Volume 8
Capítulo 159: Obrigado por tudo
No céu acima, uma batalha aérea de dragão e wyvern se desenrolava.
No meio disso, Sakuya lutava contra o gora para ajudar na retirada de Izumi.
O grupo fugiu através do campo de batalha devastado. Ninguém por perto sabia as palavras certas para dizer para Aleist. Pelas palavras do inimigo, Aleist tinha sido a causa de tudo isso.
"Eu não deveria levar isso a sério, mas..."
Izumi pensou, ainda assim acabou levantando sua guarda para o silencioso Aleist. Se ele notou sua atitude ou não, Aleist não abriria a boca.
Às vezes, o sopro de um wyvern ou dragão cairia e provocaria uma explosão. Heleene voou para proteger os membros em fuga e, uma vez que todos se distanciaram da batalha, Millia apareceu diante deles.
Ela trouxe aliados.
Enquanto fossem poucos em números para chamar de reforços, era uma adição tranquilizadora.
Com um grande aceno de suas mãos, Millia os encarou e gritou:
— Por aqui!
Ao atravessar uma pequena colina, eles se depararam com os soldados vigiando a batalha entre o gora e Sakuya.
Millia fez com que seus soldados demi-humanos preparassem uma estação para eles. No entanto, ao ver o estado de Rudel, ela ficou com uma cara terrivelmente assustada.
— Dei-deite-o ali. Nós vamos começar a tratá-lo...
Mas Bennet foi rápida em informá-la:
— Isso não será necessário. O coração dele foi perfurado. É fatal.
Vendo um Rudel que já não estava mais respirando, Millia segurou desesperadamente suas lágrimas:
— Seu idiota. É porque você foi fiel aquelas ordens ridículas. O problema no palácio poderia ter sido resolvido com facilidade.
Ao ouvir isso, Izumi procurou a confirmação.
Sua mão acariciou Rudel, deitado sobre uma maca.
— Está tudo bem no palácio?
Millia enxugou suas lágrimas antes de explicar em uma voz trêmula:
— A Princesa Fina usou os defensores para suprimir a insurreição. As casas dos arquiduques ajudaram também... e, mesmo assim, por que esse cara está morto?
No limiar de sua visão, Rudel estava com os olhos fechados com um leve sorriso no rosto.
Izumi apertou a mão do rapaz com força. Ver as lágrimas de Millia só fez com que a morte de Rudel parecesse mais real.
— Sempre nos trazendo nada além de problemas. No entanto, no final, para algo tão sem senti-...
"Sem sentido", Izumi estava prestes a dizer isso, quando Bennet a interrompeu:
— Houve um propósito. Rudel os segurou sozinho, ele fez uma resistência final literal até que o exército aliado pudesse chegar. Não diga que foi sem sentido.
Foi então que dois grupos chegaram a Rudel.
Luecke e Eunius, que tinham acabado de chegar. Os dragoons apareceram e ajudaram a transportar suas forças, acelerando sua chegada.
— Afastem-se.
Luecke forçou seu caminho através de cavaleiros e soldados para chegar a Rudel, arregalando seus olhos quando chegou sobre o homem deitado.
Eunius estava na mesma, porém, ele limpou o caminho de forma muito mais grosseira.
E olhando para Rudel, ele falou:
— … maldito idiota. Partindo e morrendo.
Um monólogo terrível. Mas seu tom estava terrivelmente decepcionado e sombrio. Eunius arrancou a barra preta presa no coração do amigo.
Luecke imediatamente colocou as mãos sobre o peito de Rudel. Ele ia usar a magia de cura.
Aleist abriu a boca.
— Luecke, Rudel já está...
Luecke, o homem que parecia o mais equilibrado do grupo, olhou feio para Aleist e gritou:
— Cale a boca. Quando se trata de magia, sou melhor do que todos. Melhor do que você e melhor do que Rudel. Sou o número um. Então você... fique em silêncio.
Era impossível para a magia de cura reviver os mortos. Não importava quantos feitiços ele usasse, o corpo falecido não mostraria nenhuma reação.
Izumi queria falar para que Luecke parasse, mas ao ver o rosto do rapaz, ela fechou a boca.
— Não existe essa coisa de impossível para mim. Um amigo querido ou dois... quem eu seria se não pudesse ajudá-los? Eu sou Luecke Halbades. Sou melhor em magia do que qualquer um...
Derramando lágrimas diante de Rudel, ele continuou a lançar sua magia de forma desesperada. Essas mãos começaram a queimar com o calor do uso excessivo de magia.
Eunius agarrou seu braço, afastando o colega à força de Rudel.
— Isso é o bastante! Não desperdice sua mana aqui.
Luecke gritou em resposta:
— Desperdício? Você acabou de chamar isso de desperdício!? Entendo. No final, isso é tudo que Rudel foi para você...
Quando Luecke viu o rosto de Eunius, ele não pôde dizer mais nada. Eunius também estava chorando.
— Escute aqui. Nem você nem eu podemos trazer de volta alguém que morreu. Mas você sabe, ainda não há algo que possamos fazer? Lutar para vingá-lo. Aqueles malditos imperiais ainda estão aqui. Então é óbvio o que nós temos que fazer!
Sobre essas palavras, Luecke formou um punho com suas palmas escaldadas. Seu subordinado Vargas segurou suas lágrimas, enquanto ordenava que aqueles que o rodeavam curassem seu mestre.
Izumi colocou a mão na bochecha do rapaz.
— Rudel, veja quantas pessoas você fez chorar... e ainda assim, você é o único sorrindo. Você realmente é um cara terrível.
De repente, Aleist exclamou:
— Eu-eu já sei. Rudel ainda pode conseguir, eu acho...
Rudel estava em um espaço branco, muito branco.
Vagamente percebendo seus arredores, as palavras que saíram foram:
— Esta é a segunda vez que estou aqui. A primeira foi quando me separei de Sakuya, não foi?
Enquanto ele avaliava sua situação com calma, um som de estalo veio do punho que desceu sobre sua cabeça.
Lá estava Sakuya, a ex-deusa Sakuya, flutuando no ar em forma humana. Lágrimas brotaram de seus olhos, suas bochechas estavam inchadas e seu rosto estava vermelho.
"Rudel, seu idiota! Idiota, idiota, grande idiota!"
Diante da menina que continuava batendo nele com as duas mãos, Rudel riu.
— Então você veio me buscar? Acho que isso significa que realmente estou morto.
Sakuya desmoronou em lágrimas.
"Quantas vezes eu te disse!? Você tem que lutar junto! E ainda assim, por que você deixou sua parceira para trás? Trabalhamos tão duro para que pudéssemos lutar juntos!"
Vendo Sakuya chorar, Rudel percebeu que este era o mundo após a morte.
— Desculpe. Dei o meu melhor... mas parece que falhei.
Ele perdeu para o destino. Enquanto Rudel pensava assim, ele não mostrou uma cara de arrependimento.
"Por que você parece tão revigorado!? Todos estão chorando por você!"
Rudel enviou a ela um sorriso meio triste.
— Não direi que não tenho arrependimentos. Lutei para triunfar sobre um destino ou dois. E sou apenas metade do dragoon que quero ser. Odeio não poder usar a chance que você me deu. Mas sabe... lutei com tudo que tinha. Me esforcei tão duro que mesmo olhando para trás, estou certo de que não poderia ter feito melhor.
Se ele perdeu apesar de tudo isso, não havia espaço para desculpas.
Rudel disse isso e acariciou Sakuya. Apesar da nostalgia que sentiu, isso também trouxe à mente seu próprio parceiro dragão.
Sakuya olhou para Rudel com um rosto sério.
"Você está satisfeito agora?"
Para essa pergunta, Rudel disse:
— Satisfeito? Não estou. Com certeza não estou satisfeito. Queria montar nas costas de um dragão através do céu mais um pouco. Ainda nem me tornei o dragoon mais forte de todos. Meus superiores são fortes, sabia? Ganhei uma vez, mas ainda estou tão longe do meu ideal.
"Nesse caso, tente parecer um pouco irritado."
— Você com certeza é estúpida. Nunca ficarei satisfeito comigo mesmo, não importa o quão longe eu chegue. Mesmo se superasse isso, morrer quando os anos me vencessem, nunca alcançaria a satisfação.
"Mas está tudo bem. De qualquer maneira, lutei o suficiente para pensar assim..."
Para as palavras de Rudel, Sakuya flutuando no ar deu um grande suspiro. Ela coçou o cabelo loiro e tocou a mão esquerda no quadril.
"Há uma possibilidade de você voltar, mas se você já está satisfeito, então..."
— Sério!?
No momento em que ouviu falar de uma possibilidade, Rudel agarrou Sakuya no ar.
“Ei! Até um momento atrás, você estado todo: ‘Eu não estou satisfeito, mas talvez isso esteja bom’!”
— Idiota. Se eu puder viver, então é claro que vou viver. Acabei de me tornar um dragoon. Ainda não expulsei aqueles imperiais. Há uma montanha de coisas para fazer.
Enquanto Rudel a sacudia, os olhos de Sakuya giravam enquanto ela forçava seu caminho para fora do aperto do garoto e oscilava instável no ar.
"Estou apenas trazendo uma possibilidade! E, e isso vai exigir a cooperação de Aleist."
Rudel inclinou sua cabeça.
— A cooperação de Aleist?
Sakuya assentiu.
"Aquele cara tem a pedra de conversão, não tem?"
Pedra de conversão. Foi o item que Aleist recebeu enquanto realizava uma missão no Reino de Celestia1.
— Agora que você mencionou...
Ele sempre estava com o item por perto, então Rudel se lembrou.
"Se aquele idiota notar, pode dar certo. Mas a probabilidade é baixa. E não há como dizer do que ele vai ter que abrir mão. Embora, para ser honesta, ele seria um tolo se não mantivesse aquilo com ele."
Ao saber que que seria perdido, Rudel perguntou a Sakuya:
— O que Aleist vai perder?
Sakuya levou seu tempo explicando-lhe o que tinha acontecido até então. Era a verdade deste mundo, e sobre a existência de Aleist.
— Eu-eu vou salvar Rudel. Ainda posso fazer isso.
Com o corpo envolto pela armadura negra, Aleist tirou o elmo e pegou uma pedra azul de seu peito. Era a pedra de conversão.
Vendo-a, Izumi lembrou de seu propósito e virou-se para Aleist enquanto sacudia a cabeça.
— Você não pode. Se você a usar, não há como dizer o que terá que pagar em troca da vida de Rudel.
Ouvindo as palavras de Izumi, os rostos ao redor olharam para Aleist. Muitos olharam com rostos conflitantes, mas as integrantes de seu harém o agarraram.
Elas o encararam com tristeza.
— Aleist-sama.
Como representante, Seli tentou impedi-lo.
"Há mais pessoas que querem que Rudel vivam, mas há alguns que me escolheriam também. Isso é um pouco reconfortante."
A revelação de gora havia aumentado a desconfiança de todos em relação a ele, e essa sensação não era pequena. Por isso, se ele dissesse que iria trocar a sua vida, o rapaz se preocupou que aceitariam isso com alegria.
Eunius se aproximou de Aleist e agarrou seu ombro.
— Pare com isso. Acha que Rudel ficaria feliz com isso? Cale a boca e lute contra o império.
Essas palavras eram sua própria maneira de se preocupar com Aleist. Luecke pensava o mesmo.
— Você é o pior, até mesmo sugerir escolher um ou outro. Aleist, pense um pouco mais antes de falar.
Aleist mostrou um sorriso amargo.
"Escolher um ou o outro, hein? Originalmente, o protagonista deveria escolher Eunius ou Luecke, mas... bem, isso não é importante agora."
Aleist removeu a mão de Eunius e o tranquilizou explicando como isso funcionaria:
— Não se preocupem, eu tenho algo que posso dar. Não é a minha vida, e são bens emprestados, mas vai ser suficiente, eu acho.
Eunius mostrou uma cara ao ouvir essas palavras.
— Então você não pode afirmar isso de forma definitiva até o fim. Mas você deve parar enquanto ainda está ganhando essa aposta. O resultado não deixará ninguém feliz. Rudel está morto. Você está vivo. Esse é o resultado.
Correto, Rudel morreu.
"O evento foi sem dúvidas realizado. E esses caras disseram que me matariam. O que significa que o que acontecer daqui em diante não tem nada a ver com o jogo."
Aleist se aproximou de Rudel deitado e fez Izumi conceder sua vaga.
Seus olhos se encontraram com os de Millia. Os olhos da elfa estavam vermelhos e inchados.
"Ela realmente gosta de Rudel, não gosta? Mas estarei concedendo o desejo dela também."
Contudo, o que Millia disse para Aleist foi:
— Você não vai morrer, certo? E essa pedra tem tanto poder assim? Se vocês dois acabarem mortos...
Ambos acabando mortos seria o pior cenário.
"Ah, ela está preocupada comigo também. Que agradável."
Mas Aleist não tinha convicção de que poderia fazer isso.
"Não é como se nunca tivesse pensado sobre o que aconteceria se este dia chegasse. Há muito pouco que posso fazer... mesmo assim, ele é um amigo precioso."
Quando Rudel o ajudou tanto, quando Aleist achou que finalmente poderia pagar sua dívida, ele sorriu.
"Aah, mas nesse caso, posso me tornar inútil. Bem, se Rudel estiver lá, será reconfortante. E isso é melhor."
Segurando a pedra de conversão sobre o corpo de Rudel, Aleist fechou os olhos.
Uma luz azul envolveu os dois. Aleist sussurrou, fazendo com que aqueles ao redor não pudessem ouvir...
— A trapaça que recebi... devolvo minhas habilidades. Não preciso de mana inesgotável ou talento. Minha família nobre... estou bem, desde que eles estejam seguros. Não me importo se eles se esquecerem de mim. Então... por favor, traga meu amigo de volta à vida. Não preciso de mais nada.
A trapaça que ele recebeu em sua reencarnação foi mana inesgotável.
"Sinto muito, nunca consegui dominar isso."
Junto com um talento em diversas áreas, e charme.
"Apenas talento não foi o bastante. Sem o esforço para poli-lo... obrigado por tudo."
Nesse ponto, Aleist havia sido protegido por um grande número de trapaças.
— Obrigado por tudo o que você me deu. Talvez isso não possa ser chamado de pagamento. Se não for o suficiente, você pode levar a minha existência também. Meu amigo, por favor, traga Rudel de volta à vida. Estou te implorando!
Assim que ele apertou com força a pedra de conversão, Aleist pôde sentir o poder deixar seu próprio corpo.
Todos os grandes poderes que haviam o ajudado, protegido e aprimorado.
Aleist derramou uma lágrima.
— Obrigado por tudo.
Aleist ficou com a sensação de que a última gota de poder se prolongou ao seu redor. Ele ficou com a sensação de que estivessem lhe perguntando se ele ficaria bem sozinho.
— Vai ficar tudo bem. Me desculpe nunca ter dominado você. Você tem meus mais profundos agradecimentos.
O poder desapareceu. Aleist podia sentir a última gota sendo drenada para longe; ele compreendeu de forma instintiva que várias de suas habilidades tinham desaparecido.
Ele olhou para Rudel.
A ferida havia se fechado e até a armadura foi remendada, Rudel abriu os olhos.
— Rudel!
Aleist gritou, enquanto Rudel levantava seu torso da maca. A alegria se espalhou, Izumi saltou para frente para abraçar Rudel, e Aleist calorosamente observou a cena.
Mas aquele que Rudel escolheu para pular e abraçou com força foi Aleist.
— Aleist, meu parceiro!
— Eh? Espere um segundo! Do jeito que as coisas estavam indo, por que eu!?
Para a confusão de Aleist, os olhos desconfiados de Izumi e das outras mulheres se reuniram.
Nota
1 – Eventos do capítulo 143.