Volume 1: Caçadores – Arco 1: Ressurgimento
Capitulo 5: Verdades ou Mentiras
Akiris
Os Primordiais sempre foram o maior grau de afinidade possível com o elemento. Não obtinha informações suficientes para dizer se os seus corpos eram presos a forma humanoide ou mesmo quais eram suas características únicas. Todavia, sabíamos que eles eram algo puro, suas essências não se misturavam.
Graças a aquele fator os Genasis começaram em algum momento a pregar pela “pureza”. Embora os Omnidianos fossem capazes de utilizar todos os quatro elementos, eles foram totalmente afastados pelos Genasis.
Não demorou muito tempo para que eles mesmos se nomeassem nobres. Naquele momento, provavelmente Dracaries era o único reino que não seguia mais aquela maldita hierarquia.
A diferença mais notória entre Genasis e Ominidianos eram seus olhos. Ominidianos possuíam olhos com a cor de um elemento, no caso o que nasceram com afinidade, porém, as pupilas eram mais escuras.
Com os Genasis foi um caso diferente, ao invés da pupila revelar sua afinidade, mas em um tom mais escuro, elas eram da mesma cor do seu elemento, passando uma sensação de não possuírem pupila alguma. Aquele “olhar completo” era uma característica única dos Genasis.
Com base naquelas informações e a conversa com Dominus, Wally, com seus olhos amarelados, possuía o Primordial de Energia chamado Aska confinado dentro de si.
Mas o mais curioso era que Wally não era um Genasis, nem muito menos um Omnidiano, Wally era um Híbrido, Genasis com Nullu. Afinal, seus olhos tinham pupila preta.
Talvez fosse justamente pela falta de ‘pureza' que o Primordial estivesse preso, mas aquilo não significava que ele estava parado lá dentro.
Em alguns momentos durante a viagem percebi seus olhos mudando de cor, puxando para um tom mais claro, do preto para o amarelo desde que se deparou com a criatura caótica.
Totalmente perdido em pensamentos, um outro guarda cutucou meu braço olhando apreensivo para Soltrone.
— Eles são caçadores de Dominus — apontei para Yuki e Soltrone. — Vigiem, mas cuidem do Wally, esse garoto é meu convidado.
Ainda refletindo, segui para dentro do castelo. Encontrava-me no grande corredor central, ele ligava quase todos os lugares do castelo, existindo dois deles, o superior e o inferior.
Utilizar aquelas escadas sempre foi uma tarefa irritante, localizadas no final do corredor, transformavam aquele processo em uma odiável caminhada.
Seguindo, encontrei e cumprimentei rapidamente a todos que passaram, pareciam brotarem do chão assim que entrei, um atrás do outro com aquele hábito irritante de reverência.
Subindo a escada, novamente necessitava caminhar até o final do imenso corredor... minha sala para a minha infelicidade, era a última.
Com a cabeça nas nuvens percorri pelo gigantesco corredor.
Em frente a porta branca com minhas mãos gélidas e muito ocioso, parei, respirei fundo por poucos segundos, e adentrei.
Uma sala de paredes cor prata, móveis de couro escuro e refinados, diversos livros e pergaminhos nos armários das duas paredes.
Dois bancos de três lugares em frente à mesa, uma janela gigante que iluminava o ambiente tornando a iluminaria quase inútil, e aquelas cortinas prateadas gigantes da sala. Tudo aquilo sempre me entregava um cheiro nostálgico.
Aproximei-me de minha cadeira e me sentei. Estava a observar alguns pergaminhos sobre a mesa, um deles em específico estava separado dos outros.
Ele estava próximo a um recipiente raso e circular que possuía tinta, junto a um pincel pena negra com detalhes roxos na ponta e um candelabro a esquerda.
Aquele pergaminho tinha algo diferente nele, um selo real. Embora ele fosse obviamente algo importante, meu foco inicial foi tomado pelo pequeno apoio de madeira sobre a mesa.
Nele existia um chapéu escuro com um pano roxo enrolado ao seu redor, virando-o, foi revelado a sigla “J” em dourado, acompanhado da palavra ‘chefe'.
Era como se eu fosse um disco arranhado, vagando e vivendo repetidamente as mesmas coisas, as mesmas situações, as mesmas esperanças... as mesmas decepções.
Todas as vezes em que me deparava a sós com aquele chapéu, lembranças antigas vinham à tona.
Eram diversas as opções onde eu deveria reiterar minha atenção, porém, eu somente peguei o chapéu, coloquei-o, virei-me para a janela e permaneci ali, parado observando a pequena imagem que eu obtinha da capital.
Aquele nascer do sol reluzia em meu rosto, eu já nem conseguia diferenciar mais as lágrimas com meus olhos lacrimejando pelo sol.
Ouvi muitos sábios dizerem que “Lamentar o que já estava feito era tolice”, mas mesmo após tanto tempo tentando, não sei se conseguirei de fato... tornar-me inumano.
De volta para minha mesa, com meu braço esquerdo limpei meus olhos e com o direito apaguei o candelabro ainda aceso.
Aproximei-me dos documentos em minha mesa e iniciei a leitura dos pergaminhos.
Sua grande maioria apenas desejavam saber sobre equipamentos e candidatos a guardas reais disponíveis, com exceção de um pergaminho, obviamente o de selo real. Mas era óbvio, um selo de Bahamut.
Javier já perguntava sobre a ajuda que eu havia prometido, que tempo recorde era aquele? Menos de dois dias e ele já havia enviado uma carta.
Não tinhamos mais motivos para conversar com Javier, portanto, Karla poderia suspender os atos de sua rebelião. Afinal, sem rebelião não há necessidade de cumprir o pacto. De qualquer forma, um único primeiro pagamento já faria uma enorme diferença tanto para Dracaries quanto para Bahamut.
‘Saudações, Javier Bahamut. Venho por esse pergaminho, informar sobre as tropas prometidas. A partir do acontecimento de minha partida as mesmas já foram requisitadas, no mais tardar, chegaram a Bahamut em duas semanas. Peço para que encontres a paciência necessária. Ass. Akiris Dracaries'.
Os pergaminhos menos importantes já estavam com o conselho aparentemente. Um bando de Genasis de familias Importantes liderados por Cris, um Híbrido, e Clewdal, um Nullu, chegava a soar engraçado.
Cris e Clewdal foram treinados desde pequenos para a única tarefa de gerir o reino em minhas ausências, com os dois irmãos a frente não existia motivos para preocupação.
Clewdal era o cérebro, um garoto esquentado e muito vibrante, um verdadeiro gênio inato. Cris era um jovem guerreiro muito habilidoso, entretanto, ele era um garoto muito peculiar, dentro de um combate Cris se tornava feroz, louco e insano, enquanto fora de combate se assemelhava a um garotinho. Eu poderia descrever Cris como os punhos refinados de Clewdal.
— Preciso encontrá-los — refleti tirando o chapéu e o colocando de volta no apoio.
Eu me levantei e caminhei em direção a saída, parado em frente a porta, virei-me para trás.
Por um momento, apenas por um breve momento, eu tive certeza... De te-los visto sentados sobre minhas cadeiras.
— O arrependimento é corroasivo.
Assim voltei para a maçaneta e passei pela porta. Eu me encontrava andando pelo corredor central superior mais uma vez até que me deparei com alguns do conselho se dirigindo para a sala de reunião localizada no meu lado esquerdo.
Nenhum deles aparentavam terem me percebido. Enquanto me aproximava, conseguia aos poucos escutar um fragmento ou outro de sua conversa.
Rain, um homem de pele clara, com cabelo volumoso liso escuro, único de olhos verdes e o mais baixo dos três, mas ironicamente, o mais perigoso, perguntou:
— O orçamento foi aprovado?
Tryfon, um homem de óculos, pele clara queimada, cabelo castanho curto, e de olhos amarelados, respondeu:
— Já está encaminhado.
Eres, homem de pele pálida, relativamente alto, possuindo cabelos escuros ondulados e amarrado igual a um rabo de cavalo, com olhos que possuíam um azul claro que demonstrava calma e serenidade, reclamou:
— Você está demorando Tryfon.
Todos Genasis usando roupas nobres de Dracaries, brancas com detalhes pretos em volta, diferente dos guardas onde era justamente o inverso. Aparentemente eles discutíam sobre a segurança de Dracaries.
Rain foi o primeiro a me perceber, virou seu olhar para mim e esboçou uma reação de surpresa enquanto cutucava os outros dois.
Eles se viraram e sorriram sem jeito, realizando a maldita reverência ao mesmo tempo.
— Parem com isso, apenas me digam onde estão Cris e Clewdal.
Os três levantaram e se olharam, havia ficado claro que nenhum deles sabiam o paradeiro dos dois.
— Entendi — terminei já caminhando.
Se os três não tinham visto os dois, então significava que eles só poderiam estar no laboratório.
Descendo as escadas, encontrei Karla perambulando pelo corredor central, com medo de lidar com, Cris, Clewdal e Karla ao mesmo tempo, antes mesmo que ela me percebesse caminhei rapidamente para minha direita em direção a biblioteca.
Aproximando-me da porta do local, comecei a escutar uma voz... alguém estava falando sozinho lá dentro.
Talvez fosse Yuki, todo momento que eu estava perto daquele caçador, sentia algo estranho ao seu redor.
Porém Yuki quase sempre se encontrava sozinho; embora eu pensasse inicialmente que fosse uma magia de Espírito, eu ainda não sentia nada vindo dele, nenhum arcanismo sequer.
Relutante, decidi abrir a porta. Do outro lado, eu me deparei com Wally, completamente pálido encarando o vazio enquanto segurava... um livro sobre Primordiais...
— Interesse no divino? — puxei assunto fechando a porta.
Sua expressão mudou levemente, o garoto antes assustado, agora estava relutante?
Seu olhar parecia vasculhar toda a minha alma, e o seu provável motivo era algo visível, mais uma vez... seus olhos estavam mudando de cor.
— Aprender é algo ruim?
Seus olhos estavam totalmente fixados naquele livro. Meus instintos berravam para mim que algo estava errado, ainda assim, minha mente se encontrava sã, calma e plena.
Aproximei-me da estante de livros a minha direita, um pouco distante da parede da entrada, apoiei-me nela e respirei fundo.
— Aprender... nunca será algo ruim enquanto sua finalidade servir a um bom propósito.
— O que você quer dizer com isso? — o garoto questionou se voltando a mim e fechando o livro.
— Em outras palavras, se você aprender algo ruim, mas utilizá-lo para algo bom, consideraria isso ruim? Claro que não.
Algo não parava de me incomodar, havia uma lacuna, um espaço em branco, como se algo estivesse faltando.
Afastei-me um pouco do apoio e virei para Wally com aquele seu olhar avido, estranho e amargo.
— O que houve? Você parece assustado.
Ele apertou o livro instantaneamente, seu olhar foi desviado da nossa conversa. Uma criança tirada da família e exposta ao perigo iminente, realmente reagiria semelhante, mesmo assim, bem no fundo... não parecia ser aquilo.
— Me sinto estranho desde ontem, quando eu vi Dominus. Eu tive um pesadelo acordado.
— Você tem medo do Dominus?
— Dominus assusta qualquer um... mas não é isso. Estou com medo do que está havendo comigo... sonhos estranhos; sentimentos estranhos... e agora, vozes estranhas — Wally contou pressionando firmemente o livro.
— Como assim vozes?
— Algumas vezes escuto um homem cochichando palavras que não entendo, agora pouco aconteceu outra v...
— O que ele disse?!
Meu alto tom repentino o assustou por um segundo, o que o fez derrubar o livro no chão e... seus olhos se modificarem outra vez.
Minha mente finalmente havia começado a entender o problema a minha frente. Eu estava em um campo minado, sentia como se cada palavra valesse todas as vidas naquele castelo, e seus olhos eram o que ditavam o próximo passo.
— Quase nada... parou quando Dominus apareceu.
Dominus? Impossível! Não existe qualquer runa na biblioteca que ligue Dominus aquele lugar, ele nos seguiu? Não, até mesmo seu arcanismo deve ter limitações.
Observando mais atentamente percebi que sua mão direita estava muito mais aberta que a esquerda, embora não fosse um detalhe muito importante, o garoto a momentos antes não segurava o livo com aquela mão.
Magias de vigilância eram todas de Espírito e suas grandes maiorias necessitavam serem gravadas no alvo.
Aproveitando o breve silêncio de Wally, eu me aproximei focado em sua mão, quanto mais eu prestava atenção, mais arcanismo sentia.
Agachei, peguei o livro e o entreguei para Wally. Quando pegou o livro utilizando suas duas mãos, consegui enxergar algo em sua mão direita, nela estava desenhado um símbolo circular preto com um olho aberto no centro brilhando em azul. Como eu havia imaginado, Dominus estava observando.
— Wally, você sabe o que é um primordial?
— Ah... Deuses?
— Os primordiais são seres puramente elementais com forças inimagináveis. Porém, eles possuem sentimentos iguais a qualquer outra pessoa, seja, raiva, medo ou tristeza — realizei uma pausa enquanto abria o livro. — Desse ponto de vista o divino em si é nada mais que uma linda mentira — prossegui passando as páginas.
Quanto mais eu lia de relance aquele livro pior eu me sentia, raiva, angústia, desespero, tristeza, eram todos os sentimentos que estavam atrapalhando meu julgamento. Eventualmente folheando o livro de couro, parei em uma página, a página dos Primordiais de Energia.
— Existe um primordial dentro de você Wally, um dos piores, o Primordial de Energia chamado Aska. Tão obscuro que acreditamos que foi o prelúdio para o Proelion Primordi...
— A guerra dos Primordiais?
— Ah, Sim... Uma das piores que o mundo já teve.
— Uma das piores? Como poderia ser possível haver uma guerra tão ruim quanto uma entre os Primordiais?
Minha lingua travou por um momento... o menino não sabia de nada, nem do mundo, ou de si mesmo.
Sentei apoiado na estante a frente de Wally, ele parecia apreensivo olhando para os lados, Aska talvez estivesse tentando falar asneiras em sua cabeça.
Como eu havia o instigado eu precisava naquele momento apenas ficar sentado e esperar, já estava mais do que obvio que ao menos naquele momento, Aska estava completamente enfraquecido.
Mas eu estava curioso, por que parecia que seu contato com Aska era recente? Aquilo não fazia sentido, Aska foi aprisionado recentemente no garoto? Quem o prendeu ali? Como prenderam ele?... Quanto o Dominus sabia? Mais uma vez apenas perguntas, e nenhuma resposta.
Ele obviamente tinha um enorme interesse no garoto, será que o objetivo dele era arrancar informações como eu?...
Após longos segundos, Wally sentado no cão, de repente se inclinou e colocou suas mãos na cabeça derrubando o livro.
Que imagem desagradável, Wally puxava o cabelo, balançava a cabeça e arregalava os olhos.
E eu estava apenas sentado, assistindo e colocando tudo o que passei anos lutando para costruir em risco por uma única possibilidade. Lá fiquei, calado e em silencio, enquanto o garoto demonstrava um mistura de emoções.
Mas minha sorte parecia ter acabado, provoca-lo não havia surtido o efeito que eu imaginava. Quando finalmente o garoto levantou a cabeça, comecei a questionar todas as minhas decisões até aquele exato momento.
— Como você tem tanta certeza?
Não respondi de imediato, levantei minha mão e a coloquei no bolso esquerdo de minha jaqueta.
Puxei um relógio de bolso, prata com um dragão tingido em dourado escuro na tampa, meu nome estava escrito visivelmente atrás.
Eu observava meu relógio por cada mísero detalhe antes de dar uma resposta ao garoto.
— Quando os Genasis invadiram a milênios... eu testemunhei a crueldade dos descendentes dos primórdios — comecei a responder sua pergunta já inconscientemente.
— Eles nos humilharam, escravizaram, mataram e estupraram. Eram brutais e impiedosos, quem eu conheci aos poucos foram deixando de se verem como pessoas... começaram a se tornarem objetos.
“O passado deveria ser esquecido”, “Seguir em frente sempre será a melhor escolha”, “Não se pode mudar o que já esta feito”... COMO SE EU PUDESSE!
Eu reprisei, eu revi... EU SENTI! Por gerações eu senti o temor e o terror na pele, ansiando pelo fim do meu sofrimento eterno e por quê? Porque lixos como eles se achavam melhores do que nós?! Apertando o relógio, eu continuei.
— A vida de um Nullu desde aquela época, para eles... valia e ainda vale, menos que um brinquedo. E por qual motivo? Porque não usufruímos de qualquer elemento? Ou mesmo de um Primordial para pertencermos?
Sua melancolia estampada na sua cara não diminuía minha raiva, porque embora o garoto fosse empático, ele ainda era fruto de um estupro cometido por um Genasis.
Não importava quanto tempo passasse, as vezes, simplesmente parecia que eu nunca... poderia mudar.
No momento que comecei a colocar sentimento em minhas respostas, eu já havia perdido.
— Ele quer falar com você.
Eu não conseguia soltar uma palavra ou mover sequer um músculo, mas naquele momento não era mais por escolha, mas sim por impotência. Pois então, com todo o resto do meu corpo imóvel, direcionei meu olhar antes no relógio para Wally.
Ele estava de cabeça baixa olhando para o chão, quanto mais ele levantava seu rosto aos poucos, pior o sentimento se tornava.
Com nossos olhares se cruzando era impossível não perceber algo de diferente, suas pupilas pretas... sumiram.
— Primeiramente, você não estava lá — ele falou com um tom leve e uma voz distorcidamente duplicada.
Eu sentia uma confusão de pensamentos sobre o que eu deveria fazer, mesmo que meu corpo estivesse em choque, minha cabeça não havia parado de funcionar.
Para mim era um detalhe claro como o sol, Wally não se mexia, nem mesmo sua expressão mudava, apenas sua boca se movimentava. Junto a aquele escondido detalhe estava um mais óbvio, a energia antes vista na arena, não estava sendo emanada.
— Segundamente, naquela maldita guerra todos me culpavam, não Aska, você não pode isso Aska, você está errado Aska, isso não se faz Aska, enquanto eu só queria proteger o meu povo daqueles dois, e afinal, como assim oito Primordiais? Onde estão os outros dois?
O sentimento era anormal, ele falava de uma forma como se estivesse movimentando seu corpo para acompanhar suas falas, mas seu corpo continuava igual, não havia mudanças de expressões ou movimento dos seus braços.
Aparentemente ele podia tomar controle apenas de pequenas partes do corpo de Wally. Será aquele o momento?... Não, na verdade, sentia que mesmo se tentasse, naquele instante, eu sequer o encostaria.
— Outros dois?
— Os de sangue, gênio. Somos imortais, então, onde eles estão? Por que não existe nada sobre eles nos livros? Parecem até estarem se esconden...
— Sangue? Não sei do que está falando, mas não me importo. Meu negócio é com você Aska — interrompi-o levantando aos poucos.
— Como assim você não liga?
— Você foi o estopim para tudo o que aconteceu de ruim em Valíria.
— Não é verda...
— Ninguém é atacado por tanta gente sem motivo!
Algo estava nitidamente errado comigo, quanto mais eu falava, mais meu tom aumentava
— Não, não, não, não, os dois me atacaram, tiraram a Alma do meu corpo e depois me aprisionaram, eu nem tenho mais controle — ele fechou sua boca bruptamente e parou por poucos segundos. — Os dois disseram que queriam tudo de volta, fizeram pessoas capazes de utilizar o sangue e a guerra começou, eu fui pego bem no meio... maaaaassss, pelo o que eu vejo nós vencemos.
— “Nós vencemos?”
Caminhei até Aska, agachei-me em sua frente, e encarando aqueles nojentos olhos amarelos de perto, afirmei:
— Você não foi a vítima Aska, nós que fomos! Os Nullus massacrados quase sem resistência, escravizados por simplesmente terem olhos de cor diferente! Eles são as vítimas! Eu não esqueci, e nunca vou esquecer o que vocês fizeram!
Levantei lentamente e me afastei em direção a porta de costas para Wally, escutava Aska perguntando repetidas vezes a mesma frase “Qual é o seu nome?”, sem resposta e já com a mão na maçaneta, proclamei:
— Você vai precisar escolher um lado Wally, ele e a Energia ou nós e a sua família.
— O garoto é mais inteligente que isso sangue, quem é mais confiável? Eu ou vocês? Dizem que Dominus, o lorde dos Caçadores, é aquele que atende ao chamado e vive o resto de sua vida protegendo esse lugar sobre debaixo de uma máscara, mas ele nunca mudou, é a mesma pessoa desde sempre, nunca houveram outros Dominus.
Eu não sabia dizer se Aska mentia ou não, o que ele falava parecia incoerente, mas ao mesmo tempo racional, meus sentidos diziam que ele era um mentiroso inato, mas no fim de tudo, pouco me importava sobre os Caçadores.
Mas o que ele queria dizer com aprisionar a Alma?... Tentando compreender as informações que ele estava entregando, escutei Aska rindo perante ao meu silêncio.
Suas risadas logo se tornaram gargalhadas. Afinal o que era tão engraçado?
— Agora eu percebo... Vocês não entendem mesmo não é? Nullus? Essa coisa não existe fedelho, todos os Nullus são Genasis.
— ... Do que você ta falando?!
Minha voz tremula mal saiu pela minha boca. Tentava gritar e não me escutava, meu peito de repente havia se tornado oco e minha respiração estava parando aos poucos.
— Exatamente isso, Nullus são nada mais que Genasis de Sangue! Não me diga que você não sabia nem sequer disso — Aska prosseguiu aumentando novamente o tom daquelas gargalhadas distorcidas.
Quase caindo em frente a porta eu havia perdido minha compostura por um segundo.
As risadas de Aska penetravam minha cabeça incessantemente, não conseguia acreditar.... não, não, NÃO! NÃO! NÃO CARALHO!... Não podia ser verdade... não éramos iguais a aquelas aberrações!
— O que foi garoto? Você parece ansioso.
Ofegante, eu respirei fundo com o pouco ar que eu encontrei. Não podia ceder alí. Acalmando-me com minha respiração, recobrei um pouco da minha compostura, diferente de minha mão que não parava de forçar a maçaneta.
— Primordiais são imortais, o que me leva a pensar... como você ainda está vivo garoto?! — Aska antes com uma voz relativamente fina, de repente havia mudado para um tom grosso.
Tom aquele totalmente grave e completamente diferente de sua voz a pouco, tão alta que minha mão gelou instantâneamente.
Logo após fechar sua boca outra vez as risadas retornaram como um sino gigante na minha mente.
O sentimento era a cada segundo pior. E agora? Era aquilo? Anos vagando, lutando e sofrendo para que?...
Sem esperanças levantei minha cabeça ao teto gargalhando junto a Aska. Quando a abaixei, ambas as risadas haviam sido cessadas. Logo, eu girei a maçaneta.
— Vai sair correndo?
— A decisão é sua Wally... a Energia ou sua família — falei fechando a porta.
Ele percebeu exatamente o que precisava dizer para me abalar, Aska não parecia uma criança inconsequente em nenhum momento... ele era muito mais inteligente do que aparentava nos registros.
Ainda diante da porta, meus punhos clamavam para socar a cara daquele verme, mas eu não podia ou mesmo conseguiria, eu... era completamente... impotente contra um Primordial.
Eu caminhei em direção ao refeitório com meu olhar fixado ao chão, não importava o quanto eu tentava, as lágrimas não caíam. Meu campo de visão inteiro parecia tão... preto no branco.
Em minha cabeça só se passava negações e perguntas: “Não éramos como eles, não éramos iguais, não éramos Genasis, o nosso ódio não foi infundado, fomos abandonados por um Primordial? Por quê?”.
Quando levantei minha cabeça, já estava sentado em uma cadeira em um refeitório enorme e totalmente deserto.
Muitas das mesas médias estav com cadeiras em cima das mesmas, espalhadas por todo o refeitório.
Naquela noite pertubadora todos estavam ocupados ou dormindo... não existia nada ou ninguém a quem pedir socorro.
Quanto mais tempo eu pensava, mais o Aska fazia sentido. Se todos os Genasis eram descendentes dos Primordiais, de onde vieram os Nullus?
Uma pergunta emblemática sempre feita pelo laboratório e até mesmo por Valíria inteira, mas naquele instante, havia se tornado tão óbvia.
Também eramos frutos de um Primordial, um que abandonou sua própria criação, um que assistiu eles perecem como escravos ou cadáveres perante aos Genasis, um que se acovardou e não defendeu seu próprio povo!
Em minha submersão de sentimentos, escutei alguém marchando em direção aquele cômodo, o indivíduo parecia estar cantarolando e batendo algum objeto no chão. Pelas portas abertas, uma pessoa apareceu, Karlamitas.
— Akiiiiris!!
Caminhou rapidamente até mim, alegre e sorridente, mostrando uma foice muito familiar.
Ela possuía alguns sigilos estranhos em sua lâmina avermelhada, seu cabo de madeira era muito resistente e no seu final existia um acabamento com um espinho de aço.
— Se liga nisso — ela clamou pela minha atenção encostando um pedaço de madeira na lâmina.
A madeira ao entrar em contato com a lâmina avermelhada pegou fogo no mesmo instante, semelhante a uma brasa.
— Posso levar pro laboratório? — perguntou quase colando seu rosto ao meu e sorrindo mais ainda.
Eu me afastei para o lado, levantei em silêncio e me aproximei da bancada perto da porta para a cozinha.
Com minha mão peguei um papel de votações, junto a um pincel pena e comecei a escrever.
— Você é o rei sabia? É só pedir pessoalmente... aé, o cozinheiro é surdo.
Ainda em silêncio continuei escrevendo. Ao terminar, virei-me e entreguei o bilhete para ela.
— Leve com você até o laboratório, mas não leia.
Assim que Karla pegou o papel, saiu em disparada para a biblioteca na maior velocidade que ela já havia me demonstrado.
Mas que maldição! Não conseguia acreditar, eu estava transformado. Sentia como se eu tivesse acordado de um pesadelo.
Dirigindo-me para o meu escritório, eu não me sentia mais tão abalado. Karla e sua idiotice exorbitante haviam me deixado lúcido de novo.
Se eu não era capaz de lutar contra um Primordial, eu iria encontrar uma forma de conseguir, mesmo que eu precisasse os aprisionar, roubar ou obrigar alguém, ou algo que poderia os derrotar. Nem que seja um dragão ou até mesmo... outro Primordial.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios