Volume 1
Capítulo 26: Nova mudança (3)
Não foram apenas seus olhos que mudaram.
Um ar incomum flutuou do corpo do menino quando ele voltou para seu lugar. A atenção dos treinandos, que estavam focados no treinamento, se direcionou para o Irene.
Foi uma cena estranha. Normalmente eles teriam ridicularizado Irene, mas ele não era o tipo de pessoa que chamava muita atenção
Ele era um pouco mais alto porque era mais velho, e não havia nada que se destacasse nele além de sua boa aparência. No entanto, ele atualmente tinha uma aura estranha que chamava atenção, então eles não podiam deixar de se interessar.
Irene caminhou.
Irene não ligava.
Ele ergueu a espada e fechou os olhos, respirando tão baixo que ninguém conseguia ouvi-lo.
Concentrando-se no silêncio, ele abriu os olhos e moveu sua espada.
Whoo!
“…”
“…”
E nada aconteceu.
Whoo!
Whooo!
Irene Pareira continuou a brandir a espada.
Ele estava fazendo o movimento que aprendeu na aula O movimento de contra-ataque seguido de um leve trabalho de pés. Mas era só isso. O menino não aparentava estar diferente de antes de se deitar no banco.
“Nada demais.”
“Certo. Achei que ele tivesse presenciado alguma epifania.”
“Algo assim seria possível no nível dele? Mestres da espada só conseguem a perfeição em algo após décadas de treinamento.”
“É verdade! Além disso, eles dizem que, pelo menos, uma epifania é necessária para dominar algo.”
Um por um, os treinandos deixaram de olhar para o Irene. Depois de conversarem, eles logo voltaram ao seu próprio treinamento.
Irene também não ligava para eles. Ele apenas repetiu as ações de cortar, golpear, esfaquear como de costume.
Uma hora se passou.
O menino foi até o banco do canto, e se deitou e fechou os olhos.
As crianças, ao perceberem aquilo, se reuniram mais uma vez.
“Ele está doente?”
“Que absurdo, seu idiota.”
“Não, ele não parece bem.”
Bratt Lloyd franziu a testa com as palavras duras de Judith.
“Ele não perde refeições ou sono, e mesmo se balançasse uma espada 24 horas por dia, ele não se deitaria no meio de seu treinamento. Aquele cara que é forte o suficiente para nos superar nos treinos, se deitou no banco duas vezes em menos de duas horas. Você acha que isso é normal?”
“Hum, sei lá. Cala a boca.”
“Como essa bastarda ousa falar assim com o Lloyd…”
“Lalalalalala.”
Assim que os seguidores do Bratt começaram a falar, Judith tapou os ouvidos e começou a cantarolar. Claro, isso não significa que ela não compartilhava da mesma opinião de Bratt. Ela também sentiu que algo estava errado com a maneira como Irene estava se comportando.
Por fim, a garota ruiva, incapaz de suportar a confusão, foi até o banco. Ela estava pensando em dizer a ele para ir para a sala de recuperação caso estivesse doente. Na verdade, ela disse.
No entanto, a resposta de Irene foi absurda.
“Ah, estou bem. Eu estava apenas treinando.”
“Quê? Treinando?”
“Hum. Mas não está funcionando. Não pensei que daria certo desde o início, mas eu…”
Talvez ela tenha ouvido errado?
‘Onde diabos ele estaria treinando?’
Ela quase perguntou em voz alta, mas não conseguiu.
Irene mais uma vez se deitou no banco e fechou os olhos. No final, Judith não teve escolha a não ser voltar com ainda mais curiosidade.
“Impossível.”
“O que ele falou?”
“Ele disse pra não se preocupar porque ele está treinando.”
“O quê?”
Até Bratt ficou chocado com o que ouviu de Judith. Não apenas ele, mas todos os treinandos que ouviram a conversa de Irene e Judith pareceram surpresos.
De qualquer forma, Irene não se importou.
Silenciosamente, ele apenas se concentrou em seu eu interior. Era muito difícil reproduzir o mesmo sentimento do homem em seu sonho. Eles são de mundos diferentes? Por mais parecido que fosse o ambiente, havia vários obstáculos para reproduzir os movimentos que ele sentia nos sonhos.
A sensação embaçada em sua cabeça se dissipou e tornou a imagem mais clara. Era como se o homem tivesse se gravado na mente de Irene. Não, gravar não era a expressão certa. Mesmo que sua concentração tivesse vacilado somente por um momento, a imagem distorceu e quebrou. Era como se estivesse desenhando uma imagem na água.
A expressão de Irene começou a se contorcer.
Não era como se fosse o fim.
“Hm…”
Ele tentou focar e aguçar sua concentração, como se ele estivesse no sonho. Ele se esqueceu das pessoas ao seu redor, do vento soprando em seus cabelos, e do cheiro do ambiente que penetrava em seu nariz.
Ao reunir todos os seus sentidos, ele finalmente desenhou uma imagem na água.
No entanto, a imagem final balançou para frente e para trás no momento em que Irene se levantou do banco e deu um passo. Teria sido bom se fosse só isso, mas quando ele foi brandir a espada, sua postura estava arruinada, e ele não conseguia nem se lembrar do que treinou.
‘Outra falha.’
Para incorporar a imagem na água e se mover sem perturbar a água. Mantendo a sensação do homem que conseguia trazer a espada à realidade todos os dias.
Essa era a parte mais difícil que Irene estava sentindo.
‘Vamos tentar mais uma vez.’
Irene não desistiu e não ficou nem mesmo desapontado. Ele não ficou frustrado, apesar do número de falhas que acumulou. Ele sabia que a histórico de tais falhas se acumularia para criar uma torre de sucesso.
Ele não era mais o menino derrotado pelo medo e com medo de tentar.
Irene, que bateu em seu rosto com as palmas das mãos, voltou para o banco.
Os treinandos ao redor dele o olharam em choque.
‘Lá vai ele de novo.’
‘Tem algo de errado com a cabeça dele?’
‘No que ele está pensando…’
Eles não podiam dizer isso em voz alta. Porque havia uma chance de eles serem ridicularizados se a mesma situação da prova ocorresse novamente. Eles também não queriam lidar com a personalidade rude de Judith, que ficaria do lado de Irene.
Mas não era somente isso.
De suas perspectivas, eles achavam que Irene nem estava treinando. Era como se ele estivesse tentando escapar.
É, isso mesmo.
As crianças, que estavam confusas, sentiram que Irene tinha problemas com a espada e voltou a ser um preguiçoso.
Irene Pareira não ligava.
Mesmo os assistentes que olhavam para ele não esperavam muito, mas ele sabia que não deveria desperdiçar sua energia com o que os outros pensavam.
A esgrima do homem em seu sonho.
Os sentimentos que o homem sentiu.
E algo além disso.
Para isso, Irene teve que se deitar no banco.
Não, foi naquele momento.
“Hmm…”
“…”
Um menino de cabelo azul o estava observando.
Bratt Lloyd.
A concentração de Irene foi perturbada pelo olhar que sentiu de perto.
Irene perguntou.
“Se tiver algo…”
“Aquilo.”
“Hã?”
“Aquilo que você diz que está praticando.”
Bratt apontou o dedo para Irene.
Não era uma discussão. Sua expressão parecia muito contente para considerá-la arrogante.
Como se Bratt tivesse percebido algo, depois de um momento de silêncio, ele falou.
“Você não está dormindo, é uma prática de meditação!”
“… Prática de meditação?”
“Isso! O que os padres fazem para clarear suas mentes e refletir sobre si mesmos. Certo?”
Não.
Irene só queria que seu sonho se tornasse realidade e, enquanto procurava uma posição adequada, ele decidiu fechar os olhos enquanto se deitava.
Mas isso não pode ser explicado.
Pensativo.
“Hum, bem… é por aí.”
“Então eu ouvi falar disso. Pelo que me lembro é uma prática bem famosa entre espadachins.”
As palavras de Bratt continuaram.
Ele ouviu dizer que era bastante eficaz para aumentar a concentração, pois era um método religioso onde o poder mental era importante e que alguns espadachins famosos conseguiram atingir a iluminação através da meditação, e eles entraram no estágio de Mestre da Espada.
A cabeça de Irene ficou mais pensativa com a voz animada.
No entanto, não havia nada que ele pudesse dizer, então ele decidiu ficar em silêncio.
“Certo. Então eu vou tentar também.”
“…”
“Mas tem uma coisa esquisita. Aquela era a sua postura de meditação?”
“Eu apenas fiz em uma posição confortável para mim.”
“Então era isso? Pois bem, farei do seu jeito.”
“Não, você não tem que seguir…”
“Shh. Estou tentando me concentrar. Continua o que você estava fazendo.”
Depois de falar, Bratt foi para o próximo banco e se deitou. E depois de colocar as mãos na barriga como Irene, ele fechou os olhos.
Bratt tinha certeza de que as conquistas recentes de Irene eram todas por causa disso.
Sua força e concentração devem ter vindo da meditação. Nesse caso, até mesmo ele teria uma mudança significativa!
‘Certo! Vamos relaxar.’
Ele não sabia muito sobre mediação. Porém, ele sabia que era importante acalmar sua mente.
Bratt prendeu a respiração. Então seu coração, que batia forte, começou a desacelerar.
‘Isso é bom!’
A sensação não parecia ruim.
Por um tempo, Judith, por causa de seu comportamento de javali, parecia ter perturbado sua calma, mas agora ele conseguiu encontrar estabilidade.
Bratt Lloyd tentou se livrar de todas as distrações.
Um pouco mais calmo.
Um pouco mais quieto.
Um pouco mais…
“Sir Lloyd!”
Choque!
Os olhos de Bratt se arregalaram com o sussurro repentino. Olhando para o lado, ele viu Lance Peterson agachado ao lado dele.
Bratt perguntou.
“Quê?”
“Bem… parecia que você… estava dormindo.”
“…”
Rapidamente, Bratt virou sua cabeça para o relógio.
Duas horas já haviam se passado.
Bratt decidiu se levantar.
“Uhm. Não dormindo, eu estava apenas seguindo o método de treinamento de Irene.”
“…”
“Is-isso. Meditação. Que é conhecida por ser realizada por padres, é apreciada pelos cavaleiros…”
“Sério? E as pessoas realmente roncam enquanto fazem a mediação?”
Judith perguntou ao passar por eles.
O rosto de Lance Paterson ficou vermelho de impotência. E os outros dois treinandos ao lado dele fizeram o mesmo.
“…”
Bratt saiu do corredor sem dizer mais nada.
Seu rosto estava vermelho de vergonha, mas Irene decidiu fingir que não sabia.
Irene continuou a praticar.
Sem sucesso. Ainda manter uma imagem desenhada na água era coisa do passado.
As risadas dos treinandos aumentaram. Mas ele não se importou.
Surpreendentemente, Bratt continuou a praticar a mediação.
“A posição é o problema. Normalmente fazem isso de pernas cruzadas.”
“Seu idiota, não adianta! É apenas algo que ele faz, só isso.”
“Não é tarde demais pra você tentar.”
Ele não se importou nem mesmo quando Judith o amaldiçoou.
Talvez se fosse no passado, ele a teria amaldiçoado de volta, mas ele mudou depois de ouvir o conselho de Ian. Ele aceitou o fato de ter sido arrogante. Ele percebeu que outras pessoas também eram habilidosas e sempre havia algo que ele poderia aprender.
Ele sempre se sentiu relutante em admitir que o jeito dos outros de fazer as coisas era certo, por isso essa tentativa foi mais valiosa para Bratt.
‘Se eu seguir os ensinamentos do Mestre da Escola, os pensamentos limitados em minha cabeça podem desaparecer gradualmente.’
Depois de pensar isso, Bratt foi para o canto do ginásio e lá se sentou de pernas cruzadas como um padre e mergulhou em seu próprio mundo. Os treinandos o ignoraram também. Aos olhos deles, era uma maneira simples de desperdiçar seu precioso tempo.
Mas depois de um mês, a situação mudou.
“Trainando Irene Pareira. A partir de hoje você estará na classe B.”
“Sim.”
O instrutor Brandon Philips falou.
Ninguém reclamou. Ninguém expressou surpresa.
Todos sabiam que, em algum ponto, as habilidades de Irene começaram a crescer em um ritmo acelerado. E esse ‘algum ponto’ não era muito distante de quando ele começou a meditar.
E não somente isso.
Whik!
“Eu venci.”
“Maldito seja! Essa não valeu, mais uma!”
“Não é inválido, mas estou mais do que feliz em fazê-lo novamente.”
Judith e Bratt estavam discutindo sobre esgrima.
Gradualmente, uma lacuna entre os dois começou a se formar a partir do estágio em que eram iguais.
Não havia necessidade de perguntar quem estava à frente.
O rosto de Bratt estava cheio de confiança enquanto ele erguia a espada.