Volume 1
Epílogo: O Eunuco e a Cortesã
— Hora de trabalhar. Vamos logo. — A velha madame empurrou Maomao para dentro de uma carruagem de aparência bastante distinta. O trabalho daquela noite, ao que parecia, seria em um banquete para algum nobre. Maomao só pôde suspirar quando chegaram a uma grande mansão no norte da capital. Ela era apenas mais uma entre várias pessoas que acompanhavam suas “irmãs” ao banquete. Todas estavam vestidas com roupas deslumbrantes e maquiadas de forma ostensiva. Ao pensar no fato de que também a tinham arrumado para se parecer com elas, Maomao sentiu-se estranhamente enjoada.
O grupo foi conduzido por um longo corredor, subiu uma escadaria em espiral e entrou em um grande salão. Lanternas pendiam do teto, e festivos cordões vermelhos balançavam por toda parte. “Alguém aqui tem dinheiro para gastar” pensou Maomao.
Cinco pessoas estavam sentadas em fila na sala. Eram mais jovens do que ela imaginara. Pairin lambeu os lábios ao ver os jovens à luz trêmula das lamparinas. Recebeu, em resposta, uma leve cutucada na lateral por Joka. Quando queria, a sensual “irmã” de Maomao sabia ser muito rápida nas suas investidas, rápida o suficiente para fazer até a madame levantar as mãos em rendição.
“Queria que ele tivesse feito essas apresentações antes” pensou Maomao. Os homens daquele banquete eram, supostamente, altos funcionários do palácio; Lihaku fora o intermediário. E, com ele envolvido, ao menos parte dos lucros deveria ir para o pagamento das dívidas de Maomao. No mínimo, ela havia recebido uma indenização substancial, mais do que esperava, e escapara de ser forçada a vender o próprio corpo. Ainda assim, a madame continuava a colocá-la em trabalhos estranhos como aquele.
“Velha bruxa. O jeito como ela cacarejou quando soube…” A velha parecia realmente querer fazer de Maomao uma cortesã. Vinha manobrando para isso havia anos. Insistia para que Maomao deixasse de perder tempo com medicina, mas isso nunca iria acontecer. O que, ela simplesmente trocaria seu interesse em farmacologia por canto e dança? Nem pensar.
Enquanto observava o salão, Maomao viu que tudo ali era extremamente requintado: cada garrafa de vinho, cada almofada para se sentar, tudo da mais alta qualidade. “Certamente eles não notariam se eu levasse uma dessas peças como lembrança”, pensou, mas logo sacudiu a cabeça. Não, não, isso não daria certo.
Convidar cortesãs para uma residência particular custava muito mais caro do que realizar um banquete no bordel, especialmente quando as cortesãs chamadas eram mulheres que poderiam cobrar o equivalente a um ano de salário em prata por uma única noite. Pedir que as três “princesas” da Casa Verdigris, Meimei, Pairin e Joka, estivessem presentes ao mesmo tempo era praticamente anunciar que dinheiro não era problema.
Maomao era apenas uma das que haviam sido levadas para dar apoio às três estrelas da noite. Aprendera a se portar bem, mas não sabia cantar, tampouco tocar erhu. E dançar? Fora de cogitação. O máximo que podia fazer era vigiar de perto as taças dos convidados e garantir que nunca ficassem vazias.
Forçou os músculos do rosto em um sorriso enquanto começava a encher a taça vazia de alguém. Sua única salvação era que todos estavam tão encantados com o canto e a dança de suas irmãs que sequer lhe lançavam um olhar. Um dos presentes até havia começado uma partida de Go com um dos membros da equipe de apoio.
Enquanto todos riam, bebiam e aproveitavam o espetáculo, ela reparou em uma pessoa que olhava para o chão. “O quê, entediado?” Maomao se perguntou. Era um jovem vestido com fina seda; mantinha uma pequena taça de vinho sobre um dos joelhos e bebia dela ocasionalmente. Um ar de melancolia o envolvia. “Vão pensar que não estou fazendo meu trabalho”, refletiu Maomao, que tinha o hábito de levar a sério qualquer tarefa que assumisse. Pegou uma garrafa cheia de bom vinho e sentou-se ao lado do jovem melancólico. Sua franja escura e elegante escondia boa parte do rosto. Por mais que tentasse, ela não conseguia ver sua expressão.
— Me deixe em paz — ele disse.
Maomao ficou intrigada: a voz lhe soava estranhamente familiar. Sua mão se moveu antes mesmo que ela pensasse; qualquer noção de propriedade ou polidez havia sumido de sua mente. Cuidando para não tocar a face do jovem, ela ergueu-lhe os cabelos.
Um rosto deslumbrante surgiu diante dela. Sua expressão reservada deu lugar, de imediato, a um espanto absoluto. — Mestre Jinshi? — Não havia agora no rosto dele o sorriso radiante, nem a voz melosa, mas, ainda assim, ela reconheceria aquele eunuco em qualquer lugar.
Jinshi piscou várias vezes seguidas, estudou-a por um instante e, então, disse com desconforto: — Quem... quem é você?
— Uma pergunta que me fazem com frequência.
— Já te disseram que você fica muito diferente com maquiagem?
— Frequentemente.
A conversa lhe trouxe uma sensação de déjà vu. Ela soltou os cabelos dele, que caíram de volta sobre o rosto. Jinshi estendeu a mão e tentou segurar-lhe o pulso. — Por que está fugindo? — Agora ele parecia carrancudo.
— Por favor, não toque no entretenimento — disse ela. Não era uma decisão dela, eram as regras. Teriam que cobrar a mais por isso.
— Mas por que diabos você está com essa aparência?
Maomao evitou encará-lo, respondendo de forma desconfortável: — É... trabalho de meio período.
— Em um bordel? Espere... Não me diga que você...
Maomao lançou-lhe um olhar fulminante. Então, ele gostava de questionar a castidade das pessoas, não era? — Não atendo clientes pessoalmente — informou ela. — Ainda.
— Ainda...
Maomao não elaborou. O que poderia dizer? Não estava fora de cogitação que a madame finalmente conseguisse impor-lhe um cliente antes que conseguisse pagar a dívida. Embora, felizmente, sob a influência do pai e das irmãs, isso não tenha acontecido até agora.
— E se eu comprasse você? — disse Jinshi com um tom arrastado.
— Hã? — Maomao estava prestes a dizer para ele não brincar com aquilo quando uma ideia lhe atravessou a mente. — Sabe... talvez não fosse tão ruim assim.
Jinshi prendeu a respiração, surpreso. Era a cara de um pombo assustado por um estilingue. Ao que parecia, a ausência do sorriso encantador dava lugar a uma grande variedade de expressões. Por mais adorável que fosse o sorriso etéreo, ele quase não parecia humano. Era o bastante para quase convencer Maomao de que ele devia ter dois espíritos “hun” dentro de um único espírito “po”: duas almas yang transitórias para um único espírito yin corpóreo.
— Não seria tão ruim trabalhar de novo no palácio interno — disse ela.
Os ombros de Jinshi cederam. Maomao o observou, perguntando-se o que poderia estar acontecendo.
— Pensei que você tivesse deixado o palácio interno porque o odiava.
— Quando foi que eu disse tal coisa? — Na verdade, Maomao tinha certeza de que praticamente implorara para continuar lá a fim de pagar a dívida, e que fora Jinshi quem a dispensou. O lugar tinha seus problemas e dificuldades, claro, mas as damas de companhia da concubina Gyokuyou eram boas mulheres. E a função de provadora de comida era algo incomum, um cargo ao qual poucas pessoas poderiam, ou gostariam de, aspirar. — Se houve algo que não gostei lá — disse Maomao —, suponho que foi não poder conduzir meus experimentos com venenos.
— Você não deveria fazer isso de qualquer forma. — Jinshi apoiou o queixo no joelho, no lugar da taça. Seu olhar de pura exasperação cedeu espontaneamente a um sorriso irônico. — Heh. Eu sei, eu sei. É quem você é.
— Receio não entender o que quer dizer.
— Já te disseram que você é uma mulher de poucas palavras? Poucas demais?
— Sim — respondeu Maomao após uma pausa. — Muitas vezes.
O sorriso de Jinshi foi se tornando, pouco a pouco, mais inocente. Desta vez, foi Maomao quem franziu o rosto, irritada. Jinshi estendeu a mão novamente.
— Eu disse: por que está fugindo?
— São as regras, senhor. — A informação não pareceu desanimar Jinshi, cuja mão continuava firme. Ele fixava o olhar em Maomao. Ela começou a ter um mau pressentimento.
— Certamente um toque não tem problema.
— Não, senhor.
— Você não vai perder nada depois disso.
— Vou perder minha energia.
— Só uma mão. Só a ponta de um dedo. Com certeza isso não faz mal.
Maomao não respondeu. Ele era insistente. Ela o conhecia; sabia que ele não desistia. Sem saída, Maomao fechou os olhos e soltou um suspiro profundo.
— Só a ponta de um dedo.
No instante em que as palavras deixaram sua boca, sentiu algo pressionar-lhe os lábios. Suas pálpebras tremeram e se abriram; viu uma mancha de batom vermelho em um dos dedos ágeis de Jinshi. Antes mesmo que percebesse o que acontecera, ele já havia puxado a mão de volta. Para sua surpresa, levou o dedo aos próprios lábios.
“Aquele danadinho…”
Quando ele afastou os dedos da boca, um ponto escarlate permanecia em seus lábios bem delineados. Seu rosto relaxou um pouco, e o sorriso ficou ainda mais inocente. Um leve rubor tingiu-lhe as faces, como se o toque do batom tivesse se espalhado pelo rosto.
Os ombros de Maomao tremiam, mas o sorriso de Jinshi parecia tão genuinamente juvenil, quase infantil, que ela não conseguiu repreendê-lo. Em vez disso, baixou os olhos para o chão.
“Droga, é contagioso”... A boca de Maomao se contraiu em uma linha firme, e suas próprias bochechas começaram a ficar coradas. Ela sabia que não havia usado blush algum. Então percebeu que podia ouvir risadas, homens soltando gargalhadas abafadas e mulheres rindo com delicadeza, e se deu conta de que todos olhavam para eles. Suas irmãs sorriam abertamente. Maomao ficou apavorada só de imaginar o que viria a seguir. De repente, queria estar em qualquer outro lugar.
Gaoshun surgiu como que do nada, com os braços cruzados, como se dissesse: “Finalmente. Mais um trabalho concluído”. Tudo aquilo foi suficiente para deixar Maomao confusa e, mais tarde, ela mal se lembrava do restante da noite. Nunca se esqueceu, porém, de como suas irmãs a atormentaram com o assunto depois.
⭘⬤⭘
Alguns dias depois, um nobre deslumbrante apareceu no Distrito dos Prazeres da capital. Trouxe consigo dinheiro suficiente para deixar até a velha madame boquiaberta e, por algum motivo, uma erva incomum cultivada a partir de um inseto. E ele queria uma jovem mulher em particular.
Fim.
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Nota da Equipe de Tradução:
Últimos capítulos do Volume 1 foram lançados! E com isso encerramos a tradução do primeiro volume da MAIOR LIGHT NOVEL da atualidade no Japão. Foram mais de um milhão de cópias vendidas em 2025, 5 vezes mais o número de vendas que o segundo lugar, Classroom of the Elite. Um feito enorme para uma obra que é merecedora de todas as conquistas passadas, recentes e futuras.
A história de Maomao é incrível e estou muito contente de ajudar a trazer ela aqui para todos vocês. Na semana seguinte, iniciaremos o segundo volume da obra. Esse será o último volume que já foi adaptado pela animação, e espero terminar ele o quanto antes, para que antes do início da terceira temporada em 2026, vocês já tenham lido o Volume 3 e até mais do que isso aqui conosco!
Espero ver todos os leitores empolgados, pois nossa equipe certamente está. Vamos desbravar mais dessa história fantástica juntos!
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