E daí que sou uma Aranha? Japonesa

Tradução: zehclaudio

Revisão: Marinovisk


Volume 1

Capítulo 11.5: A Donzela Élfica (S8)

Meu pai me convocou.

Ambos eu e Katia, mais ninguém.

Por algum motivo, eu até tive que levar Fei junto.

Nós três estávamos confusos sobre o motivo para isso.

— Você não acha que isso se trata de um noivado, acha?

— O quê? Com quem?

— Você sabe, uh… você… e eu…? — A sugestão insana de Katia me deixou completamente perdido.

— Não, não poderia ser.

“O que foi? Vocês desenvolveram um gosto por BL¹ ou algo do tipo?”

— Bom, neste caso, isso não seria BL. Olhe para nós, um garoto e uma garota, quase com a mesma idade, de uma linhagem parecida. Sem mencionar que é evidente que nos damos bem. Seria tão surpreendente se nossos pais decidissem que deveríamos nos casar?

Quando ela colocava desse jeito, isso não parecia ser assim tão exagerado.

Afinal, eu era um membro da família real, e Katia era a filha de um venerável duque.

Por essa perspectiva, éramos um par perfeito.

— Uh, e você está bem com isso?

— Cara, é lógico que não. Nem posso me imaginar casando com um homem. Mas isso está fadado a acontecer eventualmente, então imagino que deva me preparar.

— Estou surpreso por você pensar neste assunto com tanta antecedência.

— Bem, me desculpe. Mas, sendo sincera, em termos práticos, é melhor me casar com você do que ficar presa com alguém aleatório que nunca vi antes. Você sabe qual é o meu negócio e tudo o mais… além disso, pode ser de mau gosto, mas podemos sempre desfazer o noivado mutuamente se tivermos mesmo que fazer isso.

Isso era algo que você poderia fazer?

Nunca considerei a perspectiva de ficar noivo antes, mas como era um membro da realeza, isso provavelmente iria acontecer cedo ou tarde.

Em todo caso, poderia ser mais conveniente virar noivo de Katia, já que ambos somos capazes de lidar com isso sem problemas.

Exceto por um pequeno problema.

— Mas o que você faria sobre Sue?

— Ah.

Ééé.

Minha irmã, Sue, não permitiria que ninguém se aproximasse de mim.

Eu até vi seu olhar assassino direcionado a Fei, que da perspectiva de Sue, era apenas um animal de estimação.

Como você pode ficar com ciúmes de um animal só porque ele é uma fêmea? Eu queria fazer essa pergunta a ela.

Mas estava com medo que a reposta dela fosse algo parecido com: “E por que eu não ficaria?”

Ela parecia ter ficado um pouco mais tolerando com Katia agora, mas se ela sequer suspeitasse que nós iríamos nos casar, não havia como dizer o que ela faria.

— É verdade. Ela me mataria.

— Qual é, acho que você está exagerando um pouco.

— … estou, tem certeza?

“Tenho que admitir, posso ver isso acontecendo.”

Eu sabia que Sue era um pouco anormal, mesmo assim, eles estavam sendo ridículos.

Enquanto conversávamos, duas pessoas (um homem e uma garotinha) entraram na sala.

Katia, Fei e eu ficamos de boca aberta pelo choque causado pelos recém-chegados.

Suas orelhas eram muito mais longas do que as dos humanos.

— Saudações amigos. Eu me chamo Potimas Harrifenas, e fui enviado para este belo reino como um embaixador da boa vontade dos elfos. Fui eu quem requisitou suas presenças aqui. É um grande prazer conhecê-los.

O homem, Potimas, se apresentou com um tom desinteressado.

Esta era minha primeira vez vendo um elfo.

Eu sabia que eles existiam, mas ver um de perto e em pessoa pela primeira vez reforçou que eu estava em um mundo de fantasia.

— Hmm. Então vocês têm aquilo.

Potimas apertou seus olhos e eu fiquei com uma sensação desconfortável em meu estômago.

— Oka, esses dois humanos e a criatura aqui têm o que você está procurando. Vou deixar o resto com você.

— Muito bem então. Entendido!

— Vou seguir meu caminho.

— Obrigadaaaa por sua ajuda!

Potimas deixou a sala dessa forma.

Tudo o que Katia e eu podíamos fazer era encarar aturdidos. Nem mesmo nos apresentamos antes de ele partir.

Sem ideia do que fazer a seguir, voltei minha atenção para a garotinha que ficou para trás.

— Bom, bom, deixe-me ver. Acho que devemos começar com apresentações, não devemos? Meu nome atual é Filimøs Harrifenas. Que adorável conhecer vocês!

Katia e eu nos olhamos.

Como deveríamos responder a essa apresentação desta garota pequena?

— Sabem, se sua professora se apresenta, é apropriado responder com gentileza, entenderaaaam! E quem poderia ser vocêêêê?

— Minhas desculpas. Eu sou o quarto príncipe deste Reino, Schlain Zagan Analeit.

— Eu sou a filha mais velha do Duque Anabald, Karnatia Seri Anabald.

Com o incentivo da garota, lutamos para nos apresentarmos.

— Entendo, entendo. Um príncipe e uma futura duquesa, é isso? Muitoooo bom. Tãããão fofos.

Algo sobre essas palavras sacudiu minha memória.

A maneira peculiar de ela falar parecia muito familiar, e agora eu sabia quem ela me lembrava.

Os olhos de Katia se arregalaram assim que ela também chegou a essa conclusão.

— Sem chances… Srta. Oka!?

— Você realmente não deveria dar apelidos para sua professora, sabiaaaa? Mas isso está corretoooo.

Diante de nossos olhos estava nossa professora em nossas vidas anteriores:

Srta. Kanami Okazaki, ou Srta. Oka para abreviar.

Esta professora, que todos chamávamos por seu apelido, era uma pessoa um pouco infeliz.

Ao que parecia, ela adotou o vício de linguagem de sua personagem favorita de mangá na escola secundária e acabou falando assim o tempo todo.

Ela foi para uma universidade com um excelente programa de história por causa de seu interesse em mangás sobre o Período dos Estados Beligerantes², e ela se tornou professora sobretudo por um desejo de conhecer um homem mais jovem.

Em geral, uma péssima desculpa para uma educadora.

Contudo, sua natureza patética na verdade a tornou muito popular entre os estudantes.

— Muito bom, dessa forma, e quanto a você? A que está fingindo ser um animal de estimação bem aliiii?

“Hã?! Como você soube!?”

— Isso é óbvio, sabiaaaa! Sério, eu pensei que você já teria imaginado isso, já que nos certificamos de convidar você tambéééém.

Fei parecia extremamente descontente com isto. Provavelmente porque ela costumava se comportar de forma indevida na sala e recebeu mais do que poucas reprimendas da professora.

Talvez ela tenha se sentido um pouco encabulada com isso.

“Uuugh. Eu sou Feirune.”

— Sim, sim, muitoooo bom

A professora acariciou a cabeça de Fei.

Ela mostrou uma careta com este tratamento.

— Então? Por que você está aqui Srta. Oka?

— Por que? Porque eu sabia que vocês três estavam aqui, é claroooo! Vocês se tornaram um assunto muito debatido, sabiaaaam? Os jovens prodígios nascidos no Reino de Analeit são o tema das conversas da cidade!

Como falávamos com nossa professora pela primeira vez em muito tempo, acabamos todos usando o japonês.

Logo, contamos a ela nossos nomes em nossas vidas anteriores.

No momento que ela ouviu o antigo nome de Katia, seus olhos se arregalaram, e ela murmurou algo parecido com: — Tãããão fofo!

— Então você veio apenas para nos ver?

— Isso meeeesmo.

“Tá legal, eu entendo como você soube desses dois imbecis aqui, mas como você descobriu sobre mim? Pensei que estava atuando muito bem como uma mascote.”

— Então você não percebeu o quão incomum você é, minha queriiiida. Há rumores, sabiaaa? Que a mascote do príncipe tambéééém é um gênio.

“Quê, é sério?”

— Isso meeesmo. Um monstro normal não escutaria os comandos de uma pessoa que não tem a habilidade Treinar Criatura, sem mencionar que se exercitar e treinar com ela, entendeeeu!?

“Ah, acho que isso faz sentido. Que estúpida eu fui.”

Foi desconcertante que a informação poderia escapar do castelo com tanta facilidade, mas acho que não havia como impedir a fábrica de rumores.

— Mas essa não é a única razão para eu estar aqui meus queridooos. Eu ainda sou uma professora, entenderaaam? Tenho que pelo menos me certificar que meus estudantes estão seguros, não éééé? Beeeem, o mais seguro que vocês podem ficar após reencarnem!

Ela disse brincando, mas acho que ela quis mesmo dizer isso, e eu fiquei um pouco impressionado.

Nem mesmo me ocorreu me preocupar com a sobrevivência de mais ninguém além da minha própria neste mundo.

Eu também suspeitava que meus outros colegas poderiam estar aqui, mas nunca considerei procurar por eles.

— Este mundo é muito mais perigoso do que o Japão, sabiaaam? Se posso garantir sua segurança, quero fazer isso o quanto antes possííível.

Eu também nunca pensei sobre isso.

Devia ser algo óbvio, considerando que existiam monstros e coisas perigosas neste mundo, mas como eu estava seguro, eu apenas assumi que meus outros colegas de classe também estariam.

Fei até me disse como ela quase morreu, mas, naquele momento, isso me pareceu uma história de algo muito distante.

— Então você veio nos proteger?

— Ó, por Deus, nããão. Considerando suas posições, eu dificilmente poderia levá-los comigo, entenderaaam? Mas se qualquer um de meus estudantes quiser, eu de bom grado o levarei para a vila dos elfos para proteção, entenderaaam?

— Isso significa que você já encontrou os outros?

— Ó, siiim. Há onze estudantes na vila élfica, e consegui entrar em contato com outros seis, incluindo vocês trêêês. E localizei mais dois, então vou partir para visitá-los em seguida, entenderaaaam?

Havia vinte e cinco estudantes em nossa sala.

O que significava que ainda havia mais seis cujo paradeiro era desconhecido.

Mas, pensando de outra forma, isso significava que apenas seis estudantes deveriam ser encontrados.

Em um mundo vasto como este, não seria um feito pequeno encontrar tantos estudantes reencarnados.

— Você realmente esteve procurando por nós Srta. Oka.

— É meu dever como professora, é claroooo. Além disso, a maioria deles está vivendo como humanos no território dos humanos, entenderaaam. Então não foi tão difícil assiiim.

“A maioria é de humanos…”

Fei estava aturdida pelas palavras de nossa professora.

— Não se preocupe com isso. —, foi o único conforto que pude dar.

Apesar do tom suave da Srta. Oka, estava claro que ela esteve trabalhando duro para encontrar todo mundo.

Curvei minha cabeça para ela como agradecimento mais uma vez.

— Muito bem então. Há muitoooo mais sobre o que devemos falar, mas vou ficar um tempo afastada para entrar na escola deste reino logoooo. Podemos discutir tudo então, tudo beeeem?

Katia e eu também seríamos matriculados nessa escola em breve.

Tínhamos permissão para levar animais de estimação, então planejei levar Fei comigo.

Uma vida inteiramente nova estava se desenhando no horizonte.


Notas:

1Yaoi, também conhecido como wasei-eigo, Boys' Love ou BL, é um gênero de publicação que tem o foco em relações homoafetivas entre homens. O termo se originou no Japão e inclui mangá, anime, romances e dōjinshis. O yaoi se expandiu para além do Japão; materiais podem ser encontrados nos Estados Unidos, assim como em nações ocidentais e orientais ao redor do mundo.

2 – O período Sengoku (literalmente "Período dos Estados Beligerantes") foi uma das fases mais conturbadas e instáveis da história do Japão, marcada por constantes guerras. Ocorreu entre a metade do século XV e o final do século XVI. Após o declínio do xogunato Ashikaga, vários clãs próximos do xogum tentavam aplicar um golpe de estado, a fim de tomar o poder do país, já que o xogunato anterior estava caindo após quatrocentos anos de governo. Inicia-se uma guerra civil em que mediam forças vários clãs japoneses como o Hojo, o Takeda, o Uesugi, o Mori e o Imagawa. O conflito se transforma num sangrento combate, pois os portugueses haviam trazido para o Japão a arcabuz (chamada vulgarmente de espingarda). Após o período de guerras, veio o período Edo, com o Xogunato Tokugawa sendo o governo do Japão por duzentos anos até a instauração do período Meiji, que pôs um fim ao xogunato.



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