Volume 1: Caçadores – Arco 2: Súdito Fiel

Capítulo 14: Procurado

Karlamitas 

 

Cada passo que eu dava, cada estrada que entravamos, cada esquina que virávamos, a vontade cada vez aumentava. 

— Eu preciso explodir alguma coisa! 

De todas as tarefas que o nanico poderia me entregar, nunca passou pela minha cabeça que ser babá seria uma delas. 

— O que acham daquele lugar? 

Davie apontava para uma grande estrutura redonda e cheia de vidrarias. O brilho do sol reluzia sobre aqueles vidros, forte ao ponto de me obrigar a desviar o olhar. 

— Por que você acha que ele estaria ali? — Menino Wally tomando minha oportunidade, perguntou. 

— Em Wallpurg as bibliotecas eram muito semelhantes. 

— Você é um súdito de Wallpurg, verdinho? 

— Não... mas passei um longo período naquele reino. 

— Como alguém que estudou arcanismo em Wallpurg veio parar nos caçadores? 

— Bom Karla... Digamos que eu fui... coagido a entrar na ordem. 

— Baita barca furada. 

Davie virou suas costas e puxou a fila em direção a enorme e reluzente estrutura.

Estranhamente havia um grande movimento ao redor do lugar, embora mal houvesse qualquer guarda por perto. 

— Ai menino Wally, aposto vinte moedas de prata que aquilo não é uma biblioteca. 

— Vinte moedas?!... Eu não tenho todo esse dinheiro. 

— Para de ser careta, é pela diversão, pelo esporte. 

— Ah... 

De frente ao lugar, os detalhes se tornaram mais nítidos. Por todo o exterior havia uma espécie de desenho texturizado pelo cimento. A parte superior era revestida com um material escuro em degraus. Na entrada, duas vigas enormes que ficavam aos extremos das duas grandes portas de madeira escura. 

Sem placa, ou oficiais de Zarpids, eu não tinha a menor ideia do que aquele lugar poderia ser. 

— Santo Caos, ainda bem que eu não apostei! — vitoriosamente refleti em silêncio. 

Ao passar pelas portas, minha surpresa não poderia ser maior. Aquele lugar era realmente uma biblioteca. 

Ela era gigantesca, diversas estantes entupidas de livros para todo canto, todas espalhadas próximas as paredes nas extremidades do lugar. Mais ao centro, inúmeras mesas e cadeiras com várias pessoas sentadas. 

— Esse lugar é enorme! — menino Wally em euforia começou a observar o local. 

Não tinha como deixar de notar a estranheza de tudo aquilo, livros eram um bem super valioso. Ainda assim, sem guardas, sem oficiais. Tinham até mesmos Híbridos ali dentro. 

— Se o Sally está procurando ou pesquisando algo, provavelmente ele deve estar aqui. 

— Mandou bem verdinho. — realizei um pequeno tapa em suas costas. 

— Por favor Karlamitas, tenha um pouco mais de foco. 

Sua inquietação era difícil não notar, ele estava muito preocupado com o tal Sally. Talvez Davie o conhecesse?... 

Concentrando um pouco de arcanismo em meu dedo, senti uma pequena pontada em minha cabeça, provavelmente já estava funcionando. 

— Nanico. 

Logo sua resposta veio. 

— O que houve? 

— O que é um marcado? 

A única explicação ou pista de uma resposta para toda aquela preocupação do verdinho provavelmente tinha algo a ver com a tal marca. 

— O verdinho parece bem preocupado com o tal marcado. 

— Onde vocês estão agora? 

— Aparentemente uma biblioteca, tem vários livros aqui e algumas pessoas lendo em diversas mesas espalhadas. 

— Uma biblioteca? Para qualquer pessoa?! 

— Sim, nem mesmo nós fomos jogados pra fora. 

— Certo, continuem o procurando. 

Junto a última fala de Akiris o pequeno desconforto em minha cabeça desapareceu. 

— Ajudou muito nanico. — reclamei caminhando. 

Um homem alto, magro, cabelos dourados e Genasis de Energia, bem destacável, encontrá-lo em primeira instância não parecia ser uma tarefa árdua. 

— Droga, agora estou preocupada também. 

Evidentemente, nos três acabamos por procurar separadamente pela biblioteca. Ninguém parecia bater com todas as características de Sally pelo meu setor. 

Alguns Omnidianos de um lado, nobres de outro, aparentes ladrões aqui, talvez uns arruaceiros ali, mas nada que chamasse atenção. 

Voltando para próximo a entrada, tomei a minha melhor decisão. 

— Quem não arrisca, não petisca! — com a escolha tomada, cutuquei uma senhora. 

Uma Omnidiana súdita de Espírito, com um longo cabelo liso preso em um rabo de cavalo. A moça vestia roupas simples que lembravam a de uma atendente de taberna. 

— Por acaso você conhece o Sally? 

— Como alguém não conheceria o Sally? 

Então o tal marcado era muito famoso pelas redondezas de Zarpids. 

— Você sabe me dizer onde posso encontrá-lo? 

— Olha não adianta, desista. O Sally não fornece Iris. 

— Iris? 

— Ah... então você não está procurando um “passa tempo” ... entendi. 

A mulher em silêncio levantou a cabeça um pouco para cima desviando seu olhar do meu rosto. 

— Geralmente ele vem até a biblioteca por volta da tarde mesmo, então se você permanecer aqui deve encontrá-lo. 

— Tudo bem, obrigado. 

Com o fim do meu questionamento, a mulher sem nome se virou e partiu para uma estante próxima. 

— Ela me chamou de viciada?... 

Como garantia, decidi permanecer próximo a entrada enquanto aguardava o retorno e atualizações dos meninos verdinho e Wally. 

Após alguns poucos minutos resistindo a ideia de gritar mentalmente na cabeça do Akiris, os dois retornam. Pelo semblante em seus rostos, ficou claro qual seria a resposta. 

— Nada com você também Karlamitas? 

— Nope. 

— Será que estamos no lugar errado? 

— Não Wally, com base no que sabemos realmente esse deveria ser o melhor lugar para procurar. 

— Pelo visto o douradinho é famoso por essa região. 

— Douradinho? — Davie incomodado perguntou. 

— Que foi? Quer escolher você? 

— Por que você fica dando apelidos para todas as pessoa desse jeito?  

— Não tente verdinho, meu coração já pertence a outro. — rejeitei-o junto ao ato de mostrar o anel em meu dedo. 

Com minha mão levantada, de repente um homem com um grande manto marrom escuro desbotado se aproximou. 

— Anel bem bonito esse seu.  

— Não está a venda! 

— Sinto muito, não tive a intenção. 

Davie inquieto, virou suas costas e começou a se afastar na direção oposta. Menino Wally totalmente indeciso, não sabia quem escolher. 

— Bom, sinto muito novamente... poderia me dar licença? 

— Ah, foi mal aí. 

Enquanto eu liberava a passagem para o homem de cabelos pretos e olhos Omnidianos, alguma coisa me incomodava. 

Ao fechar as portas, alguns segundos depois instintivamente eu fui ao encontro daquele homem. 

Com meus olhos do lado de fora, eu não via, ele desapareceu. Entretanto, a horrível sensação não. 

Foi quando um barulho familiar comecei a finalmente escutar, embora a biblioteca fosse relativamente silenciosa e aquele som quase imperceptível, sua familiaridade foi o que o entregou. 

De frente para a entrada da biblioteca, vendo o verdinho sendo puxado ao meu encontro com suas brilhando verde em minha direção, o som reconheci. Aquilo... era a contagem de uma bomba. 

— Karla! 

Fogo, membros, tijolos, vidros... todos levados a cima do chão em uma grande explosão! 

— Não fui rápida o bastante. 

Caindo de bruscos no chão, bati forte minha cabeça no concreto da estrada. Tontura com toda certeza. 

— Relaxa, respira! — Davie gritou ao se aproximar. 

Baita arrependimento, deveria ter deixado ele me curar ainda na ilha venatorum. 

— Aska, filha da puta... 

—  O que foi Karla?! O que você disse?! — menino Wally perguntava com sua mão em minha cabeça. 

— Eu disse... que eu vou... MATAR AQUELE MERDA! 

De repente sem nenhum consentimento, meu corpo em um passe de mágica se levantou sozinho. 

No momento que meu corpo se levantou, Davie rapidamente se dirigiu as outras pessoas caídas no chão. 

— Você ta bem Karla? 

— Nanico! 

Com o meu chamado desesperado, nenhuma reposta veio em minha mente. 

— NANICO! 

... Ainda sem nenhuma resposta de Akiris... 

— Espera, Karla, o que houve com o anel?! 

Com a pergunta de Wally, levantei a minha mão no mesmo instante; nada. Não tinha nada em minha mão, o anel não estava mais ali. 

— Merda! 

Observando meus arredores, finalmente algo enxerguei, um homem encapuzado por seu manto marrom bem escuro e muito desbotado na espreita de uma pequena viela. 

— Você não vai fugir! — Gritando, preparei uma granada caótica. 

Apontando-a para baixo e focando a saída em um único ponto, a explosão me entregou um grande impulso em direção ao encapuzado. 

Ele era rápido e experiente, agilmente começou a sua fuga. O homem usava tudo ao seu alcance, casas, madeiras, comidas, mas nunca pessoas ou arcanismo. 

Meu pega a pega estava com um vencedor bem claro, eu não conseguiria o pegar, logo ele iria me despistar, mesmo se eu usasse uma granada caótica ele rapidamente mudaria de curso e sem os anéis não tinha como chamar ajuda... ou era o que imaginava. 

Conheço o Akiris a anos, e se tem uma forma de chamar a atenção dele, era fazendo barulho! 

Com granadas em uma mão e a Anarquia em outra, comecei a me preparar para a minha segunda festinha móvel. 

Joguei as granadas o mais alto que consegui, e as acertei com a Anarquia. Um estrondo tremendo foi ressoado pelos céus. Com certeza ao menos Soltrone deveria ter ouvido. 

Já estava quase o perdendo de vista, e meu fôlego terminando, definitivamente não fui criada para correr. 

Subindo em cima do telhado de uma taberna, consegui uma visão melhor do meu fugitivo, mais uma vez, granadas aos céus e fogos caindo pela terra. 

Continuando minha passada, minhas pernas já estavam prestes a desmoronar. Ao dar meu último passo e ajoelhar no chão, enxerguei o desgraçado sumindo de minha visão. 

No início do meu lamento, finalmente... eles chegaram. Soltrone passou rasgando o ar com Akiris em seus braços. O nanico preparou uma de suas correntes e lançou para baixo. 

Como um pescador recolhendo a linha, Akiris com a força de Soltrone pararam abruptamente no ar. 

Virando em minha direção, Soltrone começava a girar enquato voava. Então Akiris com suas correntes lançou algo em direção ao telhado onde eu me encontrava. 

Caindo sobre o piso o homem encapuzado responsável pela explosão se esborrachou completamente, ralando sua pele e suas roupas enquanto rolava pelo telhado até parar em minha frente. 

Com a mão já imbuída em desintegração, gentilmente perguntei: 

— O que você prefere perder? O pé ou a mão? 

Rapidamente e até surpreendentemente o homem se jogou para trás, para seu azar, Akiris e Soltrone já haviam retornado de seu passeio, pousando bem atrás do indivíduo. 

— Por que você tava perseguindo-o Karla? 

— Use seu arcanismo. 

Rapidamente Akiris levantou sua mão e rasgou um pedaço da pele de um dos seus dedos, passando o sangue pela palma e dizendo alguma coisa. 

Lentamente, o Omnidiano antes encapuzado e de cabelos pretos, clareava seu cabelo, e mudava seus olhos. 

—  Um homem alto, cabelos dourados e olhos de Genasis de Energia... olá, Sally... nós viemos barganhar. 

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