Astrid por sua vez mantinha os olhos na porta de metal, pensando e repensando nas palavras de Edward e se questionando se ele realmente iria tão longe. Mesmo se remoendo de raiva pelo tiro que recebeu, ainda assim não conseguia realmente se ver a atirar nele.
— Edward... ele...
— Não vai. Desde que ele não se torne uma verdadeira ameaça, Edward não irá atirar.
Aiyslnn não a encarou enquanto prosseguiu dizendo:
— Desde que ele não tente nada, vai... ficar tudo bem.
Todos os olhares se voltaram para ela, que os sentindo ou não ainda assim não encarou ninguém.
O silêncio tornou a assumir o comando, até que Lucky decidiu se pronunciar.
— O nome. Porque o chamaste de Zayn? Você o conhecia?
Todos os olhares da sala, foram fixados em Astrid, que encarava Lucky como se ponderar-se, várias variáveis em sua mente.
— Acho que não — respirou profundamente. — Acho que o confundi com outra pessoa.
Alguém com o mesmo rosto.
— E vocês, o conhecem?
Por um longo tempo, ninguém disse nada e então, Chloe riu.
— Nós o conhecemos e ao mesmo tempo, não.
— Ou seja, vocês não o conhecem — A voz de Astrid saiu incerta.
— Digamos que, meio que nós ouvimos sobre ele, ou sobre seus feitos, por boa parte de nossa vida, aqui no centro.
— E suspeito que não eram coisas boas?
— Eh. — Aiyslnn olhou para o teto. — Não são coisas nada boas.
— Como o que? — Astrid não pode evitar dizer, tal como não pode evitar em pensar em seu primeiro encontro. Em como o menino que parecia um morto vivo, controlou seu corpo. Ele era perigoso, isso era certo em sua mente, porém o medo que surgiu na sala compartilhada e o medo que ainda pairava sobre aquele ambiente, ainda era curioso, como se houvesse algo a mais, algo a mais do que o facto de ele ter sido capaz de atirar nela e naqueles ciborgues.
Antes que alguém pudesse abrir a boca, as luzes se foram, como se fosse um apagão. Um grito cortou o silêncio abruptamente e um vulto pareceu se mover rapidamente de uma pequena distância, algumas vozes baixas surgiram, como se fosse uma conversa secreta e então... um tiro se fez presente.
Astrid se sobressaltou com o som e se escondeu por baixo do lençol, como se tal pedaço de pano fosse a proteger de balas.
O silêncio perdurou por breves segundos, até que uma voz ecoou pela sala.
— Estão todas bem?
Era Aiyslnn, Astrid facilmente constatou. Abaixou o lençol, e após um: eu estou bem, provavelmente vindo de Lucky, Astrid disse o mesmo.
— Chloe?!
— Ela está bem — respondeu Aiyslnn, porém Astrid não se sentiu confortável, mesmo repetindo em sua mente, que aquela não era sua Chloe.
— Então... de onde veio o tiro? — Astrid olhava para nenhum lugar em específico quando perguntou.
— Provavelmente...
— Da cela dos meninos — concluiu Lucky.
.
.
Astrid adormeceu. Por mais que tenha repetido em sua mente mais de uma vez que não iria conseguir dormir, ela realmente o fez, de alguma forma ela realmente conseguiu, quando um de seus companheiros poderia estar morto agora.
Com os olhos ainda ardendo de sono e se fechando uma vez a outra, Astrid ficou encarando a porta, esperando por sua abertura, no entanto por um longo tempo nada aconteceu, e quanto mais o sono ia embora, mas ansiosa ficava para saber o que ocorreu.
— O tiro. — Uma voz grogue de sono veio da cama de Chloe, que era compartilhada por ela e Aiyslnn.
— A cela ainda não se abriu, mesmo que já tenha passado do horário.
Lucky tinha os olhos na porta, as mãos atrás da cabeça e uma expressão quase neutra.
— Acho melhor irmos nos preparar, eles provavelmente estão apenas querendo nos deixar ansiosas com a espera.
— Bem eles estão conseguindo — falou com Chloe, que tal como no dia anterior tinha a mão entrelaçada a de Aiyslnn.
— Vamos, antes que a porta se abra.
.
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Como se tivessem os mesmos objetivos ou planos em mente, todas tinham os olhos no relógio, que parecia não querer trabalhar direito. Ele funcionava, porém como se estivessem na aula mais chata do mundo as horas pareciam simplesmente avançar a passo de caracol, os ponteiros de relógio se moviam quase que preguiçosamente.
“Porta sendo aberta.”
Nenhuma delas realmente percebeu quando seus corpos se moveram para fora da cama. Sem nenhuma combinação prévia, todas saíram correndo ao mesmo tempo e quando chegaram perto da porta, Lucky foi a primeira a sair, seguida de Aiyslnn, Chloe e por fim Astrid. Correram para porta da cela dos meninos, pararam e ao mesmo tempo e todas recuaram alguns passos para abrir caminho para Aiyden.
Com os olhos da cor da escuridão, ele olhou para cada uma, passou pela fileira de quatro meninas e por fim atravessou a sala compartilhada, indo para algum lugar que elas não se deram ao trabalho de pensar sobre.
Passos ecoaram pela sala e os olhares antes voltados para a porta, foram desviados para aqueles que deixaram a cela dos meninos.
Jase, Logan e Edward se alinharam em uma pequena fileira. Nenhum parecia estar machucado, porém nenhum também parecia minimamente alegre, mesmo que algo assim não fosse exatamente um sentimento que poderia ser facilmente gerado naquele lugar.
— Estão bem?!! — Aiyslnn já havia dado um passo em frente e tomado Jase pelos ombros. — Se machucaram em algum lugar? Foi ele que atirou? Ele...
— Ei! Ei!, fale mais devagar. — Aiyslnn ficou em silêncio. — Quando você fica tagarelando que nem um papagaio, fica difícil de te entender, então mantenha a calma e...
— Então você está bem? Está machucado?
Jase revirou os olhos perante as perguntas de Aiyslnn e massageou as têmporas.
— Jase está bem. Nós estamos bem. — Logan tinha um sorriso no rosto, um do tipo triste mais bonito.
— Sério?
— Sério. — Jase suspirou. Aiyslnn deixou seus ombros e ele se encostou à parede. — Se não estivessem já teríamos ido para a ala médica.
Os olhos de Astrid piscaram e se voltaram para Edward, o irmão de Elis Swooney.
— Então...
A voz de Chloe se fez presente, chamando a atenção de todos.
— Se todos estão bem, até o... — parou e somente apontou para a porta da sala compartilhada como se aquilo devesse significar algo.
— Zay... quer dizer Aiyden... — Astrid tentou ajudar, entretanto percebeu tarde demais que ela não havia esquecido o nome.
— Sim — disse sem ânimo e depois se voltou para os outros soldados, como se quisesse esquecer tanto Astrid como suas palavras. — Se até ele está bem então... quem recebeu o tiro?
Jase e Logan, como se combinassem olharam para qualquer ponto, por mais desinteressante que fossem, e somente Edward parecia decidido a falar.
— O que aconteceu? Alguém realmente levou um tiro? — Lucky perguntou e Edward assentiu.
— Huh!! — Suas mãos se esconderam em seus bolsos. — Doutora Swo... minha irmã — As palavras pareciam provocá-lo um sorriso deprimente. — Ela recebeu o tiro.
Elis...está morta?