Diários de uma Apotecária Japonesa

Tradução: Sakuta404

Revisão: Mon


Vol 1

Capítulo 9 - "Cacau"

"Bom, ao menos agora compreendo sua excelente eficácia", disse Jinshi, lançando um olhar irritado para Maomao.

 

"Sabe que eu também pensei a mesma coisa?", respondeu Maomao.

 

Jinshi parecia quase devastado pela cena catastrófica à sua frente.

 

"Urgh", disse ele, sem nenhum traço de seu sorriso habitual e indiferente. Somente o cansaço estampava seu rosto. "Como isso aconteceu?"

 

Para responder a essa pergunta, precisamos voltar algumas horas no tempo.

 

O cacau que haviam recebido já não estava mais em forma de sementes, mas sim moído em pó. Todos os outros ingredientes que Maomao havia solicitado já tinham chegado à cozinha do Pavilhão de Jade. Três das damas de companhia estavam ocupadas tentando espiar, mas uma palavra de Hongniang foi suficiente para mandá-las de volta ao trabalho.

 

Leite, manteiga, açúcar, mel, bebidas destiladas e frutas secas, além de alguns óleos derivados de ervas aromáticas para dar um cheiro agradável à mistura. Todos ingredientes nutritivos — e caros — úteis para um tônico de resistência.

 

Maomao havia provado cacau apenas uma vez. Fora numa forma endurecida e adoçada chamada chocolate, que recebera de uma das prostitutas. Era um pedacinho tão pequeno quanto o tamanho da ponta do dedo, mas ao comê-lo, sentiu como se tivesse bebido uma taça inteira de algum licor forte. Deixou-a estranhamente eufórica.

 

O chocolate, explicara a mulher, fora um presente de um cliente especialmente repulsivo, que esperava comprar a afeição de uma moça recém-vendida à prostituição oferecendo-lhe um agrado raro. No entanto, ao perceber o estado alterado de Maomao, a garota ficou furiosa, e a dona do bordel proibiu o cliente de voltar. Mais tarde, descobriu-se que uma companhia de comércio começara a vender o produto como afrodisíaco.

 

N/T:Um afrodisíaco é qualquer substância, como alimentos ou ervas, que se acredita aumentar o desejo sexual, melhorar a experiência sexual ou intensificar o prazer. O termo vem do grego antigo "aphrodisiakós", relacionado à deusa Afrodite, divindade do amor. 

 

 Desde então, Maomao havia conseguido algumas sementes, mas nunca as utilizara como medicamento. Ninguém no distrito da luz vermelha procurava a apotecária em busca de algo tão extravagante para um simples remédio.

 

Mesmo agora, Maomao se lembrava da consistência do chocolate endurecido com óleo e gordura. Sua vasta experiência com uma variedade eclética de medicamentos e venenos, em todos os seus sabores e aromas, também lhe proporcionava uma excelente memória para ingredientes.

 

Ainda era estação quente, e ela suspeitava que a manteiga não assentaria bem, então decidiu cobrir algumas frutas em vez disso. Um pouco de gelo seria perfeito, mas, obviamente, estava fora de questão e não constava na lista de ingredientes. Assim, ela pediu que preparassem um grande jarro de barro sem esmalte, preenchido até a metade com água. À medida que a água evaporasse, o interior do jarro se tornaria mais frio do que o ar ao redor, frio o suficiente para ajudar a endurecer as gorduras.

 

Maomao mergulhou uma colher na mistura e provou um pouco. Era amarga e doce ao mesmo tempo, e sua língua experiente também detectou elementos que melhoravam o humor. Ela era muito mais resistente a coisas como álcool e toxinas agora do que fora naquela primeira vez que provou chocolate, e a mistura já não a afetava tanto. Mas ainda podia perceber que era algo potente.

 

Talvez eu devesse diminuir um pouco as porções.

 

Cortou as frutas ao meio com um cutelo simples, depois as mergulhou no líquido amarronzado. Colocou-as num prato e as pôs dentro do jarro. Colocou uma tampa sobre o jarro e o cobriu com uma esteira de palha para escondê-lo. Agora era só esperar o chocolate endurecer. Jinshi viria buscá-lo naquela noite; então havia tempo o suficiente.

 

Parece que sobrou um pouco...

 

Ela não usou todo o líquido amarronzado. Os ingredientes eram extremamente caros e bastante nutritivos. Afrodisíaco ou não, em Maomao ele tinha um efeito mínimo, então ela decidiu comer o restante mais tarde. Cortou alguns pedaços de pão em cubos e os embebeu na mistura; assim, também não precisaria se preocupar com o processo de resfriamento.

 

Colocou uma tampa no pote com o líquido de cacau e o deixou na prateleira. O restante dos ingredientes foi para seu próprio quarto, e então ela seguiu para a área de lavagem para limpar os utensílios. Deveria ter levado os pedaços de pão embebidos para o quarto também, mas sua mente já estava em outras coisas. Talvez sua pequena prova de sabor tenha a deixado um pouco embriagada.

 

Bom, agora já era tarde demais; pensou Maomao.

 

Isso aconteceu logo depois disso, enquanto Maomao estava fora, fazendo alguns recados para Hongniang, e aproveitou para colher algumas ervas medicinais para si. O pão, e o fato de que deveria tê-lo deixado na prateleira, havia sumido completamente da sua mente. Voltou para casa com um cesto de roupas cheio de ervas, bastante satisfeita consigo mesma, apenas para ser recebida por Hongniang e Consorte Gyokuyou — a primeira pálida como a morte, e a segunda visivelmente perturbada. Gaoshun também estava presente, o que indicava que Jinshi não devia estar longe.

 

Hongniang apenas levou uma mão à testa e apontou para a cozinha, então Maomao empurrou o cesto de ervas nos braços de Gaoshun e foi até lá.

 

Lá encontrou Jinshi, com uma expressão irritada. De maneira delicada, poderíamos dizer que havia um grande espetáculo de tons pêssego e vermelho claro diante dela. Em outras palavras: três damas de companhia estavam desmaiadas umas sobre as outras, dormindo profundamente. Suas roupas estavam em desalinho, e as saias desarrumadas revelavam vislumbres indecentes de suas coxas.

 

"O que aconteceu aqui?", exigiu Hongniang, dirigindo-se a Maomao.

 

"Receio que não sou a mais indicada para responder a essa pergunta", disse ela. Aproximou-se das três jovens e se agachou, puxando as saias para baixo e examinando-as. "Está tudo bem. Essa tentativa não conseguiu—"

 

Hongniang, vermelha como um tomate, deu um tapa na parte de trás da cabeça de Maomao.

 

Sobre a mesa estava o pão amarronzado. Três pedaços haviam sumido. As garotas o tinham confundido com um lanche da tarde.

 

O cansaço bateu depois que colocaram cada uma das moças em seus respectivos quartos. Na sala de estar, Gyokuyou e Jinshi observavam o pão de chocolate com certo fascínio.

 

"Este é o seu afrodisíaco?", perguntou Gyokuyou.

 

"Não, senhora, é este aqui." Maomao lhe entregou as frutas cobertas com chocolate. Aproximadamente trinta unidades, cada uma do tamanho de uma unha.

 

"E o que seria isso então?", perguntou Jinshi.

 

"Era para ser meu lanchinho antes de dormir." Todos recuaram ligeiramente com essa resposta. Será que ela disse algo errado? Gaoshun e Hongniang pareciam não acreditar no que estavam ouvindo. "Sou muito acostumada com bebidas alcoólicas e estimulantes, então não me afetam tanto."

 

Maomao já havia, em nome da ciência, curtido uma cobra venenosa no álcool e bebido depois — podia-se dizer com segurança que ela era uma bebedora experiente. Considerava o álcool uma espécie de medicamento. Quanto mais sensível alguém fosse a novos estímulos, mais eficazes os remédios se tornavam. Pegue esse pão, por exemplo: ali no Pavilhão de Jade, passava por afrodisíaco, mas ela imaginava que, no país de origem dos ingredientes, seu efeito fosse bem mais fraco.

 

[Mon: Beber veneno de cobra, clássico!]

 

Jinshi pegou um dos pedaços de pão e o examinou com dúvida. "Será que posso provar um pedacinho, então?", disse.

 

"Não, senhor, por favor, não!", exclamaram Hongniang e Gaoshun quase ao mesmo tempo. Maomao achou que era a primeira vez que ouvia Gaoshun falar.

 

Jinshi devolveu o pedaço de pão, dizendo que era apenas uma brincadeira. De fato, seria impróprio consumir um afrodisíaco diante da consorte favorita do imperador — mas, além disso, quase ninguém seria capaz de resistir a ele se aparecesse com aquele sorriso angelical e o rosto corado. Seu rosto, pelo menos, era algo que lhe rendia muito crédito, refletiu Maomao.

 

"Talvez eu devesse me preparar um pouco para Sua Majestade", disse Gyokuyo. "Talvez o impeça de sair por aí como costuma."

 

"Provavelmente funcionaria três vezes melhor que um tônico de resistência comum", informou Maomao.

 

Diante disso, a expressão de Gyokuyou ficou difícil de interpretar. "Três vezes..." Murmurou algo sobre se conseguiria aguentar tanto tempo, mas os presentes fingiram não ter ouvido. Ser concubina, aparentemente, não era fácil.

 

Maomao colocou os afrodisíacos em um pote coberto e o entregou a Jinshi.

 

"São bem potentes, então recomendo tomar apenas um de cada vez. Excesso pode superestimular o fluxo sanguíneo e causar sangramento nasal. E devem ser consumidos apenas quando o paciente estiver a sós com seu parceiro."

 

Com essas instruções devidamente passadas, Jinshi se levantou. Gaoshun e Hongniang saíram da sala para preparar sua partida. A Consorte Gyokuyou também acenou para ele, depois saiu com a princesa adormecida em uma cadeira de transporte.

 

Quando Maomao foi limpar o prato de pão, sentiu um aroma doce vindo de trás de si.

 

"Muito obrigado. Te dei bastante trabalho." A voz era doce também, como mel. Maomao sentiu seu cabelo ser levantado, e algo frio foi pressionado contra seu pescoço. Virou-se a tempo de ver Jinshi acenando para ela ao deixar a sala.

 

"Entendi." Ao olhar para o prato, notou que um dos pedaços de pão havia sumido. Já tinha uma ideia de onde ele estava. "Só espero que ninguém se machuque", murmurou Maomao, embora não parecesse considerar aquilo responsabilidade sua.

A noite ainda estava clara como o dia e as coisas só pioravam…

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