Volume 1
Capítulo 22: Retorno ao Lar
O Distrito da Luz Vermelha para o qual Maomao estava tão ansiosa para voltar não ficava, na verdade, tão distante assim. O palácio interno tinha o tamanho de uma pequena cidade, mas situava-se dentro da capital do império. O Distrito da Luz Vermelha ficava no lado oposto da metrópole em relação ao complexo palaciano, mas, se alguém conseguisse atravessar as altas muralhas e os profundos fossos da residência imperial, a distância poderia ser percorrida a pé.
Nem precisávamos ter o trabalho de conseguir uma carruagem, pensou Maomao. Ao seu lado, o corpulento Lihaku assobiava uma melodia, segurando as rédeas do cavalo. Seu bom humor devia-se ao fato de ter finalmente percebido que a história de Maomao era verdadeira. A perspectiva de encontrar as cortesãs mais famosas do país colocaria qualquer homem de excelente humor.
Vale dizer que as cortesãs não deviam ser simplesmente colocadas no mesmo patamar que prostitutas comuns. Algumas vendiam seus corpos, sim, mas outras comercializavam apenas seus talentos e refinamento. Não atendiam clientes em número suficiente para serem “populares” no sentido vulgar do termo — e isso contribuía para aumentar seu valor percebido. Compartilhar até mesmo uma xícara de chá com uma delas poderia custar uma soma considerável de prata — quanto mais uma noite inteira! Essas mulheres reverenciadas tornavam-se, de certo modo, ídolos, objetos de admiração do povo. Algumas jovens da cidade, seduzidas pela ideia de se tornarem uma dessas encantadoras figuras, chegavam a bater às portas do distrito, embora apenas uma pequena e raríssima parcela realmente alcançasse tal status exaltado.
A Casa Verdigris estava entre os mais veneráveis estabelecimentos do Distrito dos Prazeres da capital; mesmo a menos notável de suas damas era uma cortesã de nível intermediário. As mais célebres figuravam entre as mulheres mais famosas de todo o distrito. E algumas dessas eram, para Maomao, quase como irmãs.
Cenários familiares começaram a surgir à medida que a carruagem prosseguia com o som das rodas sobre o calçamento. Havia uma barraca de rua vendendo espetinhos de carne — os mesmos que ela ansiava por comer — e o aroma chegou até ela enquanto passavam. Galhos de salgueiros pendiam sobre um canal, e, ao longe, ouvia-se a voz de um vendedor de lenha. Crianças corriam carregando cata-ventos.
Passaram sob um portão ornamentado e, logo depois, um mundo pintado em uma explosão de cores se abriu diante deles. Ainda era meio-dia, e poucas pessoas estavam na rua; algumas cortesãs ociosas acenavam das sacadas do segundo andar de seus estabelecimentos.
Por fim, a carruagem parou diante de um prédio cuja entrada era visivelmente mais ampla que a de muitos outros. Maomao saltou rapidamente e correu até uma senhora magra que fumava um cachimbo na porta.
— Ora, vovó. Faz tempo que não nos vemos.
Há muito tempo, aquela mulher fora conhecida como a dama que possuía “lágrimas de pérola”, mas agora suas lágrimas haviam secado, como folhas murchas. Recusou ofertas para ser comprada e libertada, preferindo permanecer onde estava, ano após ano, até tornar-se uma veterana temida por todos. O tempo, de fato, era cruel.
— Faz tempo mesmo, sua pirralha ignorante. — Um choque percorreu o plexo solar de Maomao. Ela sentiu a bile subir à garganta, o gosto amargo se espalhando pela boca. Estranhamente, registrou aquela sensação apenas como algo familiar, quase nostálgico. Quantas vezes, no passado, não foi induzida desse jeito a vomitar os venenos que ingeriu em excesso?
Lihaku não fazia ideia do que estava acontecendo, mas, sendo um homem essencialmente bondoso, passou a mão de leve nas costas dela. “Quem diabos é essa mulher?” perguntava sua expressão. Maomao esfregou a ponta do pé na poeira, cobrindo discretamente o chão úmido. Lihaku a observava, preocupado.
— Então este é o seu tal “cliente”, hein? — a madame lançou a Lihaku um olhar avaliador. Enquanto isso, a carruagem era entregue aos criados da casa. — Corpo forte, traços viris... Pelo que ouvi, está em ascensão.
— Vovó, acho que a senhora normalmente não fala isso bem na frente da pessoa em questão.
A velha fingiu não ouvir e chamou pela aprendiz — uma cortesã em treinamento que varria diante do portão:
— Vá chamar a Pairin. Aposto que está à toa em algum canto hoje.
— Pairin... — Lihaku engoliu em seco. Pairin era uma daquelas cortesãs famosas; dizia-se que sua especialidade era a dança requintada. Para preservar a reputação de Lihaku, é justo acrescentar que o que ele sentia não era mero desejo por uma companhia feminina, mas sincera admiração por uma mulher dotada de talentos genuínos. Conhecer essa musa que parecia viver acima das nuvens, mesmo que apenas para tomar um chá, era uma grande honra.
Pairin? Quer dizer... talvez... Pairin podia fazer um trabalho primoroso para aqueles que lhe agradavam.
— Mestre Lihaku — Maomao disse, dando uma cutucada no homem grande e de olhar vazio ao seu lado — quão confiante está com seus bíceps?
— Não sei bem o que quer dizer, mas gosto de pensar que treinei meu corpo tão bem quanto qualquer homem.
— É mesmo? Boa sorte, então.
Lihaku deu a ela um último olhar curioso enquanto a jovem aprendiz o conduzia. Quanto a Maomao, estava grata a Lihaku por tê-la trazido até ali e queria oferecer-lhe algo que expressasse adequadamente sua gratidão. E um sonho de uma noite poderia virar memória para toda a vida.
— Agora, Maomao. — A dona daquela voz rouca esboçou um sorriso terrível. — Nem uma palavra em dez malditos meses?
— O que eu podia fazer? Estava servindo no palácio interno. — Ao menos, ela enviara uma tira de madeira explicando a situação geral.
— Você me deve muito. Sabe que eu nunca aceitei clientes de primeira viagem.
— Acredite, eu sei. — Maomao tirou um saquinho da bolsa.
Estava ali metade do que ela ganhara até então no palácio interno — ela tinha pedido um adiantamento do salário.
— Hm. — A mulher fungou, espiando dentro do saquinho. — Não é nem de longe suficiente.
— Admito que não esperava que você realmente fosse trazer a Pairin.
Ela achava que o dinheiro cobriria uma noite com uma cortesã de alto escalão. Além do mais, alguém como Lihaku provavelmente ficaria satisfeito só de ver as Três Princesas de relance.
— Pelo menos finja que isso cobre uma xícara de chá. Por favor, por mim?
— Idiota. Um palhaço musculoso como aquele? A Pairin vai morder a isca, e você sabe disso.
Sim, eu já podia imaginar. As cortesãs mais respeitadas não vendiam seus corpos, mas isso não impedia que se apaixonassem. É assim que as coisas são.
— Digamos que isso não está ao meu alcance...
— Nunca! Vai para sua conta.
— Não tenho como pagar tudo isso! — Nem todo o resto do meu salário cobriria a diferença. Impossível...
Maomao ficou pensativa. A mulher claramente estava tirando sarro dela. Mas isso não era nenhuma novidade.
— Pff, na pior das hipóteses, você pode pagar sua dívida com o seu corpo. Sei que Sua Majestade é seu único cliente naquele palácio grande e luxuoso, mas a ideia é a mesma. E não se preocupe com essas cicatrizes todas. Tem uns tipos que gostam justamente disso.
Por tantos anos, a madame insistira para que Maomao virasse cortesã. Tendo passado a vida toda no Distrito da Luz Vermelha, a mulher não via a vida de cortesã como algo triste.
— Ainda tenho um ano de contrato.
— Então passe esse tempo arrumando mais clientes para mim. Não esses velhos enjoados. Jovens como seu amigo de hoje, daqueles que a gente consegue tirar algo.
Ah, tá. Então ela acha que há lucro a ser obtido.
O único interesse daquela velha era saber onde estava o dinheiro. Maomao não tinha intenção alguma de se vender, então teria que começar a mandar um fluxo constante de “sacrifícios” para madame. Qualquer um que parecesse viável.
Será que eu conseguiria despachar uns eunucos... A imagem do Jinshi passou pela cabeça dela, mas Maomao descartou a ideia. As cortesãs podiam se apaixonar por ele de verdade e acabar levando o bordel inteiro à falência. Isso não seria legal. Mas, por outro lado, ela se sentiria mal em mandar o Gaoshun ou o médico charlatão. Não queria ser a causa de eles saírem esgotados pelas mãos daquela velha. Agora Maomao realmente lamentava que havia tão poucas maneiras boas de conhecer homens no palácio interno.
— Maomao, seu velho pai deve estar em casa. Corra, vá vê-lo.
— É, obrigada.
Por mais que pensasse, ela não conseguiria resolver o problema ali agora. Maomao entrou por um beco lateral ao lado da Casa Verdigris.
Apenas uma rua adiante, o Distrito da Luz Vermelha tornava-se um lugar bem mais solitário. Barracos caindo aos pedaços que serviam como lojas ou moradias, mendigos à espera de que alguém atirasse umas moedas nas xícaras lascadas que seguravam, e andarilhas noturnas com cicatrizes visíveis de sífilis.
Uma dessas construções precárias era o lar de Maomao. Tratava-se de uma casa apertada, com chão de terra batida. Lá dentro, uma figura estava ajoelhada sobre uma esteira de palha, inclinada sobre um pilão, trabalhando nele com afinco. Era um homem de rosto profundamente enrugado e expressão gentil; havia nele quase um ar de avó.
— Oi, pai. Voltei.
— Ah, você demorou — disse o pai, cumprimentando-a como sempre fazia, como se nada tivesse acontecido. Em seguida, dirigiu-se para preparar um chá, com o andar vacilante. Serviu-o em uma xícara surrada, que Maomao recebeu com gratidão. Ainda que feito de folhas já gastas, o chá estava quente e a relaxou.
Maomao começou a contar tudo o que lhe havia acontecido, um episódio após o outro, e seu pai escutou com apenas um ocasional “hm” ou “hã”. No jantar, comeram mingau engrossado com ervas e batatas, e então Maomao foi direto para a cama. O banho poderia esperar até o dia seguinte, decidiu, quando poderia pegar emprestado um pouco de água quente da Casa Verdigris.
Ela se enroscou sobre sua cama simples, um tatame estendido no chão de terra batida. O pai cobriu-a com um quimono e depois atiçou o fogo do fogão para garantir que não se apagasse.
— O palácio interno... — murmurou o pai — Isso é carma, suponho. Mas as palavras não chegaram a Maomao; ela já estava dormindo.
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