Demon And Human Brasileira

Autor(a): The_Mask

Revisão: Alluna


Volume 1

Capítulo 2: Malditos Humanos

A chuva já havia passado fazia algumas horas e apesar da terra encharcada, do tempo úmido e das árvores da floresta balançando com o tempo forte. O clima festivo e colorido tornava aquela noite de acampamento muito mais divertida.

Mas não era tanto para Arnok.

“Já disse para você não se mexer tanto, Arnok!” Falou uma voz feminina atrás dele, era sua mãe.

“Mas isso dói mãe, nunca consegui me acostumar com isso.” Ele retrucou, logo em seguida que disse isso, sua mãe deu outro puxão em suas penas soltas. Ele grunhiu de dor.

“Você está prestes a se tornar alguém responsável Arnok, aguenta firme cara.” Um rapaz falou.

Seu irmão apareceu do meio da floresta, carregando diversos galhos secos. Seu cabelo longo estava bagunçado, com vários pequenos galhos e folhas presas nele. Suas roupas de caça também estavam sujas de barro e lama.

“Se for te acalmar essa será a última vez que você terá que tirar as penas soltas.” Continuou o irmão de Arnok depois que já estava bem visível na luz da fogueira.

“Como assim, Hills?” Perguntou Arnok, fazendo uma cara feia no mesmo instante porque sua mãe puxou uma pena boa.

“Desculpe.” Respondeu ela num sussurro carinhoso.

Hills deu uma risada abafada.

“Bem, somos filhos do líder, quando nos tornamos adultos, assumimos o papel de defender a caravana...” Com uma das mãos ele apontou para os outros que estavam ao redor da fogueira, de asas abertas, cantando, dançando e bebendo. “Nossas penas, como asas negras, são nossas principais armas.” Ele completou.

“Falou bonito, Hills!” Uma voz masculina disse, quase num grito de torcida.

Um homem de talvez 1,90 apareceu, com as asas guardadas, mas ainda muito amostras. Ele tinha um cabelo curto num escuro intenso e sua barba ocupava quase todo o seu rosto, exceto por uma falha em linha reta onde tinha uma cicatriz bem mais antiga que Arnok.

“Olá pai.” Hills falou.

“Querida, você já acabou aí? Logo o Arnok precisará começar.”

“Quase Lauron, logo ele estará novinho em folha.” Disse a mãe de Arnok, ela falou animada, parecia ansiosa pelo que estava por vir.

Aqueles três conversaram mais um pouco, mas Arnok ficou em silêncio, de vez em quando reclamando de dor pela penas erradas sendo arrancadas, ele parecia apreensivo.

“O que foi Arnok?” Perguntou Lauron, preocupado.

“Eu não sei direito, acho que estou meio ansioso.” Disse Arnok, soava meio triste e até apreensivo. Ele mexia no próprio cabelo, na grama do chão, em algumas flores que estavam perto do tronco.

Lauron se preocupou com seu filho. Seu olhar decolou ao céu e ele fitou aquele mar negro e solitário, cheio de estrelas e sem lua, enquanto mexia na própria barba, pensando consigo mesmo. Quando uma ideia lhe surgiu à mente.

“Liriane, posso falar com o Arnok por um instante?” Lauron chegou perto dela e sussurrou mais alguma coisa que Arnok não conseguiu ouvir.

“Claro, querido.” Ela respondeu com um pouco de preocupação na voz.

Liriane soltou a pinça que usava para tirar as penas velhas, limpou as penas de Arnok e deixou ele ir.

Eles dois caminharam juntos em silêncio por algum tempo.

Arnok parecia preocupado, ele olhava para o chão, suas mãos tremiam e parecia muito nervoso. Lauron prestava atenção em tudo isso.

“Meu filho, o que te preocupa?”

“Eu não sei, pai.”

Lauron parou de caminhar e Arnok logo em seguida, ele começou a observar seu pai.

Lauron olhava para o céu de estrelas, parecendo ver algo muito além do que o simples céu.

“Arnok, sabe por que eu me tornei um guerreiro de asas negras?”

O jovem negou acenando com a cabeça.

“Foi para chegar perto de Morpheus, ele foi o asa negra mais forte que já existiu e se eu pudesse chegar perto do que ele se tornou, eu poderia proteger vocês. Eu ainda sou fraco Arnok. Quero te ajudar, mas não sei pelo que está passando.” Lauron se aproximou do Arnok e ficou de joelhos, carinhosamente colocou uma das mãos no ombro do filho e olhou-o no fundo dos olhos.

Arnok chorava, e muito.

“Eu to com medo pai” Arnok falou aos prantos “Eu não sei se sou forte o bastante, para proteger todos da caravana, para proteger vocês”.

“Filho, está tudo bem, eu sei que você é forte, algo me diz que chegará longe, que alcançará as estrelas.” Lauron fez um movimento com uma das mãos apontando para o céu estrelado sem lua, e que sem a luz da fogueira atrapalhando, era uma visão linda, digna de prosas e poemas.

“Mas e se eu não conseguir?” Ele continuava a chorar, apesar de agora ser algo mais controlável.

“Escute, mesmo que você não consiga nos proteger Arnok, não precisa se preocupar. Sempre estaremos com você. Seja em alma...” Lauron apontou para o coração de Arnok “... ou em mente.” Apontou para a cabeça dele.

“Porque nós somos os asas negras, somos livres, mesmo diante da morte. Principalmente diante dela. E sabe por quê?” 

Lauron não esperou a resposta. Se levantou e, olhando para cima, de braços abertos, desabrochou suas asas por inteiro, que juntas tinham o dobro de sua altura.

“Por que ela nos levará para lugares que nunca fomos, lugares além das estrelas. Lugares em que estaremos em paz, livres e soltos junto ao vento.” 

Arnok não conseguia entender seu pai.

Mas de algum jeito estranho, aquele discurso o ajudou. Fez ele se sentir melhor, pelo menos um pouco.

“Olha isso pode soar estranho, mas algum dia você vai entender. Mas eu aposto que isso não é o bastante para te fazer melhorar.” Lauron começou a pensar consigo mesmo, mexia na barba e no cabelo até que uma outra ideia lhe surgiu.

“Eu havia pedido ao seu irmão que ele achasse algumas iscas para colocar nas armadilhas, mas ele não teve tanta sorte. Que tal você procurar por alguns animais pequenos, ou umas frutinhas, e trazer elas ao acampamento. ”

Arnok enxugou as lágrimas restantes e deu um aceno positivo para o pai. Lauron correspondeu sorrindo para seu filho. Era um sorriso quente, familiar e aconchegante.

“Esse é meu filho.” Ele se levantou e começou a se distanciar do Arnok. “Vou voltar ao acampamento, ver se eles precisam de alguma coisa.”

Arnok começou a procurar, mas ficou bem chateado.

Ele queria encontrar os animais pequenos, roedores principalmente, pois eles eram perfeitos nas armadilhas para pegar animais maiores.

Mas Arnok não teve tanta sorte. Ele no máximo encontrou um arbusto cheio de amoras. Eles eram úteis numa armadilha, mas não tanto quanto roedores.

Ele queria voltar com pelo menos um rato-do-mato, mas a terra ainda estava molhada da chuva e estava bem difícil de achar qualquer rastro dessas malditas criaturinhas. Fora que, a caminhada estava muito complicada, seus pés afundavam a todo momento e tirá-los era bem cansativo.

Dez minutos depois Arnok caminhava de volta ao acampamento, estava todo sujo e carregava consigo uma bolsa cheia de variados tipos de frutas e um esquilo. Ele tinha um sorriso estampado no rosto.

Caminhava olhando para cima. Aquele céu iluminado pelas estrelas era bonito de diversas maneiras, principalmente pela falta da lua. Tornava aquilo mais especial e único. E então lembrou-se das palavras do pai.

“Algo me diz que você chegará longe, que alcançará as estrelas.”

Ele olhou para cima agora sentindo um gosto de esperança.

“Espero que sim, pai.” Ele falou para si próprio. Continuou caminhando e finalmente viu algo além das estrelas.

Viu a fumaça da fogueira do acampamento ao longe e começou a correr naquela direção.

Mas desacelerou poucos metros depois. Ele não viu apenas uma trilha de fumaça, viu três, e a do meio era muito maior e mais escura. Algo estava errado.

Ele voltou a correr. Seu cansaço desapareceu e foi substituído por desespero.

“Não, pare. Não faça isso com ela!” Ele ouviu uma voz familiar, era de alguém que ele conhecia do acampamento.

Ele correu mais um pouco e antes de aparecer na clareira ele parou abruptamente. Logo se escondeu atrás de um amontado grande de arbustos e uma árvore. Olhou de novo para confirmar e seu desespero vazou para o rosto. Humanos estavam atacando o acampamento.

Ele respirou fundo tentando se acalmar e olhou na direção do acampamento para entender o que estava acontecendo.

Vários homens, vestindo armaduras de ferro ou aço numa coloração branca, estavam agrupando os diversos asas negras no acampamento em grupos.

Levou algum tempo até que tudo isso acontecesse e Arnok começou a suar frio quando um homem com uma armadura em um padrão diferente dos outros apareceu. Ele usava um capacete com um visor que tampava seu rosto e carregava uma lâmina longa consigo.

Ele tirou o capacete, mostrando um homem sem barba, com uma pele negra bem forte e diversas cicatrizes no rosto. Seus olhos eram de um azul limpo e calmo, mas eles não combinavam com sua atitude.

“Qual de vocês é o líder?” Gritou a todos ao seu redor, olhando no rosto de cada um.

Um curto silêncio desconfortável ficou no ar, mas ele foi quebrado por Lauron.

“Sou eu!” Falou num tom firme. O homem no centro sorriu, ele fez sinal para seus companheiros que cuidavam do grupo de Lauron.

Dois deles agarraram Lauron pelos braços e o carregaram até o líder. Lauron não se debateu contra eles.

“Você tem mais coragem que os outros asas negras que eu encontrei.” Disse o homem num tom sarcástico.

“Diferente deles, eu sei que não posso te vencer.” Foi a resposta de Lauron, curta e seca. Não soou como um insulto, soou mais como algo óbvio, que devia ser de conhecimento de todos. O humano o olhou torto.

“Para descendentes de Morpheus, vocês soam como se fossem as criaturas mais fracas que existem.” Retrucou de braços cruzados e olhando no rosto de Lauron, tinha uma expressão de desdém, como se soubesse o que ele disse fosse mentira.

“Deixamos de ter alguma descendência com o rei dos demônios faz muito tempo.” Lauron disse, finalmente se levantando do chão. O humano deu um sorriso sádico e largo.

Lauron recebeu um soco no meio do estômago e, em seguida, foi pego pelo pescoço e levantado do chão.

“Pensa que vou acreditar em baboseiras e mentiras vindas de demônios como vocês?!” Um pouco de sangue saiu da boca de Lauron. Aquele homem tinha um olhar sanguinário e desdenhoso.

“Lua negra, quais são as ordens?” Um dos humanos de armadura ficou à frente do grupo de asas negras e sua voz meio rouca desestabilizou toda aquela situação violenta.

O homem no comando olhou para o soldado que acabara de falar, como se não acreditasse no que acabou de ouvir. Mas então, um lampejo de razão passou pela sua cabeça. Com toda a sua força, lançou Lauron na direção de seu antigo grupo. Ele caiu no chão cuspindo sangue.

“Certo, temos que terminar isso aqui rápido. Comecem pelas mulheres, quero todas elas presas nas cruzes em no máximo dez minutos. E você...” apontou para o soldado que falou antes. “Sou seu comandante, não me chame de Lua negra tão casualmente.”

Todos os soldados começaram a se mover rápido e cercaram o grupo de mulheres asas negras e agarram elas, os gritos começaram.

“Não! Por favor!” 

“Poupe ela! Todas menos ela! ”

“Larga ela! ”

“Me solta!” Arnok reconheceu essa voz, ele não queria que fosse quem ele achava, então olhou na direção da voz.

Sua mãe estava sendo arrastada à força e ela lutava contra isso com todas as suas forças. O soldado que puxava ela se irritou com isso e deu soco muito forte em Liriane.

Ódio surgiu de Arnok. Ele se levantou e começou a correr na direção da sua mãe, em silêncio.

“NÃO!” Arnok ouviu seu pai gritar, mas ignorou seu comando, continuou correndo na direção de Liriane. Mas algo o puxou.

Antes que percebesse, ele sentiu várias pontadas no seu corpo e ele foi puxado para o lado, para longe da luz da fogueira, numa força imensa.

Ele parou numa árvore e quando tentou sair viu que estava preso. Algo o prendia e quando parou para olhar o que era, viu várias penas negras duras feito aço presas no tronco da árvore.

Arnok não entendia de onde isso veio e quando olhou na direção do acampamento, viu seu pai com uma das asas completamente esticadas na direção de seu filho. Pelo menos essa era a perspectiva dele.

“Você errou!” O homem que estava no comando falou para o pai de Arnok, ele soou irritado. Foi andando até Lauron, o jogou contra o chão e forçou seu pé contra a garganta dele.

“Pare!” Gritou alguém seguido do barulho de desembainhar de uma lâmina.

Hills se levantou correndo e foi na direção do homem que estava em cima de seu pai, ele empunhava uma espada considerada pequena, mas não era uma faca ou uma adaga.

O homem se levantou e num movimento rápido puxou sua espada.

A mão de Hills foi decepada. Ele caiu no chão agarrado ao lugar onde sua mão ficava.

“Vocês não verificaram se o garoto estava desarmado?” O homem perguntou para seus soldados, meio confuso. “Bem, pior para ele.” Ele soou indiferente.

Caminhou devagar até onde Hills havia caído e olhou-o de cima com desdém. “Você realmente achou que tinha alguma chance?” Ele perguntou.

A resposta de Hills foi uma cuspida ensanguentada no meio do rosto do sujeito.

Com raiva, Lua negra enfiou a sua espada na garganta de Hills, atravessando-a.

Hills tentou falar alguma coisa, mas não conseguiu e sua consciência partiu bem rápido. Ele fechou seus olhos e perdeu suas forças.

Em um movimento lateral, arrancou a cabeça de Hills. Limpou a lâmina num pano que tirou do bolso e guardou-a de volta na bainha.

Todos no acampamento, incluindo Arnok, olhavam horrorizados para aquilo. Até alguns soldados. Lágrimas começaram a cair do rosto de Liriane.

“Não!” Ela começou a ir na direção do Hills, mas foi segurada pelo soldado que bateu nela antes e foi arrastada para longe. Os outros humanos começaram a fazer o mesmo. Voltaram ao que estavam fazendo e começaram a levar as mulheres todas para um canto do acampamento.

Lauron não desafixar seu olhar de seu filho, ou melhor, do cadáver dele.

“Você deveria cuidar melhor da sua família, descendente de Morpheus.” Disse Lua negra. “Quando terminarem o serviço com as mulheres, prossigam para os idosos! Quero acabar com isso e ir embora logo!” Ele ordenou gritando a seus homens, eles apertaram o passo.

Quarenta minutos depois, os humanos estavam indo embora do acampamento. O barulho dos cascos de cavalos e do cascalho sendo pisado começou a ficar cada vez mais distante.

Arnok estava paralisado, ver seu próprio irmão morrer fez ele travar. Seus olhos estavam marejados, mas o rosto completamente seco.

Ele começou a tirar as penas do carvalho em que estava preso, Elas já não eram tão rígidas quanto antes. 

Devagar, andou até a clareira, a luz da fogueira estava se extinguindo e na penumbra da noite, ele viu algo que o fez desabar nos próprios joelhos.

Os humanos criaram uma floresta de cruzes de madeira e em cada uma delas havia um asa negra.

Seus peitos estavam expostos e neles tinha uma marca gigante feita a brasa. Era o desenho de uma arma e duas espadas em cruz, e várias engrenagens circulavam esses dois objetos. Um símbolo militar. Seus pulsos e gargantas estavam com cortes profundos e as asas estavam abertas e pregadas junto às mãos.

Aquela floresta dos horrores deixou Arnok horrorizado. Ele começou a caminhar entre as cruzes a passos lentos e olhava no rosto de cada asa negra que ele conhecia, quando de repente parou. Seu pai estava ali, na sua frente. Com suas gigantescas asas pregadas.

Ele tentava chorar, mas já chorara demais, apenas por causa do seu irmão. Estava seco por dentro. Apenas ficou ali, de joelhos, remoendo-se por dentro.

“Por quê? Por quê?! ...” Arnok repetiu isso para si próprio várias vezes. “Por que com meu pai? Por que com a minha mãe? Por que com o meu irmão? Eles não fizeram nada, não matamos ninguém, nem sequer fizemos algo de ruim!” Gritou para o céu com todo o seu esforço.

Um ódio tão grande surgiu no seu íntimo. Um desejo que ele nunca sentiu começou a aparecer no fundo da sua mente. Matar.

“Maldito humanos!” Socou a terra gritando e cuspindo. “Malditos humanos!”

A luz da fogueira finalmente extinguiu-se e a escuridão tomou conta de todo aquele espaço. Mas ela durou pouco tempo.

Uma chama acendeu-se na sua mão. Ela era branca e pequena, mas não queimava. Na verdade, era até mesmo confortável tê-la ali.

Arnok olhou para ela assustado e confuso. 

“Eu fiz isso?” Um sentimento de alegria surgiu dentro dele, não imaginava que tinha mana suficiente para magia. Mas um pensamento passou pela sua cabeça.

“Se eu podia fazer isso, será que poderia ter ajudado eles?” Olhou para sua mão não mais com felicidade. Mas sim decepção. “Não, eu não seria capaz.” Ele falava triste. “Merda! Merda! Merda!” Gritou novamente.

Ele lançou com toda a força aquela chama na direção da floresta, ela sumiu num piscar de olhos e quando Arnok a procurou, não havia chama alguma, na verdade tinha um buraco chamuscado do tamanho de um punho no meio de uma árvore.

Ele olhou estupefato para aquilo. Caminhou na direção dela prestando atenção em cada detalhe. Algo quente havia passado no meio da árvore, mas passou tão rápido que não houve tempo para ela queimar. 

Olhando um pouco mais além, Arnok viu outra árvore com um buraco. Ele continuou caminhando, seguindo a trilha de furos chamuscados.

Três árvores passaram... e então quatro... e então sete. Um cheiro de queimado forte passou pelo seu nariz e ele começou a correr. Levou algum tempo, mas ele finalmente achou a fonte.

Um carvalho enorme, de talvez setenta metros de altura, com raízes muito grossas saindo da terra, estava completamente em chamas.

O fogo que Arnok lançou era a causa.

Ele olhava para aquilo confuso, sem entender absolutamente nada.

“Eu fiz isso?” Perguntou a si mesmo. Arnok então se lembrou das palavras de seu pai mais uma vez. “Acho que é verdade, não é pai?” Arnok abriu um sorriso e a tristeza sumiu de seu rosto. “Eu vou alcançar as estrelas.” 

Arnok olhou para aquela árvore em chamas e um pensamento passou na sua cabeça. “Não posso deixar isso assim.”

Ele se concentrou e disse em voz baixa.

“Extinga-se.” No instante seguinte, toda a árvore se apagou por inteira. O que sobrou foi um pedaço de carvão no formato do carvalho.

Arnok voltou até a clareira e começou a preparar o enterro de seus entes queridos e conhecidos. Começou a coletar vários galhos e troncos secos e os agrupou numa grande pilha em cima da antiga fogueira.

Ele colocou as mãos na cintura e olhou para as diversas cruzes a sua frente, como se estivesse se preparando para o que estava vindo e já tivesse se cansado.

E assim começou o trabalho árduo de Arnok, ele arrancou o cadáver de cada uma das cruzes e os agrupou na fogueira. 

Foi um processo demorado e cansativo, mas depois de 27 cadáveres finalmente chegou a vez de Lauron.  Não fez nada por alguns segundos, mas pareceu uma eternidade para Arnok. Apenas ficou ali olhando para o seu pai.

“Vou te dar um enterro digno, pai.” Ele olhou para os cadáveres que ainda faltavam e os que já estavam empilhados. “Para vocês também.”

E assim ele continuou, sua mãe apareceu para ele depois de algum tempo e seu irmão também. Todos eles foram colocados na fogueira.

Foram duas horas de trabalho árduo e sujo. Arnok ficou ensanguentado e com diversos arranhões. Estava cansado, mas ainda faltava uma coisa.

Mais uma vez, Arnok acendeu a chama branca. Sua luz estava tão forte quanto antes, mas ele não podia usar uma chama tão forte.

“Vai queimar muito rápido, vamos tentar uma coisa mais fraca.” Arnok se concentrou um pouco e a luz começou a diminuir, assim como o tamanho da chama.

O que antes era uma chama de fósforo, agora era uma mera faísca. Ele jogou-a na fogueira e rapidamente ela acendeu.

“Você estava certo pai. Um túmulo no chão prende a alma de um asa negra. Temos que ser livres.” 

As chamas começaram a queimar os corpos, a fumaça começou a subir e ir junto ao vento. O cheiro de penas e cabelo queimado não era nenhum empecilho para o Arnok. Depois de um tempo ele juntou as duas mãos, olhou para cima e disse.

Libereco!” 

Essa era uma palavra numa língua antiga, algo que veio muito antes de Arnok. Uma palavra antiga da língua dos demônios.

Significava liberdade.

Dito e feito, Arnok ajeitou todas as suas coisas que ainda sobravam. Ele tinha apenas uma bolsa, um punhado de roupas, uma faca e um sílex.

Colocou nas suas costas e saiu daquele acampamento.

Abriu suas asas e começou a voar. O Sol sairia em talvez duas horas e Arnok não tinha ideia de para onde ir. Apenas voou sem um destino em mente.



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