Destino Elementar Brasileira

Autor(a): Rose Kethen


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 5: Língua Bestial

Quê?! Torre Amestya? Torre Rubyan? Feir de Nix? Que porra é esse aviso? Há outras torres por aqui? Hum… Se houvesse acho que poderia ver, né?

Sério, estou muito desapontado com o resultado. Porém, não há nada o que posso fazer.

É hora de voltarmos para nossa toca.

Sacudi Jhon, que estava babado de barriga para cima – talvez esteja sonhando em comer alguns coelhos. Ele acordou e se espreguiçou.

É madrugada e o caminho, além de estar coberto por um breu, ainda tem a neve e escuridão para atrapalhar nossa volta para a toca. Pode até ser madrugada, mas como estamos próximos da torre, boa parte do caminho ainda é iluminada pelo seu brilho roxo.

E assim viajamos na noite por esse ambiente.

O problema real são algumas aves noturnas que nunca vi nada parecido, mesmo na vida passada. Temos que voltar de qualquer jeito. A mãe já deve estar na toca e, possivelmente, brava conosco ou nos procurando.

Fiz um sinal com a cabeça para o Jhon. Ele entendeu de cara. Era hora de correr com tudo o que temos.

Vamos lá.

 

 

Chegando na nossa toca, cheios de feridas, machucados e com o nosso pelo molhado, porque toda vez que ativamos o manto ficamos cobertos de vapor e água da neve derretida. E sim, o Jhon já consegue usar o Manto Amba.

Ele conseguiu quando tivemos uma dura batalha com uma tal de Nantis, no caso, uma Nantis filhote. É aquela ave noturna que falei que nunca vi.

Essa Nantis tinha por volta de 2 metros de envergadura, sem bico algum, mas sim uma “boca humana” em seu rosto plumado. Essa boca era apenas semelhante a de um ser humano quando fechada, mas quando essa porra abria a boca, era como um tubarão! Coberto por fileiras de dentes pontudos.

Sim, era assustador.

Ela nos perseguiu sem parar e sempre visava atacar o Jhon, que para ela parecia ser o mais fraco, já que ficava atrás.

Toda vez que ela o atingia e tirava um pedaço da sua carne, ele ficava muito puto. Claro, até eu ficaria puto se arrancassem um pedaço de mim. Porém, essa investida era tão rápida que quando já arrancava a carne, a Nantis já estava voltando para o céu, se preparando para outro “bote”.

E eu não podia atacá-la, já que o Jhon não me permitiu isso. Quando ela estava descendo para atacá-lo outra vez, eu me preparei para atacá-la, porém o Jhon me direcionou um rosto feroz. Obvio que entendi o que queria dizer.

Se tentar tocar na minha presa, você vai se arrepender!

Com isso entendido, esperei para ver o que ele faria. Seu pelo estava coberto de sangue e não parava de escorrer. Essa era a hora que a Nantis daria seu ultimo ataque, visando acabar com a vida dele e tomar o corpo como alimento.

O cheiro de sangue é perigoso além do território da mãe, aqui é uma área sem dono, logo, se tem cheiro de sangue no ar, significa alimento fácil. Então, a Nantis teria que pegar o corpo de Jhon logo.

Jhon sentiu o perigo se aproximando. Com os olhos cheios de ira, seu pelo tremulou e levantou em conjunto com um fogo negro. Sim, era o uso do Manto Amba negro.

Quando as chamas tocaram de leve as penas da Nantis foi uma visão terrível. No meio da sua investida, caiu como se tivesse petrificado. Era como um veneno mortal, com um único toque já tinha invadido todo o sistema nervoso da ave.

Suas penas apodreceram, virando apenas cinzas e caindo. Cada pena que caía formava pequenos buracos que vazavam sangue. Seu corpo ficava cada vez mais negro. Era como se o corpo da Nantis estivesse gangrenando rapidamente.

Ela crocitou lamentavelmente. Cada célula do seu corpo estava morrendo numa velocidade assustadora. Era perceptível que cada órgão estava falhando.

Um manto tão nocivo… Só de ver a Nantis apodrecendo e quebrando como carvão em alguns segundo e, em seguida, dissolvendo em um liquido verde que corroeu a neve, já deu para ter ideia que arma feroz meu irmão tem.

Jhon vendo essa cena era como uma criança ganhando o tão esperado brinquedo de aniversário. Uma felicidade indescritível. Quando a Nantis morreu, ele começou a pular em volta como se quisesse brincar mais.

Certo. Voltando para o assunto da toca.

Estamos na toca, e somente nossa mãe estava lá, com um olhar pesado para nós dois. Era como uma bronca vindo. Ainda lembro no quarto mês, aquele rosto horripilante dela para os Coelhos Ankis… Espero que ela não faça isso para nós, de verdade.

Jhon abaixou a cabeça triste, e eu imitei o mesmo. Então, a mãe soltou uma respiração pesada, mas lenta, e nos lambeu. Isso significava que podíamos levantar a cabeça.

Levantando os olhos, encarei a Gema de Energia da nossa mãe. Ela estava brilhando muito. Ou, ou! Calma aí, mãe! Você não vai usar alguma Habilidade em nós, né?!

Ao pensar nisso, meus pelos levantaram na mesma hora. Por sorte, não sentia ameaça vindo dela. Então, sua enorme pata levantou e uma de suas garras saiu para fora. Essa garra veio direto para mim, mais exatamente na minha cabeça. Eu quis desviar, mas antes de sequer pensar nisso a unha já havia chegado na minha testa.

Foi um choque. A garra parou em contato com a minha pele. Minha mãe tem um controle de movimento absurdo, porque a unha não entrou na minha pele, ela, literalmente, encostou na minha pele.

Então, uma luz passou pela sua garra e veio para minha cabeça.

E, em seguida, um aviso apareceu na minha mente.

 

 

 

– Terras Gélidas, Continente Enir. –

 

Apesar de Sha’l ser poderoso, os Elfos Prateados que o acompanhavam eram, em sua maioria, inexperientes. Encarar três Bestas Mágicas, que ao nascer eram classificados como (C+), era demais para eles.

E para piorar, os três Tigres Amba se complementavam.

O Tigre Amba azul era o mais raro, quase alcançando os 10 metros de altura. Ele era o mais especial por conta de apenas um motivo; seu Elemento.

Uma Besta Mágica de Segunda Divisão Elementar era considerada como um verdadeiro perigo para equipes de expedição. Não apenas porque era poderosa, mas sim porque se o Elemento correspondente fosse muito presente no ambiente, então, seria quase impossível vencê-la.

Por este Tigre Amba ter o pelo azul, só significava uma coisa. Ele era do Elemento Gelo. E não apenas isso, este território era as Terras Gélidas. O poder que poderia mostrar era inimaginável.

O azul sozinho poderia acabar com os Elfos Prateados ali mesmo, porém, ele tinha dado a chance para recuarem. No entanto, Sha’l insistiu em enfrentá-los.

O Tigre Amba branco ficou atrás. Ele curaria seus parceiros. Já o Tigre Amba negro avançou.

Feitiços vinham em sua direção, lançados pelos Feiticeiros e Elementais de todos tipos de Elementos. O negro avançou sem medo sobre esses poderes, porque ele sabia que nada o afetaria.

O azul levantou barragens e paredes de gelo maciço, que bloquearam todos os Feitiços lançados. Para evitar mais ataques dos Elementais, que eram seres de Mana Elementar pura, o Tigre Amba azul lançou lanças de gelo para todos.

O perigo de uma Besta Mágica de Segunda Divisão Elementar era mostrado com clareza nesta batalha.

Embora parecesse que o pesadelo dos Elfos Prateados fosse o azul, na verdade, era o negro. Elfos Prateados eram temerosos ao Elemento Escuridão, e a chama que é irradiada pelo manto negro era puramente Escuridão. Para os Elfos Prateados, esse tigre deveria morrer o mais rápido possível.

Sha’l não era um Feiticeiro ou Convocador, mas sim um Lanceiro. Agarrando sua Lança da Mãe Natureza, uma lança cuja a lâmina era formada por dois minérios e o cabo formado por uma raiz antiga de uma Árvore Sagrada para os Elfos Prateados.

Ao ver esta lança, o Tigre Amba negro recuou. Apesar de suas chamas serem capazes de matar os Elfos Prateados facilmente, a lança que estava nas mãos de Sha’l traziam um medo profundo. Esse medo não era sem razão, a ponta dessa lança era uma Pedra da Vida.

O Elemento Vida fazia parte da Segunda Divisão Elementar, junto com Gelo, Trovão, Metal e Vazio. Este Elemento em especifico era o pesadelo de qualquer criatura do Elemento Escuridão ou Vazio.

Com o menor toque da ponta dessa lança, para o Tigre Amba negro seria como o pior veneno entrando em seu corpo. Sentiria uma dor absurda a qual poderia incapacitar todos seus movimentos.

O Tigre Amba negro evitou lutar de frente com Sha’l e começou a massacrar os Guerreiros inexperientes . Toda vez que Sha’l tentava acertá-lo, uma lança de gelo seria enviada em sua direção

Era uma batalha complicada para ambos lados.

Sha’l rangeu os dentes e, em seguida, gritou: “Antigos Guerreiros! Atrasem o azul! Novatos, recuando agora!”

Ele sabia que não poderia proteger todos, já que esses Tigres Amba eram mais do que perigosos. Quando notou o comportamento inteligente e a sincronia para atacar e evitar Feitiços, Sha’l tomou a decisão de um líder, priorizar a vida de todos membros do seu grupo.

Quando Sha’l enfrentou os Tigres Amba há três anos, não foram muitos, mas os que atacaram sua Aldeia eram dois grupos com cinco, de diversas cores, porém, não agiam em conjunto, era o completo oposto desses três que enfrentou. Eram apenas máquinas independentes feitas para atacar.

Esses três Tigres Amba de hoje eram uma verdadeira equipe.

Sha’l entendeu que, de fato, algo estranho tinha acontecido. Na última invasão da sua Aldeia, que ocorreu há 3 anos, onde sua mulher e pai morreram, as Bestas Mágicas, por mais perigosas que fossem, ainda estavam em um nível que ele era capaz de enfrentar. Contudo, nesse curto espaço de tempo, elas se tornaram ainda mais perigosas, e pior do que isso, mais espertas.

Sua única opção era recuar. Ele sabia que os Tigres Amba não perseguem seres que saem do seu território. Até mesmo o Tigre Amba negro foi parado pelo azul, impedindo-o de perseguir os Elfos Prateados.

Os Tigres Amba sabiam que mesmo se ousassem vir novamente, seria mais outra perda.

Nesse embate, a equipe de exploração perdeu muitos jovens Elfos Prateados para o Tigre Amba negro, se o combate tivesse continuado, pelo menos mais da metade da equipe teria perecido. Sha’l havia tomado uma decisão onde priorizava a vida dos membros acima de tudo.

Notando todas as coisas estranhas, Sha’l ordenou um Antigo Guerreiro e dois jovens retornarem para a Aldeia avisar Rakar. Algo muito mais perigoso que uma Horda de Classificação (B+) estava para chegar.

 

 

Quando estava tentando entender o que aconteceu, uma voz, que não era minha, soou aos meus ouvidos.

“Filho, mãe, dar voz e ouvidos.”

Quando escutei isso, dei um salto para trás. Que susto!

Mãe…? MÃE! Que voz linda!!!!!

Quem mais seria além dela, não é? Afinal, Jhon pareceu não ter escutado, logo, foi direcionado para mim e me chamou de filho.

Ela está olhando para mim… Eh… Ela está esperando minha resposta?

Mãe, não querendo ser idiota ou algo assim, MAS EU NÃO SEI FALAR!

Espera aí, mãe. Vou só tentar falar normalmente.

Pensando até aí, na minha mente veio diversas palavras estranhas, as quais se misturaram enquanto tentava falar como uma pessoa. Eu praticamente falei as palavras que queria, mas quando saía da minha boca era um som diferente.

“Mãe-han, teu filho, pergunta, por quê?”

Eu praticamente perguntei o motivo, mas quando falei mãe, parece que adicionou algum termo que não conheço. Droga! Como é que explico o que tá acontecendo na minha cabeça?!

Essa maldita Habilidade que ela passou é o que? Um dicionário!?

Que seja. Se eu não pensar sobre o assunto, talvez não trave minha mente.

Parece que quando eu quero falar algo, na mesma hora, todas minhas palavras são convertidas. Mas não sinto que seja dessa maneira… Mas é útil por agora, já que não sei o modo de tratamento, conjugação ou coisas assim desse mundo.

Minha mãe me respondeu: “Filho, ser forte, menos de um ano, Gema (B-).”

Certo… deu para entender isso. Mas ainda acho muito esquisito a situação. Dois tigres olhando um para o outro, apenas abrindo a boca de vez em quando para alguns sons estranhos saírem. E calma aí, como ela sabe sobre a Classificação das Gemas de Energia? É comum até para as Bestas Mágicas?

“Mãe-han, o que, Língua Bestial?”

Bom, eu ainda me sinto muito travado quando falo. Será que é por que não estou acostumado? Mas parece que é difícil formar as frases que quero.

Perguntei isso porque estou com curiosidade e dúvidas do porquê só eu receber essa Habilidade.

“Filhote mais forte, direito, liderar e comparecer, reunião. Mães, dever, dar voz e ouvidos, filhote de um ano, Gema (B-).”

Certo, pelo que dá para entender é que; O filhote mais forte recebe a Língua Bestial, só que deve ser dado ao que tiver a Gema de Energia (B-)… Mas parece que só chegam nessa Classificação quando fazem um ano?

“Mãe-han, porquê, dar voz e ouvidos, agora?”

Perguntei isso em busca de algum motivo real. Afinal, ela poderia muito bem esperar eu ter um ano para me dar essa Habilidade… É até estranho chamar de Habilidade isso, só vou chamar pelo nome mesmo.

“Filho, guerra, aproximar. Inimigos, dois lados, Elfos, prata, e, Gema (SS) nascer, 8 anos. Filho forte, ir, reunião, lutar.”

Ao falar tudo isso, deu para notar que não era apenas uma situação comum. Uma guerra está para começar. Pelo que fui capaz de perceber, quando minha mãe disse; “Gema (SS) nascer, 8 anos”, ela realmente teme esse acontecimento. Quando ela disse sobre o filho forte ir, deu para sentir que não desejava fazer isso…

“Mãe-han, filhas, onde?”

Quis trocar o foco da pergunta, já que estou preocupado com minhas irmãs também.

“Filhas, novo território. Aqui, não, mais, seguro.”

Cada pausa é uma tortura. Essa Língua Bestial não é muito básica? Certo, até entendo, mas porra, eu tô numa tensão aqui! Até alguns meses atrás eu estava apanhando para uma Besta Mágica (F), e agora temos um inimigo de Classificação (SS)! COMO DIABOS POSSO FICAR TRANQUILO?!

“Filho grande vir, filho forte ir.”

Eh… Filho forte sou eu, não é? O grande deve ser o Jhon.

Quando ela terminou de falar, começou a olhar para a direção das cordilheiras além da tal “Torre Amestya”, que acabei de voltar.

“Filho, mãe, triste, mas, muitos morrer, se não ir.”

Duas grandes lágrimas se formaram em seus olhos e desceram pelo seu rosto. Meu corpo inteiro arrepiou com essa demonstração de preocupação e tristeza.

Minha mãe, uma guerreira sem igual, estava mandando seu filho para uma guerra. Ela, que nos criou e protegeu com todo empenho que tinha, agora, estava sentindo uma dor que ninguém além de uma mãe poderia sentir.

Eu perdi minha mãe cedo na minha primeira vida. Por mais que ter uma mãe tigresa fosse algo estranho, nunca me senti solitário ou mal quando ela estava perto de nós. Nossa mãe traz um conforto, segurança e amor que jamais poderia descrever.

Droga, Henry… Por que diabos não consegue controlar essas lagrimas…

Sim, não aguentei, estou chorando junto com ela. Nunca fui alguém de chorar, mas… droga… Não há como eu colocar isso em palavras. A dor de me separar desta grandiosa e maravilhosa mãe é demais para mim.

“Mãe-han, filho ir. Filho, vencer. Mãe-han, cuidar, filho grande, e, filhas.”

Não posso ficar mais aqui. Preciso proteger minha família da minha maneira. É hora de encarar esse maldito território de novo, só que sem o Jhon.

“Filho forte, reunião, montanha, meio. Mãe, amar, filho.”

Essas palavras mexeram comigo ainda mais. Porra mãe… Não tá vendo que tô tentando não chorar aqui?

“Filho, amar, mãe-han, também.”

Disse isso enquanto a olhava pegar o Jhon como um filhote e sair da toca com ele. Ela foi o mais rápido que podia para o território que arranjou.

Hah…

Faz quanto tempo que não fico sozinho pelo mundo? Que sentimento estranho… Estar sozinho.

Não imaginei que isso viria acontecer. Já tinha esquecido essa dor. Ficar sozinho. No entanto, dessa vez eu tenho um lugar aonde ir. Finalmente posso explorar todas essas terras.

Por sinal, aqueles Elfos que a mãe comentou… Como será que eles são? Como os livros de fantasia da minha vida passada descrevia, ou será que são muito diferentes? Mal posso esperar para ter a chance de ver eles.

 

 

Sha’l tinha que esperar a resposta dos membros que enviou de volta para a Aldeia, do contrário, não poderia arriscar agir novamente. Este território se tornou mais perigoso que antigamente. Ele precisaria de outros grupos para poder ir ao interior de Enir.

Já havia se passado 10 dias desde que enviou os membros da expedição de volta. Como eles teriam que ir com toda velocidade, sem se importar em treinar ou caçar, essa quantidade de tempo era suficiente para terem chegado à Aldeia.

 

– Aldeia dos Elfos Prateados 

 

Uma tensão estava sobre todos Elfos Prateados da Aldeia.

Apenas dois Elfos Prateados da expedição conseguiram retornar. Foram enviados três, entretanto, o outro novato havia morrido no meio do caminho. O Antigo Guerreiro até tentou salvá-lo, mas o próprio novato falou para completarem a missão do líder Sha’l, provando sua lealdade com todos da Aldeia. Eles sabiam que essa tarefa deveria ser completa o mais rápido possível.

O Antigo Guerreiro, San’ki, foi até Rakar contá-lo o que ocorreu nas Terras Gélidas.

Ele arregalou os olhos quando ouviu sobre os Tigres Amba.

“San’ki, você não é de brincar. Em apenas 3 anos e os Tigres Amba deixaram de ser independentes?”

San’ki mordeu os lábios e falou com pressa: “Rakar, precisa enviar mensageiros imediatamente para as outras Aldeias. Sei que alguma vai ajudar. Sozinhos não poderemos ir muito longe naquele território.”

Com uma feição pesada, Rakar disse sinceramente para ele: “Apesar de sermos uma aliança e não mentirmos, apenas dizer que os monstros se tornaram mais espertos não é uma confirmação de Horda. É difícil pensar que alguma das Aldeias realmente irá nos ajudar.”

Rakar foi atrás de três mensageiros, um deles sendo seu aprendiz. Em um tom pesado, ele falou para seu aprendiz, Ra’nh: “Vá para a Aldeia dos Homens-Feras, o líder deles, Ragnar, é um velho amigo do pai de Sha’l e sempre esteve ao nosso lado diversas vezes, sei que ele irá responder nosso pedido.”

Ra’nh bateu em seu ombro e saiu na mesma hora.

A distância de cada Aldeia era imensa, pois, cada uma estava localizada nos pontos cardeais do continente. Até para Ra’nh, que era um Convocador do Vento com um Elemental do Vento, seria uma longa distância.

Levou mais 12 dias para chegar à Aldeia dos Homens-Feras do Clã Leão, que ficava no lado Leste do continente. Esse Clã era conhecido como Clã Rei para os Homens-Feras. Ninguém poderia competir em força, ferocidade ou orgulho com eles.

Como era de se imaginar, sendo o Clã Leão, muitas lutas ocorreriam para tomar o posto de Líder da Aldeia. Contudo, com Ragnar como líder, todos evitariam tentar tomar o posto. Ele era o pilar deles. O mais forte, o mais poderoso e imponente.

Ra’nh tinha usado toda sua Mana, seu corpo estava coberto por suor. Ele havia usado além do seu limite de Mana para chegar na Aldeia. E, quando chegou, desabou desmaiado na entrada da Aldeia.

Levou 1 dia para acordar.

Ele estava em um lugar que não conhecia. Quando tentou se levantar da cama, a porta foi aberta. Um Homem-Fera de 2m e 10cm havia chegado. Sua juba era quase grisalha, ainda podia se perceber o loiro perdido, mas o cinza-claro formava a maior parte. Não usava roupas extravagantes, na realidade, ele estava sempre utilizando sua armadura, conhecida como Armadura Thor. Uma armadura cinza, com detalhes em dourado, mas, coberta por marcas de cortes, mostrando a quantidade de batalhas mortais que participou.

Este era o Homem-Fera, Ragnar.

Ra’nh, ao vê-lo, caiu de joelhos no chão, mostrando respeito total ao Líder da Aldeia.

Contudo, Ragnar não ligava para cerimônias, para ele, era tudo sem sentido. A única coisa que ele queria entender agora, era o motivo do mensageiro dos Elfos Prateados estar ali.

Como ele viu que o jovem não iria falar nada, então Ragnar foi o primeiro a falar.

“Pirralho, quem é seu mestre e porquê diabos não levanta a porcaria da cabeça e me fala o que veio fazer aqui!?”

Ragnar já estava irritado ao vê-lo ajoelhar sem motivo algum. Era como uma desonra para a própria pessoa executar essa cerimônia.

Ele odiava pessoas que não agiam de uma vez, se havia algo para fazer, então faça. Se não tiver, não faça os outros perderem tempo. Essa era a filosofia de Ragnar.

Ra’nh percebeu a raiva de Ragnar, então, levantou sua cabeça, para falar. No entanto, ao tentar olhar para o rosto de Ragnar, a aura do mesmo o fez tremer de medo, tornando-o incapaz de olhar nos olhos dele.

“M-meu… mestre… é-é R-Rakar. Ele pe-pediu para vir en-entregar uma mensagem!”

Ragnar acariciava sua barba enquanto comentava: “O moleque Rakar? Ele já está tão velho para ter um aprendiz? Parece que foi ontem que eu dei uma surra nele. Diga logo, pirralho, qual é a mensagem?”

Ra’nh ainda tremia, mas seu gaguejo já havia parado: “Nós recebemos uma informação dos Demônios Negros que uma comoção estava ocorrendo no interior de Enir, e que era possivelmente uma horda. Então, o líder Sha’l formou uma equipe de expedição…”

Essa pausa se devia pela aura de Ragnar, esse Homem-Fera trazia medo para qualquer um que tentasse olhar nos seus olhos. Ele era um monstro que viveu mais de 500 anos e ainda continuava poderoso como sempre.

Ragnar já sabia da informação dos Demônios Negros, então se irritou com a pausa de Ra’nh. Com seu punho cerrado, ele socou a parede atrás dele. Porém, invés dela quebrar, a estrutura inteira da casa foi empurrada para trás.

Em seguida, gritou com Ra’nh.

“PIRRALHO! NÃO ME FAÇA PERDER MAIS TEMPO! FALE LOGO!”

Depois dessa demonstração de poder, Ra’nh não perdeu tempo e contou tudo.

“As Bestas Mágicas se tornaram incrivelmente espertas. Líder Sha’l disse que enfrentou um grupo de apenas três Tigres Amba, que lutavam como um grupo experiente e sem falhas, diferente de tudo o que já viu antes. Ele afirmou que havia estratégia na forma como lutavam, mas não é apenas um caso com os Tigres Amba, mas também todas Bestas Mágicas se tornaram mais espertas. Ragnar-han, meu mestre pediu para avisar mais uma coisa em especial.”

Ouvindo tudo isso, Ragnar entendeu melhor o que estava ocorrendo e o motivo de enviarem um mensageiro para sua Aldeia.

“O que é?” Perguntou Ragnar com pressa.

“Líder Sha’l afirma que uma Besta Mágica de Classificação (S) nascerá ou já nasceu.”

O corpo de Ragnar tremeu, não de medo, mas de empolgação. Ele, um grande guerreiro, viciado em batalhas de grande escala, onde apenas os poderosos seriam vitoriosos, sentiu animação sem fim e disse: “Pirralho, volte agora para sua Aldeia e avise para Rakar: Eu mesmo irei para o interior de Enir. Não levarei nenhum outro da minha Aldeia. Somente eu serei suficiente.”

Um grande sorriso havia se formado no rosto de Ragnar. Saindo da casa, ele reuniu todos da sua Aldeia e passou o posto de Líder para o segundo mais forte, seu filho, Frey, até seu retorno.

Em seguida, pegou suas manoplas de guerra do Deus Agar, o Deus da Guerra, e saiu da Aldeia com um salto que não rachou a superfície do solo, mas na realidade, explodiu a terra cinco metros abaixo dele.

Seu poder era quase incompreensível.

Ra’nh não ficou mais na cama, sua Mana já havia restaurado o suficiente, então tomou o caminho de volta para sua Aldeia.

 

 

Neste momento, estou subindo as montanhas da cordilheira. Nem preciso mencionar que me meti em diversas lutas de vida ou morte, né?

Estou todo cheio de feridas. Tive que lidar com diversos tipos de Bestas Mágicas, sendo que a mais poderosa era uma (C-). Levou dois malditos dias. Era ser perseguido e perseguindo-a. Foi um inferno.

Essa Besta Mágica era uma raposa branca adulta, chamada de Raposa Phar. Eu nunca, ao menos nesta vida, havia lutado tanto com um oponente. Essa raposa desgraçada me levou além da exaustão. Por sorte, depois de comer muitas Bestas Mágicas, fiquei mais forte do que antes. Pelo menos essa alegria pude experimentar.

A Raposa Phar foi um inimigo traiçoeiro. Ela me atacou de frente, e quando percebeu que não conseguia me matar, eu e ela saímos do caminho do outro. Mas, durante a noite do mesmo dia, quando estava prestes a dormir, descobri que a maldita tinha me seguido! Só estava esperando o momento que minha guarda baixaria para me atacar. Se eu não a matasse, ela iria atrás de mim outra e outra vez.

Por sinal, sei muito bem que estão curiosos para saber quão forte me tornei!

 

 

Começando por cima. Sim, estou no Nível 17! Não faço ideia se isso melhora algo mesmo, porque, normalmente quando aumentamos níveis podemos distribuir pontos nos atributos, não? Porém, para mim não tem essa opção… Por enquanto, só tenho uma hipótese, falarei em breve.

Os Atributos Principais cresceram muito! Não apenas por causa de que andei comendo Bestas Mágicas, mas lutar, adaptar e melhorar sempre causa aumentos maiores nos Atributos Principais.

Agora a grande novidade e também onde surgiu minha hipótese. Os Atributos Principais. Quando eu alcancei o Nível 15 esses dois Atributos surgiram, e com isso em mente, me lembro de ter imaginado que os Níveis tiveram ligação com a cristalização do meu coração e cérebro no passado.

Por enquanto, irei considerar os Níveis como algumas trancas de Atributos ou capacidades.

E, por que diabos o Chi é um Atributo Único? Tipo, nesse mundo não há pessoas que usam? Por isso é Único e não Principal? Ou talvez só eu conheça como Chi?

Às vezes não sei se é algo bom ver essa Janela Geral, toda hora me surge mais dúvidas e menos respostas…

Sério, não faço ideia o que é esse Atributo Único “Gema de Energia”, eu sei que tá ligado com a minha Gema, mas o que diabos isso aumenta? E COMO AUMENTA?! Enfim, se tá aumentando, deve ser algo bom… Eu acho.

Nesses 24 dias de longas caminhadas e caçadas, finalmente cheguei nas montanhas do meio. De vez em quando ouço rugidos da minha raça ressoando pela cordilheira, mal posso esperar para ver o que me aguarda.

 

 

– Continente Alran, Cidade Mash’kar, ano 3857 do Calendário Natural –

 

Em Alran, o continente conhecido como a Terra Élfica, já havia se passado 9 meses desde o nascimento da pequena E’nar, filha do Nater Yner.

O título dado ao governante ou representante dos Elfos no continente Alran era conhecido como Nater, que na Língua Élfica significa; o mais próximo da natureza.

E’nar, diferente de todos Elfos de Alran, que nascem com cabelo escuro, nasceu com cabelo prateado.

Embora que o continente tivesse o registro do Elfo Branco, os Elfos não têm qualquer entendimento real da raça dos Elfos Prateados. A raça dos Elfos Prateados foi exilada de Alran há mais de cinco mil anos. Até mesmo o próprio Nater não tinha informações sobre a raça.

Para ele, era um mistério, mas acreditava que os Elfos Prateados saberiam a resposta.

Embora Yner soubesse onde os Elfos Prateados estão atualmente, ninguém em Alran sabia como chegar lá. Enir era um continente onde apenas os mais fortes poderiam encontrar. Porque o mar que rodeia Enir era infestado por Bestas Mágicas Marinhas de Classificação (S), logo, apenas os mais fortes poderiam se aproximar e, com muita sorte, pisar no solo deste continente.

Enir era chamado de Continente Perdido, já que, apesar de saberem que existe, ninguém tinha o mapa para chegar até lá. Um continente cheio de mistérios.

Yner desejava ir até Enir descobrir a verdade por trás desse incidente com sua filha, mas seu continente necessitava da sua presença, então ele tomou uma decisão. Enviar os sete soldados mais fortes do seu continente para lá.

Ele tinha que arriscar, e o prazo deveria ser antes de E’nar completar 4 anos de idade.

Convocando os Sete Ramos – os soldados mais fortes de Alran –, Yner, vestindo seu traje mais puro, disse com uma voz preocupada, mas ainda assim, tranquila: “Ramos, vocês deverão encontrar o continente perdido e conseguir ajuda dos Elfos Prateados. Vocês já sabem o motivo, mas… vocês devem voltar antes dos quatro anos de E’nar. Preciso saber o motivo desse cabelo, e se devemos fazer mudanças no Ritual do Vínculo. É de extrema urgência. E’nar é a criança abençoada pelos ventos.”

Os Sete Ramos enquanto estavam curvados e ajoelhados em um joelho, bateram em seus ombros em uníssono e partiram sem dizer mais nada.



Comentários