Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 2 – arco 7

Capítulo 82: Contrabando para Ninlamak, parte 2

Minha mente parou enquanto sentia a presença do Esper se aproximar, com minhas pernas seguindo o exemplo.

— Lorde Lewnard? — Olhei para trás enquanto ficava tenso. Estava se aproximando… e rápido.

— Vocês vão na frente… — Nisso, uma presença poderosa apareceu na área, uma tão forte que mesmo eu arregalei os olhos. — Seja lá quem for, é perigoso. 

A presença se intensificou, forçando-me e liberar um pulso de energia. Olhando nos arredores, vi que todos ali, menos Theo, eu e o velho Grishka ainda estávamos de pé, com a maioria de joelhos e Grace deitada no chão, incapaz de mover um músculo. 

— Saia daí… — disse, sentindo o olhar surpreso do homem. Com passos calmos, a pressão se intensificou conforme a forma dele ficava mais clara.

Notei que, além disso, a Energia Astral ao redor ficou muito mais presente, quase como se ele trouxesse uma pequena parte do plano com sua conexão. 

— Estou surpreso… Não esperava encontrar outro capaz de resistir tão cedo — disse, o rosto dele se contorcendo num sorriso satisfeito, mascarando suas verdadeiras intenções. 

— Não acho que pode nos deixar passar, não é?

— Isso depende. — Nisso, a pressão aumentou, o chão quebrando conforme a intensa gravidade crescia mais e mais. — Quero uma prova… se me satisfazer, vou fazer vista grossa. 

Olhando ao meu redor, vi que Benkei fazia um esforço tremendo para se manter de pé, algo impressionante, considerando a falta de conexão que tinha. Além disso, o velho mantinha-se na mesma postura, mas pude ver que estava suando frio. 

— Vamos acabar com isso rápido… 

Liberando minha energia na Capa Telecinética, vi o quão absurdamente forte estava.

Antigamente, essa capa era algo fácil de fazer, mas, agora, sinto que se aplicar mais energia, vou esmagar todos os meus ossos. 

Com um comando mental, permiti que meu corpo se movesse contra o Esper, com um Jab pronto. Não esperava que aquele ataque acertasse, era só para testar os reflexos dele, mas… 

Ele nem se mexeu. 

Quando meu punho chegou perto, foi repelido por uma força invisível, sendo mandado para baixo. Forçando meu braço a se mover, bloqueei um soco que me mandou de volta para a posição inicial, vinte metros para trás. 

Forte… ele conseguiu ignorar por completo a minha capa… 

Olhando para ele, senti uma pitada de nervosismo. Esta foi logo apagada por outra sensação, uma que nunca pude aproveitar, uma que não sabia como me sentir sobre.

Poder. 

Senti uma sensação de onipotência, como se fosse o centro do universo, como se tudo pudesse ser alcançado por minhas mãos. 

Era algo semelhante ao que sentia quando usava a minha conexão ao máximo, mas diferente ainda assim.

Aquele era o sentimento que todos descreviam ter quando usavam a conexão pela primeira vez.

Sorri, liberando mais e mais energia, forçando o chão a rachar e as pedras a levantar. 

— Irmão?

Sim, é isso mesmo… Esse sentimento é glorioso. É algo maravilhoso, que queria continuar provando, mas… 

— Irmão… socorro… 

Olhei para Grace, vendo o estado em que estava e engoli em seco. Ela mal conseguia respirar direito, a pressão como uma montanha, que constantemente a prendia. 

Não… Não posso me deixar levar… 

Suspirei, permitindo que o sorriso deixasse meu rosto e meu foco redobrou. 

Permitindo que minha conexão com o diário viesse à tona, deixei que o conceito de ferimento tomasse minhas mãos, fazendo com que minha energia brilhasse num roxo magenta.

A resposta pareceu intrigar o homem, que logo sorriu e deixou mais de sua energia permear o local. Concentrando a força gravitacional nas mãos, preparou-se para trocar golpes comigo.

Com um último sorriso, corri. Meu punho se chocou com a mão dele, a energia me mandou para longe antes que pudesse aplicar o conceito de ferimento, mas não deixei que isso me impedisse. 

Usando da Capa Telecinética, movi-me direto contra ele, sentindo meus ossos rangerem com a força bruta aplicada no corpo.

Com um gesto da mão direita, uma enorme força gravitacional foi contra mim, forçando-me a desviar de diversas pedras, cada uma maior que meu corpo.

Nisso, cheguei perto dele, focando para não ser lançado para trás. Olhando-me surpreso, deixou que acertasse um golpe, enviando um cruzado contra mim.

O ataque foi brutal, tão forte que senti os ossos da face quebrarem, mas a regeneração passiva do Diário atuou para me manter consciente, ao menos o suficiente para forçar a semente a crescer. 

Aquela era a técnica que adquiri depois de firmar o contrato com o Plano Astral. A técnica de colocar minha energia presente num ser e expandi-la, forçando o conceito de “Ferimento” para fora, destruindo um corpo a partir do âmago. 

Esperava que mais sangue jorrasse do peito dele invés do simples corte que ali apareceu, o vermelho escapava pela boca, que se firmou num sorriso psicótico. 

— Você passou… — A pressão aumentou, forçando-me a aplicar mais energia na Capa Telecinética. — Você se tornará uma perfeita oferenda, a melhor dentre todas. Não é a toa que o desgraçado das barreiras queria você em específico fora da pintura! 

Conforme falava, sua voz assumia um tom mais selvagem, mais insano, orgásmico. A gravidade crescia, o cabelo negro e bagunçado subia, ondulava. 

Seus olhos brilhavam em um azul escuro, a cor de sua energia. Uma cor tão bela quanto perigosa. 

— Mesmo agora, eu mal posso esperar para te matar… Quero tanto lutar, quero te destruir, provar seu sangue e me banhar com suas tripas… — Enquanto a imagem que pintava era grotesca, o que era ainda mais perturbador era a ressonância que senti dentro de minha conexão. 

Meu âmago pedia que lutasse, que forçasse meu poder ao máximo, que botasse a prova minha onipotência.

Era… perturbador.

— Mas… ainda não é a hora. Ainda precisa crescer, precisa ficar mais forte… Só então poderemos ter nossa luta. — Nisso, virou-se e caminhou para longe, a pressão desaparecendo junto dele, até a sensação de felicidade que queimava em meu interior apagar, apenas as cinzas da nostalgia restavam.

Era… estranho… 

— Precisamos ir… — disse Grishka, puxando-me e forçando meus olhos para o grupo de elite que me guardava. Cada um deles estava se recuperando, contudo pude ver que ainda tinham a marca da exaustão. — Se não seguirmos em frente, vamos ser pegos.

De fato, senti várias presenças minusculas indo até nós, cada uma tão fraca que mal notei. Quer dizer, precisava recolher minha energia para poder confirmar as presenças. 

Assenti, ajudando Benkei a se levantar e pegando Grace no colo. Minha irmã era a que menos estava pronta para toda aquela pressão, seu corpo frágil, ainda que mostrasse sinais de recuperação, não podia nem se mover direito.

Com um comando, o Diário começou a aliviar a dor dela enquanto corríamos para longe. 

Se tiver que enfrentar um oponente como ele, será que sairia vivo? Aquela conexão era profunda o suficiente para me forçar a usar tudo. 

Não era uma questão de sobrevivência, era mais como se ela forçasse meu poder para fora, como o sol que trazia o desabrochar das plantas. 

Eu… podia crescer ainda mais?

Sorri com aquilo, o sentimento de orgulho no meu potencial eclipsado apenas pelo corpo que carregava. Ela começou a dormir, sentindo o conforto da minha energia…

Após ter certeza de estarmos longe o suficiente e de que Grace estava completamente curada, voltei minha atenção para o grupo a minha volta. 

Cada um deles mostrava clara fadiga, mal conseguiam ficar em pé… 

Comecei com o pior de todos ali, Theo. Ele estava fraco, claramente machucado… Enquanto eu sabia o porquê disso, senti uma pontada de irritação quando não entendi o motivo.

Era óbvio para um Empata como eu. O sentimento de rivalidade, de querer melhorar e me superar. Isso o forçou a ficar de pé, a fazer um esforço impossível apenas para se igualar a mim.

E, como custo, o corpo dele agora estava danificado. Tanto que, se não fosse pela minha presença, provável que morreria.

— Não preciso que me cure.

— Acredite em mim, você precisa sim — disse, colocando minha mão sob o braço dele. Um suspiro escapou dos meus lábios ao ver que tinha tirado ela e começara a caminhar para longe. — Se é assim que você quer… 

Com um rápido movimento, empurrei ele para o chão, forçando-o a cair de cara na neve. 

— Isso deve esfriar teus nervos. Agora, fique quieto e me deixe tratar você. Se não fizer isso, a hemorragia interna vai te matar. — Puxando-o para cima, forcei minha energia dentro dele, notando uma pequena resistência. 

Pouco importa.

Coloquei mais força ali, tirando um urro de dor dele que prontamente fez com que Shinnsuke forçasse o outro Kairiano, Jin, a ficar quieto. 

Conforme os segundos passavam, parou de se debater, as feições tornaram-se amenas, relaxadas, e não demorou muito para que a adrenalina saísse do sistema, forçando o cérebro a desligar. 

— Ele está bem, por sinal. Apenas exausto. Agora, Grishka! — O mesmo suspirou, indo até mim e permitindo que o curasse. 

Os outros três Kairianos não tiveram nenhuma objeção, com Benkei agradecendo-me no final, já o último…

— Não precisa se preocupar, Mestre Hollick — disse, flexionando os músculos com facilidade, permitindo que visse as tatuagens vermelhas, marca de seu contrato. — Meu patrono já me curou…





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