Volume 1
Capítulo 1: A Garoa Começa a Cair
Tudo começou em uma pequena vila bem ao norte de Morgenstar, um lugarzinho simpático e pacato até em seu nome: Remanso do Orvalho. Não havia muito o que se fazer por lá, então, longos cochilos, caçar passarinhos no bosque e ser perseguido loucamente pelo dono do pomar de pomarolas azuis eram o quê uma criança tinha para fazer quando entediada. Caso você esteja se perguntando o que são pomarolas azuis, devo lhe informar que são frutinhas com o péssimo hábito de fugir quando você tenta saboreá-las, mas nada que uma boa rede não possa resolver.
Foi nesse lugar tedioso onde passei a maior parte da vida. Corria pelas ruas empoeiradas e subia em telhados alheios. Sempre buscando algo para me entreter, um novo lugar para me esconder ou um novo jogo para inventar, até que aquele fatídico dia chegou.
Decidi escalar uma árvore para ter uma vista melhor do pôr do Sol. E senhores, que vista! Aquilo era de encher os olhos e secar a boca. O Sol repousando atrás das montanhas cinzentas, criando uma linda tela vermelha. Das montanhas, escorria calmamente o rio Koi, que queria competir com o céu para ver quem era mais bonito, já que suas águas eram como ouro puro escorrendo. O ouro brilhava livremente com as poucas estrelas que se refletiam nas águas. Tudo isso durou pouco, já que alguns segundos depois, ouvi um alto e sonoro “Crack”. Depois daquilo, só me lembro do chão chegando cada vez mais perto.
Quando acordei, estava preso em casa com um braço imobilizado, uma mãe me jogando colheres de pau sempre que tentava sair e por fim, uma montanha de músculos chamada Natã constantemente me dando trabalho para fazer, mas nem tudo era tão ruim. Um garoto faz qualquer coisa para matar o tédio, até mesmo tirar um monte de livros velhos e chatos da estante.
Quem diria que aquele braço engessado iria me levar a descobrir um lugar longe dos pomares? Um mundinho só meu, rodeado por fadas e cavaleiros, vilões e dragões capturando princesas por aí. Lembro-me até hoje das histórias que estavam naqueles livros que hoje me parecem tão finos.
Depois que meu braço melhorou e eu consegui fugir dos olhos atentos de meus pais, comecei a me enfiar na biblioteca do velho Gomes, um senhorzinho que gostava de colecionar velharias. Gomes também tinha o péssimo hábito de correr atrás de mim com uma espada enferrujada quando me pegava roubando alguma fruta do seu pomar.
Acabei tomando aquele lugar como segunda casa. Aparecia quase todo dia para ler alguma aventura nova ou descobrir um novo aventureiro que por infortúnio do destino, acabou entrando em algum buraco escuro para matar qualquer bicho esquisito que morasse lá.
Quando me dei conta, já estava contando as mesmas histórias para os bêbados na taverna e para as crianças do vilarejo, tentando tirar um sorriso de cada um deles.
E assim passaram os anos em Remanso do Orvalho, até meu décimo sexto aniversário…