Volume 1 – Parte 3
Capítulo 18
Apesar do medo, do tremeluzir das chamas e dos gritos, ela subiu as escadarias. O homem, seu marido, pessoa de pouca confiança, berrava como um animal.
— Está casa não sairá de minhas mãos! — Gritou, a cada passo sua voz ficando mais próxima e estridente. O corredor do andar superior já estava aberto diante dela, e tudo que podia fazer era imaginar a pessoa com quem seu marido conversava. — É minha, e por direito!
Mentira… Murmurou.
Observando cada pedaço do piso de madeira, ela caminhou até estar diante da porta, que separava-a de toda discussão. Olhou para a maçaneta, ponderando se deveria olhar pelo buraco da fechadura.
— Não existe discussão! Não existe possibilidade de eu…
— Espere! — Disse a outra voz. Ela pareceu continuar a dizer algo, mas nada pode ouvir; se assemelhando quase a um lamento. Já tentada ao máximo, finalmente se agachou e olhou através da fechadura.
Viu as costas de seu marido, ouvindo de perto o outro homem presente na sala. Ele, o estranho, vestia um longo manto branco e uma capa escura por cima, que tampava seu rosto com um capuz. Algo em sua forma e jeito exalava uma maldade intrínseca. Era inquietante olhar para ele e mais ainda, desastroso pensar no que eles dois discutiam. As possibilidades… as consequências… O que pode ser?
E tem algo haver com a casa… Com toda a certeza tinha haver com a casa. Diante dos dois homens, havia dezenas de papéis amontoados e baús velhos de madeira, que a mulher reconheceu de imediato. Conhecia cada centímetro de teto e chão de sua morada, incluindo os armários, guarda-roupas, mesas de centro e suas caixas.
Em seu interior, havia documentos. Textos e mais textos sobre a casa e suas histórias, que comprovam um passado mais antigo que se podia imaginar. O valor deles, para ela, era imensurável, e não compreendia o motivo de seu marido mostrar eles para aquele desconhecido.
Eles finalmente se separam e o rosto de seu marido era nítido contra a luz da lamparina; estava surpreso, aturdido, mas carregava um sorriso tímido nos cantos de sua boca.
— Fará tudo isso? — Perguntou, olhando na direção do estranho.
— Eu lhe garanto. — O estranho respondeu, sua voz exalando sua excêntrica perversidade.
…