Edward The Guide Brasileira

Autor(a): Gusty


Volume 2

Capítulo 11: Aprenda com sua professora

— Espero que tenhamos sorte hoje… — Scarlet dizia em uma voz mansa enquanto fitava, com o canto do olho, o semblante apreensivo do amigo.

— Precisamos ter… não há outra opção! — A fala acompanhava o aperto ríspido das mãos, minimamente, trêmulas de Edward.

Visualizar a figura apreensiva do amigo incomodava profundamente o espírito de Scarlet — o brilho que havia encontrado na primeira vez em que se esbarrou no rapaz parecia distante. Edward encontrava-se aflito demais para alguém que dias atrás havia jurado um caminho revolucionário e brilhante.

Desgostosa, a garota franzia as sobrancelhas e invocava ferocidade no centro de suas pupilas. Seus gestos simples, denunciavam pontualmente a preparação de sua próxima ação de.

Sem pestanejar, reuniu forças em seus dois braços finos e, em um lampejo, empurrou Edward para fora do banco. Mesmo que invisível ao olhar comum, a figura fantasmagórica conseguia controlar sua presença espiritual para atingir com precisão o mundo material.

O movimento abrupto extinguiu a postura aflita e reflexiva do jovem. Enquanto tombava, arregalou os dois olhos e buscou qualquer tipo de apoio a partir de movimentos atrapalhados da mão esquerda.

A lateral direita de Edward encontrou o calor do piso de pedras — o impacto fora leve, mas ainda assim suficiente para fazê-lo cerrar os olhos e os dentes.

Após sentir o impacto, Ed rapidamente girou a cabeça na direção do banco onde antes se sentava, à procura de explicações. Ao avistar sua amiga ainda sentada com as pernas e os braços cruzados — o rosto indiferente e o queixo erguido em um claro gesto de desdém —, tornou-se nítido o verdadeiro responsável por seu susto.

— EI! — Edward gritou, sem conseguir controlar o próprio tom de voz. Ainda confuso, manteve a cabeça milimetricamente inclinada para esquerda com a boca entreaberta.

Protegido pelo fino tecido branco de sua camiseta de manga longa, Edward apoiou o antebraço direito no piso de basalto e com a mão esquerda depositou força suficiente para levantar de uma só vez.

— Por que fez isso? — dizia o rapaz diminuindo a entonação da voz; chamar atenção dos poucos visitantes do parque estava fora dos seus planos.

Ed, ainda agitado, tentava limpar qualquer vestígio de sujeira impregnada em sua calça jeans escura. As palmas de suas mãos deslizavam repetidamente sobre o tecido feito de algodão.

Todo o zelo em se reorganizar fora interrompido pelo ressoar de um novo deboche.

— Droga, era para aquelas duas garotas terem enxergado essa cena patética. — Comentava a menina em mesmo tom ríspido, fazendo questão de apertar ainda os próprios braços.

Em resposta, ele averiguou o horizonte decorado por duas jovens sentadas à borda do chafariz. Aliviado pela falta de atenção delas — hipnotizadas pelos movimentos harmônicos da água —, retomou o foco no perfil sereno da irritada companhia. Entrelaçou os braços; de certo modo, imitava a postura rígida de Scarlet, como se assim enrijecesse seu confrontamento.

— O que eu fiz? Porra Let… estamos perdendo tempo!

— Imbecil… você está acovardando! — Retrucou firmemente encarando, novamente de rabo de olho, o rosto fechado de Edward.

 — Ahn?! O que você queria que eu fizesse? Eu quase morri… Precisamos encontrar meios para nada nos impedirmos… estou errado por ficar apreensivo?

— Sim! Pensei que você estivesse mais convicto de onde estava se metendo…

A resposta seca evaporava a saliva daquele que fora alvo de tamanha afronta. Aos poucos, Edward sentia um nó incômodo formar-se em sua garganta. Apesar do crescente desconforto físico, este se tornava efêmero diante da angústia que crescia em seu peito. Observar os olhos rubis, estáticos e afiados como os de uma felina, estremecia o cerne de sua alma. Um misto de vergonha e receio dificultava suas próximas palavras — entre gaguejos, tentou se defender.

— Olha… o que… você… o que você está dizendo… não possui nenhuma relação! Imprevistos acontecem… mesmo eu saindo ferido, mesmo quase morrendo, ainda estou aqui para trilharmos esse caminho.

O ritmo acelerado da fala, embora inconsistente, conseguiu devolver ao garoto um mínimo de conforto na conversa. Após breves segundos de silêncio, nenhuma outra resposta partiu da mulher — pelo contrário, ela insistia em falar com o olhar — o que só trouxe mais certeza sobre o próximo contra-ataque de Edward.

— Não entendo porque começou essa discussão… — Ergueu os ombros enaltecendo o deboche. — Agora a pouco você estava em alerta procurando qualquer possível rastro do Chris!

A afronta serviu de gatilho para uma nova transformação no comportamento da amiga incomodada. Ela desfez todos os enlaces do corpo e, num único pulo, ergueu-se do assento — novamente decidiu abraçar a agressividade. Mantendo-se imponente, Scarlet, num segundo salto, subiu sobre o banco sem sequer alterar a orientação do corpo.

—- Hoje tirou o dia para me irritar, hein? 

A postura, gradualmente erguida, influenciava a entonação da voz do espírito — precisava crescer em todos os sentidos. Segura, abandonava qualquer receio quanto às próprias respostas.

Scarlet virou-se em 90 graus, buscando ficar frente a frente com o garoto irritante. Os movimentos brutos faziam girar, com graça, o sobretudo marrom, revelando mais detalhes do body branco que vestia.

Escorada na certeza de que ninguém a via — exceto quem precisava —, fazia questão de ser o mais performática possível. Após o giro, caminhou lentamente até alcançar a beirada do banco esbranquiçado. Controlava sua presença espiritual com o propósito deliberado de deixar ecoar o som dos pequenos saltos das botas, da mesma cor do longo sobretudo.

Com o destino alcançado, inclinou o rosto para baixo, de encontro ao olhar de Edward, e prosseguiu com o discurso — agora novamente com a presença espiritual baixa para ninguém a ouvi-la.

— Sim, fiquei em alerta para te defender…. para nos defender! — afirmou em uma voz firme. Posicionando cada uma das mãos em sua cintura, continuou com o raciocínio. — No momento em que você me explicou a situação deixei de lado essa história e fiquei preparada para continuarmos com nossa programação. Todos possuímos medo da morte… devo dizer que ela será tanto sua amiga quanto inimiga… Tudo bem ficar receoso… — Tornava a voz mais mansa. — Mas você está aqui agora, se continuar ainda no passado perderá o que podemos encontrar neste instante. — Concluía desarmando os braços.

Edward encontrava sentido nas palavras da garota, o que afastava o desconforto antes sentido. Todavia, ainda acreditava que a reação fora exagerada e desnecessária. Longe de esconder a graça que sentira pela confusão, o timbre descontraído do rapaz carregava sua nova sincera resposta.

— Mas eu só falei que precisávamos ter sorte!

— Chega de papo furado! — Caía do banco pousando próximo ao rosto de Ed.

— Mas foi você que começou!

— Tá, tá… Pega seu celular, coloca ele em cima do banco… quero desenhar algo.

—- Ok… —- Arrastava a voz denunciando a desistência de insistir na conversa.

“Que menina louca… foi ela quem começou. Eu não estou me acovardando”, repetia o mesmo pensamento, em busca de validar seus próprios atos. Ainda de cara fechada, virou as costas para o espírito e colocou o celular sobre a superfície, com um aplicativo de anotações aberto.

— Chega pra lá, deixa eu te explicar meu plano! — disse, abanando a mão repetidamente em um gesto de expulsão. Com a palma voltada para baixo, erguia os dedos, como se tentasse varrer o garoto dali.

— Claro, senhorita! — respondia em tom de chacota curvando-se e virando-se para direita, liberando o espaço.

— Gostei disso, pode manter a formalidade sempre! — Astuta como sempre, ao invés de cair na piada preferiu ressignificar a ironia. — Ok, vamos lá… — anunciava enquanto fingia estalar o pescoço.

Após o alongamento, decidiu ajoelhar frente ao dispositivo. 

O novo cenário pedia para que Scarlet utilizasse mais de sua força espiritual. Ainda sentia dificuldade em concentrar sua força esperitual em apenas uma parte específica do corpo, por este fator decidiu desenhar primeiro antes de falar algo.

Toques, invisíveis, ligeiros riscavam a tela do aparelho. Cerca de 30 segundos foram suficientes para completar o desenho improvisado da planta do local.

— Certo vamos lá — falou a garota empolgada no mesmo instante que se levantava e dava espaço para a aproximação de Edward.

O desenho se mostrava estupidamente simples, digno de poucos segundos de detalhamento: um retângulo médio se mostrava presente dentro de um outro um pouco maior. Uma simples porta era desenhada, e destacada por um círculo, entre as duas figuras geométricas.

— Caramba! Você de fato saiu da era dos homens das cavernas, agora entendi a brutalidade. — Caçoava outra vez de sua amiga, ato que lhe tirava um sorriso sincero adiante a fala.

— Quer que eu bata sua cabeça outra vez? — Retrucou de imediato disparando mais uma vez seu olhar afiado, encarando o pequeno hematoma da testa de Edward.

— Viu só?

— Jesus… — Reclamou revirando os olhos. Utilizando de seus dedos, apontou para o retângulo interno e iniciou as explicações. — Aqui é a parte principal da igreja, onde acontecem as cerimônias. Ali você vai encontrar o de costume, é bem bonita mas isso não nos interessa. Mais ou menos por aqui — disse, movendo o dedo até a borda direita inferior —, existe uma escada que nos leva até o segundo andar e é aí que vamos achar o acesso até a biblioteca! — Concluiu movimentando o dedo por todo o retângulo maior até encontrar a porta.

— Pensei que nunca tinha visitado o local…

— De fato, mas não aguentei esperar até o dia de hoje! Precisava criar algum plano de nossa visita. Pois…por exemplo, tenho certeza que o grande Edward não fazia ideia de que é proibido a entrada de visitantes nessa biblioteca. — Desviava o olhar da tela para o rosto atencioso do garoto e abria um sorriso convencido.

— Bem… ahn… isso muda quase nada, iríamos descobrir no dia e pensari—

— Tá, tá, tá… não precisa tentar se defender, só aceita caladinho vai! — Ainda sorrindo voltava a atenção para o desenho a fim de explicar maiores detalhes. — Pois então, o plano é o seguinte: o segundo andar pode ser visitado por qualquer um, principalmente para ajudar os turistas a tirarem suas fotos, porém realmente trancam a grande porta que leva até a biblioteca. Logo você terá que ficar do lado de fora enquanto eu exploro com calma a biblioteca… No dia que visitei percebi que raramente alguém entra lá, essa brecha me fez olhar por cima de boa parte dos estudos ali guardados. O estabelecimento se contenta com poucas câmeras para facilitar ainda mais nosso trabalho. Tenho uma boa ideia de onde procurar, acredito que hoje mesmo podemos sair daqui familiarizados com novos conceitos.

Independente das brincadeiras e pequenas desavenças, Scarlet sempre deixava Edward admirado — impressionava-se com o quanto a mesma era dedicada e astuta. Boca aberto, no fundo sentia um misto de felicidade e alívio, recuperava o fôlego para enfim encerrar toda a inesperada conversa.

— É foda… queria te odiar mas é difícil. Obrigado Let… que tal irmos até lá?

— Já era hora seu chorão!

Sem mais delongas, e imprevistos, ambos partiram até o destino do dia.

O percurso curto fora preenchido por uma veloz conversa em torno do que poderiam encontrar ali. Graças ao pouco movimento a conversa fluiu de forma natural, o que gradativamente afastava qualquer resquício de um clima acalorado.

Foram necessários 5 minutos até alcançarem Miraclum Iluco. A construção, inteiramente feita de pedra escura, exibia uma torre larga em cada lado da fachada — uma à direita, outra à esquerda. Cada uma alcançava cerca de dez metros de altura e era coroada por uma cúpula feita de pequenos tijolos de pedra escura, formando uma esfera imperfeita, sobre a qual se erguia uma fina haste de ferro que se projetava em direção ao céu.

Entre as torres, estendia-se uma parede relativamente longa, com aproximadamente oito metros de comprimento e altura semelhante. A fachada, adornada por duas grandes janelas de vitrais — uma de cada lado da entrada, com as bordas superiores suavemente arredondadas — capturava o olhar de qualquer visitante.

O acesso se dava por uma imponente porta de madeira, dividida em duas folhas articuladas por dobradiças, com cerca de quatro metros de altura. Assim impunha por si só o respeito e a presença do lugar.

As pegadas firmes de Edward, junto com as silenciosas de sua amiga, alcançavam o pequeno trecho, feito também por pedras, que levava até a entrada. Uma grama bem cuidada decorava as laterais do caminho, Ambos os lados apresentavam dois grandes pinheiros e dois bancos largos de finas tábuas de madeira.

O espaço ocupado pela igreja tomava mais da metade do quarteirão, o que facilitava a dispersão dos visitantes. Pela ausência de outras construções de grande porte na região, toda a atenção recaía sobre a robusta catedral. Esse fator, porém, tornava problemáticas as visitas em horários de pico — especialmente durante a alta temporada turística. Ainda assim, a dupla havia escolhido um momento excelente: ao longo do pequeno trajeto, avistaram apenas dois faxineiros, ocupados com suas tarefas diárias.

— Ótimo, podemos conversar tranquilamente… — Edward pontuava no mesmo instante que percorria com os olhos, cada vez mais vivos, todos os detalhes da paisagem. 

— Vai demorar um pouco até a primeira cerimônia do dia. Vamos nos apressar! — constatou o espírito que apertava o passo de seu caminhar, convidando Ed a fazer o mesmo.

Animado, ainda insuficiente para ofuscar por completo a ansiedade, o jovem acelerava em uma corrida disfarçada até finalmente encontrar a esplêndida travessia.

Já na parte interna, a beleza surpreendia ainda mais: a madeira escura de pinheiro revestia tanto o piso quanto os 24 bancos de comunhão — 12 em cada fileira, dispostos simetricamente ao longo do espaço.

À frente, o grande altar branco de cerâmica exibia desenhos de dois santos, feitos em mosaico colorido. Quase ao centro do palanque, uma ampla mesa com doze lugares ocupava destaque. Logo em frente a mesa, o ambão, equipado com um pequeno microfone, se mostrava presente e pronto para uso.

A partir da parte traseira da mesa — repleta de instrumentos litúrgicos para um culto luxuoso —, o altar se curvava, formando uma cúpula adornada por seis vitrais e uma grande cruz presa ao centro de seu teto.

O vitral central, em um tom de amarelo vibrante claro, revelava a imagem do Criador ao lado de seu filho. A partir dele, a cor amarelada escurecia gradualmente, transicionando em direção aos vitrais laterais. Cada um deles exibia fragmentos de uma cena maior: animais e anjos reunidos em perfeita harmonia, cultuando a figura central.

A graciosidade não se limitava ao altar — espalhava-se por todo o recinto. Em cada lado, três novos vitrais traziam ainda mais vida com suas cores azuladas e brilhantes. Abaixo de cada um, estátuas de santos, esculpidas no mesmo material das paredes, eram banhadas diretamente pela luz que atravessava as janelas.

Próximo às paredes, pilares firmes de pedra — cerca de três de cada lado — sustentavam o piso de madeira do segundo andar.

Além da iluminação natural, todo o estabelecimento era preenchido por diferentes focos de luz: um grande lustre preso ao centro do teto e a presença de lamparinas dispostas simetricamente nas paredes.

A escada de acesso ao segundo andar localizava-se à direita, exatamente como descrita pelo fantasma. Escadaria essa composta por longos degraus e dois corrimãos firmes de metal.

O cenário era completado por duas pessoas sentadas nos primeiros bancos e quatro espíritos espalhados pelo salão — um ajoelhado diante da cruz e os outros três distribuídos entre os assentos.

Edward, admirado, conseguia até mesmo sentir um cheiro doce de hortelã misturado com a singularidade de diversos incensos.

— Que lugar lindo…. — Enalteceu o rapaz, parando o ritmo de seu caminhar. — CARAL—

— Eiii, vai xingar na casa de Deus mesmo? — Scarlet cortava a reação espontânea do amigo em tom de sarcasmo, deixando escapar suas pequenas gargalhadas.

— Para —- dizia tentando segurar o riso. — Eu não sou religioso, então está tudo certo!

— Pensei que seria, depois de tudo que experienciou.

— Definitivamente acredito no sobrenatural e que algo de maior existe. Mas, acho que prefiro ser esse acúmulo de crenças e aprendizados. 

— Inteligente… sinto que sou o mesmo. Mesmo sendo tão pequenos, acredito que possamos descobrir mais sobre nosso universo.

— Então… é por ali que devemos seguir? — questionava Edward apontando com o dedão rumo aos degraus.

— Tá vendo? Meu desenho estava muito fiel!!

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