Volume 1: Caçadores – Arco 1: Ressurgimento
Capitulo 2: Despertar
No dia anterior
Wally
Eu estava completamente adormecido. Preso em um sonho tão vivido que não conseguia distinguir a realidade. Eu enxergava... minha mãe sorrindo, meu pai sorrindo... Até mesmo eu estava sorrindo.
Todos estavam felizes e em paz. Porém, eu sentia, eu sabia, eu via. Tudo aquilo era apenas, uma paz passageira.
Através do som de um estalar de dedos, tudo sumiu. Somente o completo nada beirava minha visão. Um branco totalmente ofuscante onde não importava para onde olhasse, apenas haveria luz.
Exceto por apenas uma coisa, uma sombra totalmente imóvel de um homem alto no horizonte distante.
De uma forma que nunca conseguia explicar, eu sempre me sentia atraído por aquela direção, então seguia. Caminhava e caminhava, mas o horizonte nunca se aproximava, eu tentava e tentava de novo, e ele não se aproximava.
Quando finalmente me dei por completo, eu já me encontrava de joelhos e exausto. Eu mal havia caminhado, então como poderia estar tão cansado? Por mais que fizesse repetidamente a mesma pergunta, a resposta não clareava em minha cabeça.
Levantei aos poucos ainda sem ar, com meus olhos fechados, ergui minha cabeça e posteriomente os abri.
O Homem estava acenando para mim, pisquei, ele se aproximou. Outra vez, e o encontrei ainda mais próximo, sempre acenando sem parar.
De repente lá estava ele, parado novamente, idêntico a alguns segundos atrás, em pé, reto e com seus braços grudados ao seu corpo.
Apreciando o homem sombra, escutei uma risada longa e ensurdecedora dentro da minha cabeça. Minha reação foi imediata, outra vez a escuridão havia tomado meus olhos. Quando a luz ofuscante voltou a raiar, a sombra estava ao meu lado, ombro a ombro.
— Eu não quero olhar!
Meus olhos seguiram meu alto pensamento, então outra vez, eles se fecharam. Eu conseguia sentir meu pescoço virando a direita lentamente sem o meu consenso.
Jaz parado, naquele instante, havia algo diferente, um formigamento forte dentro dos meus olhos, eram como insetos desesperados para saírem da escuridão.
Meus olhos não abriram lentamente, mas sim de imediato, como uma tampa removida pela pressão da água.
A sombra estava ali! Sorrindo com dentes afiados que circulavam do lugar onde deveria ser sua boca, passando pela testa e voltando a sua origem.
Encarando a sombra bizarra destacada por aquele branquidão, somente uma coisa vinha a minha mente: eu... queria poder ser feliz como ele.
Acordei de baixo de um simples pano; suando frio e tremendo. Olhei a minha volta, parecia ter amanhecido, os galos se encontravam cantando mais uma vez aquele seu velho canto.
Na pequena escrivaninha ao lado de minha cama, encontrei meu caderno de estudos aberto ao lado de um copo.
Estiquei meu braço e passei minha mão a cima de sua superfície, senti um grande calor vindo de um provável leite quente, ele não tinha sido deixado alí a muito tempo.
— Mas ainda nem amanheceu completamente, fizeram leite quente de madrugada?
A janela de madeira estava fechada, conseguia ver alguns resquícios de luz passando por suas bordas. Abrindo-a, encontrei-me com um grande e belo jardim.
Diversos tipos de flores de todas as cores que conhecia e as que ainda pretendia conhecer, minha mãe cuidava e observava aquele jardim todos os dias, sem nenhuma falta.
Com uma sensação de fadiga levantei de minha cama, caminhei sobre a madeira até a porta e a abri. Um grande barulho de rangido aconteceu. Do outro lado, não havia ninguém para o escutar.
Minha mãe sempre ficava me esperando na cozinha enquanto meu pai terminava seu café. Pelo jeito os únicos que estavam seguindo a rotina habitual, eramos eu e os galos.
Percebendo que os dois não estavam em casa, aquela sensação que semelhante a fadiga de repente mudou.
Eu não tinha tempo para ser melancólico, pois bem, continuei meu percurso em direção ao banheiro, eu precisava me arrumar depressa.
O banheiro estava muito limpo, quase impecável, minha mãe tinha o limpado ainda muito cedo.
Mesmo para um banheiro até que pequeno, precisaria de muita energia para essa grande tarefa noturna. Talvez recebêssemos uma visita.
Olhei-me naquele pequeno espelho e comecei a amarrar meu cabelo. Embora seu próprio cabelo fosse curto, meu pai nunca gostou da ideia de cortar o meu — Não devemos alterar sua natureza — ele sempre repetia. Mas no treino aquele tamanho sempre limitava minha visão.
— Wally.
Droga eu estava atrasado, assim que escutei sai do banheiro correndo até meu quarto. Em minha gaveta estavam as mesmas vestimentas, nunca fiz grandes questões sobre roupas, exceto por aquela antiga blusa de meu pai.
Gostava da manga longa e suas golas pontudas, o tom azulado escuro combinava com minha pele, além de que, aquela blusa sempre foi a coisa que mais me deixava próximo dele.
— Wally!
Correndo até a porta, passei pela pequena mesa de jantar, embora eu estivesse atrasado por algum motivo, eu simplesmente parei em frente a ela.
Observando aquela cadeira de madeira parada sem ninguém, surgiu-me uma lembrança. Relembrei a única vez que meu pai sorriu para mim.
Estávamos em um jantar, quando eu ainda era pequeno, meu pai falava sobre legado e pureza. Dizia que eu seria grandioso, maior que todos que conhecia, que aquilo era meu dever; minha obrigação.
Lembrei de ter ficado animado, eu sentia um profundo e enorme desejo de corresponder suas expectativas.
— Tão grande quanto o senhor?
Ele me mostrou um sorriso genuíno e momentâneo, seus olhos amarelos pareciam brilharem para mim.
Levantou a cabeça, olhou para minha mãe; e depois se virou a outra direção, nem a mim, nem minha mãe. Estava olhando outra coisa, enxergando algo a mais.
— Você será muito maior que eu, e muito maior que todos no mundo Wally... porque é seu destino.
Naquela noite foi a primeira e única vez que o vi derramar uma lágrima. Enquanto elas escorriam de cada olho de meu pai, com uma mão ele apertava a minha sobre a mesa e com a outra ele pressionava seu peito.
Mas suas lágrimas não eram de tristeza, não, impossível com aquele sorriso sincero e olhar radiante, elas pareciam mais como; esperança.
— Wally!! — a pessoa gritou novamente, dando algumas batidas leves na porta.
Com minha mão esquerda na maçaneta eu senti o cheiro agradável de uma das flores de minha mãe, a sua favorita.
Ela amava sua cor violeta, seu cheiro calmante e suas — lindas pétalas que balançam com a ventania — como ela sempre dizia. Respirei fundo o aroma com um leve sorriso e abri a porta.
Na porta me deparei com Galileu. Um menino da minha idade, com olhos amarelos pele um pouco clara e cabelos bem escuros, muito mais escuros que minha pele de tom queimado.
Mesmo com a mesma idade e obrigações semelhantes ele sempre agiu como um tipo de irmão mais velho, ajudando com quase qualquer coisa, não importasse o dia ou a hora, sua disposição chegava até a assustar.
Galileu também estava com um período de treinamento no castelo, por isso, frequentemente partiamos juntos pela manhã.
— Você dorme demais cara.
— Estava acordado, apenas não tinha me trocado — respondi fechando a porta.
— Que demora para colocar uma roupa, lento como sempre.
Galileu virou de costas e se calou, não falou mais nada. Tudo parecia estranho naquele dia, por mais que aquilo estivesse me incomodando não questionei, apenas o segui pelo caminho que leva ao castelo.
Nada parecia fora do comum, tabernas abertas de manhã cedo, feno sendo trocado para os cavalos, vento balançando a grama longe do concreto, pescadores saindo em busca de uma pesca farta, gados recebendo comida nova, guardas patrulhando pela cidade e crianças brincando a fora.
Todos pareciam animados independente do pouco que tinham.
— Ta tudo bem com você? — Galileu perguntou sem olhar para trás.
— Sim, sem problemas.
— Se tiver qualquer problema por menor que seja pode contar comigo, estamos no mesmo barco — Galileu ainda seguindo reto levantou seu braço direito e sinalizou um positivo.
— Estava pensando... Gal, você é feliz?
Aquela sensação estranha aumentou gradativamente. Eu estava me sentindo cada vez pior desde que acordei, talvez, eu estivesse melhor ainda sonhando com aquela sombra. Retirei meu olhar dos moradores e o voltei a estrada da capital.
— Feliz? Não sei Wally... eu sorrio quando como o que eu gosto, quando minha mãe conta alguma história ou mesmo quando saio com você... você não se sente feliz?
— Não sei Gal... todos parecem ter um propósito que escolheram, vidas que conseguem aguentar, levantar a cabeça e seguir em frente, eles continuam sorrind...
— Espera é só isso? Então é fácil Wally, você apenas precisa continuar.
— Ham?
— Pelos Deuses, Wally, você apenas precisa continuar, continue sempre lutando pela felicidade que você tanto deseja, simples assim.
Gal colocou seus braços em sua nuca e ficou em silêncio seguindo em direção ao portão.
Ele nem me ouviu até o final e ainda aparentou incomodado com minha pergunta. Aquela também tinha sido nossa conversa mais curta e estranha a anos, será que ele falou sério ou apenas fugiu do assunto?
Bem mais perto do castelo, já conseguiamos enxergar o símbolo de Bahamut a cima do portão principal.
Uma espiral de espinhos protegendo o desenho da cabeça de uma grande marmota, ela parecia enfurecida. O escudo de Bahamut demonstrava bem qual era o seu papel em Valíria; distribuir comida.
A segurança a fora dos muros sempre foi alta, provavelmente pela alta demora ao abrir os grandes portões da entrada, esses portões demoravam tanto para abrir que mesmo a uma grande distância era difícil não os perceber.
Passando pelo grande muro a segurança era maior ainda, tão seguro que a ideia de alguém tentar invadir o castelo chegava a ser grotesca se falada em voz alta.
Nenhum guarda se importava quando passávamos pelo portão, quando outra pessoa chegava ela era identificada, realizavam perguntas mais específicas para confirmar a identidade e até vistorias, mas conosco nada; nem se quer faziamos parte da realeza.
Enquanto me perdia em pensamentos continuei seguindo Gal. Quando menos percebi, já estava na arena de treinamento em frente ao meu treinador, um homem forte, alto, com cabelo volumoso penteado para o lado e vestindo um traje marrom claro, seu nome era Gaius, o pai de Gal.
— Estão atrasados — Gaius reclamou.
— Eu sei o Wally demorou pra se trocar.
— Wally? Ou você que estava tentando fugir de suas obrigações?
Gal desviou seu tenso olhar para outro canto da arena enquanto seu pai se aproximava lentamente, parou a sua frente, levantou sua mão e a colocou no cabelo de Gal.
— Você, ou o Wally?
Observei quieto Gaius apertar o cabelo de Gal o levantando do chão aos poucos, até que Galileu desistiu. Amoleceu seu corpo e se ajeitou em direção ao seu pai.
— Sim... eu que demorei para chama-lo.
Gaius me olhou de relance antes de eu imediatamente me endireitar para frente, e então o soltou. Gal estava observando o solo da arena em silêncio esperando uma repreensão.
Porém, Gaius apenas passou sua mão mais uma vez sobre a cabeça de Gal, acariciando seu curto cabelo ondulado.
— Você vai treinar o dobro do Wally hoje — Gaius afirmou sorridente.
— O que?! Mas por que?!
Eu estava tão confuso quanto Gal, não entendia o motivo daquele sermão, mas com aquele ambiente leve e engraçado, acabei deixando escapar uma leve risada.
— Achou engraçado? — Gal sorrindo estranhamente questionou.
Minhas risadas aumentaram assim que me confrontou, tentei esconder, mas não consegui, e antes mesmo que eu pudesse responder, Gal virou para Gaius e disse:
— Deixe-nos fazer o primeiro treino de combate amanhã, por favor.
Ele pediu com extrema vontade, inclinou-se um pouco para frente, fechou os olhos com força e até utilizou suas mãos em forma de prece. Não parecia mais um pedido e sim uma prece aos Deuses ou os Primordiais.
— Hum... amanhã não é... certo, acho que chegou a hora.
Gal se ajeitou e se virou para mim rindo e esfregando suas mãos, aquilo não cheirava coisa boa. Obviamente ele tinha acabado de planejar algo, mas eu nunca deixaria apenas ele se divertir.
— Amanhã correto? Melhor começar a se preparar Gal — provoquei com um sorriso no rosto.
Comecei a me alongar preparando para correr. Virei meu pescoço em direção a Gaius e perguntei:
— Quantas serão hoje?
Lá estava seu sorriso de orelha a orelha, colocou a mão em seu queixo, inclinou a cabeça um pouco para cima e começou a gargalhar.
— Hoje vão ser quinze voltas na arena, cento e cinquenta flexões, cem agachamentos, cem socos e cinquenta chutes.
Assim que Gaius terminou não perdi tempo algum, eu comecei a correr. Gal desatento e pouco alongado veio logo em seguida completamente desajeitado.
Todo aquele momento era sempre doloroso. Doloroso, odioso e tenebroso, mas... apenas fisicamente.
Quando estávamos reunidos o mundo parecia mais leve, o tempo passava mais rápido, tudo que era ruim... se tornava bom.
Quando menos percebi já estava escurecendo, e como em todas as outras ocasiões, nós não conseguimos bater a meta de Gaius.
Embora aquele dia tivesse sido nossa tentativa mais próxima de todas as outras.
Estava exausto. Largado no chão ao lado de Gal e encarando o teto prestes a fechar meus olhos. Eu me sentia leve, pleno e confortável.
Mas minha acomodação logo foi interrompida, o que eu mais temia acabava de retornar para mim, uma luz branca ofuscante havia penetrado minha visão.
Jáz abertos, eu estava rente ao teto, porém havia algo estranho com o mesmo, ele parecia meio... próximo demais.
Tentei me levantar... mas eu não sentia o chão. Suando frio eu me virei, e o que eu via não era a superfície... mas sim uma sombra.
Entretanto, minha visão acarretou a piora daquele maldito horrível sentimento. Daquela vez; a sombra era eu.
Eu estava a cima, observando a mim mesmo deitado ao lado de meu melhor amigo de olhos fechados com braços e pernas esticados.
Observando a mim mesmo como uma espécie de reflexo distorcido, os olhos do meu corpo antes fechados, naquele momento haviam levantados. Eles brilhavam fortemente em amarelo, um brilho tão reluzente que conseguiu iluminar toda a arena.
Com meus olhos abertos após o brilho ofuscante, eu enxergava minha boca se mexendo rapidamente sem pausas, pronunciando palavras que eu não entendia cada vez mais rápido.
De repente além da sombra a mimha boca também repetia os mesmos movimentos e pronúncias bizarras.
A dor era a pior que ja havia sentido em toda minha vida, minha lingua parecia que iria romper e meus dentes se quebrarem, naquele momento, os olhos ofuscantes de uma só vez, diminuíram sua força.
Lentamente aquele olhar arrepiante se virou em minha direção, e como um ataque repentino, brilharam ferozmente outra vez.
O amarelo machucava meus olhos, não conseguia de forma alguma os manter abertos. Mas aquele barulho que ele emitinha era muito pior, aquelas palavras estavam destruindo minha cabeça, elas eram suaves, mas também diversas e a cada segundo pareciam aumentar seus tons ainda mais.
Mesmo com a dor e a escuridão apossando minha visão, uma última imagem antes do fechar dos meus olhos permaneceu nítida em minha cabeça; a imagem de mim mesmo com olhos brilhantes... acenando.
A escuridão aos poucos se dissipava, eu enxergava luz e concreto, meus ouvidos ouviam gramas e cavalos, meu olfato farejava ceda e suor.
Levantei meu campo de visão tentando observar ao meu redor. Eu conhecia o local, estava fora do castelo.
O caminho parecia ser a estrada para casa, mas ela estava diferente, relativamente menor. Foi quando eu percebi finalmente, meus pés não encostavam o chão, e o motivo, eu estava sendo carregado nas costas de Gaius.
O pai de Galileu era muito maior que o meu, sua altura de quase um metro e noventa fazia o chão parecer distante.
Ainda me sentia cansado, mal conseguia mexer meus membros, eu aconcheguei minha cabeça e repentinamente cai no sono novamente.
Minha pele estava de encontro com um conforto incrível: uma maciez e um aroma mais que relaxante.
Definitivamente aquela era a minha cama. Abrindo meus olhos eu não acreditei, eu estava realmente em casa.
Mesmo quase sem luz conseguia reconhecer meu quarto, uma estante de madeira com outras flores, um pequeno bloco de madeira refinado onde eu me sentava, e meu caderno com anotações ainda em cima da escrivaninha.
Eu estava a escutar algumas vozes totalmente abafadas e distantes. Percebi em alguns segundos de onde elas vinham, estavam do outro lado da porta.
Olhando para a minha janela não enxerguei nenhum resquício de luz pelas frestas. Eu me encontrava com receio, se meus pais me descobrissem acordado tão tarde seria algo péssimo, entretanto, minha curiosidade gritava mais alto.
Levantei cuidadosamente e comecei a caminhar em sua direção. Agachando-me, espiei pela pequena fresta na porta semiaberta. Daquele lado estavam minha mãe e Gaius sentados na mesa junto de meu pai em pé ao lado deles
Eles estavam conversando, meu pai parecia irritado, meu treinador preocupado e minha mãe estava... chorando!
— Por que?!... Será que fiz algo de errado?!
Meus pensamentos foram diversos, não conseguia nem pensar nada de positivo através daquela cena.
Eu me levantei, encostei um pouco na porta e coloquei meu ouvido sobre a madeira.
Agora eu conseguia escutar o que eles diziam, ou foi o que eu esperava. Ouvir o som do choro de minha mãe me preocupava ainda mais, não conseguia focar em outra coisa.
Embora ela parecesse completamente abalada, graças aos céus minha mãe aos poucos acabou se acalmando.
— Will, já se passaram dezesseis anos e nada mudou no seu filho, eu sinto muito, mas... eu não acho que possamos traze-lo... eu... sinto muito!
Gaius bateu seu punho fechado na mesa enquanto meu pai socava alguma coisa e repetia consecutivamente a palavra; não.
Nunca tinha presenciado nenhum dos dois daquele jeito, em uma negação consecutiva e dolorosa.
Eu tentei aproximar mais ainda meu ouvido na tentativa de ouvir o que Gaius ainda estava tentando dizer, como consequência, eu me descuidei. Acabei empurrando a porta, e como era de se esperar, ela rangeu.
Escutei uma das cadeiras se movendo bruscamente para trás, minhas pernas começaram a tremer e minha mãos amoleceram. Por um segundo quase travei em frente a porta, mas ainda com as pernas cambaleando sai o mais rápido e silencioso possível, jogando-me na cama quase de uma vez.
Virei-me, deitei e fechei meus olhos. Em seguida a porta se abriu. O barulho lento do rangido soavam como uma eternidade em meus ouvidos. Meu corpo suava frio enquanto alguém se aproximava lentamente de minha cama.
A pessoa se agachou bem perto e acariciou meu cabelo, em seguida se levantou e saiu de meu quarto, daquela vez fechando definitivamente a porta.
Por todos os Deuses! Aquela havia sido por pouco. Alívio era a única coisa que eu sentia e senti, entretanto não só por não ter sido descoberto, mas também por não ver nenhuma luz branca ou qualquer silhueta de uma sombra no restante da noite.
Os galos cantaram novamente. Logo, eu me levantei. De fato era impossível fugir disso, minha cabeça martelava cada palavra que eu havia ouvido ontem... Eu era um fracasso! Havia decepcionado meu mestre, meu pai e até mesmo fiz minha mãe chorar.
Por mais que isso machucasse e eu quisesse apenas me embrulhar e chorar até o fim dos tempos, aquilo não aliviará dor alguma.
O que eu podia fazer naquele momento era colocar um sorriso no rosto e me esforçar em dobro.
Caminhei até a porta e a abri. Uma ótima surpresa encontrei daquela vez, minha mãe estava na cozinha, e o melhor, cantarolando.
Virou-se para trás e colocou na mesa um prato: pão com carne acompanhado de um copo de leite.
— Acordou cedo Wal — ela falou sorrindo depois de se sentar em uma cadeira.
Eu me aproximei da cadeira a minha frente e sentei observando seus lindos olhos negros.
— Senti falta do seu café mãe. Vocês já comeram? — perguntei já mastigando.
Ela esboçou aquele seu doce sorriso, olhou para a cadeira de meu pai e em seguida voltou seu olhar em minha direção.
— Seu pai pulou o café de hoje, mas não se preocupe, esse eu fiz apenas para você.
Ela se levantou e se dirigiu a suas flores do balcão, cheirando uma por uma e voltou a cantarolar sua música favorita. Que sensação maravilhosa, ela parecia tão bem.
Degustei de minha refeição enquanto aproveitava a atração exclusiva. Ela cantou cheia de alegria, limpou cheia de alegria, sorriu cheia de alegria. Aquela velha alegria que ela... sempre soube fingir muito bem.
Minha cabeça ainda estava presa a noite de ontem, muito mais acorrentada do que ela geralmente ficava com aquela maldita sombra.
Mas havia algo que eu precisava fazer, eu tinha um treino para realizar, um objetivo para alcançar, eu nunca mais quero faze-la chorar de novo e um dia até mesmo... tira-la desse lugar.
Levantei de minha cadeira e fui de encontro com minha mãe acompanhado de um grande e longo abraço.
— Tenha um ótimo dia, Wal.
Levantei a cabeça, olhei mais uma vez para seus olhos hipnotizantes e abri um enorme sorriso.
— Hoje será meu primeiro combate contra o Gal mãe, e eu te prometo... eu vou vencer!
— Sim Wal, eu sei que vai. Meu pequenino grande homem.
Soltei-a um pouco relutante e me direcionei até a porta, meu corpo caminhava para a saída, mas minha cabeça só queria voltar para o abraço dela.
— Volte logo, Wal.
— Pode deixar, eu já volto.
Do lado de fora não via Gal, ele sempre me esperava todos os dias para irmos até o castelo, aquilo era incomum. Talvez ele simesmente estivesse muito ansioso para o primeiro treinamento de combate na arena.
Iniciei meu percurso até o castelo, caminhei e caminhei, a estrada era a mesma, o caminho era o mesmo, até mesmo as pessoas tão felizes; estavam felizes como sempre.
— Por que eu não sou como eles?... Por que é tão difícil?
Apenas aquele pensamento era o que predominava em minha mente perante a estrada em direção ao castelo, talvez certas coisas... não possam ser mudadas.
Já no final de meu percurso e entrando no castelo, percebi uma Carruagem Real parada do lado de dentro dos muros. Enxergava bandeiras chamativas amarradas nas pontas do teto da carruagem.
Seu símbolo era um grande círculo com uma aparência de pequenos degraus que se encaixam em volta de um grande dragão, dragão esse atravessado por duas gigantes espadas, uma em destaque no símbolo e a outra um tanto esboçada pela metade e o dragão parecia estar pisando em um pequeno escudo.
Com aquele dragão chamativo aparentava ser o símbolo do reino Eques Dracaries. Mas existia apenas uma carruagem, não haviam outras escoltando do outro lado.
Dracaries sendo um reino militar, não era fraco, nem muito menos pequeno o que tornava aquilo mais estranho ainda, de qualquer forma, aquilo não tinha nenhuma relação comigo.
Eu segui em direção a arena estralando todas as partes do meu corpo. Aquecendo-me aos poucos descendo os longos degraus até a arena.
Passando por toda aquela marca de arcania, finalmente eu havia chegado. Gal estava alongando enquanto Gaius o observava apoiado na parede próximo à entrada.
— Finalmente você chegou Wally — Gal falou se levantando.
— Comece seu alongamento Wally.
— Tudo bem.
Por nervosismo não neguei o pedido de Gaius e me alonguei mais uma vez.
Aquela era uma chance única, caso eu consiguisse vencer Gal talvez facilitasse minha entrada no exército, sim, era uma chance de ouro. Galileu tinha muito sorte, afinal, seu pai era o guerreiro mais forte de Bahamut.
No final do meu alongamento percebi muitos passos acelerados no andar de cima, Gaius estava quieto e Gal realizava vários socos no ar, os dois não pareciam se importar.
— Estou pronto! — proclamei confiante.
Gaius saiu de seu apoio e começou a caminhar em direção ao meio, parado um pouco antes de nós, nos olhou por um instante e voltou sua visão para frente.
Em sincronia Gal e eu levantamos nossas guardas. Gaius com um semblante totalmente sério se afastou aos poucos com seu braço esquerdo levantado para cima.
Ao chegar a pouco mais de alguns metros de distância... sussurros extremamente baixos começaram a fluírem pelos meus ouvidos, eles eram quase impossíveis de se escutar.
Entretanto eu consegui compreender uma única palavra antes de Gaius dar início ao combate: accelerate.
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