Dominação Ancestral Brasileira

Autor(a): Mateus Lopes Jardim

Revisão: Bczeulli


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 28: Fumin Impiedosa

— Mythro… — Irgo diz, caído no chão.

— O que você quer?

— Me desculpe…

— Desculpas? Estamos lutando por nossas vidas, não é preciso desculpas!

— Não, é preciso sim… Nascemos nesse mundo e fomos colocados um na frente do outro para lutar por nossas vidas, como se fôssemos entretenimento de alguma coisa. As vezes me pergunto se eu não poderia ter nascido no conforto de uma família em que eu não precisasse treinar todos os dias sem fim, não lutar sabendo que se um dia, eu perdesse ao menos uma vez para alguém de fora, eu morreria e minha mãe viria comigo.

— …

— Sabe, se fosse por mim, eu nem teria levantado um dedo, eu teria desistido logo de cara. Mas quer saber? Porque tinha a vida de um colega do meu lado, eu pude lutar melhor, porque a vida da mãe dele também estava em meus ombros, eu pude lutar melhor. Seus socos doem para caramba, eu não sinto mais nada. Principalmente quando você apertou meu pescoço, eu sinto que tem algo escorrendo pela garganta, só não sai porque não tem um corte.

— Você me culpa?

— Não… Eu culpo a fraqueza de meu pai e avô, de todo o abismo, por termos uma lei assim. Eu culpo os céus por não terem me dado sequer um dia de alívio, por não ter me dado sequer um dia em que minha mãe não viesse a noite no meu quarto, lamber minhas feridas e dizer que se eu não quisesse, eu não teria que lutar mais, ela morreria por mim, e segundo as leis do abismo, eu seria exilado por não querer lutar por meu clã. Mas como eu poderia fazer isso? — Irgo começa a chorar e soluçar, sua mãe ao lado de seu pai, um dos guerreiros do clã Maschô, cai de joelhos e chora junto.

Mythro escutando isso também começa a chorar, um choro quieto, onde somente o pequeno fluxo de lágrimas desce pela bochecha arranhada e com sangue.

— Eu só queria acordar de manhã e poder agradecer por estar vivo… Mas eu não posso! Eu não posso! Eu lutei com garras e dentes, então, não me culpe também! — Irgo grita, sua voz alcança todos os homens e mulheres ao redor, as crianças choram junto com ele, pois partilham da mesma dor.

Hu Ping soa o chifre e  proclama:

— Não podem haver empates, ficar no chão apenas desacelera o campeonato, um dos dois, levante e incapacite o outro!

— Eu… eu… — Irgo fala com dificuldade. — Não consigo mais levantar…

”O chute de Mits na boca do estômago dele teve um efeito bem maior, seu intestino se rompeu e foi abrindo mais e mais conforme à luta prosseguiu, este garoto já era. Levante-se, de a maior das misericórdias, a morte.”

Mythro com esforço, se levanta, seus cabelos estão sujos de sangue, suas pernas tremem. Ele começa a andar na direção de Irgo.

— Me prometa… Caso você se torne alguém importante no norte, mude o abismo. — Irgo diz tossindo sangue aos montes.

— Por que ir tão longe, garotinho? Você vai morrer, do que interessa aos mortos, quão bem estão os vivos? — Fumin diz, usando sua energia cósmica para que todos ouçam.

— O sangue do abismo… é quente… nós esquecemos disso, pois estamos desviando nossas mãos de nosso próprio sangue… e buscando infindavelmente a mão de um deus, num paraíso nortenho… que simplesmente não existe…

— Seu deus existe e ele está sim no norte, a filha dele não aceitará essas calúnias, que os Maschô morram junto com esse pirralho! — Fumin se enfurece e levantando-se de seu assento, ela pega uma bola e a joga na direção da arena de mármore, a bola segue o trajeto rapidamente e entra direto na barriga de Irgo.

O menino cospe mais sangue, olha para Mythro, um último sorriso espraia de sua boca, e então… linhas negras começam a percorrer por sua pele, em todo seu corpo.

”Veneno. Saia de perto.”

Mythro dá alguns passos para trás e vê a pele de Irgo se decompondo, tornando-se completamente negra.

— Senhora Fumin, a punição neste garoto Irgo foi merecida, mas não mate todos do clã, oferecemos a mãe e pai do garoto! — O líder dos Maschô está assustado, seu tom de desespero é alto, ele bate na cara da mãe de Irgo, fazendo-a cair e segura sua cabeça contra a lama do chão.

O pai de Irgo fica de joelhos por contra própria.

Um homem ao lado dele comenta.

— Morra pelo seu monstrinho e a boca amaldiçoada dele! É bom não levar o clã junto!

Hu Ping olha para Fumin, ela está de volta em seu assento e morde uma maçã. Ela olha para Hu Ping de novo, cospe o que mordeu fora, bem no pé dele.

— Terei que me repetir, general?

— Guardas! Guerreiros dos outros clãs, matem os Maschô, mostrem seu respeito e devoção a filha de vosso rei!

O público que se encontrava em silêncio devido a morte horrível de Irgo, começa a ficar eufórico!

— Vamos nos provar para o rei do norte!

— Vida longa à Fumin, a justa!

Os Maschô pegam suas armas e formam uma formação circular, eles recebem lanças de outros clãs e guerreiros vem aos montes, tomando suas mulheres e levando para trás das bancadas.

Os gritos das mulheres só não soam mais alto do que os das crianças, que são esquartejadas aos poucos pelos homens de outras vilas.

Somente a vila da caça que não se move em falsa retaliação, Mitri e Trinto sobem na arena de mármore e pegam o paralisado Mythro e Mits que estava inconsciente.

— Até acabei esquecendo, Mythro e Mits venceram, Irgo e Narit Maschô são desqualificados por falarem calúnias contra o rei!

Narit estava ouvindo tudo que estava acontecendo ao redor dele, devido a perda de sangue, ele já não conseguia se mover bem, ele tenta rastejar para fora da arena, mas ele vê um pé na sua frente.

Ele levanta a cabeça para ver quem é, é uma menina. Ela olha para ele e cospe em seu rosto.

— Lixo, meu pai ia me desposar para você, mas agora, eu posso pegar minha mão de volta. — A menina diz isso e pega uma adaga de sua cintura, ela põe as duas mãos e apunhala no meio da cabeça do menino, devido a falta de força, a adaga não penetra o crânio, mas com muita insistência ela continua, apunhalando… e apunhalando… e Narit continua chorando e gritando… até que para.

Mitri comanda que os curandeiros de sua vila levem Mits e Mythro para os aposentos, para que cuidem de suas feridas.

Naquele dia, as pessoas que estavam participando do campeonato do clã Maschô, se numeravam em 100. Mas na vila deles, 5 mil pessoas viviam. Esta vila foi atacada e roubada. Mortos enchiam os caminhos de terra, e mulheres com suas roupas rasgadas e seus corpos violentados foram arrastados para todos os cantos da floresta mais próxima.

Enquanto a vila da agricultura ruia, outras ficavam mais fortes às custas daquelas vidas.

Um dos maiores abissais caiu, agora só havia três.

Depois que os Maschô da competição foram mortos e tiveram seus corpos removidos pelos guardas e outro residentes da cidade do abismo, o campeonato continuou.

Naquele dia, apenas 12 crianças saíram vivas dos duelos em dupla. houve apenas um duelo único.

As mortes naquele dia não foram apenas das mães e crianças que perderam. Foi a do abismo inteiro, que caiu em decadência, em uma promessa de escravidão que foi recebida de braços abertos.

E nosso pequeno NOVA estava dormindo agora. Nele havia ervas especiais que ajudam na recuperação da carne, e amenizam a dor.

As próximas lutas aconteceriam em dois dias. E quando Mythro vencesse, seria a hora de partir.

Aquele dia passou rápido, mesmo com tamanho alvoroço. Em uma das praças do abismo, Mitri e Trinto estavam sentados cercados de guerreiros e caçadores da vila da caça. Eles comemoravam mais um dia vitorioso sem que houvessem problemas para a vila.

Fogo ardia em uma pira em que forá colocados porcos e galinhas para assar. Vinho abundante em barris, homens e mulheres, abundantes em estupidez. Comemorando o campeonato que logo chegaria ao fim, e os trabalhos que seriam servidos para eles poderem ”mudar o abismo para melhor”.

Mitri conversava com um dos caçadores quando sente uma mão puxar sua jaqueta de couro. Ele vira e encontra Mits, que tem um pano com ervas em sua cabeça.

— Filha, você está melhor?

— Mm, vim aqui porque preciso falar com o Senhor, sobre o que pretendo fazer depois que ganhar este campeonato.

Mitri fica sério. Ele pega Mits no colo e se afasta para um lugar com poucas pessoas.

 



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